quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

ENQUANTO OS DONOS SE COÇAM, OS CÃES MORDEM A CAUDA!

Hoje vamos falar dum assunto recorrente, dos cães que mordem a cauda sem razão aparentemente, que normalmente acabam encharcados em antidepressivos, ansiolíticos e outras drogas, de difícil desmame e de múltiplos efeitos secundários, por norma inibidores do seu melhor desempenho, capazes de surtir efeito contrário e por vezes responsáveis pelo aparecimento de novas taras, que podem não evitar e na maioria dos casos não evitam a amputação da sua cauda. Dedicámos muitos anos à observação e estudo do problema, que nunca nos bateu à porta mas que sempre conviveu connosco paredes-meias. Devido a essa relação de proximidade e ao facto de ensinarmos cães, depois de termos observado o maior número deles com esse desvio comportamental, ao encontrarmos as causas, descobrimos também as soluções. Em função do que constatámos e sem medo de fugir à verdade, as razões que concorrem para este desequilíbrio individual são três, sendo elas genéticas, ambientais e higio-sanitárias, podendo isoladamente cada uma delas bastar para a eclosão do problema, apesar de não ser raro assistirmos à sua combinação, o que mais reforça a frustração e revolta caninas.
Vamos começar pela última, a dependente das condições higio-sanitárias, que conforme se antevê é a de mais fácil solução, já que se encontra ligada ao desprezo pela higiene e à dispensa dos cuidados médico-veterinários, práticas que uma vez contrariadas solucionarão o problema, ainda que nalguns casos, por força do mau hábito adquirido, haja cães que teimem em largá-lo, pelo que mais vale trabalhar na prevenção do que correr atrás do prejuízo. Sem grande dificuldade conseguimos estabelecer uma relação causa-efeito entre a falta de higiene e a ocorrência do problema, particularmente nos casos de cães alojados em canis, acompanhados horas a fio pelos dejectos e com pisos de pouco ou nenhum escoamento, situação que para além de poder induzir ao consumo dos “cocós”, ao emporcalhar os animais e ao atrair sobre eles os insectos, acaba por condicioná-los ao frenesim mercê do incómodo. Não será por mero acaso que este comportamento anómalo se encontra maioritariamente associado a cães assim alojados. Apesar de não ser muito comum, o problema pode estar também associado a razões clínicas, a doenças internas ou externas e à presença de parasitas que para elas concorrem. Acontecendo a desparasitação e a cura breve cessará o problema, isto se a higiene prevalecer. Sempre será mais fácil tratar o problema isoladamente e drogar o cão, do que chamar porco ao dono, até porque o primeiro não se queixa e o segundo, o que paga as contas, não gosta de ser ofendido, poderá ser hábil no ripostar e nunca mais dar notícia, o que a ninguém servirá.
E como começámos pela ordem inversa, assim vamos continuar, adiantando as razões ambientais que fomentam e contribuem para o desequilíbrio, interligadas, como não podia deixar de ser, a questões de ordem social. As causas ambientais que observámos nos indivíduos portadores do problema foram: má fabricação e orientação dos canis, excesso de confinamento, isolamento forçado, supressão da légua diária e interacção deficitária. Pouco a pouco começamos a perceber, por que razão o texto “O CANIL”, editado em 29/12/2009, é o mais lido deste blogue, com 8.529 leitores, o que a princípio muito estranhámos. Como pode a má fabricação e orientação dos canis forçar este tipo de comportamento auto mutilador? Basicamente pela sua exiguidade, mau fabrico, ausência de antecâmara, má orientação, falta de resguardo e excesso de exposição, para além da falta de higiene que já referimos, condições que aumentam de sobremaneira as frustrações dos seus hóspedes (uma cadela prenhe nestas circunstâncias, podendo escapar-se do canil, preferiria ter a ninhada numa manilha de esgoto ou escondida num matagal). O canil de um cão é em simultâneo o seu refúgio e fortaleza, devendo oferecer-lhe a segurança e o bem-estar necessários para que nele se sinta bem, dando-lhe irrefutáveis condições de abrigo e protecção, capazes de o proteger das intempéries, das oscilações à sua volta, das agressões sonoras e das abordagens de surpresa, factores que, quando ignorados, aumentam a sua vulnerabilidade e promovem a sua instabilidade, levando-o à irritabilidade e à revolta.
Para além do peso dos aspectos climáticos e geográficos ligados à construção do canil, que não devem ser desprezados, diante da saúde, bem-estar e longevidade dos cães, há que considerar a sua localização, que deverá ser suficientemente distante das estradas e do corrupio das pessoas, movimentações que tendem a captar a sua atenção e a despoletar os seus mecanismos de agressividade, levando alguns, à falta de melhor e por ausência de alvos, a morder em si próprios, em particular na ausência dos donos. Também o excesso de clausura ou confinamento, no desfasamento temporal entre a prisão a liberdade, contribui para a ocorrência do problema. Canis isolados, por demais distantes dos donos e seus afazeres, que condenam os cães ao isolamento e ao degredo, podem suscitar-lhes igual desvio e desequilíbrio. Mas é na supressão dos passeios diários e na deficitária interacção, que residem, quando for caso disso, as principais causas indutoras à auto mutilação, quer os cães estejam instalados em casa ou no canil, porque são seres sociais muito curiosos, foram seleccionados para a parceria, são excursionistas e aprendem pela experiência, o que equivale a dizer que, quando assim procedemos, estamos a atentar contra a sua natureza gregária e contra o seu desenvolvimento cognitivo, revezes que os relegam para os instintos, para o descalabro e para um sem número de disparates, dos quais poderá constar a auto mutilação, culminar que menos poupa os mais activos. A inexistência, irregularidade, alteração e o encurtamento forçado dos passeios diários, são também responsáveis pela caça à cauda empreendida por certos cães.
Durante largos anos tivemos oportunidade de observar várias companhias cinotécnicas militares e centros de treino caninos (aqui e além fronteiras), mantivemos 45 cães diariamente, ensinámos mais de 300 anualmente e de 40 raças diferentes, não sendo visível em nenhum dos casos a ocorrência do fenómeno, exceptuando um cão militar que corria atrás da cauda mas que não a mordia, quando avistava o seu tratador (igual no destrambelhamento), dominado pela alegria do reencontro, o que nos permite afirmar que a auto mutilação canina é, na maioria dos casos, reflexo da ausência de condições, do despreparo e falta de cuidado dos seu proprietários, englobando-se neste último caso a ignorância que não serve a uns e a outros. E dizemos na sua maioria e não em absoluto, porque subsistem razões genéticas para a eclosão do problema, advindas das distintas selecções por detrás dos indivíduos, umas por desconhecimento e outras por colateralidade, por força da “excelência” procurada. Diante dos seis grupos somáticos caninos comummente aceites, este tipo de auto mutilação, que é mais comum nos machos mas que se estende também às fêmeas, é mais frequente entre os lupinos e vulpinos, seguidos pelos molossos de pelo curto, geralmente destinados à guarda. Os bracos vocacionados pró ofício cinegético incorrem ocasionalmente no desvio, por serem descuidados e brutos, ferindo-se nas suas boxes e aproveitando a deixa e, se o vício pega, será o cabo dos trabalhos, o que obrigará a troca de alojamento logo que possível.
A procura da transmissão isolada de um ou dois impulsos herdados em particular, a despeito dos restantes principais que equilibram os cães, tem contribuído eficazmente para a ocorrência deste comportamento e doutros semelhantes, já que a auto mutilação canina não se restringe exclusivamente à cauda ou a mutilações desse tipo, indo para além delas e induzindo a comportamentos marginais e até suicidas, mercê dos desequilíbrios provocados pela super potenciação dos impulsos à defesa, à luta e ao poder, por um lado e por igual despropósito em torno dos impulsos ao alimento e ao movimento. Assim, dependendo dos casos, existirá ou não uma predisposição genética, não raramente agravada por razões ambientais e higio-sanitárias, razões válidas só por si para o despoletar deste comportamento anómalo, que sempre estará ligado a questões ou carências sociais. Se você tem o seu cão bem instalado (se não tiver, vale a pena ler os nossos textos “O CANIL”, e “A CASOTA DO CÃO”, editados em 29/12/2009), se prima pela higiene e o mantém asseado (os cães devem ser escovados todos os dias), se o alimenta convenientemente e lhe garante os serviços médico-veterinários, se tem tempo para o passear (pelo menos 5km diários), se mantém as suas rotinas diárias, se consegue equilibrar os tempos de encarceramento com os de convivência e os momentos de trabalho com os lúdicos e de supercompensação, dificilmente o seu cão roerá a cauda! Mas se não tem uma ou mais destas condições, pergunta-se: para que quis você um cão? Não seria mais sensato ter ficado quieto? Quando um cão desprezado chega ao ponto de se auto mutilar, fruto do descuido do seu dono, o pobre do veterinário, que não tem como debelar a doença, ficar-se-á pelo combate aos seus sintomas.
PS: Como temos mais informações para a resolução do problema, colocamo-nos de imediato à disposição de quem as desejar.

APANHOU BOLEIA E FOI PARAR A UMA COMPANHIA DE SAPADORES

Desde que estalou a Guerra do Afeganistão, já lá vão treze anos, milhares de cães têm sido mobilizados pelos exércitos aliados. Muitos dos Pastores Alemães recrutados têm sido utilizados na detecção de explosivos, trabalho que têm executado irrepreensivelmente, poupando assim muitas vidas humanas. Tal atribuição não é novidade, pois há muito que são usados para isso. Novidade são os cães de terapia, que trabalham na retaguarda em prol dos soldados convalescentes, contribuindo para o seu bem-estar, reequilíbrio e recuperação, havendo-os de todas as raças, tamanhos e envergaduras, o que se saúda pelo combate ao stress pós-traumático, que normalmente afecta grande número de soldados. Cada raça canina é usada no melhor que tem para dar e todas elas são importantes para o progresso e moral das tropas. Cem anos depois de serem aclamados como excelentes cães de guerra, os Pastores Alemães continuam a ser mobilizados, acompanhando os seus tratadores por toda a parte, dando-lhes protecção, segurança, ânimo e vantagem. O cão ao centro da imagem é um excelente cão de exposição, com peito estreito, abatimento de metacarpos, costelas planas, bem desequilibrado para a traseira e muitíssimo angulado. Só podia dar um excelente cão militar! Oh meu Deus, peço desculpa, esqueci-me de pôr os óculos!

terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

OS FALSOS PASTORES ALEMÃES

Longe vai o tempo onde em cada esquina se tropeçava num híbrido de Pastor Alemão com Serra da Estrela, fenómeno resultante de ambas as raças concorrem para o mesmo fim, a quem entregavam a guarda de explorações pecuárias, estâncias e unidades fabris, resultando a mistura mais da proximidade e da experiência do que pela qualidade do seu produto, já que gerava indivíduos maldosos, que juntavam à inteligência do cão alemão o carácter subversivo do cão serrano nacional. Hoje assiste-se a uma nova hibridação, também ela a partir do Pastor Alemão, que acontece quase no segredo dos anjos, por veneração e respeito à qualidade laboral do Rottweiler e porque a raça se encontra indexada à lista dos cães perigosos. A hibridação Pastor Alemão X Rottweiler é uma prática mais próxima dos indivíduos que se dedicam à segurança com cães, que não querendo perder o potencial operacional do molosso alemão, não lhes sobrando outro remédio, o disfarçam com uma aparência de Pastor Alemão, o que muito ajuda na entrega das ninhadas e na libertação de maiores encargos, já que as características exteriores do Cão de Stephanitz predominam sobre os outros cães. A acentuada baixa de preços nos cães e em particular nos Pastores Alemães tem garantido a proliferação da novidade.
Os híbridos provenientes deste cruzamento são praticamente iguais aos Pastores Alemães genuínos, diferindo mais deles quando adultos, já que em cachorros as diferenças são pouco notórias, muito embora manifestem desde cedo uma harmonia craniofacial diferente. Quando o Rottweiler é cruzado com um Pastor Alemão de linha estética homozigótica (sem a contribuição de exemplares de trabalho), os cachorros nascerão angulados e com a cauda a rasar o chão, ainda que melhores de peito, aprumos, ossatura e garupa, para além de logo evidenciarem uma maior envergadura, ratificada pelo peso e pela presença de costelas mais arredondadas. Alguns deles chegarão a levantar as orelhas, ficando isso a dever-se à excelente implantação de orelhas do Pastor Alemão usado no cruzamento e ao pouco peso das orelhas do Rottweiler que com ele cruzou. Os cachorros descendentes de mãe Pastor Alemão e pai Rottweiler serão os que mais características lupinas exteriores evidenciarão.
Se do ponto de vista morfológico a mestiçagem tende a omitir a presença do Rottweiler, do ponto de vista psicológico não há como escondê-lo, porque os cachorros apresentam-se mais sóbrios e menos sujeitos a provocações, como cientes da sua força ou condicionados por ela, denotando maior capacidade atlética do que a visível no molosso e herdando dele o mesmo apego e vontade de servir, aceitando prontamente a liderança como modo de vida. Por outro lado, por influência directa do Pastor Alemão, estes híbridos terão uma maior propensão para marcha, chegando alguns a adoptá-la como andamento preferencial. Com a chegada das diferentes maturidades assiste-se à substituição das “vozes”, porque nas situações em que o Pastor avisava (ladrava), o híbrido passa a rosnar. Também são visíveis diferenças na curva de crescimento dos híbridos, quando comparada com a do Pastor, porque crescem por mais tempo, ainda que atinjam a maturidade emocional sensivelmente na mesma altura e antes da verificada no Rottweiler. Com o passar do tempo, o pseudo-Pastor transformar-se-á num Rottweiler disfarçado de lupino, o que servirá em absoluto os propósitos iniciais dos seus mentores.
Pelas razões atrás indicadas, se fosse esse o caso, mais depressa se chegaria com dois híbridos destes ao Rottweiler do que ao Pastor Alemão. A entrada escondida, abusiva e isolada de um híbrido com estas características dentro de uma linha de criação de Pastores Alemães, bem depressa o omitiria devido a dominância da raça lupina, muito embora as características psicológicas do molosso perdurassem por mais algum tempo. Apesar de abominarmos a mestiçagem e de sermos avessos à hibridação canina, que só a aceitaríamos por razões ligadas à saúde e ao bem-estar das presentes raças caninas, somos obrigados a reconhecer as mais-valias laborais destes híbridos actuais, que ficam a dever mais ao Rottweiler do que ao tipo de Pastor que lhes serviu de “embrulho”. Para que o Pastor Alemão não se estagne, como se tem vindo a verificar, torna-se imprescindível aproveitar a multivariedade ainda presente na raça, que dispensa em absoluto qualquer tipo de mestiçagem ou o mais excelente dos híbridos ou mestiços.

O GAROTO DE SALZBURGO E A CONDUÇÃO À TRELA

O garoto da foto acima foi surpreendido a conduzir a sua cadela pelas ruas de Salzburgo (Áustria), perfeitamente feliz e descontraído, sem ser rebocado pelo animal. Não por esta foto mas por outras que nos chegaram, julgamos tratar-se de um pirralho a rondar os 3 anos de idade, seguido de perto pela mãe, enquanto desfilava vaidoso pela calçada. A foto remete-nos para a condução à trela e para os seus cuidados, pois deseja-se que todos os cães, depois de devidamente ensinados, tenham uma condução suave, segura e por demais agradável, que possibilite a sua entrega a crianças desta idade sem percalços de espécie alguma. A condução alinhada pelo dono é o primeiro dos trabalhos do adestramento, constituindo-se na sua pedra basilar e esqueleto dos restantes conteúdos de ensino.
Todo o cão que puxa à trela revela um ensino precário ou mal conseguido, que pode tornar-se perigoso, por induzir à estafa e obrigar a cuidados desnecessários, atentando contra o bem-estar do animal e pondo em risco a integridade do seu condutor. Ademais, não se consegue esconder o desencanto dum cão que resiste desalmadamente à trela! O alcance do “junto” irrepreensível, para além da acuidade técnica e da sensibilidade necessárias, encontra-se ligado a três acções do seu condutor, a saber: à entoação dos comandos, ao modo como usa o corpo e também à sua frequência respiratória. Quanto melhor for o “junto”, mais fácil se tornará o ensino do cão. Quem terá ensinado a cadela do garoto? De certeza que não foi ele mas quem o fez está de parabéns!

O DEVANEIO, A GIÁRDIA E A FALTA DE HIGIENE

Se a natureza exerce um grande fascínio sobre os homens, nos cães esse fascínio é bem maior, porque alguns deles ainda se encontram cativos ao relógio biológico, anseiam por maior liberdade, adoram partir em excursão e redescobrir prazeres antigos que a sua memória já não abrange mas que neles continuam presentes. Ao ver tamanha alegria, os donos ficam extasiados e são dominados pela contemplação que os põe também a sonhar, como se o mundo parasse naquela hora e o perigo não rondasse. A cadela da imagem acima encontrou um tanque de água numa tapada, local idílico, intemporal e húmido, destinado à preservação e reprodução de gamos, veados e javalis, que usam também aquele tanque para se refrescarem, particularmente no Verão, quando o calor aperta e a água desaparece dos regatos.
O facto destas espécies cinegéticas ali se banharem, particularmente os javalis que tendem a transformá-lo num chiqueiro, pode condenar os cães à infestação por Giárdia, uma infecção causada por um protozoário flagelado (Giárdia Lamblia), que afecta o intestino delgado dos cães, doutros animais e até dos homens, sendo portanto uma zoonose, já que as fontes mais comuns de infecção são as águas paradas e as fezes contaminadas. A infecção ocorre quando o animal ingere o “cisto” (forma em que o protozoário se apresenta nas fezes), tanto pelo contacto com outros animais como pela água e demais alimentos contaminados, pela transmissão fecal-oral da Giárdia. Torna-se evidente que as taxas de infecção são mais altas nas áreas ou locais onde existem grandes populações de pessoas e animais, devido à maior oportunidade de transmissão directa e indirecta da doença. A ingestão de apenas 10 cistos é bastante para causar a infecção e ao alojarem-se também no pelo dos cães, podem também infectar as pessoas que mais directamente contactam com eles. Os principais sintomas da Giardíase são diarreia, vómitos, depressão e perca de peso (por vezes provoca também o seu aumento). A maior prevalência da doença acontece entre indivíduos jovens, sem resistência imunológica e que se encontram mais sujeitos à ingestão de matéria fecal. A doença uma vez instalada concorre para outras enfermidades mais graves e algumas até fatais.
Nos lares ou nos locais onde a higiene não impera, a reinfecção por Giárdia é mais do que certa, particularmente onde os dejectos não são removidos, onde existem bebedouros na linha do solo com água choca, comedouros com ração empapada e até nos bebedouros automáticos que não são limpos diariamente, por norma enegrecidos, rodeados de lodo e com um cheiro característico (“a rabacos”/ruivacos, dirão alguns). Há que ter especial cuidado com os bebedouros e comedouros destinados aos cachorros, especialmente se dividirem o mesmo espaço com os seus pais ou outros cães adultos. Nos locais concorridos por cães de diversos tamanhos, em abono da higiene, do seu bem-estar e para se evitar este tipo de infecção, é de todo conveniente que os bebedouros e comedouros não permanecem esquecidos no solo por tempo indeterminado. Se por acaso o seu cachorro manifestar alguns dos sintomas que atrás mencionámos, leve-o de imediato ao veterinário. Que bom é observar os cães em contacto com a natureza, melhor será que disso não lhes resulte qualquer dano. Neste, como noutros casos, dono precavido vale por dois! 

JUDGE: UM JUIZ CONDENADO À MORTE

Repousa agora no lugar que lhe destinaram, vítima de injecção letal e após doença prolongada, o cão-polícia “Judge”, um Pastor Alemão de 9 anos de idade, pertencente à Unidade K9 da Polícia de West Deptford em New Jersey, parceiro Cpl Mike Franks, que em vida e no cumprimento da sua missão, ajudou na detenção de 152 pessoas, na apreensão de três veículos automóveis, três revólveres e várias quantidades de droga, para além de ter possibilitado o confisco de 47.000 US.Dólares. Incorporado naquela Unidade Policial em 2007, viria ser dispensado do serviço em 2013, em virtude de problemas dentários que foram secundados por vómitos regulares e queda de pelo, sendo-lhe diagnosticada a Doença ou Síndrome de Cushing, uma desordem endócrina causada por elevados níveis de glicocorticoides no sangue, especialmente cortisol, que é responsável pelo aumento do açúcar no sangue e pela inibição do sistema imunológico, para além de facilitar a metabolização das gorduras, proteínas e carbohidratos.
Apesar das despesas médico-veterinárias se remeterem unicamente a 300 dólares anuais por cão, valor estipulado para aquela Corporação, a conta do Judge ficou com um saldo positivo de 10.000 dólares, porque num só dia se angariou um donativo de 13.000 dólares para pagamento das suas avultadas despesas com a saúde. Este herói canino foi implantado 208 vezes, beneficiando também de implantes dentários. Malogrados os esforços do Hospital Veterinário St. Francis, que acedeu a tratá-lo gratuitamente, com uma esperança de vida de apenas alguns meses, o seu estado de saúde piorou consideravelmente, já que a dilatação do seu fígado comprimiu-lhe o estômago e impedia-o de comer. Foram-lhe também encontradas grandes massas nos seus testículos, bem como obstrução intestinal. Diante deste quadro clínico, entendeu-se e bem, aliviar o seu sofrimento e acabar com a sua mísera vida, facto que veio a acontecer no Hospital Animal de Swedesboro em Woolwich, também em New Jersey.
Antes do seu final inglório, foi despedir- se dos seus antigos camaradas de armas e teve direito a guarda de honra, formada por trinta polícias em duas alas, que à sua passagem lhe prestaram continência, como reconhecimento dos seus serviços e dedicação ao seu parceiro e à comunidade, conforme referiu o Subchefe Sean McKenna ao South Jersey Times. O Judge desfilou pelo meio dos colegas garboso, com o seu condutor ao lado e com a manga de ataque na boca, tal qual soldado que morre de arma em punho. Ao chegar ao hospital, a Pick-up que o transportava, foi ladeada 12 binómios da Unidade K9 daquela polícia, que foram prestar-lhe a última e sentida homenagem. A comoção e o respeito invadiram também os membros do corpo clínico destinados a aliviar-lhe o sofrimento.
Ao olhar para as fotografias que ilustram esta notícia, curvo a minha cabeça em sinal de respeito pelo cão, porque sei o que é um Pastor Alemão, um camarada que não se nega, firme, franco, leal e dedicado como poucos. Emociono-me ao vê-lo orgulhoso com a manga na boca, apesar de todo rebentado, convencido que venceu mais uma batalha e ignorando que irá perder a última. De qualquer modo, honra seja feita a esta gente, porque não o desprezaram e deram-lhe o prémio em vida. Até sempre camarada! 

QUANDO IMPORTA DOMINAR OS RUFIAS

Não basta virar as costas, fechar os olhos, tapar os ouvidos e esperar que um milagre aconteça. Se você tem um cão que ataca, todo o cuidado é pouco, quer os seus alvos sejam pessoas ou animais, pois sempre se verá obrigado a tê-lo debaixo de ordem (em “sentido”), para além de estar atento às suas expressões mímicas, mesmo que a sua fixação não seja perceptível, porque elas denunciam claramente as intenções do animal. Só o exercício da liderança, a atenção e conhecimento do cão, poderão operar o seu reparo e evitar que dispare por modo próprio, já que mais de 90% dos ataques caninos acidentais, não o sendo, são da responsabilidade dos seus donos, por não terem ”mão” neles, não se acautelarem e também por desrespeito pela integridade alheia. Ter um cão rijo exige um dono ainda mais valente, para que o animal se submeta à sua dominância e apenas opere à ordem, qualidade pouco visível entre os cidadãos comuns, mais dados ao cumprimento da autoridade do que ao seu exercício.
Antes que o mande castrar ou abater, se por acaso não o teme e ele não lhe morde, saiba que a sua recuperação está ao seu alcance, caso contrário, terá que o entregar aos cuidados de um profissional, e profissionais capazes para esse efeito são muito poucos, já que a maioria deles temendo o confronto directo, optará pelo encarceramento dos animais e pela troca de alvos, manobras inválidas e até contraproducentes, porque irão reforçar a sua territorialidade e estimular o seu instinto de presa. Perante um cão muito-dominante há que encará-lo antes que desfigure alguém indevidamente! Graciosamente, a maioria dos rufias caninos não fica a dever o seu comportamento à genética mas à falta de educação ou à impropriedade da liderança. E dizemos isto com conhecimento de causa, porque sempre que procuramos guardiões capazes, somos invariavelmente mal sucedidos, porque quando sujeitos ao contra-ataque, acusam o embate em demasia.
Imaginemos um Malinois com dois anos de idade, com livre circulação em casa e no quintal que o viram nascer, líder de um grupo constituído por mais duas cadelas, activo e pujante, medianamente ensinado, de condução à trela e em liberdade fácil e agradável, a responder a três tipos de linguagem, com cinco comandos posicionais e um inibidor assimilados, a obedecer prontamente a uma dúzia de comandos direccionais e a mais alguns específicos, que passa directamente da fixação para o ataque, dispensando assim o uso doutras vozes nas suas arremetidas, que “inesperada” e deliberadamente carrega sobre outros cães, quando em liberdade e distante do dono, não sendo automática a cessação dos seus ataques, como se naquelas circunstâncias fosse acometido de cegueira e surdez momentâneas, sendo em parte descendente de cães de forte impulso à luta e ao poder em detrimento do impulso ao conhecimento, apesar de aprender rapidamente e aceitar novos desafios, disponibilidade também advinda da experiência variada e rica que o acompanha desde a infância.
Diante dos disparates e do dolo que causa, urge operar a sua correcção, que obrigatoriamente terá que ser desenvolvida junto de outros cães e o mais rápido possível, visando a supressão do problema, porque os seus ataques são fratricidas, instintivos e sem préstimo, ainda que reforçados por razões de natureza social, já que respeita as cadelas. A melhor maneira para o fazer é tirar partido do cruzamento frontal com os outros machos, com ele atrelado e debaixo de ordem. Como não bufa, rosna ou ladra antes de se lançar, torna-se imperativo atentar para as suas expressões mímicas, enquanto preciosos indicadores dessa predisposição, porque antes de desferir os ataques adquire uma postura majestática, denunciada pela posição frontal das orelhas e pelo levantamento da cauda, mensagem que usa quando se encontra cara a cara com outros cães. Se for corrigido por antecipação, como se exige, antes do cruzamento com outro cão, apesar de baixar as orelhas e de aparentemente acusar a correcção, persiste no levantamento da cauda e nos seus intentos, nivelando a cabeça pela linha do dorso.
Não é preciso cruzar o Atlântico ou atravessar os Pirenéus para se perceber que a fixação antecede os seus ataques, pelo que deverá ficar condicionado a fixar-se exclusivamente na pessoa do dono e não nos cães. Para que isso aconteça há que deitar mão do comando verbal inibitório, antes, durante e depois do cruzamento, para que o aceite, baixe a cauda e a moral, estratégia que o submeterá, levará a olhar para o dono e não para o objecto da sua aversão. Se porventura a sua resistência e propósitos se mantiverem, visando o reforço da liderança e a sua submissão, solicitar-lhe-emos a mutação de lado na condução (vulgo “troca”), que deverá acontecer de modo irrepreensível, conduzindo-o alternadamente à esquerda e à direita, tendo o cuidado de obrigá-lo a trocar de lado na ocasião do cruzamento frontal, sujeitando-o à acção da liderança, contrariando assim a sua tendência natural e apelos instintivos. Se mesmo assim persistir nos seus intentos, sabendo o cão rastejar, iremos solicitar-lhe esse modo de progressão, iniciando-o dois metros antes do cruzamento e cessando-o dois metros depois, o que certamente o fará demover das suas intenções.
Caso o condutor habitual do cão se deixe chantagear emocionalmente, a sua autoridade não seja inequívoca e não consiga desempenhar cabalmente os automatismos direccionais requeridos, já que o desempenho parcial canino pode ficar a dever-se à resistência à autoridade e à desobediência, caberá ao treinador da escola fazê-lo em sua substituição, que uma vez alcançado o resultado esperado, de imediato entregará o cão ao seu condutor solicitando-lhe idêntico desempenho. A alternância dos subsídios direccionais requeridos irá colocar o cão na estrita dependência de quem o conduz, porque o animal não sabe o que o espera, fixa-se no dono e abandona o histórico dos seus propósitos. Verificando-se o acerto do cão no “junto”, no “troca” e no “rastejar”, é chegada a altura de efectuar os cruzamentos com o cão adiantado ou atrasado em relação ao condutor, que para o efeito usará os comandos de “à frente” e “atrás”. Na eventualidade do cão não saber rastejar ou o seu condutor não ser capaz de lho exigir, poder-se-á valer da inversão de marcha (roda) antes do cruzamento ou do “cruza”, progressão que leva o cão a serpentear entre as pernas do dono, subsídios direccionais todo convenientes que podem e devem ser adicionados aos que atrás adiantámos.
Havendo a absoluta certeza que o reparo foi efectuado e a indiferença alcançada, passar-se-á à condução em liberdade, exigindo-se do cão igual esmero e empenho. Sabendo-se que os cães cão ricos em memória e não esquecem facilmente, que as alterações produzidas pelo treino não são eternas e não têm igual duração, também que os cães rufias têm donos permissivos ou portadores de um perfil inadequado, convém que estes exercícios sejam repetidos ciclicamente, mesmo que os donos nos digam que o problema já se encontra vencido, quiçá preocupados com a menor alegria dos seus pupilos ou por outras trapalhadas antropomórficas. Quem tem um cão rijo não pode dispensar as regras que possibilitam o seu controlo objectivo e incondicional, sob pena o verem abatido. Exige-se dos cães duros a clara distinção entre o trabalho e os momentos lúdicos, entre o certo e o errado, entre o que lhes é permitido e o que lhes é proibido, a diferença entre “conhaque e serviço”, como outrora se ouvia na tropa, diferenças e limites que os donos serão obrigados a estabelecer. Essa prática hoje recorrente pelos arrabaldes saloios de “alto”, “senta”, “deita” e “fogo à peça”, não espelha o que é devido a um cão de guarda, um animal que sempre terá que juntar ao policiamento irrefutável uma obediência pronta e inquestionável. E quem não quiser, não conseguir ou não tiver como alcançar a solução, mais vale dar ouvidos à lei: circule com o cão atrelado e açaimado.

CINOTECNIA: A ESTRUTURA E A RUPTURA DOS MÉTODOS

Exactamente como acontece na história da humanidade, também a cinotecnia se encontra sujeita a avanços e recuos, na alternância entre a criação dos métodos e a sua ruptura, mercê da novidade que busca o progresso, interrupção tantas vezes radical que considera totalmente inválida a contribuição anterior, como se para trás tudo fosse mau e o corte abrupto com o passado fosse a melhor das opções. Ao abordarmos este assunto, estamos a lembrar-nos do fervor idealista por detrás de todas as revoluções e do suporte económico que garante todos os ideais, primeiro “deita-se abaixo” e depois, inevitavelmente, há que reconstruir, subvertendo-se invariavelmente algumas aspirações por falta de sustentação, já que nem tudo o que se deseja é fazível. Para contextualizarmos o que acabámos de dizer, adiantamos um exemplo concreto a que assistimos. Numa determinada parada militar, onde se encontravam quatro binómios, divididos por duas forças, com os restantes militares em “apresentar armas”, por ocasião do toque do Hino Nacional, três dos militares caninos não paravam quietos, calados e alinhados pelos seus tratadores, havendo um deles que, na primeira fileira da sua força, amarinhou pelas calças acima do seu condutor, empoleirando-se nele como se andasse à procura de algo em falta, o que levou à hilaridade do público naquele momento solene, na circunstância constituído por nacionais e estrangeiros.
Como se depreende este não é um exemplo único. Não temos como objectivo depreciar ou vituperar aqueles que, através de juramento solene, arriscam a sua vida pelo nosso bem-estar e soberania. O que muito estranhamos é a falta de obediência daqueles cães, também eles militares e adestrados para o efeito, cujo cumprimento da ordem de “quieto” não acontece ou tarda em acontecer, envergonhando e comprometendo de sobremaneira o desempenho e o brio das forças onde são inseridos, que devem operar a uma só voz, enquanto membros do mesmo corpo. Ao dizermos isto, não somos movidos por nenhum tipo de saudosismo, porque somos conhecedores dos abusos perpetrados sobre os cães militares do passado que, em idêntica situação, se viam obrigados a carregar uma incómoda, pesada e mal-amanhada capa, com as cores e insígnias daquela força, tanto de Inverno como de Verão. Bendito seja quem cortou com essa tradição!
E antes que se acuse o reforço positivo por tal despropósito e ausência de brio, que quando bem operado torna as respostas caninas mais céleres e duradouras, enquanto método que melhor serve à sua autonomia condicionada e que desenvolve como nenhum a cumplicidade entre homens e cães, importa descortinar as causas do despreparo, que apontam para a ausência de treino específico ou para uma pedagogia de treino imprópria ou insuficiente, possivelmente também para a escolha de binómios ou cães errados, porque doutro modo o desacerto não aconteceria, já que o treino aturado garante o bom desempenho e vence a surpresa, dotando os binómios da comodidade inerente à função, porque sabem ao que vão e aquilo que os espera. É importante não esquecer que estes cães fazem parte de uma Unidade dedicada à segurança e ao protocolo do Estado, e que em função disso, tais veleidades só podem ser consideradas estranhas, indesejáveis e reprováveis. Será coisa do outro mundo conservar os cães quietos enquanto o Hino Nacional é tocado? A história diz que não e as gravações que temos em mão, que se reportam à década de 80, afirmam dessa possibilidade.
A Portuguesa, da autoria de Alfredo Keil e Henrique Lopes Mendonça, que é tocada nas paradas militares e nos actos oficiais, tem uma duração de sensivelmente um minuto (com a introdução incluída), já que não se opta por cantar a totalidade dos seus versos (para nós tão importantes quanto aqueles que convencionámos guardar). Sabendo-se que a música até tem um efeito relaxante nos cães, pergunta-se: será assim tão difícil permanecerem quietos enquanto se houve o Hino da Pátria? Quanto tempo deverá um cão permanecer quieto debaixo de ordem? Teoricamente, até que o dono o chame; na prática, de acordo com a sua preparação. Não será o treino por definição também rigor? E se uma cerimónia tem uma hora de duração, custará assim tanto treinar gradualmente os cães para isso? Em qualquer esquina e até à porta dos canis conseguimos alcançar esse objectivo, particularmente quando temos no mínimo 20 dias para o fazer! E se o problema é a música, ou levam-se os cães para o meio duma orquestra ou traz-se-lha até eles mediante gravação! É também possível que o incómodo dos animais tenha a ver com a novidade do ecossistema, que estejam mais adaptados às sombras dos cedros e pinheiros do que familiarizados com a urbe e a sua azáfama.
Não deverá haver um são equilíbrio entre o “não se rir para os cães” do passado e o constante abanar da sua cauda, que hoje se procura? Quando em parada, onde deverá estar a fixação dos cães: na pessoa dos seus tratadores ou nos objectos dos seus intentos? Certamente ainda deverão restar algumas diferenças entre um cão militar e um de uso civil! Graciosamente o respeito pela autoridade ainda impera e a consideração pela farda não desapareceu, porque se assim não fosse, seria um pandemónio, se eventualmente alguém se lembrasse de lançar-lhes uma bola, soltasse outros cães, lhes jogasse comida, um churro na sua direcção ou desatasse a correr na sua frente. Duma coisa estamos certos: a ansiedade nos cães obsta à sua capacidade de aprendizagem, pela dependência que leva à redução da sua autonomia funcional. O reforço positivo é um instrumento de trabalho, uma meta que serve e bem um objectivo: o ensino dos cães, que deverá ser gradualmente abandonado quando tornado desnecessário e importar dotá-los dum carácter impoluto e incorruptível. Como é óbvio, não nos estamos a referir aos cães destinados à detecção de substâncias químicas ou ao salvamento, mas aos destinados à segurança, para que não substituam os alvos pelos potenciadores de mordedura, acabem manietados ou envenenados e não reajam por modo próprio a qualquer tipo de provocação, mordendo em camaradas de armas ou nas entidades que pretensamente deveriam guardar.
É evidente que tudo isto irá passar pela escolha acertada dos seus tratadores. Na semana passada falámos no texto “ PARA QUE A MEMÓRIA NÃO SE EXTINGA: A SECÇÃO DE CÃES DA CCAÇ 763”, dos critérios que então presidiram à escolha dos seus tratadores. Vamos relembrá-los: exigiam-se militares que gostassem de cães, que fossem pacientes, perseverantes, inteligentes, expeditos, desembaraçados e imaginativos, com boa resistência física e capazes de se coordenarem física e mentalmente, ao que nós acrescentaríamos o espírito de sacrifício, a valentia e o destemor para a função, porque sabemos que os cães valentes testam os seus tratadores e é-nos difícil imaginar um tratador que, por causa do cão lhe rosnar (o que é uma ameaça), o despreze e deixe a enraizar no canil. E se realçamos o papel dos tratadores, visando o prémio do seu empenho, somos obrigados a falar dos critérios relativos à selecção dos cães, que ontem como hoje, carecem de gente verdadeiramente capacitada para esse efeito, indigitada pelo saber e não por nomeação, capaz de neles identificar os impulsos herdados inerentes ao equilíbrio prà função.
Falta travamento aos actuais cães militares e policiais? Pensamos que sobre isso ninguém tem dúvida, assim como ninguém duvida que estão a morder mais, novidade também alicerçada no maior recrutamento de Malinois, que carregam desalmadamente e que sofrem demasiado com as regras indutoras à disciplina, o que nalguns casos coloca os seus tratadores num beco sem saída, porque se apertam ficam sem cão e se não apertam são apertados! E quem duvidar disto, basta ver a cessação dos seus ataques nos vídeos das diferentes polícias internacionais, onde não raramente, no meio da excitação das capturas, não tendo mais ninguém a quem morder, acabam por carregar nos seus próprios tratadores. A actual crise económica, que é global, também se encontra ligada à menor qualidade dos cães, já que pelo preço de um bom Pastor Alemão podem comprar-se 4 Malinois, senão mais, porque se vierem do Leste Europeu, o lote poderá ainda ser recheado com mais um ou dois (o que continua a acontecer).
Em abono à verdade, não podemos analisar isoladamente a prestação dos cães, porque ela apenas reflecte um conjunto de causas que a compromete, intrinsecamente ligadas à história e desenvolvimento do País, que continuam a obstar à instituição duma verdadeira escola cinotécnica em Portugal, independentemente dela vir a ser de cariz militar ou civil. Quando estalou a Primeira Guerra Mundial, ocasião que despoletou o grande “boom” da cinotecnia militar, onde os cães foram usados para diferentes fins, 80% do Corpo Expedicionário Português mandado para França era analfabeto, o que nalguns casos obrigava os oficiais a escreverem as cartas para as famílias dos soldados, testemunho presente no filme “João Ratão” e que serviu de base ao seu enredo, da autoria de Jorge Brum do Canto e estreado em 1940 (vale a pena revê-lo!). Compreensivelmente, só no final dos anos 50, quarenta anos depois do uso inicial  dos cães militares, é que nos chegaram os primeiros cães para esse fim, facto revelador do nosso atraso relativo à cinotecnia militar europeia e internacional, demorando ainda mais algumas décadas para termos a primeira e única escola de cães-guias de cegos em Portugal.
O avanço além-fronteiras da cinotecnia ficou a dever-se ao evolucionismo e ao eugenismo, que serviram de base à canicultura, ao incremento cinológico e ao estudo do comportamento animal, caminho primeiro encetado pelos entomologistas e depois continuado pelos etólogos, a todo um conjunto de ciências desprezadas e abominadas pela ignorância e pelo chauvinismo beato que aqui grassavam e que teimam em se ir embora. Nos primórdios do Séc. XX e em particular nas décadas de 20 e 30, já abundavam na Inglaterra, na Áustria e na Alemanha investigadores e peritos em comportamento animal, remontando a essa época o desenvolvimento embrionário da cinotecnia e o surgimento das primeiras escolas de cães-guias. Nesta matéria (há quem diga que também noutras), atrasámo-nos 40 anos e quem o quiser comprovar, basta comparar quando foram elaborados os primeiros estalões das raças caninas alemãs, belgas e portuguesas, o que também explica o carácter primitivo e de menor préstimo das nossas raças, cuja selecção se remeteu ao viver pouco evoluído e às parcas expectativas das nossa gentes de então.
Ainda que desenvolvam o que recebem para os seus próprios fins, levando por vezes à descoberta de outros, os cinotécnicos militares sempre se aproveitam da canicultura e da cinologia adjacentes, o que no nosso caso e desde há muito, tem obrigado à importação de cães, uma vez que é reconhecido o menor préstimo das raças autóctones e ao envio de quadros para países onde a cinotecnia está mais evoluída ou em constante progresso, numa sequência de estrutura-ruptura segundo as preocupações do momento, modo desenrascado que continua a obstar à formação de uma verdadeira escola cinotécnica militar portuguesa, que desconsiderando o que tem, ciclicamente tenta pegar por estaca, muito embora nisso sejam os militares os menos culpados, porque não tendo onde buscar formação, não lhes sobra outro remédio. É provável que venhamos a precisar doutro Conde de Lippe, desta vez para ao cães, porque jamais se levantará uma escola com meia dúzia de manuais ou fichas e com a experiência granjeada na estranja em apenas dois, três ou seis meses.
Torna-se evidente que o problema é de natureza cultural, o que nos remete para o ensino nas universidades, que atendendo também à preferência dos portugueses por cães e ao seu número, há muito que deveriam fornecer cursos de etologia válidos, rigorosamente científicos, devidamente reconhecidos e não do tipo “cash-knowledge”, normalmente ministrados por oportunistas que recebendo umas lufadas sobre comportamento animal e vindos da veterinária ou da zootecnia, respondem indevidamente pelas cátedras, sendo nisso assessorados por práticos de cariz desportivo, rudimentarmente habilitados, mais apaixonados do que objectivos e confinados a um só método. Não estará na hora de estabelecer uma parceria com as faculdades estrangeiras que ministram este tipo de ensino?
Bem vistas as coisas, o pobre do tratador que dá a cara é o menos culpado, porque carrega às costas o fardo do País, uma saca de retalhos cozida pela ignorância, um conjunto de procedimentos que não entende e outros tantos que lhe omitiram. E se a situação não se alterar, mais vale que saia da formatura com o cão, opção do seu agrado pelo aumento dos momentos lúdicos que reforçam a cumplicidade mútua, porque se não forem vistos também não atentarão contra a “ordem unida”.
Provavelmente ninguém lhe disse que a obediência solicitada a um cão tem uma condição exclusiva: o seu cumprimento pronto e imediato, e que a prontidão dos ataques caninos deve ser igual à sua cessação, que um cão não tem mais ou menos obediência, ou tem ou não tem, pressupostos e conteúdos de ensino que outrora foram respeitados e alcançados por outros que rendeu sem os conhecer. O corte com passado tem como reflexos a confusão no presente e a incerteza no futuro, pela ausência de lições e repetição dos mesmos erros. Sem que este tratador saiba, provavelmente os seus instrutores também não, algures numa recôndita e esquecida arrecadação dum Comando-Geral ou duma Companhia, entre tantos livros esquecidos, empoeirados e amarelados pelo tempo, repousam velhos manuais com a solução para o problema, obras de gente que hoje assiste desolada à sua fraca prestação. Realmente, quem não lê é como quem não vê!

QUAL SERÁ O MOTIVO (XVIII)?

O “Glen” é um Leão da Rodésia com 13 meses, que treina desde os 4, aparentemente sem sucesso, apesar de meigo e compincha, de até dormir na cama com o dono, um rapazola de12 anos, brincalhão e afectuoso, que sempre tem o cão à solta em casa e no quintal. Quando vão ao treino, o “Glen” puxa no “junto”, invalida o “quieto” e sempre que pode escapa-se, correndo atrás de pombos, bolas e outros cães, em alta correria, disparate que obriga à sua caça, porque resiste em voltar. Desorientados, os pais do garoto já pensam em mandar castrar o animal. Por que motivo se comportará assim? Hipótese “A”: Age assim porque é novo, destrambelhado e muito independente. Hipótese “B”: Porque o dono não faz a recapitulação doméstica dos exercícios escolares, não sai à rua com ele e só o atrela quando vêm para a escola. “Hipótese “C”: A reacção do cão fica a dever-se ao atraso no alcance da sua maturidade emocional. Hipótese “D”: O comportamento do animal espelha a falta de brincadeiras com o dono. Hipótese “E”: A fuga desenfreada do cão e a resistência no andar alinhado ficam a dever-se ao alcance da sua maturidade sexual. Para a semana adiantaremos qual a hipótese correcta e cá estaremos com um novo caso. 

SOLUÇÃO DA SEMANA PASSADA

A hipótese certa para esta rubrica da semana passada é a “C”: Procede assim por causa de uma herança atávica, para confundir o seu odor com o dos animais ao seu redor (o cão é um predador). A hipótese “A” não tem cabimento algum, porque a maioria dos cães é asseada e o seu olfacto apurado, o que os leva a fazer a sua higiene pessoal. Jamais se esfregaria nos excrementos para se livrar dos parasitas, porque isso só iria agravar a sua situação, uma vez que seria ainda mais fustigado e incomodado pelos insectos, animais que não são do seu agrado, o que invalida a hipótese “B”. A hipótese “D” é fantasiosa, espelha uma relação causa-efeito. Há cães que adoram água e nadar, mas preferem fazê-lo por modo próprio e quando lhes dá na gana. Jamais usaria a pasta dos excrementos para proteger a sua pele, porque ela o incomodaria, serviria de atracção para os insectos e prender-lhe-ia o pêlo do manto, incomodando-o e dificultando-lhe de alguma forma a progressão. Por estas razões, a hipótese “E” deverá ser descartada.

RANKING SEMANAL DOS TEXTOS MAIS LIDOS

O Ranking semanal dos textos mais lidos ficou assim ordenado:
1º _ PODENGO: PREFERENCIALMENTE NEGRO!, editado em 13/11/2014
2º _ OS CÃES DE GUERRA DO LESTE EUROPEU E ASIÁTICO, editado em 18/02/2015
3º _ O CÃO LOBEIRO: UM SILVESTRE ENTRE NÓS, editado em 26/10/2009
4º _ A FÁBULA DO LOBO CHECO: O REGRESSO AO ATAVISMO, editado em 15/03/2014
5º _ COMO RESOLVER A ANOMALIA DO “PEITO ESTREITO” OU INVERTIDO, editado em 25/07/2011

TOP 10 SEMANAL DE LEITORES POR PAÍS

O TOP 10 semanal de leitores por país ficou assim escalonado:
1º Portugal, 2º Brasil, 3º Estados Unidos, 4º Alemanha, 5º Reino Unido, 6º México, 7º França, 8º Angola, 9º Espanha e 10º Rússia

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

SEGREDOS DA CINOTECNIA: A DIETA E A FUNÇÃO

Alguém que já cá não está, um cinotécnico de nomeada, que durante 15 anos se dedicou à formação de cães de guerra e que com eles combateu, disse-me um dia em tom coloquial e quase em segredo: “cada cão deverá comer de acordo com a sua função ou serviço e entre cães de igual poder e aptidão, a alimentação será um dos pormenores que estabelecerá a diferença”. Ao dizer isto, não estava a referir-se exclusivamente aos percentuais de proteína, de gordura e ao grau de digestibilidade dos pensos diários, também eles responsáveis pelo melhor ou pior desempenho canino, índices que os fabricantes de rações tentam respeitar, considerando a idade, o bem-estar e o peso dos seus consumidores, mas a levantar o véu sobre a necessidade de diferentes dietas para diferentes serviços, visando o melhor aproveitamento dos cães no seu uso específico, algo ligado à apresentação e qualidades dos diferentes alimentos, enquanto indutores a uma melhor prestação.
A questão parece mais complexa do que é e vamos já ver porquê, muito embora a ética não nos permita grandes explicações, o que transforma este texto num convite à reflexão. Como é do conhecimento geral, o mundo dos cães é dominado por sons e odores, que neles substituem as imagens e as palavras tão importantes para nós, o que os torna portadores de uma excelente memória olfactiva e transforma o seu nariz num estratificador de odores, levando-os a identificar os alimentos mais pelo olfacto do que pelo paladar, porque possuem muito menos papilas gostativas do que nós, apesar de conseguirem diferenciar o amargo, o doce e o ácido, assim como o que lhes é agradável, indiferente ou desagradável. Por causa de terem o paladar pouco desenvolvido, comem diferentes rações, mesmo as de má qualidade, sendo facilmente ludibriados e envenenados.
Tomando como exemplo os casos do cão de guarda e o de salvamento, o primeiro que trabalha debaixo do “ronda” e o segundo que evoluiu pelo “busca”, ofícios que obrigam a um olfacto apurado e, considerando as diferentes carnes próprias para a sua dieta (vaca, cavalo, porco, borrego, peru, frango e demais aves), será que deverão comer o mesmo tipo de carne ou haverá alguma mais indicada para cada um dos serviços? Antes doutras considerações, importa dizer que quanto mais rápida for a assimilação de uma carne, menor será autonomia do cão e quanto mais demorada for a sua assimilação, menor será a sua prestação, porque irá necessitar de mais energia para fazer a digestão. E porque estamos a tratar dos benefícios das diferentes carnes, os velhos mestres cinotécnicos tinham por hábito dar fígado de vitela aos seus cães, alimento muito rico em cobre, para melhorarem a sua concentração, prática hoje comprovada como válida. À parte disto, o fígado de vitela está para os cães vermelhos como a tinta para o pincel, porque o cobre irá fixar-se no seu manto (vale a pena experimentar).
Retornando aos casos do cão de guarda e do de salvamento, ambos irão necessitar de uma carne de média assimilação, para que consigam suportar a vigília da noite e o rastrear contínuo devidamente aconchegados. Servirá para ambos a carne de vaca ou de cavalo, já que a de borrego e a das aves são facilmente digeríveis (o lobo não anda sempre a matar ovelhas, porque não lhes come só a carne, tornar-se-á mais ávido delas se tiver crias ou a sua alcateia for muito grande). É evidente que na época estival é de todo conveniente passar para a carne de borrego, atendendo ao cansaço motivado pelo aumento da temperatura. Se é o clima que irá determinar da maior ou menor riqueza das dietas, a sua apresentação estará cativa à natureza do serviço canino. Lançamos no ar uma pergunta: considerando a potenciação do instinto de caça, o reforço do impulso à luta e a avidez na captura, que carne deveremos distribuir ao cão de guarda? Certamente não será a dos grilos, que nada tem a ver com a nossa, não a consumimos e não é apelativa para os cães!

OS CÃES DE GUERRA DO LESTE EUROPEU E ASIÁTICO

Quem já conviveu de perto com eslavos e teuto-russos, reconhece-lhes características bem diversas das nossas, porque juntam à ingenuidade raro empenho e engenho, não são de “meias tintas” e tanto nos podem surpreender pela positiva como pela negativa, pelo torto é difícil vencê-los e se é para arrear, arreiam mesmo, passando sem dificuldade da candura à efervescência, revelando por vezes instintos que há muito subtraímos, o que os torna respeitáveis como opositores. E se a sua natureza é essa, vão exigir dos seus cães idêntica prestação. Contrariamente ao que fazem as companhias cinotécnicas militares ocidentais, que desnudam tudo o que fazem pela internet, revelando métodos, exercícios e objectivos, das companhias cinotécnicas russas pouco sabemos e o que nos chega é pouco esclarecedor, remetendo-se a umas escassas fotos de exercícios há muito conhecidos.
Esta falta de informação não deverá levar-nos a considerar os adestradores de Leste como básicos, pacóvios ou ultrapassados, porque sabemos que partiram adiantados na cinotecnia, que são pragmáticos e ligados à investigação científica, que trabalham ordinariamente para além dos limites e sempre alcançam alguma novidade. Numa das raras fotos que nos chegou e que publicamos abaixo, vemos um cão a fazer um pódio de difícil execução, tirado a partir da mecanicidade das acções, com degraus quadrados de 20cm de lado e distantes entre si de 35cm (aproximadamente). O exercício obriga a um grande controlo por parte do tratador e a rara concentração do cão que, para aumentar o grau de dificuldade, ainda o executa com os olhos vendados, lembrando um dos feitos do “Dox” (Dox von Coburger Land), um Pastor Alemão da Polícia Italiana, várias vezes considerado o melhor cão polícia do mundo e outrora conduzido por Giovanni Maimone.
Se não podemos negar o carácter empreendedor e científico dessa gente, de igual modo somos obrigados a considerar o seu afinco ao trabalho. Na foto seguinte vemos um trio de soldados, constituídos em rampa para o transporte do cão, que é conduzido por uma tratadora, que intencionalmente se coloca para trás da progressão do animal, para que ele não salte e se apoie nos três militares. Pelas cores da bandeira presentes no braço da tratadora, julgamos tratar-se dum exercício do Exército Bielorusso. Se do ponto de vista atlético o exercício é elementar, o mesmo não se pode dizer da obediência que exige, tanto aos homens como aos cães, considerando que estão a trabalhar debaixo de temperaturas negativas, evidenciadas pela neve que cai e pela que se encontra alojada no solo, obrigando os soldados ao uso justificado de luvas.
A riqueza da cinotecnia militar soviética que serve a Rússia de hoje e os seus países satélites, para além dos exageros cometidos por ocasião da Segunda Guerra Mundial, estamos a recordar-nos dos malogrados cães antitanque, muito embora tenham contribuído para vitória e poupado muitas vidas humanas (outros fizeram o mesmo), sempre foi reconhecida e conhecida como uma escola onde o condicionamento canino sempre atingiu nota máxima, mercê da extraordinária obediência patenteada pelos seus cães e pela rara cumplicidade com os seus tratadores. É pena que não haja mais intercâmbio entre a cinotecnia de Leste e a Ocidental, porque a nosso ver, todos sairíamos a ganhar, especialmente agora que os excelentes treinadores militares e policiais do passado recente caíram no esquecimento. Alguém se lembra ou sabe quem foi o então Capitão Costa Campos, que criou e dirigiu o Centro de Instrução de Cães de Guerra em Boane, a 45km de Lourenço Marques, quando Moçambique era ainda uma colónia portuguesa, contando com mais de meio milhar de cães no seu efectivo e onde foram treinados cerca de 1000 deles para o Estado, para entidades privadas e particulares, assim como para os Fuzileiros e para a Força Aérea?
Por razões político-ideológicas, a herança da cinotecnia soviética estendeu-se às nações do Leste e Sudeste Asiático, nomeadamente àquelas que tiveram ou ainda conservam regimes comunistas, onde se destaca a designada República Popular da Coreia (vulgo Coreia do Norte), hoje governada por um déspota de frágil saúde mental, onde o treino canino é levado ao extremo e onde os direitos de homens e animais são constantemente ignorados e aviltados. Dessa Coreia entregue ao diabo, também sabemos pouquíssimo, quiçá porque não lhe sobrar tempo para além do culto obrigatório ao seu “líder”, fortemente empenhado no seu isolamento. Não obstante, conseguimos deitar mão a uma foto duma Companhia Cinotécnica Militar Norte-Coreana, numa progressão debaixo de fogo, onde as diferentes reacções caninas não comprometem o alinhamento dos seus tratadores (é curioso reparar na linha dos Pastores Alemães, que não deverão ser Wienerau nem Arminius).
Por nossa vontade já não existiriam mais cães de guerra, também não haveriam mais guerras, apesar de sabermos que alguns avanços na cinotecnia resultaram do uso canino para fins militares, que muitos dos seus conteúdos de ensino se prestam e continuarão a prestar-se à paz e ao auxílio de muita gente, já que tanto se pode treinar o arco do fogo para acções ofensivas como para a salvaguarda de pessoas e cães. E é nesse sentido que entendemos a utilidade do treino militar canino, enquanto precioso subsídio para o bem-estar, adequação e longevidade daqueles que nos seguem pela trela, companheiros insubstituíveis na prestação de socorro. Debaixo desta preocupação é que gostaríamos de saber um pouco mais acerca dos cães do Leste, do seu treino e possível avanço, o que nos parece pouco viável com a Guerra da Ucrânia à porta, guerra fratricida que sobrepõe ideais caducos à vida do seu próprio povo. Stepán Banderas e Josef Stalin já morreram, de Hitler só sobrou a má memória, será que é necessário que continuem a matar depois de mortos? Há que enterrar velhos ódios e dar paz à Ucrânia e aos ucranianos!