domingo, 17 de setembro de 2023

RAZIA ALGARVIA

 

“Razia” significa no seu sentido histórico uma incursão árabe em território inimigo que visa a destruição e o saque, coisa que aconteceu por cá amiudadas vezes aquando da invasão muçulmana da Península Ibérica e antes da nacionalidade, muito embora os seus autores naquilo que hoje é Portugal tenham sido mais mouros do que árabes. Como acontece em todas as guerras, cristãos e mouros copiaram mutuamente os modos de guerrear e os cristãos também acabaram por abraçar as razias, sendo o exemplo da cidade algarvia de Silves um dos mais gritantes e sanguinários dos tempos da Reconquista. Este fim-de-semana fomos surpreendidos por uma notícia chocante, que cães, gatos e ovelhas têm morrido às centenas nos concelhos de Silves e Albufeira e que durante uma investigação feita pela GNR, um dos seus cães pisteiros teria também morrido envenenado. Certo é que a GNR está em campo a investigar estes alegados casos de envenenamento de animais no Algarve, que terão acontecido através da ingestão de carne de frango contaminada.

Esta semana dois cães foram vítimas dos engodos, um conseguiu sobreviver e o outro acabou por perecer. A população de Paderne diz que estas situações são cada vez mais frequentes e que já se arrastam há mais de duas décadas. Cães, gatos, e ovelhas encabeçam uma lista que parece interminável. Primeiro desaparecem e alguns dias depois confirma-se a sua morte. Lamentavelmente não têm sido só os animais domésticos as vítimas desta chacina ou razia, ela tem-se estendido também aos carnívoros selvagens, como são os casos das raposas, das águias e dos mangustos. A afronta e o desrespeito são tais que chegam a encontrar-se mais de 40 armadilhas espalhadas nesta zona de caça. Quem as apronta fá-lo de madrugada e vale-se de pequenos pedaços de frango. Pensa-se que o veneno utilizado é um agro-tóxico proibido em Portugal e responsável por milhares de mortes. A razia estende-se também à freguesia de Algoz, prejudicando seriamente agricultores, pastores, caçadores e toda a fauna daqueles lugares. Espera-se o resultado dos vários inquéritos abertos pela GNR.

Os envenenamentos esporádicos de cães nas cidades acontecem com mais frequência na Primavera e no Verão, quando o tempo é mais aprazível e há mais gente nos parques e jardins públicos, onde os conflitos entre pessoas e cães tendem a agudizar-se e a  perpetuar-se (faltam parques para os cães correrem livremente). Os envenenamentos nas zonas rurais sempre tiveram uma responsabilidade bipartida, sendo tradicionalmente operados pelos proprietários rurais para se livrarem dos cães de caça ou pelos caçadores para se verem livres dos cães de guarda e companhia, os primeiros para evitarem eventuais prejuízos e os últimos para não lhes darem cabo da caça. Se porventura a caça acabasse, os envenenamentos diminuíram drasticamente e os ecossistemas agradeceriam. A actual situação vivida nos concelhos algarvios de Silves e Albufeira é um monstruoso e hediondo crime contra o bem-estar animal e contra a vida selvagem, algo que nos afecta a todos, que a todos envergonha e que não podemos calar. Há que apanhar todos os responsáveis e condená-los exemplarmente, para que o seu castigo venha a contribuir para a eliminação destas covardes e não menos criminosas razias.

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