terça-feira, 31 de maio de 2016

PIADA DA SEMANA: O SEGREDO DE FAMÍLIA

A piada desta semana, cuja autoria desconhecemos, foi-nos enviada pelo nosso amigo Eduardo Ramos, um habitué da boa disposição. Vamos a ela: “ Uma Galinha pôs um ovo de meio quilo e como era coisa inédita, viu-se rodeada de repórteres da imprensa escrita, da rádio e da televisão, todos interessados em saber como tinha alcançado aquela façanha, ao que ela respondeu ser um “segredo de família”. Perguntaram-lhe depois quais eram os seus planos para o futuro, adiantando ela que desejava vir a pôr um ovo de 1 kg.
Os repórteres entusiasmados e querendo saber mais, porque estão cá para informar, viraram-se depois para o galo, inquirindo-lhe também como haviam alcançado aquela façanha, ao que ele prontamente respondeu ser um “segredo de família”. Nada esclarecidos e sabendo que não punha ovos, perguntaram-lhe que planos tinha para o futuro.
O Galo sem hesitar e para espanto dos seus interlocutores respondeu-lhes que tinha de ajustar contas com o Peru!”
Brada aos céus saber que nem nas capoeiras acontecem milagres!

A HISTÓRIA DO JOSÉ E DO CAOS

Desiludam-se aqueles que pensaram que vamos falar do tal José, o “Special One”, “Happy One” ou Happy Meal”, porque os pontapés que mais nos interessam são aqueles que a vida nos dá, a nós e aos outros, não os que acontecem nos estádios de futebol, apesar de tal desporto não nos ser totalmente indiferente. O José da nossa história, que é verídica, é um cidadão norte-americano, ao que parece de origem hispânica (pelo nome e fisionomia), que duma assentada se viu divorciado, sem casa, condenado a viver dentro do carro e em profunda depressão. Incapaz de valer convenientemente ao seu cão (Caos), decidiu pedir a um amigo que cuidasse dele temporariamente até encontrar melhor rumo para a sua vida (se fosse outro tê-lo-ia abandonado).
Quando o nosso homem resolveu a sua situação e já tinha como cuidar do animal, a pessoa a quem o tinha entregado negou-se a devolvê-lo, facto que o convenceu de que jamais tornaria a ver o seu cão. Dois anos mais tarde, no passado dia 27 de Abril, recebeu uma chamada telefónica proveniente do “Winnebago County Animal Services”, um abrigo para animais no Estado de Wisconcin, a dizer-lhe que haviam encontrado o Caos e que estavam a contactá-lo por constar no microchip do animal que o José era o seu proprietário. Dois dias depois deu-se o encontro entre ambos, aproximando-se o cão receoso do dono. Depois de o haver cheirado e identificado, o animal atirou-se ao dono e caiu-lhe nos braços cheio de alegria, numa euforia raramente vista (vale a pena ver o vídeo constante em www.goodnewsnetwork.org/uplift/pets/).
Os cães nunca se esquecem de quem lhes quer bem e o final desta história dispensa maiores comentários. Histórias destas há muitas mas nem todas têm um final feliz! Quantos desempregados já passaram ou estão a passar por situações idênticas e não terão no final um cão que os abrace?

IN THE LAND OF THE FREE AND THE HOME OF THE BRAVE

Não é nosso objectivo explicar ou traduzir o Hino Norte-americano “The Star-Spangled Banner”, apenas usámos a sua última estrofe pela força que transmite como mote para falar da “The Annual Wiener Dog 100 Race”, um evento canino que ontem ocorreu mais uma vez nos Estados Unidos no dia em que ali celebravam o “Memorial Day”, um feriado federal destinado a lembrar e honrar aqueles que morreram pela pátria no cumprimento do dever.
Efeméride que nos transporta imediatamente para o Museu do Combatente em Belém e para o mural onde se encontram inscritos os nomes de todos aqueles jovens portugueses que morreram em idênticas circunstâncias na Guerra do Ultramar Português, nomes que estão a desaparecer por ausência de tinta nas letras, o que é um profundo desrespeito pelo seu sacrifício, que só não foi inglório porque morreram pelos seus camaradas, que amiúde ali vão prestar-lhes homenagem. Os outros honram os seus mortos e nós deixamo-los cair no esquecimento. Será que precisaremos de uma autorização de Berlim, de apelar à carteira dos emigrantes para restaurar as lápides ou ver-nos-emos obrigados a lançar um peditório nacional para o efeito?
A “The Annual Wiener Dog 100 Race”, que este ano contou com a participação de 60 cães, é uma corrida anual realizada junto ao Lago Compouce em Bristol, no Connecticut. Tem como objectivo angariar fundos para resgatar e cuidar dos Dachshunds desprezados ou pertença de famílias carenciadas naquele Estado norte-americano, sendo por isso um evento festivaleiro de caridade, onde estes pequenos cães concorrem uns contra os outros numa corrida com o seu quê de pitoresco e hilariante, num ambiente alegre e descontraído, competição também aberta aos atletas caninos que se deslocam com auxílio duma cadeira de rodas.
A competição é animada e feita em várias mangas até se encontrar o vencedor final, que este ano foi um exemplar de pelo comprido, o mesmo que se encontra na foto abaixo a sacudir as orelhas e cuja medalha lhe chega ao chão (bem que lhe poderiam ter arranjado uma com a fita mais curta).
O evento, para além dos seus propósitos iniciais e campanha pública de sensibilização, presta-se ainda ao convívio dos donos, que vibram com a participação alegre dos seus pequenos companheiros incentivando-os à vitória. A realização desta corrida acaba por atrair muito público e os media, participando nela grande número de cães resgatados, inclusive aqueles que levaram de vencida doenças graves como o cancro, o que à partida já os torna vencedores.
Iniciativas destas e com os mesmos propósitos seriam bem-vindas aqui no Dia do Animal, ao fim-de-semana ou num dia feriado. Não temos muitos Dachshunds mas sobram-nos muitos cães sem raça definida! Realizar uma competição assim, aberta à participação dos cães populares e das associações, seria um excelente meio para angariar fundos e sensibilizar as pessoas para o abandono dos animais, evento que seria menos enfadonho que as costumeiras participações dos cães de agility e dos cães policiais. O que faltará para se instituir “a corrida do rafeiro”? Somente iniciativa!  

segunda-feira, 30 de maio de 2016

EIS O “RAPAZ” NAS SUAS PRÓPRIAS PALAVRAS

Durante alguns anos a Joana Melo foi a minha lugar-tenente e desempenhou tão bem esse papel que a tratava tal qual um rapaz. Dela recebemos o seguinte email no seu estilo peculiar e desabrido: “...fiz 33 anos, e a barriga 5 meses. Mas ainda não se nota nada, Pareço uma gorda horrível só (ugh), daquelas que nunca fui, barrigudas e mamalhudas. De resto, estou óptima. Uma amiga minha veio-me visitar no meu aniversário e fomos passear para o Peak District. Estou um pouco aflita com o trabalho/doutoramento, mas um aflito relativo, já que tenho muito menos pressão do que nos meus trabalhos anteriores. Beijos, Joana”. Conclusão: o rapaz trocou de peitos e breve será mamã!
PS: Fica-te bem o “estado interessante”, o Radar ficou bem na fotografia e o João está radiante.

OS CÃES TAMBÉM SOFREM DE DOENÇA VENO-OCLUSIVA PULMONAR

A Doença Veno-Oclusiva Pulmonar, uma forma rara e grave de hipertensão pulmonar, que se considerava até aqui como exclusiva dos humanos, afectando de 15 a 50 pessoas por milhão,  foi agora descoberta e diagnosticada também em cães, obra de um estudo levado a cabo pela Universidade Estadual do Michigan/USA, através da sua Faculdade de Medicina Veterinária, cujo primeiro responsável foi o Dr. Kurt Williams, especialista em Patologia Respiratória naquele estabelecimento de ensino. Este trabalho e as suas conclusões foram publicados recentemente na revista da especialidade “Veterinary Pathology”.
Os pacientes humanos afectados por esta doença têm poucas hipóteses de tratamento, surgindo o transplante pulmonar como a melhor das opções. O atrás citado Dr. Williams está em crer que a doença é mais comum nos cães que nos humanos, facto ainda por comprovar. A hipertensão pulmonar fica a dever-se a uma apresentação anormal dos vasos sanguíneos nos pulmões, o que dificulta o trabalho do coração. Nos casos de doença veno-oclusiva, as pequenas veias pulmonares ficam bloqueadas, aumentando a pressão nelas e acabando por causar insuficiência cardíaca, sucedendo exactamente o mesmo nos cães, que ao não serem conveniente diagnosticados e socorridos, podem morrer rapidamente.
Os sintomas da doença incluem tosse, dificuldade e aumento da frequência respiratória, perda de apetite e fadiga crónica. A sua evolução fatal nos humanos pode durar até dois anos e nos nossos fiéis amigos tende a acontecer de modo mais rápido. O facto de haver sido também descoberta nos cães é uma boa notícia para os humanos, uma vez que poderão servir-lhes de modelo para observação, estudo e tratamento, o que realça a importância da medicina veterinária para a geral, podendo médicos e veterinários aprender e auxiliar-se mutuamente no combate a esta rara doença.  

COM ALIADOS ASSIM MAIS VALE QUE SE DECLAREM INIMIGOS!

Quanto mais conheço do mundo muçulmano menos quero conhecer. Para a próxima vez, esperam-se mais e piores: o Xeque Saleh Bin Fawzan Al-Fazwan, um clérigo saudita e membro do Conselho Escolar para As Pessoas Idosas, servindo-se da televisão, relembrou ser proibido ao crentes tirar fotografias com gatos e com outros animais, considerando tal acto anti-islâmico e pró-ocidental. E como  proibições por ali não faltam, também o Xadrez está proibido por induzir ao vício do jogo.
Eu não entendo nada de religião e de teologia, mas parece-me que é melhor ser cristão que muçulmano, apesar de não ser praticante de nenhuma das religiões, porque a essência do cristianismo baseia-se num Deus que morreu por todos e a do islamismo parece ser a dum deus que nos quer matar a todos (não sei o que diria o Zé Saramago se houvesse nascido no mundo muçulmano, provavelmente diria das boas, ou não!). E depois, a praxis cristã baseia-se no perdão e no amor ao próximo, ainda que nem sempre tenha sido assim, e a do islão no “olho por olho; dente por dente”, no exercício de castigos e de execuções, que infelizmente para as mulheres podem ser à pedrada, diferenças que me tornam feliz e orgulhoso de ser quem sou: português, europeu e ocidental.
Dizem, vendem-nos tanta coisa, que a Arábia Saudita é aliada do Mundo Ocidental, só se for por conveniência política, porque os seus cidadãos não gozam da mesma liberdade que eu gozo e vêem-se sujeitos a obrigações que eu e você jamais aceitaríamos. Esta aliada e aliança chocam com a minha ética, ao ponto de me julgar também responsável e subsidiário daquela monarquia despótica e esclavagista que serve de exemplo a outras de pior calibre, sejam elas monarquias ou repúblicas, instigando-as aos mesmos crimes contra os seus cidadãos e à revelia dos Direitos Humanos.
Com aliados assim mais vale que se declarem inimigos, decisão que não lhes convém por enquanto e que mais nos obriga à procura de energias alternativas ao petróleo, em prole da humanidade e dos desgraçados que vivem debaixo da sua tirania, homens e mulheres como eu que tiveram a má sorte de nascer no lugar errado. E se tudo isto não é uma farsa, digam-me que estou errado: não se podem tirar fotografias ao lado de animais mas podem filmar-se bárbaras e públicas execuções!
O que não será crime naquelas paragens? Quem serão os verdadeiros criminosos? Acerca deste assunto vem-me à memória a frase já gasta de Charlie Chaplin: “Quem mata um homem é chamado de assassino, quem mata milhares é chamado de herói”. Resta-nos ser solidários com o povo saudita e com outros sujeitos ao mesmo martírio, a quem enviamos uma mensagem de esperança, para que a Lua Crescente ceda finalmente lugar ao Sol, até porque ninguém pode viver eternamente nas trevas. 

O CÃO AZUL: O SANTO GRAAL DO CPA

Já abordámos este tema em várias ocasiões e os artigos que publicámos acerca dele continuam a ser muito visitados. Trata-se do Pastor Alemão cinzento, entendido como azul, variedade muito rara e ligada a outras menos comuns, como são os casos da negra, da chocolate, da vermelha, da cor-de-areia e da proscrita branca. Dum momento para o outro, tal qual a “Febre do Ouro”, ocorrida na Califórnia ente 1848 e 1855, os criadores domésticos do CPA correm agora atrás dos poucos exemplares que nascem entre nós, não olhando a meios e desconsiderando despesas, tentando tirar partido da ignorância dos seus proprietários, que nem imaginavam existir Pastores Alemães assim (azuis), normalmente nascidos de progenitores da variedade cromática dominante (preto-afogueado), ainda que recessivos nesse factor.
É público como alcançámos os nossos pastores azuis, tirados a partir dos beneficiamentos entre os negros e os antigos lobeiros. As razões que nos levaram à sua procura e alcance prenderam-se com a necessidade de melhor compreendermos a evolução da raça, de descobrimos partes omissas na sua selecção e de entendermos o porquê dos critérios seguidos (filosofia e prática), tarefa dispendiosa que abraçámos antes do surgimento da Internet e da vulgarização dos testes de ADN, que seria inconclusiva caso não tivéssemos visto grande número de cães e saber da existência das distintas variedades cromáticas presentes no CPA.
Para todos os efeitos, quer se aprecie ou não, trabalhar com as variedades recessivas do CPA é retornar à sua origem, às suas mais e menos valias, até porque o aprimoramento acontecido na raça, que é indubitável, não aconteceu em absoluto por via da dispensa do trabalho pela preferência estética, tendência que se acentuou logo após a II Guerra Mundial e que se tornou maioritária a partir da década de 70, não acontecendo por acaso a procura de Pastores Alemães do Leste Europeu na era pós Perestroika, animais cuja funcionalidade era em muito superior à verificada entre os cães ocidentais. Houve de facto uma rotura ou quebra de qualidade entre os cães originais e os actuais, ficando isso a dever-se em primeira instância aos criadores alemães, que ainda hoje correm atrás do prejuízo.
Mas o que tem o Pastor Alemão Azul de especial que o distinga dos outros, ao ponto de agora correrem atrás dele como do Santo Graal? Nada, a não ser a cor! Porque nele subsistem bons e maus exemplares, beneficiamentos profícuos e cruzamentos desastrosos, alguns até proibidos pelo Estalão, como acontece com o contributo da variedade branca, o que não significa que deva ser desleixado ou preterido, porque se está dentro da raça algo de bom lhe acrescentou. Ademais, considerando a eugenia negativa que tem vindo a vitimar o CPA, só a multivariedade ainda presente na raça lhe poderá valer, quer para retornar à qualidade do passado quer para formar melhores cães pró futuro.
É por demais evidente que quem corre agora atrás dos azuis não é dominado por estas preocupações, antes quer ter aquilo que ninguém tem para obter maiores lucros, porque assim acontece com a novidade! Mas como não há bela sem senão, esta classe de prospectores irá igualmente incorrer no erro da eugenia negativa e industriar esta variedade, que quando isolada e isenta das demais tende a ser mais esquiva e menos cúmplice, logo menos prestável, para além de perder envergadura.
 Os cães azuis, quando beneficiados com outros de diferente variedade cromática, podem ser uma das pontes para o trânsito da ancestral qualidade para os cães actuais, apetrechando-os de melhor máquina sensorial e superiores mecanismos de alerta. A cor dos cães não deve ser entendida como a das geraniáceas, porque carrega originalmente a adaptação a um ecossistema próprio, presta-se à sua camuflagem nele, influindo directamente nos modos de abordagem e na diversa potenciação sensorial, estando por isso intrinsecamente ligada à sua sobrevivência, instinto sem o qual qualquer cão de guarda se torna impróprio e por demais vulnerável.
A obtenção de exemplares azuis uniformes, quando não recessiva nos progenitores de cor diversa, exceptuando o concurso da variedade branca, hoje entendida injustamente como “Pastor Suíço”, poderá ser alcançada pelos beneficiamentos entre negros e lobeiros, quando ambos têm na sua construção exemplares das duas variedades cromáticas segundo um percentual próprio, sabendo-se que alguns exemplares azuis deles nascidos sairão bicolores e não uniformes, cinzentos de dorso e afogueados nos membros, os ditos cinzentos parciais, exactamente iguais ao cachorro que ilustra o recente artigo “ZEUS: UM AZUL QUE PROMETE”, editado no dia 23 deste mês.
 
Beneficiando um cinzento parcial com um uniforme ou com um negro conseguem-se obter cachorros azuis uniformes e, o que é verdade para o azul, é-o também para o chocolate (fígado) e para as para as restantes variedades recessivas.
Agrada-nos de sobremaneira e a cinotecnia nacional está a colher frutos disso, o aumento de CPA’s negros usados para a produção de exemplares laborais, fruto da precocidade e maturidade presentes nesta variedade cromática, sem a qual os lobeiros se tornariam mais difíceis de controlar e os preto-afogueados estridentes e reivindicativos, mais dados ao barulho que as acções. Do mesmo modo e pelas mesmas razões necessita o azul do negro, também para combater o pernaltismo, menor peso e a ausência de envergadura. Por detrás dum cão cinzento sempre está, quando não resultante de artimanha, um exemplar negro e à medida que o cinzento se afasta do negro a sua qualidade diminui significativamente.
A corrida ao ouro já começou, ao Pastor Alemão azul, oxalá não o transformem em pechisbeque! 

domingo, 29 de maio de 2016

WE MUST BE PREPARED: THEY LIKE TO BE DOGS!

Quando decidi dedicar-me a treinar cães a tempo inteiro, já lá vão algumas décadas, julguei que iria ter uma vida calma, aprazível e relaxante, longe do buliço urbano e dos seus conflitos, rodeado dos animais que continuo a amar e de gente sensível, sensata, alegre e feliz. Enganei-me com as letras todas, porque conheci donos mais irracionais que os seus cães e cães mais ajuizados que eles, matéria mais que suficiente para um cobiçado livro de humor, que ainda não publiquei por respeito às suas verídicas personagens, ainda vivas e às quais desejo boa saúde física e mental. Se começasse a levantar o véu, correria o risco de não me conter e ficaria a rir-me por tempo indeterminado, agora que tudo já passou, apesar de na altura não ter achado graça nenhuma (não há nada como o tempo para sarar feridas).
Estava convencido até há pouco tempo que já havia visto e ouvido de tudo relativo à antrozoologia, aos exageros presentes na cinofilia e às diferentes compreensões do antropomorfismo, também me enganei redondamente! Segundo faz saber o tablóide britânico “The Guardian” (www.theguardian.com/lifeandstyle/dogs), que entrevistou alguns destes novos “Anúbis”, há por aquelas paragens homens que se vestem, comportam e identificam-se como cachorros, procurando viver em matilha quando possível, devidamente ataviados e atrelados, brincando com brinquedos de borracha e reclamando por festas, não dispensando o cuidado de um ou mais donos, com os quais podem manter ou não relações sexuais e que são na sua maioria gays, dizendo-se iguais, quando na rua, aos demais cidadãos, dando assim seguimento a um apelo animal e instintivo, não-verbal e intuitivo que se presta aos seus relacionamentos mais íntimos.
Decididamente a vida dos futuros adestradores irá ser diferente. Imagine-se se o dono de um “cão” destes, não o conseguindo treinar devidamente, procura os bons ofícios de um adestrador? Há que estar preparado e ter algum cuidado na aplicação dos métodos, nomeadamente do “reforço positivo”, pois não se sabe se será suficiente para ladrarem e abanarem as suas caudas mecânicas de contentamento.    

HINO À VIDA

Um homem acorda depois de uma noite de repouso, pleno de vigor, espreguiça-se e sente força no corpo todo, encara o sol que vê da janela com confiança, sente-se desafiador, atira-se para debaixo do chuveiro, assobia uma melodia e sai a correr de casa com o cão, com a bruma na face e o coração a rebentar de aventura, trilhando o que vê e ávido de encontrar o que quer que seja, embalado pelo sangue a fervilhar e pelo ar quente que lhe sai dos pulmões, aqui e ali ensaia compassos de dança, pula que nem um caprino e sente-se vivo da cabeça aos pés. O cão olha para ele e vai seguro, rompe na mesma toada e absorve a mesma disposição, ambos são um, um que vale por muitos! Celebrar a vida com um cão ao lado é abandonar o fado e tomar o mundo nas suas mãos, absorver a energia que brota da terra e levitar com o animal sobre falésias, campos e vales. Infelizmente há muita gente que raramente acorda assim, facto que lamentamos mas que não nos impede de ir adiante, porque a natureza convida-nos e a nossa alma responde-lhe afirmativamente, como parte de um todo escondido na modicidade do nosso corpo. E quando se acorda assim, um homem já não é homem – é Deus!

DA FICÇÃO PARA A REALIDADE: ROBBIE THE FIRST UK ROBO-DOG

Todos estamos lembrados do filme americano de ficção científica “RoboCop”, realizado em 1987 por Paul Verhoeven e escrito por Edward Neumeier e Michael Miner, cujo personagem principal era um ciborgue, um polícia meio humano, meio máquina (Murphy), obra que se tornou num êxito de bilheteira, foi replicada e também transformada em banda desenhada.
A robótica veio mesmo para ficar, passou da ficção para a realidade, a criação de vida artificial está a acontecer, já se conseguem juntar células humanas a artificiais, pôr células cerebrais humanas a conversar com um chip e dotar deficientes de membros artificiais “inteligentes”. Estes avanços tecnológicos chegaram também à veterinária e a qualidade de vida dos cães já está a tirar benefícios disso, como aconteceu com  o Robbie, um Pastor de Shetland, com 11 anos de idade, propriedade da Professora aposentada Sharman Steel, em vias de ser abatido por não se conseguir movimentar e levantar devido a problemas nos seus membros posteriores.
Graças ao implante de duas órteses revolucionárias, que lhe devolveram as funções esqueléticas e neuromusculares, que custaram cerca de 2 600€, o Robbie anda agora feliz e contente, sem dores e por toda a parte, benefícios que não fazem a sua dona chorar pelo dinheiro gasto ao vê-lo assim. Julga-se ser este o primeiro Robo-Dog da Grã-Bretanha e breve outros se seguirão, sendo possível imaginar a futura formação de “RoboCops” caninos, já que a procura do super-cão continua de pé e a inteligência artificial em franco desenvolvimento.
Diante deste panorama e perante tamanho avanço tecnológico, não nos custa acreditar que futuramente os cães com problemas comportamentais venham a ser alvo de um chip capaz de apaziguar os seus exageros e proceder à sua coabitação harmoniosa. E se isso vier a acontecer, o que é mais do que certo (se para tanto o mundo durar), a exemplo das transições “ferreiro-serralheiro” e “capador-veterinário”, os adestradores do futuro passarão a ser técnicos ou engenheiros electrónicos: peritos em robótica. Não tememos o futuro mas não nos agradaria que o mesmo viesse a suceder com os humanos, que às múltiplas carneiradas viessem a suceder os autómatos. Para a história fica o Robbie, o primeiro Robo-dog em Terras de Sua Majestade!   

RANKING SEMANAL DOS TEXTOS MAIS LIDOS

O Ranking semanal dos textos mais lidos obedeceu à seguinte preferência:
1º _ ZEUS UM AZUL QUE PROMETE, editado em 23/05/2016
2º _ TÊM 3 MESES E MUITAS ALEGRIAS PARA DAR!, editado em 23/05/2016
3º _ OS FALSOS PASTORES ALEMÃES, editado em 24/02/2015
4º _ O ESTRANHO ANÚNCIO DOS PASTORES ALEMÃES CASTANHOS, editado em 26/04/2013
5º _ PASTOR ALEMÃO X MALINOIS: VANTAGENS E DESVANTAGENS, editado em 15/06/2011
6º _ O AZEITE PRÀS CARRAÇAS, editado em 15/06/2011
7º _ O MELHOR E O PIOR DO PASTOR SUIÇO: ANÁLISE MORFOLÓGICA E FUNCIONAL, 21/06/2011
8º _ CONVERSAS SOBRE PASTORES ALEMÃES À MESA DO CAFÉ, editado em 09/08/2014
9º _ AO ENTARDECER COM O VENTO SUÃO, editado em 28/05/2016
10º _ O CÃO LOBEIRO: UM SILVESTRE ENTRE NÓS, editado em 26/10/2009 

TOP 10 SEMANAL DE LEITORES POR PAÍS

O TOP 10 semanal de leitores por país ficou assim ordenado:
1º Portugal, 2º Brasil, 3º Estados Unidos, 4º Espanha, 5º Alemanha, 6º Reino Unido, 7º França, 8º Rússia, 9º Suíça e 10º Angola.

sábado, 28 de maio de 2016

AO ENTARDECER COM O VENTO SUÃO

Ao entardecer com o Vento Suão, que os italianos há muito alcunharam de “Siroco”, vento sudeste que traz o calor e as areias do Deserto do Sahara, frente quente e árida que na época estival quase nos sufoca nas planícies do interior, pus-me a pensar sobre a canicultura e os canicultores dos tempos que correm, também eles sufocados pelo vento persistente da austeridade que afecta todos os portugueses e sujeita-os às decisões de meia-dúzia de burocratas desconhecidos que mexem os cordelinhos da UE, resultando disso a perca da independência nacional e um Parlamento fantoche, um punhado desenrascado de políticos “vira-casacas” e o empobrecimento geral. De um jeito ou de outro sempre andámos assim, por isso já não estranhamos, na oscilação histórica entre o roto e o nu.
Como todos sabemos os cães não são um produto de primeira necessidade e mais agravam as despesas dos seus proprietários, porque não são auto-sustentáveis e exigem uma série de cuidados mais ou menos dispendiosos, sendo por isso um vício caro sustentado pela vaidade, simultaneamente um hobby e uma necessidade que não estão ao alcance de qualquer um, ainda que muitos os tenham para cúmulo da sua desgraça e infortúnio dos animais, o que torna a criação de cães uma actividade de alto risco para a carteira dos seus mentores, pois dependem dos bons ventos da economia, podendo ser levados pelos maus e lançados na ruína, sorte a que os criadores nacionais parecem hoje malogradamente votados pelas vicissitudes a que se encontram sujeitos.
Nestes momentos de austeridade, a par com a miséria de muitos, cresce a ganância e a avareza, valendo-se todos das mais variadas jigajogas e geringonças na procura de vantagens, “mind games” como faz o Mourinho no futebol. Como a maioria das pessoas não tem como comprar cães, caso pudesse não hesitaria em comprá-los, mesmo que agora se confesse ser contra a sua venda, os canicultores vêem-se rodeados de oportunistas que intentam comprar-lhes cães por um preço bem abaixo do seu custo, gulosos que se aproveitam da actual crise económica para a prevalência dos seus intentos, plebe sem escrúpulos que faz sua a máxima já batida: ”com o mal dos outros posso eu bem!” Não sobrando outro tipo de compradores, sempre acabam por ser bem-sucedidos, porque os criadores não podem ficar com os cães todos e cada cão a mais agudiza a sua já difícil sobrevivência, comprometendo a sua subsistência, a dos seus e a dos animais que mantêm ao seu encargo.
Para combater estes oportunistas e não comprometer o futuro da canicultura pela constante baixa de preços resultante da menor procura, os canicultores terão que diminuir tanto os seus efectivos quanto o número de ninhadas, que só deverão acontecer debaixo de reserva convenientemente sinalizada, porque doutro modo terão que suportar as possíveis desistências que sempre acontecem, para além de se sujeitarem à abusada baixa de preços a que hoje se assiste e da qual dificilmente se verão livres. Por outro lado, deverão desprezar a quantidade e apostar na qualidade, porque os bons cães são como os carros topo de gama: nunca lhes faltam compradores. E vender por vender barato, mais vale que seja a alguém que mostre o cão e que não o esconda, servindo o animal como a melhor das publicidades para o trabalho do seu criador. Dar preferência a compradores mais visíveis, badalados ou colunáveis tem-se revelado uma excelente estratégia. Vender nesta ou noutras alturas “cachorros de ensaio”, resultantes de experimentos que visam o alcance de melhores beneficiamentos, que sempre carecem de escoamento, pode revelar-se um desacerto grave porque poderá desprestigiar qualquer linha de criação. Assim, estes exemplares devem ser doados a pessoas amigas e não serem vendidos.
Cresce entre a opinião pública a revolta contra a venda dos cães, oposição que eticamente se compreende pelo número crescente dos necessitados de adopção, mas que não se entende face aos benefícios que a canicultura oficial entende à sociedade, enquanto produtora de cães para os mais variados fins, sendo até ao momento alguns deles insubstituíveis em certos serviços, considerando a saúde, o bem-estar, protecção e salvamento das populações, efectivo menos dispendioso para a garantia dessas mais-valias, o que obriga e obrigará os canicultores à produção de animais de utilidade, porque só já ela justifica e justificará a existência de cães com pedigree, fora isso já nos bastam os rafeiros, mormente nas sociedades mais pobres ou nas mais abastadas em tempos de crise (vão-se os anéis, ficam os dedos!), muito embora saibamos que a vaidade, que muitos justificam como direito à diferença, tenha aqui uma importante palavra a dizer.
Erram redondamente aqueles que pensam a ser a canicultura uma actividade muito lucrativa ou um meio de rápido enriquecimento, porque ela jamais satisfará o investimento que lhe é feito e sempre exigirá novos, atendendo ao propósito dos beneficiamentos. Criar cães é uma carolice advinda da paixão, uma forma de empobrecer a dar corpo aos sonhos, um serviço que mais serve aos outros que aos próprios, uma actividade excêntrica para os ricos e a mais dura das penas para os remediados e pobres. Lucrativo é transaccionar cães, comprá-los baratos e vendê-los bem acima do seu preço de custo. Uma ninhada que nasce é o culminar de uma vida de trabalho, dedicação e despesas, uma obra que vale pelo que é e que pouco ou nada retribui a quem a erigiu, a não ser a alegria de havê-la feito e de ser admirada pelos outros. Ser criador é nalguns casos investir o que se tem e não tem sem estender a mão à caridade.
Tenho reparado que muitas das pessoas que se dizem contra a venda de cães, acusando injustamente os criadores de agiotas e salafrários, acabam por adoptar um mestiço, que só Deus sabe a raça a que pertence, atribuindo-lhe uma por analogia ou em função de um ascendente longínquo, como que a reclamar um lugar ao sol para o animal de acordo com a sua vaidade, gente que mais valia estar calada e que, ao invés de combater os canicultores e procurar as suas fraquezas, deveria dar combate às suas e não se aproveitar das alheias. Ser criador de cães tem um preço que poucos estão dispostos a suportar e tudo o que tem valor não é gratuito. Gratuito só o Amor de Deus e talvez por isso as igrejas se encontrem vazias! E nestas picardias dos homens, quase tão antigas quanto o mundo, a vaidade de uns gera a inveja e cobiça dos outros (parece que andamos todos ao mesmo).
Na verdade existem por toda a parte milhares de cães sem raça definida por adoptar, muitos rafeiros são notoriamente mais apelativos e mais saudáveis que os ditos “puros”, mas mesmo assim há quem prefira algum desleixado de raça, convencido que a sorte lhe sorriu, desejo hipócrita que se repete amiúde e que leva ao desprezo pelos filhos da selecção natural. Este “não querer ficar para trás”, lembra-me a figura caricata de um fulano provinciano, julgo que era barbeiro, que não tendo um carro com ar condicionado como os demais e querendo enganar os outros, circulava com o seu de janelas fechadas, todo atabafado em pleno Verão, acabando a suar que nem um porco!
Debaixo dos auspícios do Vento Suão que nos acalenta, escrevemos este texto para aqueles que pretendem ser criadores de cães, para que meditem seriamente sobre a sua opção, alertando-os para os riscos e adiantando-lhes conselhos advindos da experiência que tivemos. Em simultâneo importou-nos denunciar os párias mais comuns ao redor da canicultura e publicitar o importante trabalho dos criadores de cães. Muito mais haveria a dizer sobre o assunto, oportunidades não faltarão!