Pessoas
e cães estão rodeados de plantas espontâneas ou invasoras que tanto podem
contribuir para a sua sobrevivência como para a sua morte, algumas mais
conhecidas, outras esquecidas e outras completamente desconhecidas, que
dependendo da sua toxidade, depois de ingeridas, poderão ser fatais. Por causa
disto, quem tem crianças e cães não se pode dar ao luxo de ter as plantas que
quer no seu quintal ou jardim, por mais bonitas e apelativas que sejam. Como
não podia deixar de ser, esta não é a primeira vez que me debruço sobre o tema,
mas hoje vou dedicar exclusivamente este artigo à DATURA
STRAMONIUM, nome científico para uma planta herbácea exótica e
invasora, erecta e anual a que popularmente chamamos de FIGUEIRA-DO INFERNO, planta
que não deverá ser ingerida por ser tóxica, chegando a ser fatal em doses mais
elevadas, estando esta espécie disseminada de norte a sul de Portugal
continental, onde é também conhecida por estramónio, erva-do-diabo,
erva-das-bruxas, erva-dos-mágicos, figueira-brava, castanheiro-do-diabo e
pomo-espinhoso, entre outros nomes.
Esta
espécie tóxica, devido a presença de várias substâncias alcalóides, de onde se
destacam a atropina e a escopolamina, que provocam uma acção neurotóxica ao
actuar sobre o sistema nervoso parassimpático, causando sintomas de delírio,
sendo perigosa para o homem, para os animais de estimação e para o gado. Toda a
planta é altamente tóxica, o que faz com que a ingestão do seu sumo, das suas
sementes ou de um chá feito a partir das suas folhas causem séria intoxicação
com efeitos muito fortes e graves, tais como alucinações, ansiedade, confusão e
em alguns casos causar coma. Os efeitos no sistema nervoso iniciam-se
normalmente 1 hora após a ingestão e ter uma duração de 24 a 48 horas. As
alucinações causadas por esta planta tanto podem ser visuais como auditivas e
quando severas acabam por ser uma ameaça, não só para o intoxicado, mas também
para os outros. A hipertermia (alta temperatura corporal) pode também resultar
da ingestão desta herbácea, que interfere no arrefecimento do corpo, podendo
tornar a pele ruborizada e seca ao toque.
A somar a isto, a Figueira-do-Inferno aumenta a pulsação e a tensão arterial, uma vez que a atropina contida na planta pode causar arritmia cardíaca ou outra anormalidade no ritmo cardíaco, podendo inclusive causar uma paragem cardíaca, como já foi noticiado. Pode ainda causar náuseas e vómitos em alguns indivíduos, para além de retenção urinária ou incapacidade de urinar, porque os compostos químicos presentes na planta são anti-espasmódicos, podendo interferir na capacidade da bexiga de se contrair e libertar a urina do corpo, o que geralmente leva ao aumento da sede, condenando os indivíduos à necessidade imediata de ingestão de líquidos (uma intervenção médica para evitar complicações do sistema urinário pode ser necessária aos indivíduos que não conseguem esvaziar a bexiga após tê-la usado). Pode ocorrer ainda a diminuição do trânsito gastrointestinal, o que impede o organismo de expelir os produtos químicos da planta, efeito que tende a durar por um longo período de tempo.
Penso
que não é preciso dizer mais nada sobre a perigosidade desta herbácea para pessoas
e animais. Na suspeita do seu cão ter ingerido parte desta planta, os seus
ouriços ou sementes, leve-o de imediato ao veterinário. Nessa impossibilidade
ligue imediatamente para o CIAV do
INEM (Centro de informação Antivenenos) através do número 800 250 250. Para não dar ideias a ninguém nem subsídios
para os inimigos dos cães, não vou divulgar aqui as várias maneiras de
eliminação de sentinelas caninas e vulnerabilizar os seus proprietários através
do uso da Datura, ao invés, e esse é meio dever, vou adiantar medidas e
conselhos para evitar que os cães venham a ser intoxicados por esta planta. A
eliminação total e completa destas plantas é a medida mais importante a tomar
para quem tem crianças e cães. Para além de extremamente perigoso, é anedótico
ter um hotel ou uma escola canina rodeados de figueiras-do-inferno, como é
completamente descabido ter um cão de guarda rodeado de plantas destas, porque
melhor não se poderia armar um ou mais ladrões. Assim, a eliminação desta
planta tóxica deverá ser feita no interior das nossas propriedades, nos
terrenos limítrofes e nos caminhos que lhes dão acesso. Com a falta de cautela
que por aí vai, caso a sorte não protegesse os incautos, há muito que o azar
teria sido coroado rei!
É evidente que um cão pode ser
ensinado a detectar a Figueira-do-Inferno e a não comê-la, o que seria
altamente recomendável e de grande utilidade, atendendo à perigosidade desta
planta, que ainda por cima tem um odor distintivo, o que auxilia de
sobremaneira a sua detecção. Como há na nossa flora mais plantas e ervas
tóxicas do que se julga, quando se fala em bater determinado território antes
de se soltar um cão, não estamos apenas a falar de acidentes naturais, de
animais silvestres, armadilhas ou de produtos químicos nocivos, mas também da
presença das plantas tóxicas mais conhecidas, muitas vezes causadoras graves
problemas para a saúde dos animais. Todos temos que saber e conhecer quais as
plantas tóxicas mais comuns para nós e para os nossos fiéis amigos.
PS:A Datura Stramonium é também usada para a produção de medicamentos.
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