quinta-feira, 24 de setembro de 2015

UMA HISTÓRIA AINDA POR APURAR: A MORTE DE ELISABETH C. WRIGHT

PREÂMBULO: Como treinadores de cães experimentados negamo-nos a atribuir-lhes a responsabilidade nos acidentes que possam causar, porque não são tigres nem leões, vivem debaixo da dependência humana e podem ser usados para os mais variados fins, com ou sem treino específico, escondendo e consubstanciando por vezes os desejos criminosos dos seus donos. Quer se admita ou não, os acidentes com cães, quando o são, não escondem a incúria humana, sua causa primária e única responsável. Vamos aos factos:
Elisabeth Claire Wright, uma britânica natural de Surrey/Inglaterra, com 55 anos de idade, assistente de direcção escolar, foi encontrada sem vida e despedaçada na casa do seu marido, que havia ido visitar em Watamu, aldeia piscatória queniana no Índico. Segundo ele, um queniano de 31 anos de idade, durante a sua ausência por 24 horas, ocasião em que se dirigiu à vizinha cidade de Mombasa, a inglesa soltou inadvertidamente os 3 Rottweilers da casa, apesar de a haver alertado para não o fazer, vindo a morrer em consequência dos seus ataques. Até ao momento, a polícia não o considera suspeito da morte da mulher. Crê-se que Elisabeth Wright ao ouvir o ladrar dos cães, entendeu soltá-los para lhes dar de comer, acabando por se constituir no seu repasto. Segundo declarações proferidas pela sua mãe ao “The Telegraph”, Elisabeth já havia vivido anteriormente no Quénia com o seu marido, mas optou por voltar para Inglaterra e ir viver com os pais numa aldeia rural perto de Horsham, deslocando-se na ocasião para o visitar naquele país africano?!
Terá sido um acidente ou um crime premeditado? Só os cães nos podem dizer se uma coisa ou outra, caso ainda estejam vivos. De qualquer modo, sustentando-se a hipótese de Elisabeth não ter características suicidas, a sua ingenuidade brada aos céus e foi-lhe fatal, porque sendo desconhecida daqueles animais encerrados, “foi-se pôr-se na boca do lobo” ao soltá-los, sendo por eles entendida como estranha e invasora daquela casa, ainda mais na ausência do seu proprietário, uma vez considerada a hipótese de acidente. Poderia ser um crime premeditado? Sim, se a acção dos cães provir de condicionamento prévio. Não estamos com isto a dizer que foi o que aconteceu, mas a explicar como tal seria possível e como o comportamento dos cães o denunciaria. Devido à diferença de odores, uma caucasiana em África é muito fácil de marcar, uma vez que a maioria das pessoas é de uma etnia diferente e os cães bem depressa a identificarão. Para o deslindar do caso é importante saber se os cães foram treinados para atacar e se estavam condicionados a fazê-lo a quem lhes abrisse a porta, sendo este último caso confirmado pela reconstituição da tragédia. Na eventualidade dos cães agredirem indistintamente homens e mulheres, independentemente da sua etnia, é mais do que evidente que estavam acostumados a fazê-lo e que nunca foram objecto de repreensão ou reprovação, restando saber qual o motivo dessa permissão.
Caso a agressividade dos cães se venha a manifestar exclusivamente contra mulheres, o fenómeno só poderá resultar de duas causas e da sua associação: dum trauma e do seu aproveitamento (treino prévio). Se porventura só reagirem desse modo contra mulheres caucasianas, não parecem restar dúvidas: estamos na presença de um crime premeditado, ainda mais sabendo-se da possível predilecção da vítima por cães. Por repetição, aprovação e recompensa é possível accionar um ataque canino, que pode acontecer mediante rotinas previamente anunciadas, inocentes e sem perigo eminente, como pegar num telefone ou noutro objecto, entrar em determinadas dependências de uso comum, fazer uso de expressões ou palavras correntes, abandonar o território onde se encontram os cães sem pedir permissão aos donos e por aí adiante. Não temos dúvidas que muitos dos acidentes ocorridos com cães nunca o foram, sendo alguns deles crimes deliberados, na sua maioria invisíveis aos olhos dos comuns investigadores. Quer o ocorrido com Elisabeth Wright seja produto dum acidente ou resultado de um crime passional, o seu marido, o Sr. Fred Karisa, é o primeiro e único responsável pela sua morte, quer tenha agido por negligência ou intencionalmente. Ele sabia que os cães não eram de confiança, por isso avisou a inglesa para não se acercar deles. Pergunta-se: porque não os guardou a cadeado e levou as chaves consigo? Como se depreende, os 3 rottweilers são os menos culpados. Que a triste morte desta cidadã britânica sirva de lição para aqueles que intentam mexer em cães encerrados, porque nestas circunstâncias, devido à exiguidade do território, qualquer cão torna-se mais agressivo e intenta defendê-lo, particularmente se for territorial, desconhecer o abusador e o seu dono se encontrar ausente. Requiescat in pace Elizabeth (Rest in peace Elisabeth).

FORT WORTH SIGHTSEEING TRAIN

Um fazendeiro octogenário norte-americano, lá para as bandas de Fort Worth, no Texas/USA, de nome Eugene Bostick, amigo e dado à recolha de cães abandonados, decidiu construir para eles um comboio (trem no Brasil), valendo-se de vários bidões industriais de plástico, aos quais juntou um rodado e um engate, para andarem atrelados uns aos outros e serem puxados pelo seu tractor John Deere, transportando cada bidão um passageiro canino. O “Sightseeing Train” do Senhor Bostick passeia naquela cidade uma vez por semana, tornando-se justificadamente numa atracção turística e objecto de notícia. Os cães adoram o passeio e como qualquer turista ficam extasiados com a paisagem, manifestando-se ruidosamente. Se é verdade que este ancião valeu àqueles cães, também eles lhe têm servido como terapeutas, ajudando-o a vencer o ostracismo e a ser socialmente melhor aceite e apreciado. Ao que parece, a velha canção infantil norte-americana “Old MacDonald Had a Farm”, do início do século passado, merece neste milénio um novo título e letra: “Old McBostick Had a Sightseeing Train”. Pondo de parte a paródia e falando de coisas mais sérias, no Texas e por todo o lado, os cães têm prestado um precioso auxílio à terceira idade, substituindo inúmeras vezes os familiares que não querem ou não arranjam tempo para os seus idosos, o que transforma os cães em pau para toda a colher. 

ALGUMAS REGRAS PARA AUMENTAR A CUMPLICIDADE ENTRE UM CÃO-LOBO E O SEU DONO

Pouco a pouco a procura dos cães-lobos vai diminuindo, o que não esconde o desencanto de alguns pelo despreparo para a tarefa, pois julgavam ter em mão um cão como tantos outros, o que bem depressa se revelou falso pelo particular destes animais, que apesar de meigos, carecem de forte integração social, são notoriamente mais silvestres, carregam uma forte carga instintiva, resistem à cumplicidade, apresentam uma autonomia dúbia e parecem ignorar o mundo ao seu redor, características que os tornam confusos e indiferentes, parecendo ausentes quando presentes, como se houvessem caído de pára-quedas entre nós ou vindos de um mundo distante que não encontram. Recentemente deparámo-nos com 7 Lobos Checos num certame canino que se diferenciavam e esgueiravam dos outros cães, com as orelhas abatidas, cauda retraída e a olhar ao flanco, como que acossados e temendo o perigo pelas costas, pouco confiados nos donos e à procura sabe-se lá de quê. Um dos seus proprietários meteu conversa connosco e queixou-se da falta de ligação do seu cão-lobo, sendo-lhe adiantadas algumas dicas que divulgamos agora prós nossos leitores interessados, visando nos híbridos a satisfação da sua herança lupina para não se perderem estes cães, o que facilitará o seu uso e porá em evidência as mais-valias presentes na variedade silvestre, causa primeira na sua demanda e nem sempre alcançada.
O regresso ao atavismo que caracteriza os cães-lobos, para além da potenciação da sua máquina sensorial, superior dissimulação, maior rusticidade, aumento da resistência e maior esperança de vida, traz consigo alterações de comportamento social há muito vencidas nos cães pela sua caminhada milenar entre nós, por força das sucessivas selecções que fomos empreendendo, que os levaram a desprezar a floresta e a viver connosco, a trocar a autonomia pela dependência e a adaptarem-se, gradualmente e por substituição, a um número cada vez menor de indivíduos no seu agrupamento social, o que teve como consequência a alteração de hábitos e possibilitou o seu uso, vantagens menos visíveis e pouco potenciadas nos híbridos de lobo, biologicamente mais autónomos e menos adaptados à nossa convivência, factores que nos obrigarão a maiores cuidados na sua integração, o que nos remete de imediato para o seu imprinting e para a figura dos seus criadores, enquanto personagens de suma importância para a melhor ou pior futura integração social das raças híbridas. Nesta tarefa de reinserção, porque é disso que se trata, devido à presença do cão na sua construção, o lobo familiar virá em nosso auxílio e prevalecerá sobre o lobo indómito que o constitui, também ele extraordinariamente afectivo e cujo processo de maturação é mais tardio. Escusado será dizer que quanto maior for o percentual de cão num híbrido mais facilmente se alcançará a sua convivência e parceria.
Nada nos cães-lobos está previamente ganho ou é gratuito e tratá-los ou entendê-los como cães comuns é um erro tremendo, porque exigem condições excepcionais, instaladoras e pedagógicas, para renderem o esperado e se equiparem convenientemente para as tarefas, transitando assim dos seus próprios interesses, por vezes indecifráveis, para o proveito colectivo. E porque o segredo do sucesso irá residir nos vínculos afectivos que estabelecerão com os seus donos, adiantaremos seguidamente algumas regras que convém respeitar. REGRA Nº 1. Certifique-se que o criador é uma pessoa cuidadosa, carinhosa, tolerante e próxima da ninhada, porque dele dependerá em grande parte o futuro comportamento social dos cachorros. REGRA Nº 2. Apresente-se ao cachorro antes de o levar para casa, preferencialmente antes de abrir os olhos, para que guarde o seu odor e ao abri-los já esteja familiarizado consigo. REGRA Nº 3. Leve-o para casa logo que tal seja possível, para que mais rápido se familiarize consigo, com os seus e com o seu novo lar, o que ajudará na mudança e facilitará a mútua adopção. REGRA Nº 4. Caso não esteja habitualmente em casa, aproveite o seu mês de férias para passar mais tempo com o animal, porque o isolamento é nele inato e só dificultará o seu futuro relacionamento consigo. REGRA Nº 5. Respeitando o mesmo princípio, não o crie afastado de si, em anexos, canis ou quintais, deixe que ele escolha um local perto da família e assimile a coabitação. REGRA Nº 6. Seja escrupuloso no cumprimento dos horários que facilitam a assimilação das rotinas e aceitação do território. REGRA Nº 7. Não force o relacionamento e deixe que ele o procure, pormenor que não tardará pela inevitável dependência.
REGRA Nº 8. Familiarize-se com as suas expressões mímicas e rituais, intente reproduzi-los, use-os como meio de comunicação e exprima-se através deles. REGRA Nº 9. Seja paciente e não se esqueça que a maior das virtudes é saber esperar. REGRA Nº 10. Coloque-lhe a coleira aos 2 meses de idade e só depois dela aceite é que deverá pôr-lhe a trela, ensino que deverá iniciar dentro do lar. REGRA Nº 11. Vá com ele para todo o lado em curtos períodos de tempo e caso o veja assustado, conforte-o. REGRA Nº 12. Vigie esporadicamente o seu sono durante a noite, altura em que a sua audição é mais activa, manifeste-lhe que não está só, aconchegando-o como manifestação de carinho. REGRA Nº 13. Seja seu colega de brincadeiras e sorrateiramente vá impondo, sem violência e por abandono, algumas regras nos jogos. REGRA Nº 14. Só o deixe comer debaixo de ordem expressa. REGRA Nª 15. Trate diariamente da sua higiene para que se acostume, o que facilitará o seu manuseamento, tratamento e idas as veterinário. REGRA Nº 16. Quanto mais cedo o habituar às crianças melhor. REGRA Nº 17. Acostume-o desde tenra idade aos diversos meios de transporte. REGRA Nº 18. Alterne os passeios diurnos com os nocturnos para reforço da sua liderança. REGRA Nº 19. Deixe-o conviver com cães bem sociabilizados e proteja-o dos agressivos até aos 2 anos de idade. REGRA Nº 20. Reforce a linguagem verbal com a gestual para lhe captar a atenção e facilitar a apreensão. REGRA Nº21. Descubra a melhor forma de o recompensar. Estas regras, não as manifestámos todas, dizem respeito à instalação doméstica dos cães-lobo e são pré-requisitos indispensáveis para o treino que se avizinha.
Passemos ao treino propriamente dito, enumerando os procedimentos que garantirão o superior aproveitamento do regresso ao atavismo. PROCEDIMENTO Nº 1. Só dê entrada numa escola canina quando o seu cão-lobo andar ao seu lado atrelado sem oferecer resistência e esteja minimamente habituado às pessoas e aos outros cães, mais-valias por norma alcançadas aos 6 meses de idade. PROCEDIMENTO Nº 2. No início do treino, mesmo valendo-se da recompensa (reforço positivo), o trabalho útil não deverá prolongar-se por mais de 15 minutos, devendo ser complementado por momentos de supercompensação com o dobro da duração, para que a saturação não obste à aquisição das respostas artificiais e condene o animal a apatia. PROCEDIMENTO Nº 3. No princípio opte por classes de ensino nocturnas, porque a concentração dos híbridos é maior nesses horários. PROCEDIMENTO Nº 4. Evite passar o seu cão para as mãos de outros, para que a novidade da parceria não o leve à suspeição e venha a enfraquecer os vínculos afectivos que nutria por si até então. PROCEDIMENTO Nº 5. Escolha para ele tarefas escolares bipartidas onde a sua participação ou complementaridade seja notória. PROCEDIMENTO Nº 6. Desenvolva-lhe o instinto de presa e use-o para diferentes tarefas (procura, recolha, transporte, etc.). PROCEDIMENTO Nº 7 Como os cães-lobos tardam na aquisição dos conteúdos de ensino, mercê de fazerem mais tarde, o alcance das metas poderá ser objecto de subdivisão, o que facilitará a tomada dos objectivos pela experiência feliz.
PROCEDIMENTO Nº 8. Evite situações de confrontação tanto na puberdade como na idade adulta com os híbridos de lobo, porque tanto se podem acobardar como revoltar, o que a ninguém servirá. Use a inteligência, mantenha a postura, não recue e valha-se, quando necessário, dos contra procedimentos para restaurar a sua autoridade. PROCEDIMENTO Nº 9. Mais do que no travamento ou na obediência estática, o treino dos híbridos deverá ser maioritariamente dinâmico como se duma exploração de caça se tratasse, porque manifestam alguma dificuldade em entender o travamento sem objectivo à vista. PROCEDIMENTO Nº 10. A postura corporal dos condutores deve ser a mais erecta possível, serena, emanar confiança e transmitir segurança, à imitação dos cães e lobos alfas. Os procedimentos não se esgotam aqui e poderão ser alargados a quem nos solicitar.
A maioria dos cães-lobos é menos agressiva que algumas raças de cães domésticos, apesar de mais dada a ataques instintivos, que aparentemente surgem sem obedecer a qualquer causa ou razão. Sempre será mais fácil adestrar uma fêmea do que um macho híbrido, porque a hierarquia das alcateias e matilhas é encimada por um macho-alfa, procurando as fêmeas alguém que sobre elas domine, o que as torna mais permissivas e aptas para aceitarem a autoridade e liderança humanas, já que o Lobo da Etiópia é uma excepção e também por causa disso se encontra em vias de extinção. Os cães-lobo de coloração negra apresentam substancialmente menos dificuldades no seu adestramento, porque esse pigmento não é original nos lobos e resultou-lhes do cruzamento com cães domésticos há alguns milhares de anos atrás. Como este factor cromático é recessivo, só surgirão filhotes negros numa ninhada de híbridos se tanto o lobo como o cão usados na sua construção forem recessivos nessa variedade cromática, o que os torna menos lobos e mais cães, logo mais fáceis de ensinar. É na Itália Central, na região da Toscana, nos Alpes Apuanos (também conhecidos como Apeninos Ligures ou Ligurenses), que existe maior número de lobos negros, que chegam a atingir 25% do total dos lobos ali existentes. É difícil encontrar lobos negros no resto da Europa e quando surgem no Centro e no Leste, ou obedeceram a alguma mutação ou pressupõem cruzamentos relativamente recentes com cães. Na América do Norte ainda é possível verem-se alguns lobos desta cor.
O surgimento dos cães-lobos deve-se à “Fábula do Lobo Mau”, ao desejo de arranjar guardiões ferozes nunca vistos, como se os lobos fossem como os pintam nas histórias, bichos malvados, sanguinários e devoradores de gente, na origem de lobisomens e vampiros, apesar de não haver um só registo dum humano morto por eles. Como guardiões vão do sofrível ao médio, raramente atingem a excelência e caso a alcancem, de lobo terão no máximo 2/8. Como a hibridação é uma das principais causas adiantadas para a extinção dos lobos, entendemos que ela ser abandonada e reduzida ao mínimo, considerando a sobrevivência das suas espécies e subespécies. Justificar-se-á mas não em absoluto, o uso de cães-lobo nas diferentes disciplinas de resgate e salvamento, considerando as mais-valias prestadas pela infusão sanguínea do canis lupus, área onde naturalmente se sentem como peixe na água e têm vindo a ser usados com sucesso, sendo essa e não outra a sua verdadeira vocação. E como trabalhar com híbridos de lobo não é a mesma coisa que fazê-lo com cães, a maior parte deles virá a ser atirada para quintas e remetida para o esquecimento até que a morte os chame, como já hoje acontece pelos desentendimentos, desencantos e frustrações dos seus proprietários. Antes de se decidir por um cão-lobo, certifique-se que se encontra bem apetrechado para a tarefa, que possui o conhecimento, o carácter e a disponibilidade necessários para esse encargo.

ASTÚCIA DE LOBOS, PRÁTICA DE LADRÕES

Segundo hoje tornou público a agência noticiosa canadiana CBC através do seu site, em Winnipeg, Capital da Província multicultural de Manitoba/Canadá e farta em praias fluviais, pela confluência dos rios Red e Assiniboine com grandes vales ao redor, uma matilha de lobos, constituída por 3 machos e 1 fêmea, matou 3 cães de grande porte e deixou um em muito mal estado, nos lugares de Hillside Beach e Albert Beach, de acordo com as declarações de Stewart MacPherson, Chefe da Polícia de Victória Beach. Segundo a mesma fonte, os lobos usaram de uma estratégia até ali desconhecida, usando uma loba para cativar e afastar os cães de casa, caindo-lhes depois o resto da alcateia em cima. Até ali os ataques de lobos a cães grandes eram raríssimos, acontecendo só e esporadicamente sobre cães pequenos e gatos. Que conclusões práticas podemos tirar desta notícia, enquanto adestradores de cães para guarda?
Antes de respondermos à pergunta que formulámos, importa dizer que a coabitação entre lobos e animais domésticos não tem sido fácil naquelas paragens, quiçá por ausência de alimento e invasão do território dos lobos, razões bastantes para a alteração da sua dieta e comportamento. Uma vez dito isto, passemos às conclusões práticas do ocorrido, segundo o ofício que abraçámos e o nosso propósito de bem servir. Como em Portugal é raríssimo avistar-se um lobo, cães e donos podem dormir tranquilos, muito embora o que adiantamos para os cães de guarda seja também válido para os guardadores de rebanhos. Apesar dos nossos “lobos” serem outros, valem-se da mesma estratégia, quando os ladrões usam uma cadela com o cio para distraírem os cães de guarda, prática antiga e que infelizmente ainda hoje resulta.
Para evitar que os “lobisomens” sejam bem sucedidos e o nosso património venha a ser depauperado, sempre que haja essa possibilidade, aconselhamos um casal de cães para a guarda de uma casa ou moradia, porque a cadela residente bem depressa expulsará a invasora, desde que tenha o porte e o tamanho adequados para lhe fazer frente e não se encontre castrada, motivando o seu companheiro de vigília a secundá-la nesse propósito, o que não será difícil, porque a invasora ao pôr-se em fuga, constitui-se automaticamente em presa. O treino dos machos para resistirem a este apelo natural acontece no treino, que uma vez condicionados a obedecerem aos donos, resistem às cadelas em cio, o que os fará abandonar os rituais de acasalamento e aumentará o seu desinteresse. Se os cães forem castrados não correm esse risco, mas a maioria dos eunucos, ao perderem a virilidade, perdem também alguma tenacidade e a constância nas guardas. Assim, as cadelas em cio, longe de serem um impedimento, são mais do que bem-vindas às classes de adestramento colectivo pelo serviço que prestam.
E quando se trata de constituir uma matilha funcional para guarda há que ter o mesmo cuidado, o de nela fazer constar machos e fêmeas de características díspares, o que facilitará o seu escalonamento, serviço de cada um e unidade, para além de enriquecer o seu desempenho colectivo. Constituir uma matilha funcional só com machos é um tremendo disparate, porque sendo-lhes apresentada uma fêmea com o cio, longe de a escorraçarem e guardarem a casa, bem depressa guerrearão uns contra os outros pela sua posse e favores. Para os nossos leitores menos acostumados aos termos em uso na cinotecnia, adiantamos que o termo “matilha funcional” reporta-se ao conjunto de dois ou mais cães treinados que executam em simultâneo e em conjunto o mesmo serviço (sempre que o perímetro duma propriedade é maior que a velocidade do som (343 m/s), subsiste a necessidade de uma matilha funcional). Dificilmente uma loba nos entrará pela casa adentro ou no quintal seduzindo os nossos cães, mas não é impossível que uma cadela com o cio o faça a mando dum “lobisomem”. 

quarta-feira, 23 de setembro de 2015

UNS PERSISTEM E OUTROS PEDEM AJUDA

Pelo que nos é adiantado pelo “Phys.Org”, portal de notícias e site dedicado à ciência, investigação e tecnologia especializadas na Física, Ciência Espacial, Ciências da Terra, Saúde, Medicina, Biologia, Química, Electrónica, Nano tecnologia e Tecnologia em geral, na sua edição do dia 16 do corrente mês, os lobos apresentam uma capacidade de resolução superior à encontrada nos cães domésticos, valendo-se para isso dos experimentos da Dr.ª Monique Udell, Professa Assistente da Universidade Estatal do Oregon/USA, especialista em Ciência Animal e Rangeland (na relação entre os animais e os ecossistemas), que sujeitou 10 cães de companhia, 10 de um abrigo animal e também 10 lobos ao mesmo tipo de problema de fácil resolução para todos eles. Foi colocada uma salsicha dentro duma caixa de plástico com uma tampa. Para alcançarem o petisco, os animais teriam que puxar uma corda inserida na tampa para abrirem a caixa. Estranhamente nenhum dos cães de companhia conseguiu abrir a caixa, apenas um cão resgatado o conseguiu e… 8 dos 10 lobos acabaram por abri-la! Depois usou-se uma pessoa para incentivar os animais na tarefa, o mesmo número de lobos foi bem-sucedido, 4 dos cães de abrigo também e nenhum dos animais de estimação conseguiu abrir a caixa. Todos os cães passaram a maior parte do tempo a olhar para a pessoa procurando ajuda, contrariamente à persistência visível nos lobos, que por si mesmos resolveram o problema. Esta experiência demonstrou que os cães domésticos apresentam maior inibição de comportamento na resolução de problemas quando comparados com aos lobos. Porque será?
Devido à sua extraordinária adaptação e à pobreza de instintos, que se reflecte numa maior propensão para serem orientados pelos humanos nas tarefas, os cães acostumaram-se a pedir ajuda aos seus donos ou tratadores diante de trabalhos para eles insolúveis, perdendo com a isso a persistência que os levaria a vencê-los, o que por um lado é um avanço sociocognitivo mas que não esconde a sua invulgar dependência relativa às pessoas, o que lhes irá dificultar a sobrevivência quando isolados. Esta dependência aumenta-nos a responsabilidade e o treino canino irá exigir-nos maiores cuidados, visando a salvaguarda dos cães que normalmente é preterida pelo seu uso, o que sendo assim pouco difere de uma comum actividade circense. O aproveitamento e transformação das suas respostas naturais, obra da convivência e fruto do adestramento, deverá ser acompanhado pelo desenvolvimento da sua autonomia e pelo enriquecimento das suas experiências para que atinjam maior capacidade de resolução e consigam desenvencilhar-se dos problemas que terão pela frente sem o socorro dos humanos. Trata-se aqui de contrabalançar as respostas advindas do condicionamento com as que lhe são naturais, devolução mais que obrigatória.
Não faz qualquer sentido procurar consecutivamente cães com maior impulso ao conhecimento e depois privá-los de maior capacidade de resolução, procurando apenas a nossa satisfação pelo seu desempenho em trabalhos previamente definidos e de natureza complementar. O adestramento é no panorama actual um conjunto de truques, quando deveria ser uma oficina de jogos, onde os cães desenvolveriam as suas habilidades e capacidades inatas a par com as respostas artificias exigidas pelas diferentes disciplinas cinotécnicas. Estamos a falar de pistas tácticas, de obstáculos compostos, multiusos e de projecção negativa, de desempenhos em diversos ecossistemas, de diferentes horários escolares, de percursos de evasão e de acções tão elementares como nadar, saltar, escavar, romper, rastejar, escalar, transportar, roer, esconder-se, emboscar-se, caçar, etc., que uma vez assimiladas pelos cães mais enriqueceriam o seu desempenho interdisciplinar. Para além da autonomia condicionada que o adestramento procura, há que desenvolver neles a persistência e a curiosidade que lhes aumentam a confiança pela certeza do sucesso. Qualquer cão é capaz de abrir uma porta, accionar um interruptor ou de ligar uma máquina, ainda que tenha que reaprender a usar o seu corpo para isso.
Todo o condicionamento a haver com um cão não deverá resultar na inibição dos seus atributos naturais, erro pedagógico que a breve trecho aumentará desnecessariamente a sua dependência e o impedirá de usar o corpo para se bastar a si próprio, ele não deverá ser um robot mas um companheiro a ser usado segundo as suas características e mais-valias. Se o antropomorfismo é uma veleidade que nos impede de ver os cães tal qual são, o exagerado especicismo irá comprometer a sua sobrevivência. Assim como nenhuma disciplina canina pode alicerçar-se exclusivamente em exercícios anaeróbios, o uso dos cães deverá considerar o seu particular morfológico, o uso dos seus atributos físicos e as suas respostas naturais para a sua autonomia, pormenor indispensável àqueles que possam horas infindas entregues a si mesmos. Ainda que o treino vise o controlo dos instintos e a potenciação dos impulsos, ele não deverá inibir os instintos necessários à salvaguarda dos cães. Apesar das respostas naturais caninas serem mais duradouras que as artificiais, que geralmente necessitam de reavivamento, reciclagem e aprimoramento, as primeiras poderão ser eliminadas fácil e fatalmente pelo desuso.

GAMPR (գամփռ): O CÃO NACIONAL DA ARMÉNIA

Para além da hospitalidade das suas gentes, de paisagens idílicas, uma histórica antiga e muito rica (é a nação cristã mais antiga do mundo), lindas mulheres e muitas igrejas, uma joalharia em expansão e requintada, a Arménia tem também um super-cão: o Gampr, raça pouco conhecida fora das suas fronteiras, ainda não reconhecida pelos mais renomados Kennel Clubs, cujo nome significa cão de guarda, um molosso similar a outros existentes na região do Cáucaso, multifacetado e muito apreciado, nascido no Planalto Arménio, de uso popular e único na sua polivalência e desempenho, que espelha também ele, pelas suas características, o carácter independentista presente na Arménia e no seu povo, sendo também um símbolo da sua autonomia e nacionalismo. Por curiosidade adianta-se que Calouste Gulbenkian, que tanto bem fez e continuar a fazer a Portugal através da sua fundação, era de origem arménia, facto que muita gente desconhece.
Retornemos ao Gampr. Quando atrás dissemos tratar-se de um cão multifacetado e único na sua polivalência, qualidades advindas do seu tamanho e envergadura (ele pode alcançar os 89cm de altura e pesar até 84kg), apesar do seu standard adiantar como altura recomendada 65cm para os machos) que lhe possibilitam trabalhar excelentemente como cão de guarda, tracção, pastoreio, de caça ao lobo, ao urso, ao leopardo e demais caça grossa, para além de o capacitarem na procura e resgate de pessoas soterradas na neve e a grande altitude, já que é forte, poderoso, resistente e grande, predicados que associados a uma máquina sensorial pouco vista, aumentam substancialmente o seu quadro de atribuições. O particular da sua máquina sensorial adveio-lhe de cruzamentos com os lobos da região, primeiro espontâneos e depois intencionais, graças às mais-valias obtidas pela hibridação (um raro caso de sucesso). Quem teria aprendido com quem: os checos com os arménios ou vice-versa?
Este molosso rectangular arménio apresenta uma cabeça e crânio volumosos, o dorso paralelo ao solo, uma garupa larga, é pouco angulado e ostenta uma ossatura bastante forte, um manto de pelo duplo independentemente do comprimento da sua pelagem (os exemplares castanhos ou malhados são indesejáveis à luz do seu estalão), particulares que uma vez somados o transformam num típico cão de montanha. É na verdade um falso lento, porque de antemão a sua envergadura não indicia a sua tenacidade, arranque, desenvoltura, velocidade e resistência, deslocando-se ordinariamente em marcha e cobrindo a cada passada 180cm de terreno, numa cadência viva, suspensa e constante, andamento que em molossos deste tipo é muito pouco comum ou usual. Acresce ainda o facto da raça não se encontrar ainda flagelada pela endogamia e pela consanguinidade.
Caçador excursionista mas extraordinariamente territorial, o Gampr diferencia-se dos seus pares pelos seus dotes naturais, porque é independente, inteligente, com um grande instinto de auto preservação, alto sentido de protecção ao gado e raro apego aos donos, tarefas que lhe são inatas e que lhe dispensam o treino para esses fins. Dotado de uma saúde e longevidade invejáveis (vive em média até aos 15 anos), dispensa maiores cuidados de grooming, é tolerante às baixas temperaturas e mantém o mesmo desempenho diante de diferentes amplitudes térmicas. Costuma dizer-se que o melhor guarda-se para o fim: o Gampr apercebe-se quando o dono precisa ou não de ajuda, ajudando-o quando necessário e não se intrometendo quando for caso disso, qualidade ímpar que o torna fiável e seguro.
Como já atrás dissemos, o cão dos arménios ainda foi reconhecido internacionalmente pelas entidades maiores que presidiam á canicultura, sendo apenas reconhecido pela International Kennel Union (IKU) no ano de 2011, organização que actua já em 17 países, entre eles: Arménia, Bulgária, Espanha, Geórgia, Grécia, Rússia e Ucrânia. Os arménios continuam a defender a pureza dos seus cães e a estabelecer diferenças entre eles e outros cães do Cáucaso de idêntica morfologia, adiantando as qualidades e características que tonam o único o seu cão.
Não será só para canicultura do Leste que a Europa terá que olhar, mas também para as nações daquela latitude geoestratégica que melhor garantirão o seu espaço vital, ainda que isso colida com os interesses da Mãe-Rússia ou com os do Papão Russo, especialmente agora que se encontra enfraquecida a Sul com a invasão massiva de emigrantes e refugiados. Estamos a lembrar-nos da Arménia, Montenegro e Sérvia, também da Geórgia e da Ucrânia, porque se não o fizer, de um jeito ou de outro, elas virão a até nós e melhor seria que viessem como aliadas. O muro de Berlim ruiu, foi deitado abaixo, mas outros muros continuam de pé, impedindo a soberania de alguns povos e entaramelando o seu progresso. Política à parte, o Gampr é sem dúvida o melhor cão da região do Cáucaso, um molosso alupinado que não tem igual na Europa Ocidental.

HE NEVER LEFT HIS FALLEN FRIEND

O título deste artigo parece tirado do “Ethos Warrior” das Forças Armadas dos Estados Unidos: “I will never leave a fallen comrade”, como se os cães não fossem capazes de fazer o mesmo e não tivessem esse costume. E foi exactamente isso que fez o “Tillie”, um mestiço de Setter que nunca abandonou a sua companheira “Phoebe”, uma Basset Hound que desafortunadamente caiu numa cisterna de água situada num barranco, vindo a ser resgatada daquele local uma semana depois, graças aos bons ofícios do seu companheiro, que procurou socorro e guiou os seus socorristas. O caso passou-se recentemente na Ilha de Vashon, Condado de King, Estado de Washington/USA, território sem pontes a ligá-lo ao continente, com pouca densidade populacional e que ainda conserva o seu carácter rural. A pobre da Basset Hound sobreviveu naquele buraco sobre um monte de pedras rodeado de água, tendo invariavelmente a companhia do seu amigo “Tillie”, que lhe montou guarda e que apenas se ausentava para procurar socorro. Ao serem resgatados, ambos apresentavam ter frio e fome e foram entregues aos seus proprietários depois daquela descuidada excursão. O Tillie não seria digno duma medalha com a frase: “Semper Fi”? Onde teriam os cães ido buscar tal código de conduta? Aos homens não foi certamente, porque grande número deles ou não é ou é pouco solidário.

GATO: TERIAM OS IRMÃOS GRIMM RAZÃO?

Sempre que falo de gatos vem-me à memória a história dos “Músicos de Bremen” (Die Bremer Stadtmusikanten), da autoria dos irmãos Grimm, escrita e publicada no Séc. XIX, em pleno apogeu do romantismo europeu, que narras as peripécias de 4 animais maltratados pelos donos e condenados à morte (um burro, um cão, um gato e um galo) que se fazem a estrada, decidem conjugar esforços e lutar pela sua sobrevivência, no que virão a ser bem-sucedidos. A história provém dum conto tradicional alemão recolhido pelos irmãos Grimm (Jacob e Wilhelm), que lhe deram o estilo e os contornos literários da época, sendo uma sátira ao feudalismo e um apelo à liberdade individual. O conto acabou por transformar-se num dos símbolos da Cidade de Bremen, imortalizado numa estátua com 2 metros de altura, erigida em 1951, ao lado da Câmara Municipal (Thesaurus). Mas teriam os irmãos Grimm razão? Poderão os gatos valer aos cães e vice-versa ou estarão condenados à milenar inimizade? É deste assunto que trataremos agora, não sem antes aconselhar, a miúdos e graúdos, a leitura deste agradável conto tradicional germânico.
Importa salientar primeiro a obrigatoriedade da sociabilização canina, porque a lei assim o exige e exige-o relativamente a pessoas, a outros cães e demais animais, o que transforma qualquer cão que agrida um gato num animal perigoso, sujeitando-se às suas medidas pedagógico-preventivas, coercivas ou punitivas consoante a reincidência e gravidade dos casos. Por outro lado, a menos que a caça ao gato seja aceite e se generalize, o que dificilmente acontecerá, nenhuma das actuais disciplinas cinotécnicas se coaduna com actos destes, porque constituem entraves sérios ao bom desempenho canino, seja ele qual for. Não é por acaso que se aconselha, a quem adquire um cachorro para guarda, a aquisição em simultâneo de um gatinho, para que a sociabilização entre eles aconteça e impeça a troca de alvos, ficando o cão mais atento para o comportamento das pessoas do que distraído pela estranhez do gato. Se cães e gatos conviverem desde tenra idade, o carácter social de ambos, apesar de diferente, levá-los-á ao perfeito entendimento e até à parceria (com facilidade algumas cadelas adoptam gatinhos, tratando-os como se os houvessem gerado).
Alguns caçadores deslocados no tempo têm como hábito envenenar ou dar caça aos gatos alheios, usando invariavelmente os seus cães para isso, treinando-os dessa forma para o ofício cinegético e preservando, no seu entender, as espécies a caçar, porque sabem que os gatos são hábeis caçadores e importa-lhes eliminar a concorrência, acções dum chauvinismo extremo, próprias de tempos mais miseráveis e produto de uma cultura há muito abandonada que ainda os escraviza.
Infelizmente esta gente, apesar de ter decorado a tabuada, tem alguma dificuldade em estabelecer raciocínios, porque se pensasse mais um pouco, veria que os gatos poderiam vir em seu auxílio, ensinando os cães a caçar convenientemente, porque uns e outros são predadores e os gatos são, sem grande esforço selectivo, instintivamente caçadores de nomeada. Ensinar um cão a caçar em paralelo com um gato, é capacitar o último pelo concurso do mais excelente dos mestres, porque o felino doméstico sabe esconder-se e dissimular-se como ninguém, evolui inaudível, pára a caça e raramente falha uma captura, quer se trate de aves ou coelhos. Agora que o treino dos cães de caça é levado mais a sério e são treinados amiúde nos espaços domésticos através de simulacros e cobaias, porque não fazê-lo em parceria com um gato? O aforismo que diz: “quem não tem cão, caça com gato” parece ganhar crédito, porque quem melhor que um gato ensinará um cão a caçar?
É conhecida a extraordinária parceria entre os gatos Burma e cães em matéria de segurança e protecção, porque se completam na defesa dos seus lares adoptivos, escorraçando em conjunto qualquer intruso que deles de acerque, parceria tornada possível pelo comportamento destes gatos, que ao ser análogo aos dos cães, leva-os a estabelecer fortes laços afectivos com os seus proprietários e a deslocarem-se invariavelmente ao seu redor, quer acompanhando-os quer dividindo tarefas com eles, contrariamente á maioria dos gatos que se fixa na casa e não nos donos. Os gatos siameses e outras raças do sudoeste asiático são capazes de idêntica proeza. Na década de 90 e até princípios deste milénio tivemos dois gatos destes: o Eusébio (que era negro) e o PM, que acompanhavam o adestrador nas suas actividades para todo o lado, inclusive para a pista táctica, onde era possível vê-los entre os cães ou a descansar sobre os obstáculos. O PM foi objecto de um texto que publicámos em 01/06/2009 com o título: “ PM: O GATO QUE FOI MESTRE DOS CÃES”, onde contámos sucintamente a sua história, préstimo e importância para o adestramento.
 Entendemos nós e não julgamos estar a dizer nenhuma barbaridade, que a presença de gatos em qualquer escola canina é obrigatória, considerando a sociabilização que é exigida aos cães e o bem-estar e salvaguarda das duas espécies (os gatos que acima mencionámos até são próprios para andar à trela). Se a sociabilização com estes animais e com outros é indispensável aos cães de pistagem, perseguição, resgate e salvamento, para que não abandonem os seus trabalhos e se divirtam a caçar, para os cães de guarda ela é de idêntica importância, só não o sendo se os gatos trocarem a caça aos pássaros e coelhos por assaltos a cofres, jóias, aparelhagens electrónicas e outros bens, evolução que não se espera para breve.
Sim, o conto dos Irmãos Grimm tem o seu fundo de verdade, cães e gatos podem coabitar lado a lado e ser parceiros, dividir brincadeiras, ajudar-se mutuamente e complementar-se, verdade que se deseja e que é tarefa obrigatória do adestramento, tão obrigatória como ensinar um cão-pastor a não morder no gado ou um cão de caça a não comê-la. Quantos cães treinados já atacaram ovelhas, quantos ainda perseguem gatos, quantos se jogam contra as capoeiras? Estarão devidamente treinados? Creio que não! 

DÊEM-LHES MÚSICA!

Se entendermos a música como uma combinação de ritmo, harmonia e melodia, também como uma organização temporal de sons e silêncios (pausas), produzidos pela voz humana e pelos instrumentos, capaz de transmitir sentimentos e despertar emoções, facilmente compreendemos da importância desta arte para o bem-estar dos cães, animais mais dados a emoções e a estados anímicos, que entendem o mundo à sua volta e respondem pela associação de sons e odores. Graças a este particular é que conseguimos ensiná-los mediante comandos verbais, cuja entoação deverá ser apropriada (diferenciada) segundo o carácter das respostas que deles esperamos, para facilitarmos a sua apreensão e livrá-los do stresse. Pequenos trechos musicais podem funcionar como ordens explícitas e despoletar neles diferentes acções, desde que treinados assim, sucedendo o mesmo com os militares em relação ao toque do clarim. Os cães bem treinados que fazem parte das forças que se dedicam ao protocolo e honras do Estado, por força do hábito, reagem aos toques militares em simultâneo com os seus tratadores, dispensando inúmeras vezes outro tipo de ordem ou o seu reforço.
Há muito que sabemos dos benefícios que a música oferece aos cães, tanto que sempre a usámos nos cachorros recém-chegados a casa, depois da separação da mãe e dos seus irmãos, para se acalmarem e não se sentirem sós, usando para isso um rádio nas primeiras noites. Hoje a terapia musical está em voga no mundo canino, nos países mais evoluídos chega até a ser usada nas associações que se dedicam a recolha de cães abandonados. Nas clínicas e hospitais veterinários a música faz-se presente para acalmar pacientes e convalescentes, minorando aversões e ajudando na recuperação, enquanto veículo que transmite ânimo, calma, tranquilidade, relaxamento e felicidade. Segundo uma pesquisa realizada pela Dr.ª Deborah Wells, da Queens University de Belfast, na Irlanda do Norte, uma reputada especialista em comportamento animal, os cães gostam realmente de música e a preferência dos cachorros vai para a música clássica, que os mantém serenos e relaxados, não sucedendo o mesmo quando sujeitos a música pop ou a shows. Em complemento, outros etólogos descobriram que a música clássica soa aos cães como uma conversa humana e que, se a esse tipo de peças musicais se juntar o ladrar de um cão e o chilrear dos pássaros, tanto melhor. Ao que tudo indica, a harpa é o instrumento musical que os cães mais apreciam.
É por demais evidente, se juntarmos música à algazarra do treino, que a capacitação dos cães mais frágeis será mais fácil e que os mais equilibrados renderão mais; que as classes terão menor saturação, maior disponibilidade e melhor desempenho, a sociabilização canina será facilitada e a constituição da matilha heterogénea escolar acontecerá sem maiores delongas e percalços. Não há dúvidas: está na hora de dar música aos cães, de a fazer presente nas sessões de treino e de usufruir das suas vantagens, que também se estenderão aos adestradores, condutores e demais agentes de ensino. A isto se chama inovar e o adestramento progride pelo avanço das ciências que o sustentam. Dêem-lhes música que eles agradecem! E já agora, ao sair de casa para o trabalho, deixe um rádio ligado como companhia para o seu cão, verá que resulta! E se resulta ali, muito mais resultará nos canis.

QUAL SERÁ O MOTIVO (XLII)?

O “Komodo” é um grande presa canário com 3 anos de idade, adquirido ao seu primeiro proprietário e treinador para guarda. Apesar de não se assustar com disparos nem se incomodar com trovoadas, tolerando qualquer cão ao ponto de não se mexer, raramente se ouve e não sinaliza a presença de estranhos, aos quais mostra indiferença perante aproximação, como se fosse uma estátua, ladrando somente quando ouve a campainha da porta. É extraordinariamente obediente e asseado, nada dado a diabruras e muito bem comportado. Apesar destas mais-valias, os seus novos proprietários estão desgostosos com ele, porque de guardião não tem nada. Porque se comportará assim? Hipótese “A”: Decididamente é um medricas e cobarde. Hipótese “B”: Age assim porque é surdo. Hipótese “C”: O seu comportamento advém de um treino inadequado para a função. Hipótese “D”: Não gosta de estar preso. Hipótese “E”: Não gosta dos seus novos proprietários. Para a semana cá estaremos com um novo caso e adiantaremos qual a hipótese certa.

SOLUÇÃO DA EDIÇÃO ANTERIOR

A hipótese certa para esta rubrica da semana anterior é a Hipótese “B”: Porque a sua idade não lhe permite dormir em segurança no quintal, porque ainda se sente vulnerável e precisa de companhia. A hipótese “A” não deverá ser considerada porque o carácter brincalhão do cachorro adiantado no texto não se coaduna com a classificação de “medricas”. Devido ao particular da sua pelagem dupla, um pastor suíço dificilmente acusará o frio nocturno, mesmo quando cachorro, o que torna a hipótese “C” pouco ou nada provável. A hipótese “D” é preconceituosa e falsa, porque nada impede que um cão de exposição possa dormir ao ar livre, muito menos um próprio para classes de trabalho. O Pastor Suíço, tal qual o Pastor Alemão (nunca se sabe onde começa um e acaba o outro, porque são ambos da mesma raça) é um cão mais solícito do que chantagista, que gosta de apresentar serviço e busca aprovação desde tenra idade, factores que tornam falsa a Hipótese “E”.

CORREIO DOS LEITORES

Recebemos duma leitora o seguinte comentário ao texto: “SIM. EU ACREDITO NO CÃO MACACO!”, editado em 17/12/2012, que transcrevemos na íntegra:
Dos melhores artigos que li até hoje sobre o "cão-macaco"! Muitos parabéns! Subscrevo inteiramente o carácter - e as características - do bicho (a minha mora num apartamento alfacinha, pastoreia a família e é a mais linda e inteligente do bairro!!!)”. Resta-nos desejar para ambas bem-estar, cumplicidade e longa vida.

CARTOON DA SEMANA

Recebemos dum nosso leitor o cartoon que agora publicamos, sem dúvida actual e a dar que pensar. Queira Deus que não passe de pura especulação e que a nossa liberdade e o futuro dos nossos filhos não venham a ser comprometidos, pois já tivemos Idade Média que bastasse ou como diz o povo: Para melhor está bem, está bem; para pior já basta assim!

RANKING SEMANAL DOS TEXTOS MAIS LIDOS

O Ranking semanal dos textos mais lidos ficou assim ordenado:
1º _ PRESERVAR A VARIEDADE BICOLOR, editado em 12/09/2015
2º _ BORZOI DAS ESTEPES: O CÃO DOS COSSACOS, editado em 12/09/2015
3º _ PASTOR ALEMÃO X MALINOIS: VANTAGENS E DESVANTAGENS, editado em 15/06/2011
4º _ O CÃO JOVEM (DOS 7 AOS 18 MESES): DA PUBERDADE À MAIORIDADE, editado em 26/10/2009
5º _ OS FALSOS PASTORES ALEMÃES, editado em 24/02/2015
6º _ O MELHOR E O PIOR DO PASTOR SUIÇO: ANÁLISE MORFOLÓGICA E FUNCIONAL, editado em 21/06/2011
7º _ A CASOTA DO CÃO, editado em 29/12/2009
8º _ GALINHA DE CAMPO NÃO QUER CAPOEIRA, editado em 15/02/2010
9º _ A CURVA DE CRESCIMENTO DAS DIVERSAS LINHAS DO PASTOR ALEMÃO, editado em 29/08/2013
10º _ KYRA: DIE MUTTER VON KRIEGERN, editado em 12/09/2015

TOP 10 SEMANAL DE LEITORES POR PAÍS

O TOP 10 semanal de leitores por país obedeceu ao seguinte escalonamento:
1ª Portugal, 2º Brasil, 3º Estados Unidos, 4º Reino Unido, 5º Turquia, 6º Irlanda, 7º Espanha, 8º Alemanha, 9º França e 10º Holanda.

sábado, 12 de setembro de 2015

BORZOI DAS ESTEPES: O CÃO DOS COSSACOS

Desde que tive conhecimento deles sempre me apaixonaram. Estou a referir-me aos Cossacos, povo livre e guerreiro, de exímios cavaleiros por detrás da formação da Ucrânia e da Rússia. Depois de alguma pesquisa, porque não os estava a ver sem cão, vim a descobrir qual deles os acompanhava na caça a cavalo: o Borzoi das Estepes, um galgo pertencente genericamente à categoria dos wolfhounds, muito embora seja um típico sigthound (caçador à vista), menos conhecido que o Borzoi por não estar associado à realeza, um lebrel mais rápido do que resistente, de uso popular, capaz de avistar a caça até aos 300m e possuidor de um arranque inigualável, de pelagem dupla, curta e grossa, também de herança tártara e muito idêntico ao Sloughi (galgo do Norte de África), desfilando ordinariamente com a cauda abatida e entre as pernas, nas estepes compreendidas entre as Montanhas do Cáucaso e os rios Volga e Don. A sua selecção continua a efectuar-se pelo abate dos menos aptos e os cães mais novos são capacitados pela parceria com outros mais velhos e experientes. O termo russo “Borzoi” aplica-se a todo e qualquer wolfhound (cão de caça ao lobo).
Por vezes o Borzoi das Estepes é tratado como “South Russian Steppe Hound” devido à distribuição geográfica dos cossacos, nas estepes da Ucrânia e do Sul da Rússia. Para todos os efeitos estamos na presença de um galgo descendente dos seus pares do Médio-Oriente, um sigthound com um quociente de envergadura 2.3 parar os machos (71cm/34ks) e de sensivelmente 3 para as fêmeas (61cm/20.5kg). A raça não é muito fecunda e as suas ninhadas oscilam entre os 3 e os 6 cachorros, número que aponta para a selecção natural e que desnuda pouca ou nenhuma interferência humana. Este cão, que exige poucos cuidados de limpeza (grooming), é um animal leal, rústico, próprio para a tarefa, pouco protector, com uma energia acima da média, de fácil sociabilização com crianças, outros cães e demais animais domésticos, que exige e necessita de muito exercício físico, apesar de ser calmo dentro de casa. A raça apresenta uma grande variedade de cores, sendo cada uma delas sólida nos seus exemplares. Por demais negligenciado nas aldeias onde é comum ver-se vadio, aparecer faminto e subnutrido, o Borzoi das Estepes sofreu maior cuidado, incremento e melhoramento a partir de 1952, altura em que o “All-Union Cynological Congress” o considerou digno de preservação.
Estamos na presença de um “parente pobre” do Borzoi mas mais apto e saudável do que ele, podendo caçar até aos 12 anos de idade. O cão dos cossacos foi e continua a ser usado para dar caça ao lobo, acompanha o dono a cavalo e tanto pode trabalhar em parceria com um falcão como em matilha, sendo por excelência um cão de campanha. Pouco se sabe sobre o cão seu ancestral, se o “Canis Familiaris Leineri” ou outro, como não se sabe se todos os galgos provêm da mesma origem, muito embora ninguém duvide que nalgum momento da antiguidade galgos e podengos tiveram um ancestral comum. Quem diria que um cão de origem árabe, provavelmente introduzido pela “Rota da Seda” iria parar às gélidas estepes ucranianas e russas, adquirir pelo duplo e acompanhar cavaleiros cossacos, rutenos e eslavos. Realmente o Mundo é muito pequeno! Como os cossacos e os galgos nasceram para ser livres, a máxima “cara de um, focinho do outro” ganha neles maior sentido.

8 DA MESMA RAÇA COM 4 CORES DIFERENTES

Continuamos a conservar entre nós a biodiversidade presente nos Pastores Alemães, incentivando os nossos alunos e amigos à aquisição de diferentes variedades cromáticas permitidas pelo actual estalão e que remontam à origem da raça, hoje quase estagnada e moribunda dos pontos de vista morfológico, sanitário e cognitivo. Neste pequeno de grupo de oito pastores temos quatro variedades cromáticas diferentes: 2 lobeiros cinzentos, 2 preto-afogueados dominantes, 2 bicolores, 1 preto-afogueado recessivo e 1 exemplar totalmente negro. Desejaríamos que outros seguissem o nosso exemplo, que experimentassem e usufruíssem das vantagens de se trabalhar em “quadro aberto”, privilegiando os beneficiamentos entre variedades cromáticas diferentes, porque cada uma delas carrega mais-valias necessárias ao desenvolvimento, saúde, bem-estar e bom desempenho das outras. Sabemos que uma política de selecção destas é mais dispendiosa, mas valerá a pena continuar a produzir cães de má qualidade e vendê-los por meia dúzia de patacos? Lembra-se que foi a procura da qualidade que presidiu ao levantamento da raça e que a tornou única entre as demais, não a consanguinidade e a endogamia que hoje a condenam.

NOVO BINÓMIO

Deu entrada nas nossas fileiras um novo binómio, o constituído pela Piedade e pelo Kaiser, um Pastor Alemão de 5 meses de idade, preto-afogueado, da linha estética. Estão a evoluir no treino sem maiores dificuldades e em franco progresso. Oxalá assim continuem, dedicados e apaixonados pelo trabalho, porque irão ter pela frente, gradualmente, outros e maiores desafios.

PAI, MÃE E FILHA: UMA FAMÍLIA COMO TANTAS OUTRAS

Esta é uma foto de família, constituída pelo Kaiser, pela Kyra e pela Adele, respectivamente pai, filha e mãe. O progenitor é um exemplar negro com forte ascendente em lobeiro, a matriarca é bicolor e a cachorra pertence à mesma variedade cromática, ainda que recessiva em negro uniforme, visando a futura obtenção de exemplares dessa cor. A cachorra, exceptuando a cor, tanto morfológica como psicologicamente, é em tudo idêntica ao pai. O retrato de família fica para a posteridade e alegria dos donos também, na simbiose mais do que certa entre eles e os seus pastores alemães.

PRESERVAR A VARIEDADE BICOLOR

A Kyra é uma pastora alemã que ainda não fez 5 meses, com ascendente nas linhas checas, activa, cúmplice, esbelta e comilona, que mede 56cm de altura e pesa 25kg, o que espelha o cuidado que a Família Bouça tem com ela. Veio visitar-nos, conhecer o pai e trabalhou connosco, cumprindo exemplarmente e com alegria as tarefas que lhe foram solicitadas. Vemo-la na foto com a Patrícia, onde é possível adivinhar, pela altura e largura dos seus metacarpos, que será um exemplar de tamanho e envergadura acima da média. A escolha dos seus progenitores obedeceu à preocupação de preservarmos a variedade bicolor, pouco numerosa entre nós e que é naturalmente muito cúmplice, curiosa e ávida de atribuições, com forte sentimento territorial e duma lealdade insofismável. Desejamos-lhes as maiores felicidades, grandes aventuras e longa vida, que uma e outra consigam preencher as aspirações de ambas.