sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Algumas verdades sobre a criação de cães

Nenhuma criação de cães é por si mesma rentável, porque os lucros dificilmente igualarão o investimento feito, considerando os cuidados inerentes ao bem-estar da ninhada e dos seus progenitores, já que o investimento sobre os últimos rondará os 10.000 € aos 2 anos de idade. e as ninhadas aumentaraão substancial as despesas, por força do acompanhamento materno, da alteração das dietas e do desmame. Na melhor das hipóteses a ninhada cobriraá os seus gastos e garantirá a alimentação dos progenitores por 1 ano, não amortecendo ou repondo o investimento feito até então. Se ainda levarmos em conta o intervalo de segurança entre os partos, as oscilações do mercado, a excessiva oferta, o número inusitado de cachorras e as épocas menos apelativas, facilmente compreendemos que a criação é mera carolice, que para subsistir necessita de ser subsidiada ou complementada por outros lucros, quer eles provenham de actividades paralelas ou alheias. Assim, quem intentar viver à custa da criação de cães, se for sério, dificilmente sobreviverá. Ao invés, considerando aquilo que é um verdadeiro beneficiamento, a criação de cães deverá ser entregue a quem não necessita do seu contributo para viver ou aumentar os seus proventos, porque liberto da austeridade facilmente adquirirá e manterá a qualidade procurada. A criação de cães é como a das galinhas: somente rentável para os intermediários (parece que nos cavalos algo de semelhante se está a passar, porque existe por aí un indivíduo, tratado por "passa fome", que todos arrebanha). E por falar em cavalos, seria bom que os cães pastassem como eles, sairiam mais baratos, muito embora ficasse por resolver o problema dos anos secos.
Actualmente proliferam por cá uns intermediários espanhóis, também os há portugueses, que colocam em entidades de segurança públicas e privadas cães com 1 ano de idade, oriundos de Leste, à razão de 1.500 € cada um. As contas são fáceis de fazer: considerando o transporte como encargo do intermediário, ele terá que ganhar no mínimo 60%. Se subtrairmos esta quantia do valor transacionado, o criador receberá apenas 600 €. Se dividirmos esse valor por 12 meses, chegamos à quantia mensal de 50 €. Como um cão come em média 1 saco de ração por mês e as rações de qualidade rondam ou ultrapassam esse preço, que cães terá essa gente para entrega? Será normal vender qualidade a magote? E o acerto de contas, não resultará do balanceamento entre os melhores e os piores? Ainda há quem confie na sorte e acredite que a genética se sobrepõe a tudo, ignorando as mazelas provocadas por uma cadeia alimentar imprópria. E nem foram aqui equacionados os gastos com veterinários e o custo de qualquer tipo de treino. Existe neste negócio outra variante: a entrega via países da CEE de cães com 2 anos de idade (alguns desses animais chegam a vir dos Cárpatos, vindo a ser posteriormente adestrados no Ocidente). O seu preço ronda os 4.000 €, já chegam a morder e apenas há que adequar os futuros condutores. Se a este valor subtrairmos o cachet do intermediário e um ano de treino, o criador receberá hipoteticamente os mesmos 600 € (muitos receberão cerca de metade disso). E se ele tiver algum lucro, só o alcançará pela diminuição das despesas, sujeitando os animais ao "apertar do cinto". Cães girafas e incaracterísticos superabundam por aí, tal qual lobos esfomeados em condomínios, unidades fabris e parques automóveis. Face à concorrência, o criador europeu vê-se obrigado a baixar os preços e a criação torna-se insustentável. Estamos na era da globalização, muito do que consumimos não provém do Oriente? E a propósito: os espanhóis continuam a sua epopeia dos Sec. XV e XVI e vemo-los a negociar tudo por toda a parte, em qualquer lugar há um espanhol desconhecido que espera por si. E os portugueses onde estão, agora que a Ordem de Cristo já não tem mais proventos e os banqueiros judeus já cá não moram? O "el dorado" mora agora naquela que se dizia nossa e apela-se ao investimento em Angola.
Ao falar sobre cadelas, lembramos aqui o nosso amigo Sarmento Lopes, um cabo-verdiano que quando não gostava de alguém, fazendo suas as palavras de um conhecido seu, dizia: " se eu encontrar tal fulano e uma cobra no caminho, por mais venenosa que ela seja, não estando ninguém a ver, esborracho a cabeça ao homem e deixo o animal ir em paz, porque daí virá mal menor ao mundo". Optar pela compra de uma cadela pode ser um tremendo disparate, a menos que optemos pela sua castração, porque sempre acabaremos por fazer uma ninhada ou duas, ainda que esse não fosse o nosso propósito original. O problema agrava-se se não tivermos um macho, porque o dono do reprodutor fará imperar os seus direitos, cobrará de imediato a cópula ou escolherá o melhor exemplar para si, deixando todos os encargos para o proprietário da cadela, inclusive o da penosa venda da sua prole. E agora imaginem se o pobre homem não tem alma pró negócio! Aquilo que se fez por graça, pode revestir-se numa desgraça, num quebra-cabeças desgraçado. Negócios deste tipo só são vantajosos para o dono do cão e há quem ganhe muito dinheiro assim. Se não quer ou não tem como ser criador, terá que entrar pela política do "venha o diabo e escolha": ou sujeita-se a uma ninhada ou opta pela castração da cadela. A opção pela castração, apesar de muito em voga, não é inócua, porque induz à perca da qualidade de vida pela oferta do envelhecimento precoce. Contudo, não existe qualquer diferença prestativa em termos de guarda entre machos e fémeas, muito menos noutras disciplinas cinotécnicas, porque estamos fartos de ver cadelas excelentes e cães medíocres. A excelência não reside no sexo, mas nos impulsos herdados quando convenientemente aproveitados.
Para além da inviabilidade económica das ninhadas (e ainda há quem seja contra a venda dos cães), o criador ainda irá ser confrontado com a sua qualidade, sabendo-se de antemão que a maioria das ninhadas apresenta uma qualidade sofrível e que são poucas as que poderão ser consideradas excelentes, onde a homogeneidade se faça presente e os indivíduos saiam robustos física e psicologicamente. A procura desta garantia tem levado muitos aos beneficiamentos endogâmicos, com menor ou maior consanguinidade. O método tem-se revelado desastroso quando comparado com o seu aproveitamento, porque os cachorros apresentam menos vigor, maior fragilidade física e vêem reduzido o seu quadro de aptidões, porque ainda que salvaguardadas as características morfológicas, o seu carácter sofre alteração por defeito ou excesso, obstando à divisão de tarefas e à autonomia pretendida. Não havendo o know-how inerente à tarefa, deve o proprietário da cadela procurar conselho junto de quem o tenha, escutando os seus conselhos e diminuindo assim os riscos, o que não invalida que continue um ilustre desconhecido no mercado, apesar do seu produto poder ser recomendado por quem o auxiliou. É de todo desejável, se houver essa oportunidade, que se filie num núcleo de criadores, aumentando dessa maneira as hipóteses de escoamento dos cachorros, porque importa não estar só.
Lamentavelmente, cada vez menos se seleccionam cães com base no impulso ao conhecimento, porque a uns importa maioritariamente a estética, a outras a tenacidade na mordida, a alguns o impulso ao movimento e a uns poucos a extraordinária máquina sensorial. E dizemos lamentavelmente, porque a adaptação de um cão sempre dependerá do seu coeficiente de aprendizagem e ele sempre decorrerá desse impulso herdado, muito embora possa ser melhorado na infância pelo enriquecimento da experiência directa, coisa pouco vista face à ignorância generalizada dos proprietários de cães em tal matéria. De qualquer modo, a plasticidade que possibilitou essa capacitação poderá não ser geneticamente transmissível. O mundo da canicultura é constantemente fustigado por modas e nessa procura temos visto demasiadas aberrações, verdadeiros atentados contra o bem-estar canino que a breve trecho condenarão várias raças. Entendemos nós e nisto sempre nos demos bem, que o primeiro impulso a considerar na selecção deve ser o ligado ao conhecimento, uma vez salvaguardado o equilíbrio dos outros cinco mais importantes (ao alimento, ao movimento, à luta, à defesa e ao poder), porque um cão de forte impulso ao poder com baixa capacidade de aprendizagem tenderá a sujeitar tudo e todos, um cão corredor sem a necessária componente cognitiva transforma-se num louco, um cão de forte impulso à luta alienado da parceria morderá em quem não deve e aquele que é excessivamente territorial tendencialmente confundirá os inimigos. Infelizmente estes desequilíbrios não são só acidentais, há quem os procure e se dê bem com isso, mercê dos idiotas de igual patologia.
Muito mais haveria a dizer sobre este assunto, porque é deveras extenso e intimamente ligado à canicultura e à cinotecnia, circunscrito à genética e à etologia, profundamente ligado à antrozoologia e dependente da liberdade de cada um, segundo as suas expectativa e viver social. Breve retomaremos o tema.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

O Nobre das caçadas

Há um fidalgo em cada um de nós, um squire que habita na nossa cabeça e que por vezes nos convence, levando-nos à confusão entre aquilo que somos e o que gostaríamos de ser, pela força do sonho que nos suporta a realidade. Essa mania da grandeza transforma uns em comilões, outros em déspotas, uns tantos em filantropos, alguns em pedantes e todos perdem a noção da realidade pelo fruto da ilusão. Quando a burla não causa vítimas, a loucura morre na fonte, e segundo o extracto social de cada um aplicam-se termos como: excêntrico ou alienado. Lutaremos até morrer contra a criança que há em nós, porque apesar dos dissabores, mantém-nos vivos e conserva-nos o alento, mesmo que a desusemos ou lhe façamos orelhas moucas.
Na canicultura sempre seremos surpreendidos com indivíduos assim, uns tantos magnânimos que, distantes das suas obrigações, são proprietários de grande número de cães, sem condições para os sustentar e ignorando o seu bem-estar, mantendo os animais à molhada como reclusos em pátio prisional, dispensados dos veterinários, arredados da educação, sujeitos à precariedade das dietas, cativos à mixórdia, isentos de convívio e entregues a si próprios. O fenómeno é mais visível entre os pobres, porque a avareza dos ricos não embarca em cantilenas, muito embora possam tratar os seus cães de igual modo, como tantas vezes temos visto.
No campo é comum ver-se fileiras intermináveis de podengos acorrentados, em coelheiras exíguas e circundadas de ossos e dejectos, animais mutilados e com feridas por sarar, empoleirados nos abrigos e atazanados pelas moscas que lhe comem as orelhas. Os seus proprietários, os ditos nobres das caçadas, acham tudo muito natural, justificando a miséria como preparo essencial para o ofício cinegético. Na urbe subsistem ainda dois tipos de alienados de igual pancada: o filantropo e o pseudo criador. O primeiro dedica-se à captura de todos os animais abandonados, enjaulando-os às dezenas em garagens ou roulottes, alimentando-os de sobras, dispensando-os dos cuidados básicos e solicitando a caridade alheia, tal qual monge medieval de sininho a tinir com promessa de indulgências. O segundo, que se diz criador, faz do seu quintal uma maternidade, criando cães à laia de unidade industrial, dando aos animais condições idênticas às encontradas entre os operários na actual China. Nos dois casos, porque a privação da liberdade individual é um facto, a sociabilização acontece à dentada e os animais assilvestram-se, resultando daí feridos, moribundos e mortos: cães em campos de concentração! Porque andam sempre magros e têm o semblante triste? Será que a ingratidão impede a sua alegria? Sobre quem assentará a loucura?

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Passeata ao centro do poder


Esta Quarta-Feira, no período matinal, optámos por Lisboa para operarmos a sociabilização dos cães que se fizeram presentes (Rex e Teka). Estivemos no Jardim da Estrela, contornámos a Basílica, descemos a calçada e mirámos o Parlamento. No Jardim da Estrela desenvolvemos todos os automatismos direccionais ensinados e usámos alguns dos seus recantos como círculo de obediência. Contámos com a ajuda de alguns visitantes para a sociabilização e sujeitamos os cães ao trânsito das pessoas, obrigando-os à familiarização, imobilidade e à indiferença. Estranhamente, a maioria dos jovens encontrados manifestou ter pavor de cães, como se eles fossem bichos doutras latitudes, próprios das selvas e de intenções criminosas. Estamos na presença de um fenómeno a que não é alheia a influência dos media e o viver urbano, porque as novas gerações têm pouco ou nenhum contacto directo com animais. O jardim perdeu o seu esplendor de outrora, os flamingos cederam lugar aos patos e os “sem-abrigo”, como aves de arribação, enroscam-se sobre os seus bancos. Alguns estudantes e uns tantos empregados do comércio ali almoçam, debaixo das árvores e diante de quem passa, valendo-se de sumos e sanduíches. Os cães das “madames” continuam a ser transportados pelas criadas e os reformados aproveitam as mesas de pedra para jogar às cartas. Aproveitámos as estátuas para o enquadramento fotográfico e apresentámos os cães a alguns jovens receosos.
Depois rumámos à Basílica, adornada pelos paramentos do Advento e austera como sempre. Sem cães, intentámos visitar no seu interior os túmulos reais, o que não foi possível por causa de uma missa em curso. Acostumámos os cães aos eléctricos e tirámos algumas fotografias ao seu lado, tendo o cuidado de não captar os seus condutores que temiam pela impropriedade da publicidade. Calçada abaixo, fomos direito ao Parlamento, por passeios apertados e apinhados de gente, na sua maioria velhos e turistas. Sempre que o “junto” não foi possível, optámos pelo “atrás” e o “à frente”, conforme descíamos ou subíamos. Pelas traseiras do Parlamento vimos entrar alguns carros pretos, conduzidos por motoristas encasacados e de gravata, BMW’s 530 GT. Alguns prédios da Av. D. Carlos I foram objecto de obras recentemente, emprestando um colorido sóbrio e novo àquele enquadramento histórico. As lojas anunciam o Natal e as vendas Sexta-feira Santa, porque são muitos a ver e muito poucos a comprar.
No Parlamento tirámos fotografias a partir da Trv. da Arrochela, aproveitando a escadaria central e os leões que simbolizam o poder. Depois evoluímos por diferentes ruas afuniladas, plenas de gente e de passeios exíguos, procedendo ao “cruzamento frontal” e à supremacia do “junto”. Ainda parámos no Jardim limítrofe à Assembleia da República, naquele que se encontra virado a sul. E como outro remédio não nos sobrava, lá subimos a Calçada da Estrela rumo à Avª Infante Santo, local onde haviam ficado as nossas viaturas. O Rex evolui sem problemas, muito embora deteste o excesso de intimidades. A Teka precisa de mais passeios destes, porque desconfia de tudo e todos, resistindo assim à sociabilização pretendida. Os condutores comportaram-se à altura e a mudança de ecossistema foi profícua. Dever cumprido! O tempo dos passeios ao exterior está a terminar, breve iniciaremos o nosso calendário regular de Pistagem.

Uma luz na escuridão

A foto acima serve para homenagear os antigos alunos, aqueles que pela noite dentro trabalharam sem cessar, enquanto outros viam televisão ou descansavam, suportando o vento marítimo agreste e as temperaturas negativas, exaltando o nosso nome pelo seu contributo e esforço dos seus cães. Gente incógnita e valorosa que serviu de alicerce àquilo que hoje somos, mulheres e homens dedicados à causa dos animais e que fizeram da amizade o melhor dos serviços. Para eles vai o nosso muito obrigado!

O tesouro da Joana

O tesouro da Joana não mora numa ilha encantada, não se encontra depositado num banco e tem vida própria, está sempre ao seu lado e é objecto de todos os seus cuidados. Nesse trabalho é ajudada por toda a família, cabendo a cada um uma tarefa específica. O tesouro da menina são os 11 cachorros da Xita, uns negros e outros preto-afogueados, uma ninhada de comilões endiabrados que não pára o dia inteiro. Os cachorros estão lindos, têm 7 semanas e ultrapassam os 5 kg, brigam constantemente e são muito curiosos, desatam os sapatos a toda a gente e tudo transportam. A Xita, que foi uma mãe extremosa, já está farta deles e incentiva-os a comer, pondo-se em fuga quanto a intentam importunar, porque os dentes da pequenada já lhe causam dano.
Breve o tesouro da Joana vai ser distribuído e à excepção de uma cachorra, todos os outros irão sair, transformando-se em cães garbosos, guardas eficazes e excelentes companheiros, tal qual os seus ascendentes e demais familiares. O tesouro da Joana é um presente para o mundo, para aqueles que estão sós e precisam de companhia, para os que necessitam de evasão e procuram alegria, para os mais sensíveis que precisam de amparo e para aqueles que reclamam por protecção. Se este for o seu caso, contacte a Joana, porque ela aposta na sua felicidade e tem algo de muito valioso para si.


O Zorro e os patos

O Zorro é um cachorro macho CPA, preto-afogueado, com 8 meses de idade, 68 cm de altura e 50 kg de peso. Ele é filho do Kaiser e da Xita, adora brincar e sempre apronta diabruras, mercê da curiosidade que o domina e da idade que o apoquenta. Após ter alcançado a maturidade sexual, sente-se que nem um poldro, correndo atrás de tudo e interessando-se pela novidade. Quando sai à rua é objecto de admiração, a sua morfologia espanta e todos querem conhecê-lo de perto, à excepção dos outros cães que o julgam já adulto e se intimidam. É um bom gigante desastrado a precisar de sociabilização, porque mesmo sem querer causa dolo e desconhece a sua força.
Esta semana levámo-lo ao jardim e convidámo-lo para a coabitação com outros animais, mormente os passíveis do seu interesse, sujeitos à sua perseguição e posterior captura. A partir da familiarização alcançamos à sociabilização, ainda que não dispensássemos o uso de comandos inibitórios e operássemos debaixo de todas as cautelas. E no meio de outros cães, gansos, patos e pombos cumprimos o nosso objectivo, porque o cachorro respondeu afirmativamente ao trabalho proposto e a sua presença não foi causa de transtorno. Naturalmente teremos que retomar estas acções, pela reafirmação dos automatismos e pela necessidade da parceria, para que a liderança saia reforçada e a novidade não vire acidente. Este trabalho torna-se imperativo face à Lei em vigor e cabe aos donos o seu desempenho, na defesa dos seus cães e em prol da coabitação harmoniosa. Seria bom que todos os proprietários de cães procedessem assim, ao invés de se esconderem debaixo da irracionalidade dos seus companheiros, dominada por instintos e desejosa de “apresentar serviço”. Fica o conselho e as fotos testemunham o nosso sucesso: vale a pena trabalhar!

Ontem, hoje e amanhã

Antigamente os proprietários de animais domésticos não hesitavam na sua capacitação, esforçando-se por tirar deles o máximo rendimento, apesar das suas limitações ou menos valias, porque eram sua propriedade e só podiam contar com eles, transformando-os em auxiliares capazes e em companheiros de jornada. E quando as dificuldades surgiam, lutavam para as levar de vencida, culpabilizando-se pela sua falta de engenho ou arte face à demora nos resultados. Graças a isso, operaram autênticos milagres e ganharam experiência, tornaram-se sapientes e descobriram que alma dos animais sempre resulta da vontade dos donos.
Hoje, tanto na equitação como na canicultura, a filosofia é outra, assiste-se ao facilitismo e ao descarte dos animais, ninguém quer passar por dificuldades e a culpa é sempre dos bichos, ainda que a impropriedade dos donos seja por demais visível. Troca-se de cão ou cavalo como de camisa, os animais são desprezados como sapatos sem conserto e ninguém vê a ignomínia dos seus actos. Não são só os caçadores que abandonam cães, como não são só os mestres que trocam de cavalos, toda a gente os imita e todos procuram a vantagem, como se tudo fosse aceitável pelo politicamente correcto e o bem-estar animal fosse supérfluo. Mercê disto, a ignorância sobre os animais nunca foi tão abissal e o abate de muitos cedo acontece. Os animais de ontem são os mesmos de hoje, os homens é que são diferentes. Serão os homens de amanhã iguais aos de hoje? Esperemos que não!

O segundo Cão

A opção é típica de quem procura um cão de guarda, própria daqueles que não tiveram de imediato essa felicidade e que acabaram por adquirir um animal impróprio para a tarefa. Insatisfeitos, procuram um segundo cão, não olhando muitas vezes a despesas e certificando-se da sua qualidade, procurando na garantia genética o desempenho esperado. Apesar disso, as suas expectativas podem sair goradas e o insólito acontecer: vir a ter dois cães de igual qualidade e nenhum préstimo. O cão é um animal social e como tal, agrupa-se em matilha e esta não subsiste sem liderança. Se juntarmos ambos os cães, sujeitamos o mais novo ao aprendizado do mais velho, que naturalmente dominará sobre o mais novo, já que a liderança se encontra cativa à robustez física, ao sexo e à idade. Se não houver o cuidado de separarmos os cães e de os instruir individualmente, breve os medos ou impropriedades do mais velho serão transmitidas ao recém-chegado, mercê do exemplo oferecido pelos vínculos sociais. Quando isto acontece estamos na presença de uma matilha animal, porque a liderança humana sendo omissa, obstou à capacitação de um e desaproveitou o património genético do outro, deixando-os entregues a si próprios e arredados do serviço pretendido. Para que haja uma matilha funcional é necessário que o cão mais novo seja criado em separado, longe das influências indesejáveis do mais velho e exercitado nas tarefas a que se destina. Uma vez chegado à idade adulta, o cão mais novo, naturalmente mais apto e mais robusto, ajudar-nos-á na recuperação do mais velho e ambos trabalharão para o mesmo fim. Tudo o que é bom necessita de especial cuidado: “o descuido é a morte do artista”.

Fim-de-semana de 22 e 23 de Novembro: Ao contrário do caracol

Este fim-de-semana o Outono mostrou as suas duas faces: Sábado de chuva rija e Domingo ensolarado. Quando os caracóis saíam, abrigávamo-nos; quando eles recolhiam, avançávamos nós. Não obstante, trabalhámos debaixo de chuva e não deixámos nada para depois, apesar de nos resguardarmos nos seus momentos de maior intensidade. O trabalho abrangeu as disciplinas clássicas e os binómios ganharam autonomia. Não houve sessão fotográfica e fomos visitados pelo Vítor Hugo que se fez acompanhar pelo cão dos seus pais, a necessitar de breve reabilitação.
O Rodrigo, o benjamim da escola, surpreendeu todos, porque trabalhou em casa e apresentou-se com o trabalho feito, executando irrepreensivelmente com o Tarkan os exercícios propostos. Para além disso, prestou atenção aos conteúdos de ensino ministrados na aula teórica, respondendo acertadamente às perguntas que lhe foram colocadas. O Gonçalo está de volta, 12 anos depois, trabalhando na pista dois cães seus: um Serra da Estrela e um SRD. A Carla Ferreira trabalhou os 4 turnos e a tarefa não lhe foi fácil.
As aulas práticas foram complementadas com subsídios teóricos, mediante a leitura e discussão dos seguintes textos: “Marcha e Passo de Andadura”, “Infância e Desenvolvimento do Impulso ao Conhecimento”, “Mão de Condução”, “Impacto Visual, Respiração e Entoação de Comandos” e “Técnica de Condução: 3 Linguagens e 3 Modos”.O trabalho culminou com 15 voltas ao Círculo de Obediência em passo de corrida (ainda houve quem reclamasse por mais).
Participaram nos trabalhos os seguintes binómios: Alexandra/Abu, Ana/Loki, Carla/ Dirka & Shadow, Eduardo/Micks & Vega, Elisabete/Lua, Francisco/Luna, Gonçalo/SE & SRD, Joana/Flikke, João Franco/Zappa, Jorge/Juvat, Luís Leal/Teka, Manel/Mini, Octávio/Greg, Roberto/ Teka & Turco, Rodrigo/Tarkan, Vítor Hugo/SRD e Zé Gabriel/Master & Menina.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

::: Brinquedos: um caso sério :::

Adquirir brinquedos para um cachorro é algo imprescindível, considerando o desenvolvimento do seu impulso ao conhecimento, o robustecimento do seu carácter, o seu bem-estar social, a adaptação ao quotidiano e o tipo de parceria procurado. Eles estão para o cão como os simuladores para os pilotos de aviões, quando constituídos em material didáctico e pedagógico, já que o enriquecimento da experiência directa sempre provoca o aumento da sua capacidade de aprendizagem. Bem comparado, um cão sem brinquedos é como um homem sem carta de condução, incapaz de usar um computador e arredado dos benefícios das novas tecnologias, porque o desprezo pelos brinquedos induz à estupidificação canina, relegando os nossos fiéis companheiros para o seu rudimento ancestral.
Os brinquedos à disposição no mercado são versões optimizadas (industriais) dos desenvolvidos por adestradores conceituados, têm propósitos definidos e procuram diferentes capacitações. A maioria dos retalhistas e dos proprietários de cães, porque ignora as suas vantagens, acaba por desprezar um sem número deles de reconhecida utilidade. Apesar de cada brinquedo ter um propósito, nenhum deles é válido sem o contributo do dono, porque ele é para ambos e de nada vale quando arremessado simplesmente para o canil, porque o cão não aprende sozinho e não dispensa a mestria da liderança. E neste sentido o brinquedo é um veículo de comunicação, obrigando ambos ao uso da regra e ao aprendizado constante do dono. Sim, os donos necessitam de aprender a usar os brinquedos e a tirar deles o melhor rendimento.
Como existem brinquedos específicos para cada disciplina cinotécnica, nenhuma delas subsiste em qualidade sem o seu concurso, porque possibilitam o treino para as acções reais e induzem ao crescendo operativo, dispensando a coerção e evitando maiores surpresas. Dito isto, apraz-nos dizer: o melhor cão de guarda não é aquele que ataca à dentada, mas aquele que acciona, substitui ou complementa determinados mecanismos de segurança. Os brinquedos não são veleidades, mas um caso sério, porque ninguém os pode dispensar face à exigível sobrevivência canina.

Meeting between the empirical and erudite

In a village in to the north, where there were no police or guardia civil, the villagers were managed by its own board, led by man of “rod of justice” who had the last word in any subject. Usually it was an elder elected by them and a good judge of their problems and aspirations, to whom it was recognized notorious wisdom. One day a young man was called into his presence and immediately recognizes its mistakes, the old man deserves the following comment: “I’m glad you think so only because decent people recognize their mistakes”. This true story introduces us to the theme of Today, the need of learning with our mistakes, as dog’s owners and dog’s trainers.
Instead of could be, is not easy to educate dogs, understand them and make them our shadow, because they are essentially empirical and survive trough experience, have no prospect of future and always relate the past with the present, they requires extra care by our actions and behaviour, considering his happiness and his subsequent profit. Just one thoughtless action abort one thousand positive actions in the animal’s head turning into trauma; because their fears stand in with its own survival and social order, because he only understand forgiveness when you target him and he recognizes the fault without punishment.
Facing the dog, the man is a scholar and should use this advantage by the reason contribution, learning to master the impropriety of your emotions and convey them to when necessary, so that the communication happens, the partnership and the symbiosis be worth it. Consistency in actions, aid in addition to the errors, understanding towards the difficulties and find new solutions, they are needed qualities for a dog trainer that will gradually acquire a mime of his own craft. The mime should be placed by the emotions service, prospects a telepathic relationship announcing by adrenaline discharge through the chosen attitude. Nothing strips better an owner as his own dog.

O último voo do condor: a morte do Pascoalito (04/03/03 - 12/11/09)

Nasceu em Runa, recebeu o nome de “Chéu da Quinta de Carcavelos”, veio parar às mãos da Maria e foi rebaptizado como “Pascoalito”, em homenagem ao seu pai, “Pascoal da Villa Sant’Agata”. Por volta da maioridade foi entregue para a segurança dum condomínio, acabando mais tarde nas mãos do Virgílio. Nunca levou de vencida a sucessiva troca de líderes, permanecendo até ao final submisso e desconfiado. Com a Susana participou nas nossas classes e representou a nossa Escola nalguns eventos, alcançando destaque na endurance e enaltecendo os nossos propósitos. Tal qual um condor pairava sobre os obstáculos na suspensão, mercê de uma excelente impulsão e excepcionais alongamentos. As suas prestações atléticas dificilmente serão esquecidas e o por causa disso, o seu nome não será tirado da margem direita deste Blog, porque lhe estamos gratos e pretendemos homenageá-lo, mantê-lo vivo entre nós. Segundo o que nos foi comunicado, numa intervenção cirúrgica de emergência, morreu duma gastroenterite hemorrágica aos 6 anos de idade. O seu precoce desaparecimento apanhou-nos de surpresa e todos lamentamos a sua partida. Breve outros lobeiros tomarão o seu lugar e o seu nome será relembrado quando alguém disser: “faz lembrar o Pascoalito!” O falecido era um dos poucos descendentes directos do famoso “Flick“ (Kuklonn-Horst da Quinta ABC) e apenas foi pai de uma ninhada. Daqui enviamos uma mensagem de solidariedade para os seus donos, porque não é fácil abrir a porta e apenas sentir o vento, alcançar o infinito e não ter o Pascoalito por perto.

O miúdo que falava com os cães

Em tempos idos tivemos um aluno de Santarém, chamava-se José e conduzia um Husky. Era um aluno simpático e cordial, daqueles que enriquecem qualquer grupo e de quem se sente falta (por norma, os condutores dos huskies são gente assim). Todos os dias saia à rua com o seu cão, não dispensava a recapitulação doméstica e exercitava-se pelas vielas daquela cidade. A partir de determinada altura verificou que não estava só, que atrás dele vinha um miúdo com um cão preso por uma corda, reproduzindo todos os exercícios que ele fazia com o Husky. A caminhada comum levou-os à amizade e o Zé ficou surpreso: o miúdo não tinha cão, cada dia era um diferente, de acordo com o cão vadio que conseguisse laçar. A habilidade do infante transtornou o nosso aluno, obrigando-o a confessar o sucedido. E porque não se calava sobre o assunto, mandámos que trouxesse o miúdo. O rapazinho veio e convenceu, conduzindo todos os cães em classe de modo irrepreensível, como se participasse das lições e nelas tivesse alcançado superior aproveitamento. O adestrador ficou boquiaberto, não queria acreditar no que via: o miúdo era um fenómeno! Dirigindo-se a ele, perguntou-lhe porque não tinha cão. “Não tenho cão porque os meus pais não querem. Eu peço-lhes mas eles não me deixam ter!” Atendendo ao tempo que já passou, esse miúdo é hoje um homem, que será feito dele, terá finalmente um cão?

Um Yoshi igual ao Pongo (cara de um, focinho de outro)

Não sabemos quantos filhos o Pongo terá, mas dificilmente terá algum mais parecido com ele do que o Yoshi. O cachorro é a “cara” chapada do pai, o seu comportamento em nada lhe difere e a graça é exactamente a mesma. Neste momento ainda não tem 3 meses, ronda os 50 cm de altura e pesa 15 kg. Tem uma vitalidade inesgotável e é um brincalhão por excelência. Breve virá para a Escola (já participou nos nossos trabalhos por duas ocasiões) e estamos certos que não defraudará, porque goza de uma boa relação com o dono e é muito curioso. Parabéns ao Vítor Hugo pelo acompanhamento dispensado, assim vale a pena ter um cão! Será que os irmãos do Yoshi tiveram a mesma sorte?

Um novo binámio: Rodrigo / Tarkan

Engrossou as nossas fileiras recentemente um novo binómio, o constituído pelo Rodrigo e pelo Tarkan. O Rodrigo é um menino de 8 anos de idade, cheio de vontade e que segue o seu Tio Francisco por toda a parte. A par com o gosto de aprender, o Rodrigo tem sentido algumas dificuldades, porque tem as pernas mais curtas, está anafadinho e a marcha é para ele muito célere. Não obstante, a sua alegria é contagiante e não se furta à instrução. O Tarkan descende de dois boxers e é irmão da Luna, apesar de completamente diferente e de lembrar um Pointer. Pormenores à parte, o cachorro “não tem espinhas”, aprende sem dificuldades e é um atleta de eleição, apesar de fazer a abordagem aos obstáculos com o nariz, o que se entende e é perfeitamente natural. Daqui enviamos uma palavra de ânimo para ambos, apostamos no seu sucesso e estamos certos das suas vitórias. Sejam bem vindos!

No Forte da Feira e no Penedo do Lexim

O envolvimento cultural é uma das nossas missões, porque não podemos desprezar quem somos e donde viemos. Temos essa responsabilidade perante os mais novos e todos somos história viva. A zona saloia há muito que se encontra descaracterizada mercê das migrações de Norte e Sul e de se situar nos arredores de Lisboa, constituindo-se hoje, um pouco por toda a parte, num autêntico dormitório da Capital. Dificilmente se encontram saloios de 3ª geração e até no folclore as mãos dançam ao alto, na transição do bailarico para a chula. Os saloios do passado não tinham como preservar o seu património, pois grassava o analfabetismo e a economia da sobrevivência. E os que foram chegando, porque eram desenraizados, pouca importância lhe deram, cativos às “berças” ou melancolicamente ligados a um monte com alguns chaparros. Apesar de alguns avanços nesse sentido, o património saloio continua degradado e ignorado, distante de quem vive ao seu lado. Esta semana, trabalhámos obediência e pistagem nas áreas limítrofes ao Forte da Feira e ao Penedo do Lexim, associando a cultura adjacente à prática cinotécnica.
E porque importa falar de cultura, passaremos adiante dos trabalhos efectuados. O Forte da Feira, na Malveira, foi edificado por volta de 1809, fazendo parte da 2ª linha de defesa da Capital, para entravar o avanço das tropas napoleónicas a Lisboa, por indicação dos estrategas militares ingleses, então nossos aliados. A sua planta aponta para um estrela de sete pontas, é todo circundado por um fosso escavado no saibro, variando a sua altura entre 2.5 e 3.5 metros, numa largura de 2. Tanto o fosso como a muralha foram integralmente escavados no saibro pelo contributo dos populares e tem 173 metros de perímetro. Comportava uma guarnição de 250 homens e encontrava-se apetrechado com 4 canhões de 12 polegadas e tinha 5 baterias de fogo. Em 1895 surge com definitivamente com o nome actual e só em 13 de Agosto de 2002 foi objecto de alguma recuperação (corte de árvores, supressão do matagal, colocação de placas informativas e passadiços de acesso). Ao que consta, essa obra foi levada a cabo pela conjugação de esforços do Grupo Hiperactivo, Câmara Municipal de Mafra e Exército Português, quase duzentos anos depois da sua edificação. Contudo, o local é pouco publicitado e pouco apelativo, falta informação mais detalhada e carece de visitantes.
O Penedo do Lexim é uma chaminé vulcânica de pedra basáltica situado junto à localidade de Igreja Nova. No seu topo existe uma estação arqueológica, cujas trabalhos ainda não foram encerrados. Segundo as evidências ali encontradas, funcionou com espaço habitacional durante milénios, dando guarida a agricultores e pastores. Segundo se diz, foi ocupado desde o neolítico até à época romana, constituindo-se como um castelo natural, já que o povoado nele descoberto se evidencia fortificado. O local é paradisíaco e contrasta com os maus acessos, adornados por carrascos, silvas e demais mato em franco progresso, não raramente adornados por montículos de quem se viu em necessidade ou de acessórios próprios ao exercício da paixão. Com tanto exercício, é caso para se perguntar: porque tivemos menos 100.000 bebés este ano. Queira Deus que chova! O local é muito visitado e consta de alguns passeios pedestres regionais, sendo policiado pelo Exército no seu combate contra os fogos florestais. A estrada que lhe dá acesso é muito estreita, o que impossibilita nalguns troços o cruzamento de veículos. Muitos dos fragmentos do maciço têm sido surripiados devido à sua forma única e prismática, lembrando colunas de 5 ou 6 arestas. Alguma da flora ali encontrada é única na região.

Fim-de-semana de 14 e 15 de Novembro: 30 anos da XANAUTO e domingo molhado

Sábado foi dia de “boda aos pobres”, a Xanauto comemorava 30 anos de existência e a Família Costa esmerou-se, oferecendo aos seus convidados um almoço variado de acordo com os paladares da região. Não restando outra opção ao adestrador, viu-se obrigado a encerrar os trabalhos escolares nesse dia, já que os heróicos treinadores de cães optaram por encher a barriga. A Xanauto foi obra do Sr. Arsénio Sousa e esposa, agora substituído pelo seu genro o Pedro Costa, marido da nossa Princesa. O fundador da Empresa veio do nada e singrou na vida a pulso e ainda trabalhou para saldar as dívidas o seu pai. Neste tempo de recessão, bem longe doutros mais lucrativos, vender carros não está fácil, cabendo a fava do bolo ao Pedro. Quanto ao almoço, todos foram unânimes: não faltou nada!
Aproveitámos a tarde de Sábado para visitar as ninhadas de CPA, deslocando-nos para o efeito às casas do Carlos Veríssimo e da Família Moura. Os cachorros estão a desenvolver-se bem apesar das ninhadas terem sido enormes. Nesta aferição não nos esquecemos dos anseios do Sr. Paulo Serra Pedro, que aguarda expectante a aquisição de uma nova cachorra.
A manhã de Domingo foi aproveitada para o passeio em estrada, visando a parceria e o robustecimento do carácter dos cães em classe. O passeio foi em coluna e em “frente por um”. O aquecimento anterior foi operado sobre os campos da Boavista e o Yoshi esteve connosco. O período matinal terminou na Pista Táctica. Almoçámos no João da Vila Velha e tivemos a companhia da Mónica e do Pedro Almeida Rocha. Da parte da tarde, depois de algumas hesitações, fizemo-nos à pista debaixo de chuva e ninguém se queixou.
Participaram nos trabalhos os seguintes binómios: Alexandra/Abu, Ana/Isis & Loki, Bruno/Pepe, Eduardo/Micks & Vega, Elisabete/Lua, Francisco/Luna, Jorge/Juvat, Manel/Mini, Octávio/Greg, Roberto/Teka & Turco, Rodrigo/Tarkan e Vítor Hugo/Yoshi.

terça-feira, 10 de novembro de 2009

::: Cachorros: 1º. ciclo escolar (dos 4 aos 6 meses) :::

A necessidade escolar não é absoluta, porque a escola não é um fim em si mesmo e a integração doméstica pode acontecer sem problemas. No entanto, gente preocupada com os seus cachorros, sempre procura conselho e ajuda junto dos profissionais, para melhor compreender e agir em conformidade. Quando a instalação doméstica é satisfatória, a escola surge como um complemento e isso pode não ser obrigatório, ser até dispensável. Todos já vimos cães bem comportados sem nunca terem pisado um centro de treino, felizes no seu grupo e exalando parceria. Apesar de não serem casos comuns, acontecem um pouco por toda a parte, ligados à disponibilidade dos donos e à consequente comunhão de vida. Sim, o cão pode ser educado em casa, sem o contributo alheio e para além do benefício escolar, desde que o dono o consiga e saiba fazer, isto se entendermos a educação no seu sentido mais restrito: na assimilação da regra. Contudo, o propósito escolar deve ultrapassar a conveniência e apostar numa maior capacitação, mercê dos impulsos herdados presentes em cada cão. Por outro lado, a subtracção da sobrevivência animal invalida qualquer método, obsta a qualquer serviço e aponta para um final indesejado.
O hábito de levar os cães à escola remonta à divisão arcaica dos cães de utilidade, intrinsecamente ligado aos exemplares de raça e às expectativas neles depositadas, funcionando a escola como distrito de recrutamento, laboratório de testes e simulacro das acções pretendidas, como se a raça definisse o indivíduo e a excelência somente nela habitasse, o que como se sabe, é a maior das inverdades, considerando a inadequação de muitos e a prestação inesperada de outros, que muitas vezes sem raça ou doutra dita imprópria, suplantam “os eleitos” naquilo que deveria ser o seu oficio. Mais do que olhar para a raça, importa reconhecer o indivíduo à nossa frente, naquilo que o torna particular e diferente dos demais. Sobre isto deve também assentar o ensino escolar, porque a melhor das pedagogias sempre respeitará o princípio da individualização, para além das expectativas e em abono do indivíduo. E neste sentido, a escola é uma oficina de consertos, nisto se compreende o significado do verbo adestrar, muito pra além do comum “treinar” e bem distante das preocupações gerais.
Naturalmente, o cachorro aos 4 meses passa a seguir os cães adultos que se tornarão os seus mestres. Eles ensiná-lo-ão a achar pistas, a caçar, a defender-se, a identificar perigos e inimigos, a juntar-se ao bando e a assimilar a sua hierarquia. Este ensino é dinâmico e acontece pela excursão, mercê da predação que garante simultaneamente a sobrevivência e a perpetuação da espécie. Porquê aos 4 meses?
Até às 3 semanas de vida, o cachorro é um “come e dorme” interrompendo somente o sono pelo ciclo das mamadas, (dorme mais do que come). A partir daí começa a comer, salta da maternidade e passa a dormir noutros locais, ainda que limítrofes ao lugar do seu nascimento e sem perder a mãe de vista. Dos 30 aos 60 dias a sua actividade aumenta, ataca os sapatos das visitas e enceta lutas com os irmãos. Pouco a pouco, vai regulando a sua azáfama pelo relógio biológico e a partir daí ganha desenvoltura. Aos 3 meses já ensaia pequenos saltos, recorre ao galope e aumenta os seus giros, movido pela curiosidade e pela robustez adquirida. Todavia, a sua autonomia é reduzida e nivelada pela necessidade de descanso. A autonomia que garante a excursão, tanto física quanto psicológica, só lhe é possível aos 4 meses, altura em que se encontra na idade da cópia e parte à descoberta. Este deve ser, pelas razões expostas e segundo o nosso entendimento, o momento certo para iniciarmos o seu adestramento, através da inscrição escolar e pelo contributo das classes mais adiantadas. Não obstante, a coleira deve-lhe ser colocada aos 2 meses e partir daí, de modo suave e progressivo, iniciar-se a condução à trela. O uso da coleira e o exercício da trela não devem ser simultâneos, primeiro deixamos que o cachorro se acostume à coleira e só depois o convidaremos a seguir-nos pela indução da trela, porque não queremos traumas e não seguimos a política “dos fins que justiçam os meios”.
A QUESTÃO DO PRÉ-TREINO: UMA MEDIDA EXCEPCIONAL
Quando há essa oportunidade e a título excepcional, convidamos alguns binómios para o Pré-Treino, momento pedagógico que antecede o treino propriamente dito e que repara alguns atrasos cognitivos, físicos, psicológicos ou sociais, causadores de desaproveitamento no 1º Ciclo Escolar. O objectivo do Pré-Treino é a capacitação, visa a recuperação dos cachorros atrasados quando comparados com outros da mesma idade, colocando-os no mês seguinte em pé de igualdade com os seus colegas de classe. O convite é feito para os cachorros com 3 meses de idade, geralmente vítimas de uma má instalação doméstica, de um acompanhamento precário, de um desenvolvimento anómalo ou sujeitos a impropriedades genéticas de vária ordem. À parte disto e acontece com frequência, o convite é extensível aos donos menos hábeis e mais descuidados, independentemente das características dos seus cachorros ou por causa da sua excelência, porque o dono é o seu principal agente de ensino. Os parâmetros que levam ao convite são os constantes no Quadro de Crescimento Funcional em uso na Escola. É importante não esquecer: ainda que as metas de qualquer “Plano de Aula” sejam escolares, os seus objectivos serão sempre domésticos. Entre nós, o tempo útil do Pré-Treino evolui semanalmente de 15 para 30%, quando comparado com os momentos de supercompensação, respectivamente: 10 minutos na primeira semana; 12 minutos na segunda; 15 minutos na terceira e 20 minutos na última. A actividade cognitiva é subdividida em 2 momentos e o reforço positivo é indispensável.
A CORRECÇÃO MORFOLÓGICA: O PRIMEIRO DOS NOSSOS TRABALHOS
A correcção morfológica é a primeira das nossas preocupações, porque são raros os cachorros que não apresentam alguma impropriedade. Estamos a falar, entre outras coisas, do abatimento de metacarpos, do dorso selado, do jarrete de vaca, do pé chato e da anomalia “peito estreito e mãos atiradas para fora”. A correcção será operada pelo contributo de aparelhos específicos, onde o Extensor de Solo alcançará naturalmente um lugar de destaque. Quando os desaprumos ou menos valias são de origem genética, apenas podemos suavizá-los; quando se reportam somente à fase de crescimento, conseguiremos eliminá-los. O desuso da correcção morfológica pode perpetuar incapacidades não hereditárias, intrinsecamente ligadas à cadeia alimentar e ao tipo de exercício dos cachorros, porque aumentarão de peso naturalmente e mais sobrecarregarão os seus membros e articulações. A correcção morfológica encontra-se sujeita a uma regra: primeiro recuperam-se os aprumos e só depois o dorso. Os cachorros rectangulares devem merecer especial cuidado, porque têm uma curva de crescimento mais alongada e encontram-se mais sujeitos a incapacidades relativas à sua morfologia. Como atrás foi dito, a ginástica aqui é fundamental e deve ser neste ciclo a disciplina maioritária.
O QUE FAZER PARA FACILITAR O 1º CICLO ESCOLAR
Considerando as 4 áreas do adestramento clássico (obediência, ginástica, guarda e pistagem), adiantamos por disciplina as tarefas domésticas indutoras ao treino e ao seu sucesso:
Obediência: O cachorro já deve obedecer ao chamamento pelo nome, chegar atrelado e acostumado a andar à esquerda, com os comandos de “junto” e “aqui” assimilados.
Ginástica: Correr atrás de uma bola ou brinquedo, executar pequenas subidas a 30º, saltar obstáculos naturais com 40 cm de altura e estar acostumado a uma marcha diária de 1 km, são benefícios de todo desejáveis (estes valores compreendem indivíduos que atingirão os 60 cm na idade adulta)
Guarda: O cachorro deve ser capaz de agarrar e puxar um trapo, estar acostumado a sinalizar a presença de estranhos, habituado a diferentes ecossistemas e não se intimidar perante ameaças.
Pistagem: A procura do prato da comida e do dono, assim como a absorção do comando de “busca”, são tarefas desejáveis e profícuas para o 1º Ciclo Escolar.
PERCENTUAL DA CARGA HORÁRIA INERDISCIPLINAR NO 1º CICLO
Tendo em conta o apetrechamento físico e o robustecimento do carácter dos cachorros, adiantamos o percentual da carga interdisciplinar neste ciclo: Ginástica 50%, Pistagem 30%, Guarda 10% e Obediência 10%. Neste Ciclo os momentos de evasão e supercompensação são superiores aos reservados para o trabalho útil. No 1º Ciclo equipa-se o cachorro e só depois dos 10 meses o capacitaremos para a finalidade, segundo o particular da sua vocação e de acordo com a sua morfologia. Nenhuma precocidade é desejável, porque a perca da plasticidade obsta à absorção cognitiva, diminui os indíces de progresso e compromete a adaptação. Há que dar tempo ao tempo e apostar na experiência variada e rica, enquanto subsídio para o aumento da capacidade de aprendizagem. Os cães a quem foi surripiado o 1º Ciclo, por ignorância ou estupidez, jamais alcançarão os índices atléticos que lhe eram próprios, necessários para o seu bem-estar e superior desempenho. Na nossa opinião, por isso não entregamos o trabalho a novatos, o 1º Ciclo Escolar é aquele que se reveste de maior importância na vida de um cão, porque ele vive de memórias e sabe com o que contar. Como o assunto não se esgota aqui, estamos ao seu dispor.

Um osso duro de roer

Apesar das sucessivas advertências, porque estava distraído ou não ouviu, há sempre quem acabe por lesar o seu cão involuntariamente. Esta semana a vítima foi o Zappa e a proeza coube ao seu dono. Como é costume, no intuito de cativar o cliente, a Dª Mª José, gerente da Casa Galrão, sempre oferece um mimo a quem compra uma saca de Flatazor, porque a ração apenas garante a qualidade e não dá mais nada. Conforme o que tem disponível, distribui de tudo um pouco: bonés, T-shirts, brinquedos, ossos de couro e desidratados, na recomendação de que os cães tudo merecem. Coube ao Sr. João Franco um osso.
Ao chegar a casa distribuiu de imediato a guloseima ao Zappa que não se fez rogado. O bicho parecia enfeitiçado e não largava o osso por nada, até que o consumiu totalmente. O pior veio depois, o cão queria defecar e não era capaz, contorcendo-se com dores e olhando ao flanco. O tempo passava e o sofrimento aumentava, o suplício agravava-se e a solução tardava. Finalmente, depois de dois clisteres, o problema foi resolvido e ninguém ganhou para o susto. É caso para se dizer: que osso duro de roer!
Muita atenção aos ossos à venda no mercado, porque sendo desidratados, quebram com mais facilidade e podem prender-se nos intestinos dos cães, o que obriga a medidas excepcionais e pode ser fatal pela morosidade do socorro. Além disso, a conservação dos ossos é feita por um agente químico, geralmente responsável, nalguns casos, por inesperadas diarreias. A distribuição de ossos aos cães é dispensável, porque actualmente existem melhores subsídios para a limpeza dos seus dentes. Mas quando o cão suplica e o dono não se aguenta, o osso indicado é da pá de vaca (fresco e oriundo do talho), porque não se estilhaça e é de fácil absorção, devendo ser só distribuído depois de cozido.

O papel que ninguém quer

Para muitos, o melhor Adestrador do mundo é aquele que não chateia, que sempre atribui a culpa aos cães e que enaltece os donos, isentando-os de qualquer reparo e vendendo-lhes cabazes de esperança. São gente adulta que gosta de ser tratada como criança, na exaltação do particular em prejuízo do binómio, na permuta entre o serviço e o narcisismo, como se a mestria não resultasse do exercício e a parceria da comunhão. Educar cães, quer queiramos ou não, é educar homens, porque os cães não aprendem sozinhos e carecem de adaptação. E no mundo do inevitável, farto em prioridades, o cão pode esperar e ser relegado para depois, como se tivesse a nossa longevidade e compreendesse a natureza dos nossos tormentos. Infelizmente para ele, o cão não é um produto de 1ª necessidade e não se auto-sustenta, porque é dependente e sobrevive pela sujeição. Se a rudez de um cão sempre espelha um dono rudimentar, sobre quem incidiremos a nossa acção, quem necessitará de mudar?
Ainda que o não queira e faça tudo para o evitar, um Adestrador digno desse nome, sempre será um indivíduo incómodo, porque procura o bem-estar canino e nisso assenta o seu ofício. Cativo a essa missão, sujeita-se muitas vezes à incompreensão, personificando diferentes papéis segundo a perspectiva dos importunados, porque os conhece e sabe do que são capazes, porque os cães não mentem e o seu jugo tudo esclarece. A sua acção não se remete apenas ao exercício escolar, entra lar adentro, invade a privacidade, porque reclama por uma instalação doméstica capaz, pela excursão diária, por um tratamento condigno e tudo isto em prol do cão! A ausência de secretismo incomoda e o comodismo é abalado, os donos sentem-se vulneráveis e alguns mandam-no bugiar para outro lado. Não é fácil ser advogado do pobre diabo! É este o papel que cabe ao adestrador, num julgamento viciado e perante uma sentença adivinhada. Contudo, ele jamais irá desistir, a isso obriga a militância que o transporta ao cumprimento do serviço: o amor pelos cães!