domingo, 31 de maio de 2015

SEM RODEIOS: O MAU HÁBITO DE BATER

Haverá cães que merecem um valente par de sopapos? Certamente que os há! Mas você, enquanto ser inteligente, deverá encontrar outras soluções antes de enveredar pela violência, pela lei do “olho por olho e dente por dente”, prática de cãs brancas que condenamos nas culturas que nos são alheias e em contraposição à nossa. Quando se justificará agredir um cão? Quando na ausência de outros meios se tornar imperioso operar a sua defesa, a nossa ou a dos outros. A que presta a violência sobre os cães? À submissão canina por via do temor que invalida a cumplicidade e obsta ao aproveitamento das suas mais-valias, gerando desconfiança e manha nos animais e um inevitável ajuste de contas nalguns. Por que razão alguns donos agridem sistematicamente os seus cães? Por ignorância de outros meios para se fazerem compreender. Que donos “molham mais a sopa”? Os que foram vítimas do mesmo processo de aprendizagem, os inseguros, os frustrados e aqueles que não suportam ser contrariados. Bater pode tornar-se num hábito? É evidente que sim, essa é à prática típica dos violentos e menos apetrechados, gente que não olha a meios para ser exercer o seu domínio e que não suporta relações de paridade. Quem tende a agredir por tudo e por nada? Os cobardes por medo. Porque não se deve agredir os cães? Porque é uma prática criminosa, já que à paulada não se educam cães nem crianças, o trauma invalida a criatividade, o stress obsta ao desenvolvimento cognitivo canino e a obediência por medo, por ausência de confiança, obsta à fidelidade (os ditadores depostos que o digam!).

SERÁ A RESISTÊNCIA À DOR A FAZER A DIFERENÇA!

Ao longo da minha existência assisti e nalguns casos participei, no treino de cães de guarda em vários continentes. Vi grandes figurantes, comediantes e actores mas somente um punhado de bons cães que, com o decorrer do tempo e por circunstâncias várias, são cada vez mais raros, apesar de crescer o número daqueles com especificações guardiãs registadas nos seus pedigrees, talvez porque mais se valorize o ataque, o desporto e o simulacro em detrimento da defesa, da acção e da realidade, o que bem vistas coisas até é desejável, considerando o bem-estar e salvaguarda de pessoas e cães. Porém, esta política lembra o que se diz sobre o uso da pistola de alarme, de quem dizem assustar dois: a pessoa que a dispara e quem é surpreendido por ela, podendo o seu portador receber chumbo como resposta.
Como qualquer pugilista ou outro tipo de lutador humano, até porque irá entrar num combate desigual, o cão de guarda precisará de aprender a defender-se e a suportar os golpes dos seus opositores, geralmente maiores, melhor armados, mais ardilosos e bem para além das suas escolhas naturais. Os cães, ao contrário de alguns homens com achaques individuais por vezes advindos de fragilidades sociais, não se prestam a sacos de pancada, ao suicídio para se livrarem da dor, optando a maioria por fugir e um pequeno grupo a lutar desesperadamente pela sua sobrevivência, nobreza rara que a genética oferece, o treino aproveita e que não tem livrado da morte aqueles que não arredaram pé, valentia que tem possibilitado a defesa dos donos e até poupado as suas vidas. Como um soldado ou um polícia, que de imediato não aquilatam que têm a vida presa por um fio, o cão de guarda pode morrer no exercício das suas funções, pelo que brincar aos cães de guarda pode ser e na maioria dos casos é, uma leviandade que se repercutirá em vítimas (os cães).
Tudo no ensino canino resulta da investidura que é dada aos animais e em muito poucos se poderá transformar a ficção em realidade como nos cães, pormenor inalcançável sem o seu particular social, gratidão e credulidade. Mediante a experiência feliz, a esmagadora maioria deles virá a rondar, a denunciar, a defender, a desarmar e a atacar intrusos ou invasores, nem que seja por uma só vez. Nada no adestramento acontece por acaso e nenhum objectivo dispensa as metas que o sustentam, sucedendo exactamente o mesmo na disciplina de guarda, quando procuramos que os cães surpreendam e não venham a ser surpreendidos, porque só a surpresa lhes garantirá a vitória. Por causa disso muito se investe na sua preparação, na carga, intensidade e novidade dos exercícios. A necessidade da surpresa canina tem tornado obsoletas determinadas raças até aqui usadas para guarda, privilegiando-se, outras mais leves, mais rápidas e menos previsíveis, na transição da presença ostensiva para a captura automática, sobrando disso algumas dificuldades no travamento e na cessação das acções, já que esses lupinos comportam-se e evoluem como autênticos “sighthounds”.
Trabalhar cães para guarda, como outrora não se fez e é hoje prática corrente, exclusivamente através de indução e de uma pretensa carga genética, só porque os cães são de uma determinada raça, é condenar ao logro o serviço desses indivíduos e quiçá contribuir para a sua precoce eliminação, uma vez que se revelarão vulneráveis e impróprios para a função, ainda que adquiram uma apresentação similar à dos indicados, o que mais os condenará. Neste País de toureiros e touradas, agora a merecerem alguma contestação, a garraiada desceu aos centros de treinos caninos, trocando-se as vacas por cães e os forcados por cobaias. O recrutamento de cães para o ofício guardião tem vindo a subverter regras e critérios clássicos há muito comprovados, ao dar a primazia ao impulso ao alimento em detrimento dos impulso à luta e ao poder, aliciamento que induz à dependência e condiciona ou obsta ao bom desempenho, não sendo por isso de estranhar que os ferozes cães do passado sejam agora rendidos pelos esfomeados do presente, anãozinhos rezingões e refilões que muito bem ficariam ao lado da “Snow White” (Branca de Neve).
 A actual opção pelos submissos ou pelo seu aproveitamento, indivíduos rotulados de excelentes e prole dos mais afamados ascendentes, segundo nos querem fazer crer, tem-se revelado um desastre na prática, porque gozam de menor autonomia, obrigam a maior apoio e quando mal sucedidos, tendem a enveredar pelo trauma, invalidando assim o trabalho de que foram objecto, porque acusam em demasia o castigo (a dor) e batem em retirada quando verdadeiramente contra-atacados. O genuíno cão de guarda deverá ser encontrado entre os dominantes, indivíduos com fortes impulsos à luta e ao poder, a quem a dor torna mais bravos e resolutos, funcionando como um detonador para as suas acções, porque nasceram para lutar, não se intimidam com o tamanho dos seus opositores, procuram as suas fragilidades, não se deixam chantagear, não aceitam gratuitamente o domínio alheio, não viram a cara à luta, dificilmente se acobardam, abominam a rendição e morrem a lutar, muito embora exijam líderes de igual ou superior têmpera, porque precisam de ser contrariados em abono do seu controlo, versatilidade e aprimoramento.
E porque o cão de guarda trabalha invariavelmente isolado e em substituição do policiamento dos donos, convém que seja adestrado no confronto activo e não passivo, que se acostume gradualmente aos contra-ataques, que deverão aumentar de intensidade, ser de diferentes tipos e com novidade de armas, para que a sua resistência aumente, a experiência o capacite e se torne hábil no domínio dos diversos inimigos que terá pela frente. Sim, é a resistência à dor que estabelece a diferença gradativa entre os guardiões! Deixaria de ser se todos os ataques caninos acontecessem de surpresa sobre incautos invasores. A tarefa de guardar e policiar só pode ser entregue aos cães dominantes, não aos que se submetem pela dor. Não estamos com isto a fazer a fazer a apologia dos cães de guarda ou de qualquer besta-fera, porque o assunto é demasiado sério, o feitiço pode virar-se contra o feiticeiro e da contenda sempre alguém sai maltratado. O que não queremos e optámos por denunciar é que a máxima “mas vale sê-lo do que parecê-lo” não pode ser aplicada aos cães de guarda, sob o risco de virem a ser eliminados. Sempre será melhor brincar ao paintball do que aos cães de guarda, considerando a salvaguarda de homens e cães. Caso o apelo predador domine sobre si, fique-se pela guarda desportiva e delicie-se com o “faz de conta”, porque nela raramente alguém se aleija e ainda pode ver premiada a sua incontida paixão.

QUANDO EUTANASIAR?

Aqui está uma questão de difícil resposta mas que não param de fazer-nos, apesar do assunto estar longe do nosso agrado, porque labutamos pela longevidade dos cães e não pelo encurtamento dos seus dias. A última palavra para o abate forçado de um cão caberá ao seu dono, árdua decisão a que todos se esquivariam se pudessem e que tentamos postergar o mais possível, considerando os fortes laços afectivos e a cumplicidade que mantemos com estes companheiros, sem dúvida únicos, que passam a sua vida ao nosso lado e que alegram os nossos corações, acompanhando-nos nas veredas que temos que trilhar. Sim, quando morre o nosso cão ficamos mais pobres, porque é um amigo que parte e na vida não teremos muitos, levando consigo algo de nós que jamais recuperaremos, um vazio que em vão tentaremos preencher, já que o tempo não volta atrás. Quanto mais próxima e profunda for relação entre o dono e o seu cão, mais difícil se tornará tomar a decisão de abatê-lo.
Conscientes do melindre da situação, apenas podemos adiantar as razões que nos levaram e infelizmente levarão a eutanasiar os nossos cães, que mais consideram o sofrimento dos animais do que o nosso, princípio para nós razoável e altruísta que deverá suplantar a nossa perca. Não será a idade, o menor préstimo, alguma incapacidade ou a trabalheira que nos forçarão ao abate dos animais, muito menos a nossa conveniência ou a de outros, mas a presença de enfermidades progressivas (terminais) sem recuperação, que gradualmente vão privando os cães das suas funções vitais, sujeitando-os a uma vida quase vegetativa e artificial pela aplicação continuada de um conjunto de drogas.
Quando adquirimos um cão não pensamos no caso e quando ele nos aflora tentamos esquecê-lo, como se a morte não viesse, tardasse em demasia ou chegasse súbita e indolor, mercê do apego à vida que a todos mantém de pé (homens e cães), expectativa biológica, antropológica e cultural que alguns tratam por fé e que os leva a sonhar com a imortalidade. Não obstante, mais importa trabalhar pelo aumento da esperança de vida dos cães do que lamentar precocemente a sua morte, dispensando-lhes todos os cuidados inerentes ao seu bem-estar, porque a sua vida é curta e importa que a vivam plenamente. 

CÃES DO OLX E EM 2ª MÃO

Já vimos comprar bons cachorros que se encontravam alojados em grades, a par com pombos, coelhos e galinhas; já adoptámos cães que se revelaram surpreendentes; já comprámos alguns baratos que não venderíamos por nenhum preço e já vimos alguns péssimos a gerarem filhos excelentes. Porém, estamos a falar de excepções, duma lotaria que apenas permeia os sortudos, da rara sorte que por vezes bafeja os principiantes, quando se procuram cães de trabalho ou com um fim específico. Por via da contenção económica a que nos vimos forçados e que cada vez mais diferenciará os países da Comunidade Europeia entre si (porque uns pagam juros e outros recebem-nos), o panorama da canicultura portuguesa mudou drasticamente, porque a classe média está depauperada (depenada) e não lhe sobra dinheiro para extravagâncias. O filão dos cães importados, que tanto dinheiro deu a ganhar, secou; os grandes canicultores reduziram os efectivos e despesas; o preço dos cães baixou para valores impensáveis; as rações mais baratas viram aumentada a sua procura; os veterinários passaram a ser evitados e a presença de binómios nas escolas dificilmente ultrapassa o 1º mês, mesmo com a redução do valor das mensalidades que hoje se pratica. E se a nossa canicultura ainda não foi a pique, é porque as paixões são difíceis de controlar, sempre saltam à flor da pele e fomos nós que criámos o ditado: “quem não tem cão, caça com gato”. Fomos nós ou seriam os ingleses?
Nunca foi tão fácil comprar um cão bom por pouco dinheiro e não é difícil adquirir um ruim pelo mesmo preço (ambos podem ser comprados a prestações), porque há muita gente a desfazer-se de cães e parece que a campanha “não compre, adopte um cão” está finalmente a surtir efeito, apesar da opção se afigurar mais forçada do que livre. Nunca o preço mandou mais do que a qualidade como agora, andando de boca em boca a relação preço-qualidade, política tantas vezes desprezada nos auspiciosos tempos das vacas gordas. Longe vai o tempo das visitas aos canicultores, que recebiam sobranceiros os seus clientes com um semblante ao mesmo tempo asceta e erudito, emanando conhecimento e não escondendo a riqueza. Agora pouco se ouve falar deles, alguns parecem ter desaparecido e a OLX usurpou o seu lugar, porque os anúncios são gratuitos, a oferta é grande e o preço aparece escarrapachado, o que facilita a compra de um cão sem sair de casa ou a saída pela certa. Graças aos bons ofícios da Internet, a maioria dos cães que nos chegam foi adquirida através da OLX, sendo a sua qualidade bem diversa, sobrando bons cães em más mãos e ruins a quem desejava mais, como sempre aconteceu. Por norma, estes cães têm pior apresentação que os do passado recente, sobressai a ausência de cuidado e o pouco investimento a que se viram votados, porque a palavra despesa é hoje proscrita, podendo ainda acontecer a venda de “gato por lebre”.
Sempre aconteceu e hoje prolifera, a prática dos cães em 2ª mão, lembrando um sector do comércio automóvel, agora muito em voga e não tão lucrativo como antes, já que os clientes ou não pagam as mensalidades ou acabam por estampar os carros antes da sua satisfação, abandonando-os, tornando-se incontactáveis ou desaparecendo de circulação, dizendo-se muito ocupados, desempregados e desculpando-se até onde a imaginação lhes permitir. Considera-se cão em 2ª mão (alguns já vão na 3ª ou 4ª), aquele que foi comprado por alguém e que acaba vendido a uma segunda pessoa, por desencanto ou dificuldades várias do seu anterior proprietário. Quanto mais tarde estes cães forem adquiridos, mais mazelas carregarão da casa que os desprezou a troco de quase nada, apresentando muitos deles sinais de desnutrição, forte carga instintiva e também algumas taras de difícil solução, reflexos do seu viver social até então, pautado por experiências negativas que “teimarão” em não esquecer, para além de outras maleitas resultantes do excessivo confinamento, do stress, da ausência de acompanhamento médico-veterinário e da falta de higiene.
Estas novidades relativas à aquisição de cães têm enfraquecido ainda mais a já pobre canicultura portuguesa, que nunca atingiu um lugar de destaque entre as suas congéneres europeias, servindo-lhes ao longo de décadas para o escoamento de exemplares de 2ª linha. Contudo, houve um punhado de homens que inverteu essa tendência, importando animais de primeira grandeza e de quem hoje não se houve falar. Com o Estado em austeridade, as forças policiais também andam mal aviadas de cães, apresentando alguns que nem lembram ao Príncipe das Trevas. Nas classes de trabalho e nas Forças da Ordem não nos faltam Malinois, cada um diferente do outro, estamos bem aviados de Border Collies, não nos faltam Weimaraners e o Buldogue Francês parece ser autóctone. Os Rottweilers levaram sumiço, há um Jack Russel a cada esquina, o Bull Terrier virou mascote, as raças portuguesas parecem ter passado à clandestinidade e os Pastores Alemães nunca foram tão maus como agora: pequenos, feios, carentes de envergadura, desaprumados e de costelas à vista, o que a ninguém espanta atendendo ao descalabro económico que nos atingiu e do qual tardamos em recuperar. Mas se mal vão os cães, os portugueses não vão melhor, excepção feita aos jovens licenciados, a quem são ainda apresentadas três saídas válidas: por mar, por terra e pelo ar! 

UM ANJO DA GUARDA NEGRO

Lucas é o nome dum evangelista bíblico e não de um anjo, muito embora o polícia norte-americano Todd Frazier tenha encontrado um e negro, o seu parceiro canino, um Pastor Alemão de nome Lucas, a quem ficou a dever a vida. O caso ocorreu este mês no Condado de Hancock/Illinois/USA, quando o polícia atrás citado, depois de investigar uma viatura que se encontrava estacionada, foi emboscado e atacado a tiro por três indivíduos, sendo depois levado para uma zona arborizada, no intuito de lhe cortarem a garganta (as coisas ali não se fazem por menos). O agente de autoridade conseguiu soltar uma das mãos a meio do trajecto, o que lhe possibilitou a abertura da porta do carro-patrulha, saindo de lá o cão, que vendo o seu líder em aflição, não se fez rogado, lançando-se de imediato sobre os agressores, mordendo um e capturando outro, acção valente que salvou a vida ao polícia, que ainda sofreu um corte na cara e múltiplas lesões corporais. Para além da comum protecção do Anjo da Guarda parece que os polícias norte-americanos ainda possuem outros que zelam por eles.

CÃO: O AGENTE PERSUASIVO

Hoje mais do que nunca, os cães são usados em todo o tipo de campanhas no sentido de persuadir ou sensibilizar as massas, porque raras são as pessoas que não nutrem por eles um carinho especial. A Fundação Argentina para o Transplante de Fígado lançou recentemente um vídeo, visto por mais de 2 milhões de pessoas, para alcançar mais doadores de órgãos, servindo-se da história fictícia de um idoso e do seu cão, que dividem o seu quotidiano um com o outro, realçando a parceria havida entre ambos. Dum momento para o outro, o idoso sente-se mal, adoece e vai parar ao hospital, onde acaba por morrer, sendo o seu fígado transplantado numa senhora a precisar dele. Como o cão havia seguido o dono até àquele hospital, ali permaneceu à porta na esperança de reencontrá-lo. Subitamente, sai daquela unidade hospitalar uma senhora numa cadeira de rodas, a mesma que recebeu o fígado do proprietário do animal. O cão vê-a, parece reconhecê-la, corre para ela e acaricia-a, como se reconhecesse nela a presença do seu finado dono. O vídeo termina com a mensagem: “Seja um doador de órgãos”. Apesar da mensagem ser forte e comovente, esse é o seu objectivo, é pouco plausível que na realidade as coisas se passassem assim. De qualquer modo, há que felicitar o publicitário mentor da ideia, uma vez que a sua mensagem cativou multidões e dificilmente deixará alguém indiferente.

O DESEMPREGO NEM OS CÃES POUPA!

Quem pensar que os cães não vão para o desemprego engana-se redondamente, já que a história de Travis Dahl e da Dora corroboram essa possibilidade, ele tratador da Polícia no Oregon/USA e ela uma Pastora Belga Malinois especialista em detectar maconha, sendo responsáveis até ao momento por 300 detenções. Acontece que naquele Estado norte-americano, já a partir do próximo 1 de Julho, a cannabis e o consumo doutras drogas deixará de ser ilegal para os adultos, o que torna dispensáveis os serviços da dedicada cadela e obrigará à sua dispensa do serviço, factos desoladores para Dahl que o levam a questionar se o trabalho de ambos valeu a pena. É possível que a Pastora Belga seja convertida em cão de terapia e venha a conviver na prisão com alguns dos detidos que para lá enviou, o que no mínimo é caricato. É caso para se dizer: mudam-se os tempos, mudam-se as vontades. Caso Travis Dahl fosse português, certamente completaria o aforismo com outro, como sinal do seu desencanto: “quando a água bate nas rochas, quem se lixa é o mexilhão”, assim dizem os poetas, assim acontece na América.

QUAL SERÁ O MOTIVO (XXX)?

O “Sauerkraut” (chucrute) é um Dachshund vermelho, com 3 anos de idade, teimoso e muito traquinas, que adorava correr num jardim próximo da residência dos donos, marcando território por toda a parte e procurando qualquer cão para brincar, merecendo dos outros proprietários caninos a alcunha de “furacão”. De um momento para o outro, a toleima já dura 3 meses, quer chova quer faça sol, passou a desinteressar-se dos outros cães e logo após satisfazer as suas necessidades, raspa-se de imediato para um canteiro densamente coberto por flores rasteiras, cauteloso, quase silencioso e de nariz rente ao chão. Intrigados pelo interesse do cão, os donos já passaram o canteiro a pente fino e não descobriram nada capaz de lhe agradar, pelo que a atitude do Sauerkraut é para eles um mistério. Porque se comportará o pequeno cão assim? Hipótese “A”: Porque uma cadela com o cio urinou por ali. Hipótese “B”: Porque no canteiro existe um grande formigueiro e ele intenta caçar as formigas. Hipótese “C”: Porque os melros costumam ali fazer ninho. Hipótese “D”: Porque só existem naquele canteiro as ervas da sua preferência. Hipótese “E”: Porque as ratazanas têm túneis por debaixo do canteiro e ele quer dar-lhes caça. Para a semana cá estaremos com um novo caso e adiantaremos qual a hipótese certa.

SOLUÇÃO DA EDIÇÃO ANTERIOR

A resposta certa para esta rubrica da semana passada é a Hipótese “C”: Procede assim porque algum vizinho costuma alimentá-lo na ausência dos donos. O Dogue de Bordéus não é propenso a grandes prestações atléticas, muito menos a saltar muros e o descrito no texto saía amiúde à rua, razões genética e ambiental que descreditam a Hipótese “A”, tornando-a assim falsa. A raça é territorial e zelosa dos seus donos, estando bem integrada na família, dificilmente procurará mimos alheios e se apaixonará gratuitamente por estranhos, o que torna pouco viável a Hipótese “B”. O Dogue de Bordéus é naturalmente calmo e pouco dado a euforias, algo relacionado com o seu peso e envergadura, resguardando-se para assuntos mais sérios e com 4 anos de idade dificilmente se interessaria por uma bola, o que torna a Hipótese “D” pouco provável. E se tende a desprezar inofensivos objectos em movimento, de maneira nenhuma se interessaria por roupa estendida fora do seu alcance, sendo a Hipótese “E” fantasiosa.

RANKING SEMANAL DOS TEXTOS MAIS LIDOS

O Ranking semanal dos textos mais lidos obedeceu à seguinte ordem:
1º _ O CÃO LOBEIRO: UM SILVESTRE ENTRE NÓS, editado em 26/10/2009
2º _ ELES NÃO CHORAM MAS EXIGEM O MESMO CUIDADO, editado em 25/05/2015
3º _ REVIRAVOLTA CANINA NO 2º MILÉNIO, editado em 26/05/12015
4º _ PASTOR ALEMÃO X MALINOIS: VANTAGENS E DESVANTAGENS, editado em 15/06/2011
5º _ A CURVA DE CRESCIMENTO DAS DIVERSAS LINHAS DO PASTOR ALEMÃO, editado em 29/08/2013
6º _ ÉTICA ESCOLAR NA ACENDURA BRAVA, editado em 04/02/2015
7º _ UMA PERGUNTA, editado em 26/05/2015
8º _ O MELHOR E O PIOR DO PASTOR SUIÇO: ANÁLISE MORFOLÓGICA E FUNCIONAL, editado em 21/06/2011
9º _ “X” DE JARRETE DE VACA, editado em 21/06/2011
10º _ O CÃO JOVEM (DOS 7 AOS 18 MESES): DA PUBERDADE À MAIORIDADE, editado em 26/10/2009

TOP 10 SEMANAL DE LEITORES POR PAÍS

O TOP 10 semanal de leitores por país ficou assim ordenado:
1º Portugal, 2º Brasil, 3º Estados Unidos, 4º Alemanha, 5º Reino Unido, 6º Rússia, 7º Ucrânia, 8º Angola, 9º Chile e 10º Colômbia.

terça-feira, 26 de maio de 2015

REVIRAVOLTA CANINA NO 2º MILÉNIO

Como homem e adestrador tenho vindo a assistir com alegria a uma reviravolta no uso canino, um tipo de redenção que tem colocado em sintonia homens e animais, um volte face que irá obrigar, inclusive, à reformulação do conceito de cães de trabalho, diante da novidade, diversidade e montante dos serviços agora prestados pelos nossos amigos de quatro patas.
Gradualmente, os cães de guerra, caçadores e de perseguição têm cedido lugar aos de terapia, salvamento e resgate, os cães-bomba são agora substituídos pelos que detectam explosivos, os caçadores procuram sobreviventes entre escombros, outros são preciosos auxiliares de deficientes e outros prestam-se ainda como pais adoptivos de espécies em vias de extinção, como é o caso da cadela que vemos na foto seguinte, a amamentar dois filhotes de panda.
Segundo tudo leva a crer, a natureza e objectivos dos futuros centros de adestramento canino virão a sofrer profundas alterações, sobrepondo-se o uso terapêutico canino ao seu aproveitamento para fins bélicos, exaltando-se a cumplicidade e parceria em detrimento da predação, até porque por toda a parte se começam a respeitar os direitos que assistem aos animais. Tudo está a acontecer a uma velocidade vertiginosa e os adestradores não deverão ser apanhados de surpresa, para não correrem o risco de serem ultrapassados.

UMA PERGUNTA

O reforço positivo bastará aos cães de guarda? Sim, como melhor estratégia indutora e não, devido às exigências da função, ainda que seja indispensável para o retomar das acções por parte dos cães, que arrancam decididos na certeza do apoio alcançado na retaguarda, confiança que os fará contra-atacar, não desistir e lutar pela vitória. Mais do que no método utilizado, a qualidade dos guardiões dependerá das suas características individuais e da riqueza do treino de que foram objecto. Tanto as experiências positivas quanto as negativas são necessárias aos cães de guarda, porque trabalham isolados e importa que saibam o que os espera, visando a sua salvaguarda e a efectividade do seu serviço.

SER DONO

Estarão todos os proprietários caninos preparados para serem donos dos seus cães? Estarão cientes dos seus deveres e responsabilidades para além do gozo dos possuírem? É disso que vamos tratar agora. Importa primeiro abordar etimologicamente o substantivo masculino no singular “dono”, termo de origem latina resultante de “dominus”, que significa senhor, proprietário e líder, comummente também usado para identificar ou qualificar Deus, porque a origem da palavra é por si mesma reveladora quanto à responsabilidade dos proprietários caninos. Apesar de muito se lutar pelos direitos do animal, vigora ainda o conceito latino na nossa Lei, já que os cães continuam a ser tratados como pertences dos seus donos, à imitação doutros animais ou bens que possam possuir, herança especicista que não esconde a fonte semito-cristã presente na cultura ocidental, que nalguns casos é ambígua ao penalizar mais os cães que os seus senhores.
Apesar de importante, não vamos aqui abordar as responsabilidades legais dos donos dos cães, porque caberá a outros fazê-lo segundo a sua cátedra ou ofício, mas reflectir sobre os cuidados a haver com estes companheiros, tendo em conta o seu particular biológico, que sendo único, merece-nos a maior atenção e respeito. Ao entendermos dono como “senhor”, facilmente compreendemos que os cães se encontram dependentes de nós, da nossa vontade, condições e proventos para sobreviverem, sobrevivência que hoje não separamos do seu bem-estar, considerando a nossa evolução e o crescente conhecimento que vamos tendo deles. Incapazes de proverem sustento por si mesmos, facto que gradualmente foi facilitando a sua domesticação pela privação da liberdade, os cães esperam que os seus donos os alimentem, obrigação a que os seus senhores não podem escusar-se, porque uns e outros viverão mais ou menos tempo de acordo com as dietas à sua disposição. Para além desta obrigação, cabe ainda aos donos zelar pela sua saúde, higiene e exercício adequado, adaptá-los ao seu modo de vida e operar a sua salvaguarda, servindo-lhes de mestres por substituição ao longo da sua existência, tarefas que exigem alguma disponibilidade e que nem todos têm.
Se entendermos os donos como proprietários dos cães, facto que não suscita dúvidas a ninguém, o estado em que eles se encontram acabará por espelhar o cuidado que lhes é dispensado, denunciando assim qual o valor e a importância que têm para quem os adquiriu. Contrariamente ao que por vezes se julga é-se proprietário canino a tempo inteiro, ainda que outros se prestem ao seu ensino, cuidem da sua saúde ou se encarreguem da sua higiene e limpeza, tarefas que farão a nosso rogo, com o nosso conhecimento e debaixo da nossa supervisão, uma vez que são pagos para isso. O cão é um bem com vida, um animal que pede afecto e que o devolve em protecção, porque é um ser social que busca aprovação e que não dispensa os estímulos que a tornam possível, exigindo em simultâneo uma relação tão próxima quanto possível, porque é dedicado e fiel, seguindo-nos por toda a parte e animando-nos quando nos encontramos doentes ou abatidos. Os proprietários de cães de serviço e terapia sabem melhor que ninguém qual a importância de ter um cão como parceiro.
Se entendermos líder como sinónimo de dono, fatalmente chegaremos à conclusão que existem cães muito mal empregues, porque os seus proprietários ao invés de potenciarem os seus impulsos herdados, providenciarem o seu aumento cognitivo e operarem o seu desenvolvimento físico, acabam por condená-los ao isolamento, à inactividade e a uma experiência repetitiva e pobre, entregando-os aos seus instintos mais básicos e obstando à sua integração familiar e social, males só por si válidos para o alcance de várias taras, para o stress que induz a doenças várias e para o encurtamento dos seus dias. Quer o lobo tenha surgido da criação de Deus ou da evolução das espécies, uma certeza podemos ter: o homem fez o cão! E ao fazê-lo, roubou-lhe a autonomia para usá-lo, particular que lhe garantiu a liderança e possibilitou o uso do cão num sem número de serviços que não param de aumentar até aos dias de hoje. Do que dependerá a maior ou menor aptidão de um cão? Inevitavelmente da liderança qualitativa dos seus donos! Porque subsiste grande número de cães inadaptados ou de menor préstimo? Porque foram confiados a donos impróprios que não quiseram ou não souberam adequá-los, sobrando ainda o caso de alguns, e não são assim tão poucos, cuja personalidade e/ou carácter obstam e continuarão a obstar ao exercício da liderança.  

segunda-feira, 25 de maio de 2015

ELES NÃO CHORAM MAS EXIGEM O MESMO CUIDADO

Durante algum tempo procurámos explicações para certos factos, dúvidas relativas ao maior sucesso das senhoras no adestramento, ao cumular das dificuldades entre os jovens nesta actividade e à dificuldade generalizada de extroversão, característica indispensável a quem pretende comunicar e transmitir emoções, serenar para ensinar e apoiar quando é preciso. Pensámos a princípio que a supremacia das senhoras ficava a dever-se ao facto de serem por norma menos agressivas, que o menor sucesso dos jovens se remetia em exclusivo à sua imaturidade e que a ausência de extroversão ficava a dever-se a razões sociais e ao particular laboral de cada um. Pouco a pouco dissipámos todas as dúvidas e compreendemos que o exercício da maternidade e da paternidade resultam como o melhor dos subsídios para o adestramento, o que transforma os pais zelosos em excelentes adestradores, enquanto pais pedagógicos dos animais que adoptaram. A nossa certeza é também reforçada por aqueles que, nunca tendo filhos mas sendo naturalmente vocacionados para isso, acabam por tratar os seus cães como se os houvessem gerado.
Salvo as devidas diferenças, cuidar de um filho não difere muito de educar um cão, porque ambos necessitam de idêntica atenção e de um acompanhamento a par e passo, de serem compreendidos e de verem satisfeitas as suas necessidades básicas. O bebé apresenta uma vantagem em relação ao cão: chora quando alguma coisa não está bem e não se cala até se sentir confortável, quer necessite de atenção, socorro, carinho, descanso, comida ou higiene. Diante das mesmas necessidades, o cão manifestará alguma inquietude e ansiedade, podendo ladrar ou gemer, alterando em simultâneo as suas expressões mímicas (há cães que enfiam a cabeça por debaixo dos braços dos donos para que estes lhe façam festas). O particular do comportamento canino irá obrigar-nos ao seu conhecimento e à interpretação das suas expressões mímicas, para que prontamente sejam compreendidos, socorridos, apoiados na altura certa e assumam as regras sem maior dificuldade, mercê do seu conhecimento e da aquisição das rotinas que tomarão como suas.
Vezes sem conta temos assistido à impropriedade e invalidade dos apoios e incentivos dos condutores aos seus cães, que parecem pouco à vontade, com medo da exposição ao ridículo ou incomodados quando convidados a felicitá-los, menor empenho que o reforço positivo tende a substituir e a consertar à falta de melhor, ainda que não gratuitamente. Se entendermos o adestramento como uma arte, então ela será baseada no amor que opera a transfiguração dos condutores, que tudo fazem para melhor serem compreendidos. Urge trazer para o treino a relação binomial íntima e afectuosa alcançada no lar, que é o melhor dos subsídios e estímulo para o progresso escolar. Carregar para o treino uma postura diferente da alcançada em casa é promover a desconfiança canina, lançar os cães na confusão e criar barreiras ao seu ensino, já que resistirão ao treino na ânsia de chegarem a casa. 

NÓS POR CÁ: UMA QUESTÃO TÃO ANTIGA QUANTO GUIMARÃES

Diante de abusos dificilmente alguém se calará e quando são perpetrados pela Polícia, a consternação e a revolta aumentam, porque esperamos que ela defenda os nossos direitos e não que os viole. O caso ocorrido há dois fins-de-semana atrás, em Guimarães, junto ao Estádio do Vitória local, anda de boca em boca e o descontentamento público é geral, porque um oficial de polícia agrediu um homem na frente dos seus filhos menores, socando ainda um familiar já idoso, numa manifestação gratuita e desmensurada de violência, lembrando tempos idos que ninguém quer de volta. A nosso ver (talvez tenhamos vistas curtas), o agressor é o menos culpado, porque foi objecto de selecção e admitido naquela corporação, o que torna mais responsáveis aqueles que o aprovaram. Algo vai mal na selecção de candidatos para as polícias e exige-se que ela seja mais objectiva e rigorosa, pois cresce o número de agentes sensíveis à prática do suborno e ao exercício da marginalidade, assim como os portadores de patologias graves que acabam por comprometer a seriedade e a excelente prestação da esmagadora maioria dos seus camaradas de armas. No meio deste lamentável incidente, há que louvar a acção de um polícia do CI, ao tentar serenar uma das crianças, afastando-a dos horrores a que presenciava. Oxalá episódios destes não se repitam e os futuros candidatos a polícias venham a ser objecto de uma avaliação psicológica séria e independente, obrigatoriamente mais rigorosa para aqueles com funções de comando ou capazes de as alcançar, porque doutro modo continuaremos a recrutar, a fardar e armar gente que deveria estar num manicómio, proibida de lá sair por ser excepcionalmente violenta e representar uma grave ameaça para a sociedade.

HOUVE QUEM SE LEMBRASSE DELE

Estranhamente, um dos textos mais lidos desta semana foi “ANTÓNIO MOURA: DO SUOR PARA A GLÓRIA”, quiçá por haver desaparecido há cinco anos, feitos no dia 17 do corrente mês. O Sr. António foi uma figura incontornável para quem o conheceu, tanto pelos seus feitos como pelas suas histórias, experiências de vida que dividia com os mais próximos. Passámos com ele alguns serões agradáveis e relembrámos antigos relatos das gentes do Portugal profundo, carregados de simplicidade e misticismo. Paz à sua alma e que o seu exemplo de vida perdure pela sua descendência, porque foi um lutador e conseguiu triunfar.

QUAL SERÁ O MOTIVO (XXIX)?

O “Almansor” é um Dogue de Bordéus com 4 anos de idade, duma linhagem de campeões e por isso mesmo portador de um excelente pedigree. É pachorrento, vive em casa com os donos, vai várias vezes à rua e fica no quintal quando eles saem para trabalhar. Sempre que os donos regressavam a casa, costumava correr desalmadamente ao seu encontro, atitude que agora abandonou, para se fixar nos muros do quintal que dão para as traseiras doutros prédios, parecendo até ter perdido o apetite, já que não come com a mesma sofreguidão. Os seus proprietários não encontram explicação para o facto, até porque nas redondezas não existem outros cães, gatos ou pássaros. Por que motivo agirá assim? Hipótese “A”: Está a acusar o excessivo condicionamento e intenta saltar o muro. Hipótese “B”: Enamorou-se por algum vizinho. Hipótese “C”: Procede assim porque algum vizinho costuma alimentá-lo na ausência dos donos. Hipótese “D”: Fixa-se na esperança de apanhar alguma bola dos miúdos da vizinhança. Hipótese “E”: Fixa-se nos muros por causa da roupa estendida nos prédios vizinhos. Para a semana cá estaremos com um novo caso e adiantaremos qual a hipótese certa.

SOLUÇÃO DA SEMANA ANTERIOR

A hipótese certa para esta rubrica da semana passada é a Hipótese “E”: Age assim por medo, desábito e necessidade de sociabilização. A Hipótese “A” não deverá ser considerada à luz do reforço do impulso à luta, uma vez que as cadelas, ordinariamente, tendem em substituí-lo pelo impulso à defesa. O aparecimento do cio jamais lhe causaria tal alteração de comportamento, possível de acontecer caso parisse, o que não aconteceu, invalidando assim a Hipótese “B”. Ainda que a fragilidade do dono possa ter tido como reflexo o aumento da protecção por parte do animal, não tornaria a cadela anti-social, pelo que a Hipótese “C” carece de fundamento. A Hipótese “D”, muito em voga hoje em dia, é fantasiosa e não explica a causa ou causas da alteração de comportamento do animal, pelo que não deverá ser levada em conta, até porque algumas cadelas, quando castradas, tomam atitudes típicas dos machos, vindo a tornar-se ainda mais anti-sociais.

RANKING SEMANAL DOS TEXTOS MAIS LIDOS

O Ranking semanal dos textos mais lidos ficou obedeceu à seguinte preferência:
1º _ O AZEITE PARA AS CARRAÇAS, editado em 24/06/2010
2º _ PASTOR ALEMÃO X MALINOIS: VANTAGENS E DESVANTAGENS, editado em 15/06/2011
3º _ COMO DEFENDER-SE DO ATAQUE DUM CÃO: O QUE DEVE E NÃO DEVE FAZER, editado em 13/05/2015
4º _ TRABALHO A QUANTO OBRIGAS, editado em 13/05/2015
5º _ “X” DE JARRETE DE VACA, editado em 25/07/2011
6º _ O MELHOR E O PIOR DO PASTOR SUIÇO: ANÁLISE MORFOLÓGICA E FUNCIONAL, editado em 21/06/2011
7º _ A CURVA DE CRESCIMENTO DAS DIVERSAS LINHAS DO PASTOR ALEMÃO, editado em 29/08/2013
8º _ EM CAMPANHA, editado em 31/08/2010
9º _ RANKING SEMANAL DOS TEXTOS MAIS LIDOS, editado em 13/05/2015
10º _ ANTÓNIO MOURA: DO SUOR PARA A GLÓRIA, editado em 18/05/2015 

TOP 10 SEMANAL DE LEITORES POR PAÍS

O TOP 10 semanal de leitores por país ficou assim ordenado:
1º Portugal, 2º Brasil, 3º Estados Unidos, 4º Alemanha, 5º Reino Unido, 6º Angola, 7º França, 8º México, 9º Rússia e 10º Ucrânia.

quarta-feira, 13 de maio de 2015

TRABALHO A QUANTO OBRIGAS: PARA EVITAR O ABATE DO MENSAGEIRO

O Serviço Postal Austríaco (Correios), com cerca de 9.000 carteiros, optou há duas semanas por uma nova estratégia, a de distribuir àqueles homens um saco de biscoitos para cães, que carregarão junto com o do correio, visando o suborno dos cães perigosos, uma vez que no ano passado foram registados 47 ataques caninos sobre aqueles trabalhadores, segundo fez saber Michael Homola, Porta-Voz dos Correios. Antes desta decisão ser tomada, já alguns carteiros a tinham adoptado como prática corrente, comprando por si os ditos biscoitos. Um fabricante de rações local vai disponibilizar anualmente para o Serviço Postal 10 toneladas de “lanches” para cães. Ainda não se sabe ao certo da eficácia da estratégia, mas a carteira Maria Stocker fez saber, aos microfones da Rádio Nacional, que a distribuição de biscoitos está a resultar e a fazer toda a diferença. Louva-se a decisão dos correios austríacos, apesar de ter resultado duma política de “casa roubada, trancas à porta”. Se a estratégia resultar, é possível que a medida venha a ser adoptada noutros Estados Membros da Comunidade Europeia. Por cá, as coisas passam-se de modo diverso: os carteiros mais audazes viram-se à patada aos cães e os menos afoitos não entregam o correio, deixando-o no posto, onde os seus destinatários terão que ir levantá-lo. O único problema que se levanta contra a presente tentativa de suborno vem dos cães que foram ensinados a recusar engodos, estratégia que serve, momentaneamente, aos donos que abominam pagar facturas, coimas ou receber notificações judiciais. 

COMO DEFENDER-SE DO ATAQUE DUM CÃO: O QUE DEVE E NÃO DEVE FAZER

Como preâmbulo importa dizer que os distintos grupos somáticos caninos operam as suas capturas de modo diferente, havendo alguns que as executam ao revés das características da sua raça ou grupo, por força do condicionamento havido e graças à experiência feliz, na procura da surpresa que garantirá a sua eficácia. Cães e cadelas fazem-no com diferentes graus de tenacidade, sendo os primeiros deliberadamente ofensivos e as suas congéneres mais defensivas, resistindo menos aos contra-ataques objectivos (podem haver excepções). Cães de 20kg podem causar impactos iguais ou superiores aos de 45kg devido ao aumento da velocidade, sendo os seus ataques mais imprevisíveis. Há cães que passam directamente da fixação para o ataque, outros que ladram primeiro e outros ainda que rosnam antes de atacar, uns que são de golpe único e outros que atacam a vários golpes (os primeiros terão mais força de mordedura que os últimos). Um pequeno número deles não se mostrará e atacará por intercessão.
Alguns deles não dispensam o ataque frontal e outros preferem fazê-lo pelas costas, mesmo sem necessidade da perseguição. Tanto num caso como noutro, há guardiões que mordem abaixo da linha da cintura, ao seu nível ou à jugular, modos de actuar intrinsecamente ligados ao seu perfil psicológico, morfologia e treino (condicionamento). A maioria deles não atacará alvos imóveis, a menos que tal lhes seja ordenado, se encontrem dentro do seu território ou tenham sido excepcionalmente habilitados para isso, sem razão aparente ou mediante a apresentação de uma arma. Pelas expressões mímicas dos atacantes podemos aquilatar do grau de confiança, intensidade e dolo dos seus ataques. E como nem todos os ataques caninos resultam do treino e do condicionamento, sobram ainda os instintivos, normalmente menos dolosos pelo desuso dos potenciadores de mordedura (brinquedos, pneus churros, fatos e mangas de ataque, etc.). Diante disto, o panorama não parece muito animador!
Antes de avançarmos, queremos adiantar que o combate contra os cães perigosos foi ganho pelas polícias, pelo que estão de parabéns, sobrando agora reduzido número de idiotas com cães de luta ou propensos a fins marginais, quando exercitados para isso. Em simultâneo, porque vivemos num estado de direito, não compreendemos a presença de Pitbulls nas fileiras policiais, particularmente quando usados em serviços onde a sua presença é inadequada ou resulta estranha, por ser abusiva diante dos direitos e liberdades de cidadania, pelo que levar um Pitbull para a residência oficial do Presidente da República é tão caricato como ver o Regimento de Cavalaria da Guarda montado em gericos, enquanto Unidade especialmente destinada à segurança e protocolo do Estado, uma americanice ou “pinochetada” de tremendo mau gosto (só falta vermos os músicos a tocar de luvas rotas na Rendição Solene ao Palácio). Retornando ao mérito das polícias importa realçar o seu papel na prevenção, detenção e controlo dos cães perigosos, feito de modo irrepreensível, tanto que nestes momentos de crise, quando os ânimos andam mais exaltados e tudo se encontra prestes a explodir, não há notícia do uso destes animais em actividades criminosas ou em qualquer tipo de desordem pública concertada ou espontânea.
Mas como não são só os cães das raças consideradas perigosas que atacam, sobrando por aí várias extraordinariamente territoriais e por isso mesmo dadas ao mesmo tipo de acção, quer tenham sido treinadas para isso ou não, todos precisamos de precaver-nos, mais agora que os magros salários não suportam o ensino dos cães e o seu controlo é menos eficaz por parte dos donos, que a si mesmos se julgam entendidos nesta matéria, quer pela assistência a programas televisivos quer pela frequência em cursos mal estruturados, apressados e geralmente inacabados. A exemplo dos gatos, os cães citadinos são agora sujeitos a um lugar ou lugares sociais, locais bastante concorridos por outros iguais, onde são levados pelos seus donos para correr e satisfazerem as suas necessidades fisiológicas, encontros nem sempre agradáveis pelo despreparado, ignorância e sandice dos seus proprietários, impropriedades que podem resultar no ataque de um cão e/ou do seu dono, quando não de ambos, porque na aflição de valerem aos seus cães, alguns donos acabam também mordidos.
Para que isso não aconteça, quando sair com o seu cão jardim, faça-o nas horas mais concorridas por maior número de cães, certifique-se que não há nenhum à solta (caso houver retroceda sem dar nas vistas), não solte o seu, mantenha-o ao seu lado, não confie na pretensa mansidão dos outros, não o deixe brincar com cães desconhecidos e não o exponha aos seus ataques. Cuidado com os cães surdos que, quando demasiado fixados ou apanhados de surpresa, tendem a morder, particularmente quando atrelados aos donos, sendo geralmente molossos brancos de diferentes tamanhos, que vão desde o Buldogue Francês até ao Dogue Argentino. No caso de algum cão avançar ameaçadoramente para cima do seu, desde que a desproporção entre ambos não seja por demais evidente e o seu saiba defender-se, mais vale soltá-lo e partirem ambos para cima do outro. Se tiver um cão miniatura não lhe restará outra hipótese do que pegá-lo ao colo, usando a sua trela para afastar o beligerante (as cadelas, quando não sociabilizadas, são agressivas umas com as outras e os cães tendem a desafiar-se mutuamente. Os encontros entre cães de sexo diferente são geralmente pacíficos).
Durante o dia a ocorrência de escaramuças entre cães é muito rara, como é raro acontecer algum ataque canino sobre um viandante ou transeunte, porque a Lei proíbe os cães de andarem soltos e ninguém quer ser multado ou evadir-se atabalhoadamente. Infelizmente não temos a mesma segurança à noite, altura em que os donos dos cães mais belicosos optam por trazê-los à rua, não raramente soltos, ávidos e prontos para qualquer confronto (ao romper da aurora acontece o mesmo). Para sua segurança e do seu cão, escolha espaços públicos policiados ou com uma esquadra de polícia por perto, o que fará diminuir a ocorrência de abusos. Cada vez são menos frequentes as brigas entre cães, facto que fica a dever-se a três razões objectivas: à lei sobre os cães perigosos, à crise económica que levou à substituição dos cães maiores por menores e à adopção do reforço positivo como método de ensino preferencial, que obrigaram respectivamente à sociabilização, ao desprezo pelos cães mais dispendiosos e a uma maior fixação dos animais na pessoa dos seus donos.
Pondo de parte as guerras entre iguais, passemos aos ataques perpetrados pelos cães sobre pessoas, adiantando subsídios de defesa para os visados e vítimas potenciais. Como são mais os cães que atacam junto aos donos do que longe deles, mesmo sem ordem explícita para isso, pormenor que fica a dever-se ao seu sentimento territorial quando associado à antipatia por determinadas pessoas ou estranheza do seu comportamento, evite acariciar cães desconhecidos quando atrelados aos donos, mesmo que estes digam que os seus companheiros são uns autênticos “anjinhos”, porque há gente que não perde pitada e que gosta de ver os outros em apuros, treinando-os desta indecente maneira para defesa pessoal e investindo os incautos no papel de cobaias, dizendo-se depois surpreendidos e relegando para os animais a culpa do sucedido.
A menos que tal nos seja sugerido, que direito nos assiste para acariciarmos os cães alheios? Absolutamente nenhum, porque não nos pertencem, estamos a indiciá-los ao suborno, a vulnerabilizar a sua salvaguarda e a enfraquecer tanto o domínio quanto a liderança dos seus donos e a obrigá-los a maiores providências para alcançá-los, o que mais sobrecarregará os pobres animais por via da contra-ordem (há quem o faça espontaneamente e sem qualquer autorização prévia, o que não deixa de ser um abuso e um tremendo disparate). E como desde há muito é conhecido o carácter passional dos portugueses, que neste caso “são” como os espanhóis, de quem dizem não conseguir ver sem mexer, se você não conseguir resistir a fazer festas num cão, depois de ter obtido do seu proprietário autorização para isso, então faça-o de maneira a não comprometer a sua integridade física, coisa fácil de acontecer quando não se sente à vontade para fazê-lo, quando o acaricia de surpresa e por detrás, quando por medo lhe estende a mão e a recolhe, quando o agarra e afasta do dono, quanto toma atitudes bruscas, é demasiado efusivo no carinho ou fixa-o demoradamente nos olhos. Não se esqueça que o cão está a observá-lo, que pode não morrer de amores por si (o que não é de estranhar) e já estar farto de bajuladores (não se ponha na fila).
Quando intentar cumprimentar um cão, faça-o frontalmente, em segurança e de modo suave (tanto de palavras como de gestos), não se baixe ao nível dele e não o olhe demoradamente nos olhos. Caso o animal aceite o seu cumprimento, pormenor visível pela sua resposta, então poderá torná-lo mais caloroso, o que para muitos donos é um excesso e assiste-lhes alguma razão. Há por aí quem lhes dê as costas da mão, no intuito dos animais assimilarem o seu odor e de se aperceberem das suas intenções, manobra perigosa diante de cães que foram instigados nos potenciadores de mordedura (nós de corda, churros e por aí adiante), já que a mão assim apresentada reproduz esses acessórios (lembre-se que as verdades de hoje serão questionadas amanhã e que só depois se fará luz). Melhor será fazê-lo com a palma da mão aberta, que sempre sugere um convite e não ao contrário, com a mão estendida em cutelo ou a ameaçar um sopapo. De qualquer modo, serene primeiro o animal pelo conforto da voz e avance com a mão depois, acção que também o fará serenar a si. Nunca se esqueça que, ao serem animais sociais, os cães vivem de rituais e por causa disso aceitam as nossas rotinas, adoptando-as como suas.
É chegada a altura de falarmos dos ataques caninos propriamente ditos, dos que acontecem com os cães soltos e sobre gente incauta, normalmente entendida por eles como estranha, intrusa, presa ou ameaça, pela sua presença, local de aparição, tipo de apresentação e comportamento. Esses ataques, como já atrás dissemos, poderão ser de origem instintiva ou provir de condicionamento prévio, sendo os últimos de maior gravidade, acontecendo com mais frequência quando os parques e os espaços públicos se encontram quase desertos e os cães são soltos ali e nos quintais, no horário compreendido entre as 23H00 e às 07H00 (da noite para o amanhecer). Como prevenção, aconselha-se aos amigos de caminhadas nocturnas que façam o seu prévio reconhecimento durante dia, que evitem os percursos onde houver cães e nessa impossibilidade, que se afastem das quintas ou moradias com muros de altura inferior a 2m ou com grades distantes entre si de 20cm, suspeitando daquelas limitadas por arbustos ou sem qualquer tipo de delimitação.
Quanto mais isolada estiver uma propriedade, mais fácil será encontrar um cão guardião, animal que por norma não está disposto a brincadeiras. Se não prescinde do hábito salutar de caminhar antes de se deitar e não quer ou não pode proceder a desvios, perante a certeza ou suspeita de haver cães em determinada moradia, sempre que possível troque de passeio e circule debaixo de áreas iluminadas, para não ser fatalmente surpreendido e não surpreender os cães, que devem vê-lo distintamente e aperceber-se das suas intenções, mantendo a calma, a cadência de marcha e evitando olhar directamente para eles. Mais vale pôr o pé na estrada do que circular junto aos muros, limites que os cães defendem afincadamente, independentemente da natureza dos seus ataque ser defensiva ou ofensiva.
Se um cão defensivo dificilmente abandonará uma propriedade que lhe foi confiada, um ofensivo não hesitará em saltar dela e mover-lhe perseguição, pelo que importa precaver-se com uma bengala dobrável retráctil (porque nem sempre se encontra uma vara à mão) das usadas para invisuais, para caminhadas e para fins ortopédicos, que não deverá ir à vista (para não se constituir em provocação ou ameaça) e que em caso de necessidade deverá ser apontada aos anteriores do animal, em movimentos curtos e rápidos de ida e volta, o que lhe quebrará o ânimo pelo desequilíbrio causado, impedindo-o de saltar e efectuar a captura. Jamais aponte a bengala à cabeça ou dorso de um cão, porque alguns aprenderam a defender-se desse tipo de golpes, invalidando-os, procedendo ao desarme e passando depois ao contra-ataque impetuoso. Até que o cão desista e se ponha em fuga, acção que dependerá da certeza dos seus golpes, evite dobrar-se demasiado ou ser contornado, para não ser atacado de frente ou surpreendido pela retaguarda. Escusado será dizer que terá de tornar-se hábil no uso e montagem da bengala (1 segundo poderá fazer toda a diferença).
Como é gratuito ensinar o Padre-Nosso ao vigário e ainda estamos neste mundo, bem sabemos que se podem seduzir, engodar, distrair, ludibriar, imobilizar, manietar, atordoar, gasear, cegar, envenenar e matar cães (é possível que estejamos confundidos mas alguém já nos falou no uso de “tasers”), técnicas dissimuladas próprias de meliantes experimentados, de gente que se quer livrar dos animais e que tudo faz para anular o seu serviço para benefício próprio, técnicas que também reproduzimos no treino para alertar os guardiões, operar a sua defesa e optimizar a sua prestação. Como é evidente não iremos falar delas, a tanto nos obriga a ética e o amor pelos animais, não estamos em guerra e não nos compete eliminar os cães alheios, geralmente investidos pelos donos na tarefa, satisfazendo os seus desejos por gratidão. Outra coisa bem diversa é neutralizar os seus ataques quando não nos sobra outra solução, respeitando a sua integridade e préstimo, desde que já haja essa possibilidade e normalmente há, porque o número de cães treinados para guarda não chega a 1% do total nacional e não atacam a seu bel-prazer, o que torna instintivos a esmagadora maioria dos ataques caninos que acontecem entre nós, ainda que resultantes de razão ou razões genéticas, mas de dolo pouco significativo por resultarem de arremetidas esporádicas e de surtida.
 Maior cuidado há que haver nas imediações dos bairros miseráveis e clandestinos, geralmente ocupados por gente na base da pirâmide social (tanto nacionais como estrangeiros), onde a contrafacção, a droga, o comércio de armas clandestinas, a prostituição e a marginalidade teimam em permanecer, locais aonde se vai por obrigação ou convite, nunca por auto-recriação. Ali os cães parecem associar-se à festa e alguns deles aguardam ocasião para usar às suas mandíbulas. Mas como o perigo espreita onde menos se espera, quando vir um cão a avançar para si a uma distância igual ou inferior a 30m, disposto a atacá-lo, não tendo como se recolher e na impossibilidade de fuga, restam-lhe 3 opções defensivas: a imobilização, a defesa e o contra-ataque. A escolha acertada, que carece de ser pronta, porque há cães que chegam a atingir velocidades instantâneas acima dos 45km/h, dependerá da sua destreza e do tipo de cão que terá pela frente, o que obrigará a alguma experiência e treino, assim como ao conhecimento prévio dos diferentes modos de actuação dos distintos grupos somáticos caninos, para além da leitura rápida e acertada das expressões mímicas do seu opositor, aptidão e conhecimento difíceis de encontrar num comum cidadão e ainda mais quando tomado de surpresa.
A imobilização, que é a melhor opção perante ataques repentinos ou de surpresa, implicará em transformar-se numa estátua, no controle dos instintos que possibilita a inacção, mesmo que agredido e com olhos postos na linha do horizonte, em fazer o corpo morto e não reagir as golpes sofridos, tanto física como verbalmente, em deixar-se puxar para que o cão não sacuda e enterre mais os dentes, aproveitando as suas investidas para se deitar cair com a cara e ventre voltados para o solo. É evidente que esta é uma medida de emergência, que procura a cessação do ataque, a suspensão da captura e evitar maiores lesões, não se justificando perante cães abaixo dos 12kg e com uma altura igual ou inferior aos 43cm, normalmente entendidos como “cães de encher o pé” (vá-se lá saber porquê!). A imobilização torna-se obrigatória perante o ataque repentino de molossos e terriers com grande envergadura e potência de mordedura (ex: Presa Canário, Rottweiler, Pitbull, etc.), também diante de lupinos e vulpinos com mais de 18kg e de altura igual ou superior aos 50cm. A imobilização só não surtirá efeito se o ataque for ordenado e o cão estiver acostumado a atacar e retraçar alvos imóveis ou cobaias deitadas no cão, condicionamento que não é fácil e que muito raramente acontece. Se porventura o cão lhe soltar para a cara, proteja-a com o braço esquerdo se for destro, caso contrário use o braço direito.
Quando temos tempo para isso, com o cão distante de nós a 30m (no mínimo) e adivinhando-se as suas intenções, devemos de imediato jogar-nos ao solo, para que seja surpreendido quando nos abordar, tendo o cuidado de proteger a cabeça e as orelhas com as mãos mas com os cotovelos encostados no chão. Como inicialmente há cães que disferem alguns golpes, nem que seja para se certificarem de que estamos vivos e damos luta, há que fazer o corpo morto sem abandonar a postura, que será tanto ou mais eficaz quanto mais unido estiver o nosso corpo, pelo que as nossas pernas e pés deverão estar unidos, não indiciando possíveis pontos de mordedura por onde o cão possa pegar. Depois dele se desinteressar por si, não se levante de imediato e aguarde que se vá embora, porque doutro modo voltará a atacá-lo e fá-lo-á com maior ímpeto, podendo ficar a guardá-lo, esperando que se ponha de novo em pé.
Nalguns casos o ataque é a melhor defesa, qualidade que assiste aos mais audazes e que alguns têm sem o saberem. Em que consiste o contra-ataque? Basicamente em arrancar direito ao cão, em rota de colisão, com o mesmo ímpeto e determinação, disposto a causar-lhe dolo igual ou superior (aqui a bengala retráctil dá muito jeito). O contra-ataque desarmado não está ao alcance de qualquer um, porque carece de conhecimento, robustez, sangue-frio, larga experiência e técnica para a imobilização dos cães, atributos que não se alcançam do pé para a mão e que não podemos adiantar por causa do nosso ofício (nós jogamos pela equipa dos cães). Se a maioria dos treinados para guarda não foi e é não sujeita à aprovação no contra-ataque, muito menos se encontrarão preparados os cães que nunca foram treinados para esse fim. De qualquer modo há que desarmar o cão, sabendo-se que a sua arma se encontra no focinho. O contra-ataque armado de varapau, vara ou bastão pode ser eficaz, como por vezes é eficaz o simples arranque para cima do cão, que surpreso recuará ou se afastará pela novidade que leva ao temor. Os cães vivem e aprendem pela experiência, ainda não atingiram a ficção e não inventam, estão acostumados a perseguir e estranham ser perseguidos, nasceram para caçar e a não para ser caçados. Na arremetida do contra-ataque devemos fazer uso duma palavra ou som gutural grave, modo de linguagem que os cães entendem como ameaça. Jamais avance para um contra-ataque se não estiver seguro e preparado para o que terá pela frente.
Assim como sabemos que existem Pitbulls muito meigos, amigos, obedientes e ordeiros e, a maioria deles é assim, também sabemos da tentação de alguns em fazê-los crocodilos para causar mal aos outros. E como esses malvados não usam só os Pitbull para a desgraça mas também outros cães com idêntica força de mordedura, somos obrigados a precaver-nos de tamanha maldade, atendendo ao dano que estes cães nos podem causar quando nas mãos erradas, animais que depois de ferrarem têm dificuldade em abrir a boca e cujos golpes podem levar-nos à morte. Quem já foi alvo dos seus ataques, mesmo que tente esquecê-los, dificilmente o conseguirá, atendendo às marcas e incapacidades deles resultantes, na maioria dos casos perpétuas, tanto do ponto de vista físico como do psicológico. Alguns destes cães, para além de não conseguirem largar a presa automaticamente, são treinados a morder pendurados em toda a sorte de objectos, nomeadamente em pneus por tempo indeterminado.
Para sua protecção, se porventura tiver vizinhos destes ou se cruzar amiúde com tal laia, a juntar à bengala dobrável retráctil, aconselhamos a compra de um canivete de marinheiro ou de enxertia, acessórios a ter no bolso para serem usados quando a sua vida ou a de outros se encontrar em risco. A nossa preferência vai para o canivete de marinheiro (o do enxertia requer mais prática), porque se presta tanto para abrir a boca destes animais como para cortar os tendões que os mantêm agarrados a nós. Para abrir a boca destes cães há que colocar o fuso do canivete entre os seus dentes pré-molares, pressionando-o contra o céu-da-boca e forçando-os a abri-la. A manobra exige alguma cautela porque os cães ao serem soltos poderão proceder a nova dentada. A opção entre o abrir a boca e o corte dos tendões dos maxilares é individual e dependerá do aperto e destreza de cada um. Melhor será nunca se encontrar neste dualismo e circunstâncias. Diante dum caso destes, se tiver licença de uso e porte de arma, não hesite, é para isso que ela serve. E o que dizer quando um cão destes agarra uma criança? Oxalá todos respeitem e façam respeitar as disposições legais acerca dos cães perigosos e as polícias cumpram sempre o seu dever, porque o mal não acontece só aos outros!
A maioria das raças lupinas destinada à guarda, os molossos alemães também, fazem ataques frontais, pelo que deveremos virar-lhes as costas nas imobilizações, caso nos sobre tempo para isso. Os restantes molossos, os alanos e os treinados numa determinada modalidade guardiã desportiva, podem atacar pelas costas ou a qualquer zona do corpo. Os molossos fá-lo-ão invariavelmente pela retaguarda, os alanos distribuem vários golpes e os treinados carregam em qualquer parte do corpo que se mova, em cima ou em baixo, desde que os alvos se encontrem em movimento. Perante o ataque dum cão que se suspeita treinado, havendo essa possibilidade, deveremos embrulhar uma peça de roupa no nosso braço esquerdo, reproduzindo assim uma manga de ataque, podendo depois suspendê-lo, dominá-lo, imobilizá-lo ou projectá-lo, visando a suspensão do ataque ou a eliminação do animal (há casos e casos). Portugal tem sido um paraíso no que concerne aos ataques caninos e esperamos que assim continue. De qualquer modo, importa estar precavido, evitar ser surpreendido e estar minimamente preparado. Até hoje, para socorro de homens e cães, já nos vimos obrigados a imobilizar meia dúzia animais destes e nunca tivemos necessidade de eliminar nenhum, habilidade que, para além de circunstâncias favoráveis, carece de força física, sangue-frio, conhecimento e prática. Apostados na defesa dos homens e podendo valer aos nossos alunos, nunca isentámos nenhum deles do ataque à manga, para que vençam medos e aprendam a defender-se dos cães, nem que seja a desequilibrá-los no momento em que os cães se projectam, dando um passo atrás. Por outro lado, temos ensinado os mais audazes a defender-se sem protecções e habilitámos para o mesmo fim alguns duplos cinematográficos.