terça-feira, 28 de fevereiro de 2023

AS LIÇÕES QUE SE DÃO, OS ALUNOS QUE SE PERDEM E AQUILO QUE OS CÃES SOFREM

Bendita idade que nos faz ver tudo com menos nervo, maior clareza e imparcialidade, ao ponto de troçarmos de nós mesmos e de repararmos nos outros tal qual são, sem as circunstâncias, as inimizades, as paixões, os pruridos e as conveniências do tempo em que os conhecemos. Não creio que o tempo tudo faça esquecer, mas sei que ele guarda aquilo que é importante e que realmente interessa a cada um de nós. Olhar agora para trás e relembrar o sucedido é algo maravilhoso, tudo é mais claro e descobre-se o seu verdadeiro sentido. Vou dividir com os meus leitores duas experiências relativas ao controlo da agressividade de dois cães que mais tarde sofreram com o seu desnorte.

A primeira reporta-se a um Pastor Alemão com mais de 1 ano de idade, que atacava pessoas e cães, que tinha sido sinalizado pela polícia como cão perigoso e obrigado a frequentar aulas de obediência numa escola, propriedade de um indivíduo passional que pagou o curso e que raramente lá pôs os pés, acabando literalmente por comprá-lo. Com o cão sem mostrar progressos e a agravar as suas investidas, chegou-me à mão para o reeducar. Passado pouco tempo já não fazia menção de atacar pessoas, mas continuava a atacar outros cães. Não precisei de muito tempo para compreender a causa daqueles ataques, que eram devidos à inoperância do seu dono, que de alguma forma era conivente com aquele comportamento. O cão estava acostumado a morder em todos os cães da escola, mas numa noite um ripostou e pô-lo em fuga, o que deixou o seu dono profundamente consternado. Aproveitando a ocasião, eu disse-lhe que o cão atacava os outros com a sua conivência e que para provar isso, eu era capaz de dar uma volta a um jardim com um perímetro de 400 m, com aquele cão preso na mesma trela a outro igual sem que nada acontecesse. E ainda lhe disse, não o devia ter dito, quanto é que ele queria apostar! Conforme o esperado, o cão nunca fez menção de atacar o outro! Naquela noite dei uma grande lição, mas nunca mais vi o dono nem o cão! Teria sido desprezado, voado de mão em mão ou condenado a viver num canil para sempre?

A segunda experiência diz também respeito a um Pastor Alemão, este mais jovem e tido como campeão a morder, ainda que geneticamente fosse mal construído, animal que aos 4 meses de idade já ficava demoradamente suspenso pelos dentes num churro. Quando aos seus sofríveis aprumos nada pude fazer, já que me apareceu depois de ter atingido a maturidade sexual. Antevendo a sua perigosidade e a surdez selectiva que manifestava, operei uma cessação peremptória de um dos seus ataques, o que o levou à subordinação e à perca de entusiasmo do seu dono, porque se apercebeu finalmente da qualidade da “fera” que tinha em mãos e do mito da sua invencibilidade. Partiu sem me dizer nada e voltou para a escola donde tinha vindo, apostado em pôr o cão a morder ainda mais. Recentemente vim a saber que o cão para cessar os seus ataques tinha que levar com a coleira de choques eléctricos!

Quero com a narrativa destas experiências dizer que a maioria dos cães problemáticos nunca o foi, que muitos deles tem comportamentos violentos com ou pela anuência dos seus donos, que sonham vir a ter em casa um Cérbero (1); que a grande maioria dos cães destinados à segurança de pessoas e bens não apresenta a resiliência necessária para a função, encontrando-se dependente da experiência feliz. Daria hoje as mesmas “lições”? Penso que não me exporia e não me daria a tanto. Contudo, não deixaria de fazer o meu reparo aos donos face ao bem-estar colectivo.

(1)Cérbero, cão monstruoso de 3 cabeças na mitologia grega que guardava o mundo inferior – o reino subterrâneo dos mortos – que consentia que as almas lá entrassem, mas que não permitia que de lá saíssem, despedaçando os mortais que por lá se aventurassem. 

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2023

DO SAPAL PARA O QUINTAL

 

A nossa sessão de trabalhos de sábado teve início num imenso sapal transformado em atracção turística e onde se criam em regime de confinamento (aquacultura) muitos dos robalos e douradas que nos vêm parar ao prato. O mesmo sapal, rico em organismos aquáticos como peixes, moluscos, crustáceos, anfíbios, répteis e plantas aquáticas para uso do homem, é também um santuário para aves migratórias e residentes, algumas cuja espécie se encontra ameaçada. Fomos para ali para enriquecermos o quadro experimental dos cães e para andarmos com eles em liberdade nos infindos e estreitos caminhos que ladeiam os tanques aquáticos. E fomos agora para que os mosquitos não nos incomodassem, porque em vindo os dias mais quentes, somos literalmente vestidos por estes insectos pernilongos, que caem sobre nós com maior intensidade do que bombas russas na cidade ucraniana de Bakhmut. Na foto acima, debaixo de uma ave planadora artificial e tendo como companheiros os CPA’s Dobby e Bohr, vemos o pequeno Simão, nosso companheiro de muitas jornadas. O mesmo Dobby aparece na foto seguinte ao lado da sua dona e condutora, abrigados por detrás de um flamingo aramado.

Num cais palafítico, durante a maré vazia, provavelmente com o Paulo a temer as alturas ou atribulado pelas vertigens, vemo-lo na companhia do seu bravo Pastor Alemão a admirar a paisagem, enquanto o água se esvaía sem deixar rasto.

Mais à frente, numa das paragens do percurso, depois de havermos refrescado os cães, sentámo-nos num pequeno e austero café para também nos refrescarmos. Ali surpreendemos os binómios Paulo/Bohr e Maria/Dobby refastelados numas cadeiras que me fizeram recordar um icónico filme francês maioritariamente rodado na Indonésia. Os dois binómios foram ali colocados estrategicamente para que os cães se acostumassem à passagem dos turistas sem molestá-los.

Como a meteorologia prometia chuva e a manhã começou a acinzentar-se em demasia, do sapal fomos para um quintal que nos foi generosamente cedido, passando assim dos ensinamentos práticos para os teóricos sem corrermos o risco de nos molharmos. Como nunca foi facultado qualquer manual de ensino canino à condutora do Dobby, vimo-nos na obrigação de dividirmos com ela os textos: “QUAL O MOMENTO CERTO PARA TREINAR O SEU CÃO” e “CONDUÇÃO: IMPACTO, VISUAL, RESPIRAÇÃO E ENTOAÇÃO DE COMANDOS”, respectivamente do Manual I e II da nossa escola.

A Maria continua com sérias dificuldades em evitar que o seu cão agrida outrem, por ausência de autoridade, instigação involuntária, entoação e uso indevido dos comandos verbais, distracção e alguma parcimónia. A somar a isto, a Maria raramente procede à milha diária para a sociabilização do Dobby, apesar do animal se encontrar encerrado num minúsculo quintal, mormente num plano superior ao das pessoas que por ali passam. Induzido pelo escassez do território, o Dobby tende a defendê-lo como se ele fosse constantemente ameaçado. A somar a isto, quando na rua e à passagem de alguém desconhecido, este cão intenta fazer ataques dissimulados e à boca calada, o que obriga a um sério cuidado e que poderá ter graves consequências. Provisoriamente e enquanto a Maria não conseguir controlar o seu cão, aconselhamo-la a sair à rua com ele açaimado, o que será melhor para todos. Continuamos convencidos que faremos da Maria uma líder mais atenta e eficaz – ela tem tudo para isso!

Participaram nos trabalhos os seguintes binómios: Maria/Dobby e Paulo/Bohr. O Jorge Filipe participou dos trabalhos com o seu filho Simão. As fotos são da autoria do Adestrador e a família Rodrigues não compareceu ao treino. A chuva afinal não chegou e acabámos por usufruir de uma tépida manhã de inverno.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2023

DESAFIAR A MORTE

 

Quase todas as pessoas que tenho conhecido e que julgam que o mal só acontece aos outros, têm sido vítimas da sua sorte. Assim aconteceu também a um australiano de 37 anos, na cidade de Bloomfield, no estado de Queensland, anteontem, quarta-feira, quando decidiu ir passear com a sua cadela para as margem do rio Bloomfield, conhecido habitat de crocodilos. Quando ambos se encontravam numa rampa para barcos, foram atacados por um crocodilo com 4,20 m de comprimento, que matou a cadela e feriu o seu dono numa perna. Um vídeo divulgado pelos media australianos mostra o homem de fato de banho a correr em direcção à água, emergindo depois o crocodilo das águas turvas para lhe morder uma das pernas. O dono da cadela conseguiu libertar-se e provavelmente tentou salvá-la, infelizmente sem sucesso, batendo no grande réptil até este mergulhar repentinamente naquelas águas turvas. Em consequência deste incidente, o homem ferido terá sido levado para o hospital em Cairns.

O crocodilo viria ser encontrado na noite do dia seguinte ao ataque, na quinta-feira, a 200 metros do local onde tudo aconteceu pelos guardas florestais, que o abateram por ser considerado um “risco inaceitável”. O grande réptil foi autopsiado e foram encontrados restos mortais da cadela no seu estômago. Ao ir passear com a cadela para as margens do rio Bloomfield, atitude não ajuizada e nada precavida, este dono foi desafiar a morte e dar literalmente de comer aos crocodilos! Como se depreende, não foi um dono responsável e a cadela acabou por pagar com a vida o preço da sua irresponsabilidade – nem os cães dispensam a sorte!

PS: Esta notícia foi divulgada pela AAP (Australian Associated Press).

JÁ DERAM SINAL!

 

Por lapso do editor deste blogue, que não pode ser desligado da idade que atravessa, não foi publicada uma mensagem datada de há 3 dias atrás, remetida pelo Gonçalo em nome da sua família. Dizia ele: “Boa noite Sr João, a Pomba Mansa e restante família estão com saudades suas e das aulas que transformaram a Olívia noutra cadela. Bjs e Abraços. Até breve!”. Apesar da mensagem ser sucinta, as saudades deles são também minhas, do pequeno Lourenço que deve estar um matulão e da Olívia que me deu um trabalhão. Esperava que a mensagem fosse acompanhada de uma foto do Clã Pomba Mansa. Mas como tal não aconteceu, socorri-me do mapa de Angola para introduzir a notícia. Desejo que em tudo sejam vencedores e que ousem sempre ir mais além. E, quando puderem, não se esqueçam de nos visitar, porque o nosso pequeno grupo quer ver-vos mais uma vez e só vos quer bem.

RANKING SEMANAL DOS TEXTOS MAIS LIDOS

 

O Ranking semanal dos textos mais lidos obedeceu à seguinte preferência:

1º _ OS FALSOS PASTORES ALEMÃES, editado em 24/02/2015

2º _ HÍBRIDO DE CHOW-CHOW/PASTOR ALEMÃO: MÁQUINA OU DESASTRE, editado em 11/05/2016

3º _ COMO DEFENDER-SE DO ATAQUE DE UM JAVALI, editado em 19/08/2019

4º _ PASTORES ALEMÃES LOBEIROS:O QUE OS TORNA ESPECIAIS, editado em 02/11/2015

5º _ MATAM-SE OS CÃES E JÁ ESTÁ!, editado em 22/02/2023

6º _ OS CÃES DOS SALOIOS, editado em 24/08/2009

7º _ ONE OF THOSE DAYS TO REMENDER LATER, editado em 20/02/2023

8º _ APROVEITAR O CARNAVAL PARA ANDAR NA FRENTE, editado em 21/02/2023

9º _ TINHAM TUDO E NÃO TINHAM NADA!, editado em 21/02/2023

10º _ REI DOS 7 MARES, editado em 20/02/2023

TOP 10 SEMANAL DE LEITORES POR PAÍS

 

O TOP 10 semanal de leitores por país ficou assim ordenado:

1º Portugal, 2º Brasil, 3º Estados Unidos, 4º Alemanha, 5º França, 6º Angola, 7º Suécia, 8º Moçambique, 9º Reino Unido e 10º Países Baixos.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2023

VISITANTES RAROS

 

Ontem recebemos dois visitantes de um território pouco falado – das ILHAS VIRGENS NORTE-AMERICANAS – oficialmente UNITED STATES VIRGIN ISLANDS, territórios norte-americanos no Caribe que compreendem a metade ocidental das Ilhas Virgens e a Ilha de Santa cruz a sul. Estas ilhas foram inicialmente habitadas pelas tribos ciboneis, caraíbas e aruaques, sendo baptizadas por Cristóvão Colombo na sua segunda viagem, em 1493, em homenagem a Santa Ursula  e suas seguidoras virgens. Durante 200 anos foram ocupadas por várias potências europeias, incluindo Espanha, Reino Unido, Países Baixos, França, Dinamarca e Noruega. A maioria da população de origem africana é anglófona e uma importante minoria porto-riquenha fala espanhol. 35 a 40% dos seus habitantes são originários de outras ilhas do Caribe e cerca de 10% são norte-americanos. Protestantes e católicos são os crentes mais numerosos e o inglês é o idioma oficial, ainda que ali se fale espanhol e crioulo.

Se estes visitantes das Ilhas Virgens não tivessem outro proveito, bastava o facto de nos terem actualizado geograficamente. Porém, são e valem mais do que isso, pelo que merecem o nosso mais sincero bem-vindo. Esperamos que mais visitantes destas ilhas nos cheguem, queiram estabelecer intercâmbio connosco e que os nossos assuntos continuem a ser do seu interesse. Agradecemos o contacto e manifestamos desde já a nossa disponibilidade para qualquer esclarecimento. Obrigado!

IR CAÇAR E SER CAÇADO

 

No estado norte-americano da Georgia, um caçador de veados de 61 anos de idade, que apenas se identificou como Scott B, procurava aninhar-se e ocultar-se numa árvore para observação. Quando estava a tirar as correias da sua escada, viu aproximar-se de si 3 cães. O primeiro deles atacou-o de imediato e os outros dois associaram-se ao massacre, atingindo-o por três lados. Como o caçador não tinha trazido consigo o seu telemóvel, depressa percebeu que estava em apuros. Tentou gritar por socorro, mas estava muito longe de quem pudesse ouvi-lo. Em aflição, pegou num pedaço de pau para se defender dos seus algozes caninos. Com isso consegui manter os cães afastados, tempo suficiente para correr para outra escada e se refugiar. “Enquanto subia a escada, disse para mim mesmo que precisava de me segurar com força nos degraus, porque os cães iriam saltar-me nas costas e tentar puxar-me para baixo. E se o fizessem, provavelmente não escaparia. A matilha estava a fazer-me bastante estrago” – disse Scott (na foto seguinte visivelmente ferido).

Ele estava a tentar alojar-se numa árvore quando o ataque dos 3 cães ocorreu. Passaram 30 minutos até que os cães abandonaram o local, retornando apenas quando ouviram o caçador descer, o que o obrigou a subir novamente e ali permanecer mais 30 minutos. A partir daí, os cães pareciam ter abandonado a área definitivamente. Scott desceu com todas as cautelas, silenciosamente, e rumou a uma estrada próxima, andou conseguiu mandar parar um veículo e procurar ajuda para que o levassem ao hospital. O caçador disse que o ataque canino teve uma duração de 15 minutos, o suficiente para o deixar com 298 perfurações e um ligamento da mão esfarrapado! Todavia, os três cães agressores envolvidos no ataque (2 Pit Bulls e um Pastor Alemão) não tiveram melhor sorte, uma vez que foram abatidos, acabando o seu dono foi autuado. Scott B diz que o ataque não o afastará da floresta, mas que futuramente não irá para lá sem uma arma, sem um spray de gás pimenta ou sem um amigo, afirmações que se compreendem face ao susto que apanhou!

NÓS POR CÁ: SILÊNCIOS E VIGÍLIAS

 

Desde sempre encostada à cadeira do poder, quando não o era ela mesmo e pródiga em se autojustificar, a igreja católica portuguesa, no que concerne aos abusos sexuais perpetrados pelo seu clero, tentará por todos os meios ao seu alcance minorar esta grande vergonha, como se esta estrondosa ofensa a Deus e aos homens não passasse de um mero alarido, de “uma montanha que pariu um rato”. Ontem à noite, em frente ao Mosteiro dos Jerónimos, algumas centenas de pessoas juntaram-se numa vigília de oração e silêncio, para mostrar vergonha e pedir perdão às vítimas de abuso sexual dentro da igreja católica, acção que certamente foi replicada noutras dioceses do País. Contudo, a justiça não se faz de silêncios e vigílias como até aqui, porque silêncios já os houve demais e as vigílias não saram as feridas das vítimas. E depois, se tudo continuar na mesma e não houver uma profunda mudança (limpeza) no seio da desta igreja, os abusos e os abusadores sexuais continuarão a acontecer e a ser encobertos como sempre foram – é chegada a hora de proceder a esta purga!

Compreendo agora com bastante clareza por que razão as igrejas romanas estão a ficar às moscas, lembrando nalguns casos centros de dia entregues à surdina, porque raramente algum jovem se senta nos seus bancos. Não é preciso ser–se muito perspicaz para entender o profundo fosso que separa a hierarquia eclesial das suas comunidades, organização que nada tem a ver com o nosso viver democrático, respectivas sociedades e aspirações. Há muito que nos livrámos dos reis absolutos, daqueles que diziam ser a sua soberania advinda da vontade de Deus, que punham e dispunham sem dar cavaco a ninguém e que faziam de qualquer mulher sua barregã. Desse obscurantismo medieval, proclamando virtudes e vendendo terrenos no céu, só restou a igreja de Roma, cuja hierarquia insiste ser tratada como intocável, quando na verdade nunca o foi.

Porque são mais esclarecidos, melhor educados e têm acesso fácil à informação, poucos jovens estarão dispostos a aceitar e a suportar a autocracia presente na maioria das igrejas ditas históricas. Não tendo outro remédio suficiente para a sua sobrevivência, com a juventude ocidental e europeia a ensurdecer-se para a sua mensagem, a igreja católica espera convertê-la com missionários vindos do 3º mundo, estratégia também visível nas Jornadas Mundiais da Juventude, apesar de muitos dos seus participantes darem mais ênfase ao convívio, ao turismo e à pândega do que às doutrinas propriamente ditas. Disposto a ir para a rua auscultar os jovens acerca do seu afastamento das igrejas, encontrei três motivos principais: a ausência de identificação; a aversão e a revolta. Por tudo isto não é de estranhar que muitos deles tenham e façam a sua própria religião ou se apaixonem por outras distantes, julgando-as menos viciadas, mais pertinentes e de maior importância para as suas vidas.

Certamente que o deboche do clero católico, só agora tornado público, enquanto crime e vergonha inqualificáveis, só afasta ainda mais os jovens, não querendo nenhum deles ser violado ou ver a sua namorada, um irmão mais novo ou alguém da sua família a sê-lo por um padre no confessionário, na sacristia, na casa paroquial ou num mísero motel. Jesus no seu Evangelho já nos alertou para estes falsos profetas que se vestem de peles de ovelhas, mas que por dentro são lobos devoradores. Se estes falsários e senhores pensam que a justiça de Deus prescreve como sucede com os crimes de violação e homicídio na justiça humana, estão profundamente enganados e se não se arrependerem verdadeiramente serão também condenados, já que os seus crimes atentam, não contra um, mas contra todos os Mandamentos da Lei de Deus!

PS: Para o encobrimento dos abusos sexuais na igreja católica, a realização das Jornadas Mundiais da Juventude não poderiam ter vindo em melhor altura. E se a coisa der dinheiro, como sucedia outrora com os vendilhões no templo , o pagode depressa se esquecerá das vítimas em função do lucro obtido.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2023

EM FORT WORTH SÃO OS PIT BULLS QUE ANDAM EM PÉ DE GUERRA

 

Dois Pit Bulls atacaram na semana passada um homem perto da sua casa em Fort Worth, a quinta maior cidade do estado americano do Texas e a 13ª maior cidade dos Estados Unidos. O homem, Marcus Kizaza, foi mordido nas mãos, nas pernas e ficou com parte do seu nariz arrancado. A polícia de Fort Worth, os bombeiros e o controle de animais foram chamados a uma casa na passada quinta-feira, situada no bloco 8400 de Star Thistle Drive, onde o incidente doloroso aconteceu e teve a autoria de dois Pit Bulls, que a princípio se mostraram amigáveis, mas que depois partiram para a agressão, o que obrigou Kizaza a pedir socorro e a saltar para cima de um camião branco de um vizinho, não sem antes ser também mordido no rosto. Aflito, gritou desalmado perante a ferocidade daqueles cães, acabando os socorristas chamados ao local a lutar com eles e um bombeiro por ser atacado, escapando todos ilesos. Num comunicado, a polícia de Fort Worth disse: “Um agente policial reparou num cão agressivo, atropelou-o com o carro-patrulha e o animal foi declarado morto no local. Testemunhas disseram que o Fort Worth Animal Control Services conseguiu capturar o segundo cão no mesmo local. O homem agredido permanece no hospital desde quinta-feira passada, o seu nariz foi recolocado com sucesso, mas ainda irá necessitar de outra intervenção cirúrgica, conforme afirmou a sua esposa. Até ao momento ainda não é conhecido o proprietário dos dois cães.

Cães com esta predisposição feroz e soltos na via pública não são bom presságio para ninguém, acabando normalmente por agredir violentamente vítimas inocentes, chegando por vezes, e não são tão raras assim, a matar crianças e idosos, gente por norma surpreendida, pacata e indefesa. Ainda que os descendentes das nações indígenas Cherokee, Comanche, Choctaw, Kickapoo e Rosebud Sioux possam reclamar algo de Fort Worth, são os Pit Bulls que andam por lá em pé de guerra!

MATAM-SE OS CÃES E JÁ ESTÁ!

 

Estou farto de ouvir falar em crianças mortas e cães abatidos, lamentando-se o desaparecimento das primeiras e aceitando-se com a maior naturalidade deste mundo o assassínio dos últimos, como se essa fosse a melhor forma de fazer justiça, os cães fossem os únicos culpados, a sua morte servisse de lição para alguém ou contribuísse decisivamente para a diminuição de incidentes destes. Um bebé de 5 semanas que se encontrava a dormir, Mia Riley, foi atacado fatalmente sem ninguém se aperceber disso por dois cães tipo Rottweiler na costa sul de New South Wales, na Austrália. A bebé foi levada pelos seus pais à pressa para o Hospital Moruya, no passado sábado, dia 18 de fevereiro, pelas 22h40, apresentando ferimentos graves na cabeça, vindo a morrer pouco depois da meia-noite. De acordo com o que a polícia fez saber, os cães pertenciam à casa onde tudo aconteceu e foram apreendidos por guardas florestais locais (Eurobodalla Shire Council) e deverão ser abatidos. Apesar do incidente estar a ser objecto de investigação, crê-se que não haverá lugar a qualquer acusação?!

Ainda está para vir o primeiro caso destes em que os pais ou os responsáveis pelas crianças sejam acusados de homicídio por negligência. O comum de acontecer é abaterem-se os cães e já está! Não caberá aos pais ou a outros no seu lugar zelar pelo bem-estar e vida das crianças? E se nas suas casas houver cães, deixá-los-emos soltos com os bebés isolados e ao seu alcance? Que gravíssima negligência será perante o que poderá vir a acontecer e que infelizmente se vem repetindo! Quanto mais pequenas são as crianças, maior é a sua vulnerabilidade aos olhos dos cães, que estranhando a novidade, movidos por ciúme ou atraídos pela urina e dejectos dos bebés, começam por lambê-los e num ápice podem começar a mordê-los e a comê-los, como procedem com outros dejectos, não precisando para isso de serem nenhumas feras. Quase todos os dias, em qualquer lugar do mundo, temos notícia de uma criança que foi morta por um cão! Mas teria sido mesmo ou teria morrido em consequência da ignorância e negligência dos seus responsáveis? Sempre será mais prático, melhor aceite, menos trabalhoso e barato abater um cão ou dois do que acusar alguém!

Como a origem do problema é humana e resulta das inverdades que geram falsas crenças, convidativas ao descuido e à negligência, a morte dos cães nestes casos é absolutamente gratuita, porque os pais continuarão a negligenciar a segurança dos filhos e a sujeitá-los ao juízo dos cães. Por mais que insistam em mudar-lhes o estatuto, os nossos companheiros de 4 patas jamais deixarão de ser cães, animais de companhia pouco instintivos mas sem o discernimento próprio dos seres humanos, o que os induz a acções próprias da sua espécie. Penso, e não sou dado a juízos temerários, que a maioria dos bebés que perecem à boca dos cães, morrem porque os seus pais não souberam cuidar deles. Como adestrador canino não posso ser confiado, procuro identificar e conhecer os diferentes cães e os seus comportamentos para que não venha a ser surpreendido e a induzir outros ao engano, sempre aconselhando os pais a não deixarem sozinhos os seus filhos com os cães, particularmente os de idade sem manifesto senso de responsabilidade (com idade inferior aos 6 anos), independentemente dos animais nunca se terem mostrado agressivos ou tenham sido alvo de prévio ensino, pois se há coisas de que não podemos abdicar, uma delas será a protecção dos nossos filhos.

terça-feira, 21 de fevereiro de 2023

APROVEITAR O CARNAVAL PARA ANDAR NA FRENTE

 

Mais dado ao Entrudo do que ao Carnaval, convoquei alguns binómios para trabalhar nesta 3ª feira de carnaval, objectivando o robustecimento do carácter dos cães presentes para melhor poderem trabalhar à frente dos seus condutores e alcançarem confiantes o desempenho isolado, em exercícios como o “ronda” e demais induções de segurança, em perímetros que não excederam os 200 metros. Os donos esforçaram-se e os cães cumpriram. Participaram nos trabalhos os seguintes binómios: Clarinda/Luna; Luís/Kayla; Paulo/Bohr e Pedro Rodrigues/Luna. A escassez de fotos ficou a dever-se ao facto do Paulo Jorge não ter tempo livre para fotografias ou GIFS. A foto acima, onde consta o grupo escolar que trabalhou esta terça-feira é da autoria do Adestrador e foi tirada antes de cada um ir para sua casa. Aproveitámos a ocasião para nos despedirmos do Luis Rodrigues que irá embarcar breve e mais uma vez para a Suíça, donde não demorará a voltar. Se porventura alguém vir uma pomba desgarrada, por favor não atire, é a nossa Pomba Mansa de quem não temos notícia há muito tempo!

TINHAM TUDO E NÃO TINHAM NADA!

 

Anteontem pela manhã, domingo, num arrabalde abrigado do mar pela majestosa Serra de Sintra, a convite de um aluno meu que deseja saber mais sobre Pastores Alemães, fui apreciar uma ninhada de um imigrante estrangeiro, indivíduo que se mostrou pouco simpático e algo nervoso, o que não é nada bom para o imprinting dos cachorros, que espelharão não só a sua genética como também o seu primeiro contacto social com humanos, marca irreversível que carregarão ao longo da sua existência. Assim, na escolha de cachorros, para além da apreciação individual de cada um deles, há que considerar também o particular do seu criador, não me transmitindo aquele nenhuma confiança, pelo que jamais lhe compraria qualquer cachorro. Convém dizer de antemão que pretensamente íamos procurar um cachorro para guarda.

Ao entrarmos no recinto onde os cachorros se encontravam, fomos recebidos como visitas assíduas da casa, com apatia, indiferença e silêncio por cães e cachorros como se não existíssemos. Somente um cão adulto e mais interactivo se predispôs a brincar com um menino que nos acompanhava, mostrando-se por demais dócil dentro do seu território e estar acostumado a “ir à procura da rolha”, a apanhar tudo o que lhe jogarem, o que nada abona em favor da sua sobrevivência. Os restantes cães adultos que nos foram dados a observar, a matriarca da ninhada inclusive, mostraram-se quedos e mudos, como se para ali fossem transplantados por algum encantamento, não estranhando a intrusão nem esboçando qualquer tentativa de defesa do seu território. Enquanto isto, os cachorros passaram o tempo todo deitados, o que dificultou a sua avaliação mas que revelou de imediato qual o seu carácter.

Estranhamente, porque não é todos os dias que vejo cachorros dentro da curva de crescimento da raça, os cachorros apresentavam-se bem desenvolvidos, dentro do peso desejável para a idade, com a envergadura própria para o seu tamanho, com excelentes aprumos dianteiros e traseiros, com boas cabeças e osso, boa inserção de orelhas e caudas padronizadas – morfologicamente quase irrepreensíveis! Contudo, faltava a estes cães de encher o olho, rusticidade, curiosidade, vivacidade, irreverência, movimento, beligerância, espírito competitivo e sentimento de pertença. E, quanto mais olhava para eles, mais a minha cabeça se confundia, ao ponto de confundi-los a espaços com uma ninhada de chinchilas, também elas agradáveis à vista mas sem préstimo para guardar seja o que for!

Ao analisar aqueles cachorros à luz dos principais impulsos herdados que o ofício guardião requer, apercebi-me que eram carentes de movimento, que não lutavam entre si, que não guerreavam pela posse de nada, que nenhum deles intentava dominar sobre os demais e que apresentavam um considerável défice de atenção, pormenores que automaticamente os arredavam de qualquer trabalho relativo à segurança de pessoas e bens, mas que tornam possível a sua utilização não especializada noutros serviços e propósitos. Na escolha de um cachorro importa considerar uma estrela de 6 pontas, estando em cada uma delas um impulso herdado a considerar (ao alimento; ao movimento; à luta; à defesa; ao poder e ao conhecimento) e aqueles nesta matéria não tinham ponta que lhes pegasse! Saí do local mais depressa do que entrei, revoltado e com uma saudade enorme dos cães que já criei - aqueles cães tinham tudo e não tinham nada!

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2023

REI DOS 7 MARES

 

Segundo fez saber a jornal norte-americano “NEW YORK POST”, quando uns turistas procediam a uma passeio marítimo nas Bahamas, ao largo de uma ilha privada, foram surpreendidos pelo aparecimento inesperado de um tubarão martelo naquelas águas rasas. Todavia, as novidades estavam longe de se esgotar, porque perante tal avistamento, um cão saltou imediatamente da Ilha para o perseguir. Rebecca Lightbourn, gerente de reservas da operadora “EXUMA WATER SPORTS”, disse desconhecer qual a causa que levou o cão a reagir assim, certo é que a perseguição durou de 2 e meio 3 minutos.

A agência atrás citada postou um vídeo do sucedido no passado dia 15 do corrente mês no Instagram, onde se podem ouvir os gritos de aflição por parte dos turistas, incitando o cão para voltar para terra. De acordo com o New York Post, o citado cão pertence a um homem que administra aquele pequena ilha privada nas Bahamas, ao norte de Great Exuma. Sabe-se que o animal costuma dar as boas-vindas aos turistas naquele lugar, aproximando-se dos barcos para saudar os seus passageiros. Quem quiser assistir ao vídeo carregue por favor no link seguinte: https://www.msn.com/de-at/nachrichten/other/touristen-in-panik-hund-springt-zu-hammerhai-ins-wasser/vi-AA17DMFW

ONE OF THOSE DAYS TO REMEMBER LATER

 

Sábado foi um daqueles dias de trabalho para mais tarde recordar, considerando o que fizemos e onde estivemos, uma vez estendidos num areal a perder de vista e empenhados em melhorar o relacionamento com os nossos cães, para além de valermos à Susana, uma amiga da Maria proibida de a visitar pelo Dobby, que a entendia como intrusa e um alvo a eliminar. Com o sol a brilhar e a temperatura da água a lembrar o verão, o pequeno Simão decidiu brincar com a CPA negra Gaia à beira de água, feliz pela brincadeira e alheio a tudo o que o rodeava (foto acima). Logo no início dos trabalhos optei por conciliar o CPA Dobby com a Susana, levando-a conduzir o Pastor Alemão debaixo da minha supervisão e dando-lhe repetidas doses de ânimo para que não desistisse do desafio (foto abaixo). Ambos comportaram-se satisfatoriamente e não houve lugar a qualquer desacerto ou litígio.

Com a Susana agora mais confiante, ensinamos-lhe a ordenar o tricomando básico ao Dobby. O cão obedeceu prontamente e a senhora sentiu-se feliz, mais confiante e disponível para os desafios seguintes. Na foto que se segue, com o Adestrador ao lado e a acenar para o restante grupo escolar, vemos o Dobby deitado por ordem da Susana.

Como importava dotar a Susana de subsídios de autodefesa, convidámo-la para se deitar em decúbito ventral e assim permanecer imóvel perante um ataque lançado do CPA Bohr (GIF abaixo). A provocação operada pela Susana, própria de gente de bem, lembra o esvoaçar de uma pequena arvéola fustigada pelo vento ou o baloiçar desordenado de uma açucena (o cão até teve pena dela!).

Com a Susana a responder afirmativamente aos desafios que lhe iam sendo propostos e apostados em ajudá-la a vencer os medos que trazia, convidámo-la a permanecer de pé e quieta perante o avanço do mesmo cão. E fizemo-lo por duas razões: para dotar a Susana de maior autodomínio e para garantir um maior controlo do Pastor Alemão, que foi travado junto aos pés da pretensa invasora (GIF seguinte),

Com o auxílio da Susana e em “estreia mundial”, procedemos ao primeiro ataque lançado da CPA Gaia, animal que se mostrou dividida entre o alvo que tinha na frente e os cães que tinha na sua retaguarda, pinoteando com uma lebre em terreno lavrado.

Como a temperatura da água já se encontrava acima dos 15º celsius, todos os cães foram convidados para a água, para nadar e procederem à entrega dos brinquedos que lhes eram lançados. Na foto abaixo vemos a Maria a lançar o brinquedo do Dobby e este danadinho para o apanhar.

Como importava saber se o Dobby sabia ou não nadar, a Maria viu-se obrigada a entrar dentro de água até onde a roupa lhe permitiu (foi por pouco que não deu também banho ao telemóvel!). Feliz por ver a dona a seu lado, o Pastor Alemão comportou-se dentro de água como se estivesse em terra firme.

Empenhado em apanhar a bola e trazê-la para a dona, já fora de pé, o Dobby nadou confiante e correctamente, pelo que dispensou qualquer ensino nesse sentido. A foto abaixo, apesar da sua pouca definição, atesta esse momento.

Para induzir este cão a aceitar a autoridade da Susana e não a rebelar-se contra ela, entregámo-lo a esta amiga num momento em que os cães estavam a ser provocados para abandonar a figura do ”quieto”. Todos os cães se comportavam afirmativamente e o Dobby não desobedeceu à sua condutora de circunstância.

Cada vez mais entusiasmado e confiante no progresso da Susana, depois de considerar a sua prestação como um todo, pedi-lhe que se constituísse em obstáculo para os cães saltarem. A honra coube à CPA Luna que foi brilhantemente conduzida pela sempre disponível Clarinda.

No final da aula, sabendo do potencial da cadela e do amor que a liga ao dono, enterrei o Jorge Filipe na areia e levei a cadela a desenterrá-lo, certo que ela não descansaria até o reencontrar. Esta foi também a primeira vez que a CPA Gaia procedeu a um trabalho destes. Ela tem um grande margem para evoluir e parece vocacionada para o sucesso.

Participaram nos trabalhos os seguintes binómios: Clarinda/Luna; Jorge/Gaia; Luís/Kayla; Maria/Dobby; Paulo/Bohr; Simão/Kayla e Susana/Dobby. O tempo esteve excelente, a reportagem fotográfica foi da autoria do Paulo Jorge, o Pedro ficou a recuperar afectivamente do acidente e perdemos o voar à Pomba Mansa. Aproveito para agradecer a todos os binómios o seu empenho em prol do auxílio à Susana, que aproveitou excelentemente o nosso esforço. O Luis Rodrigues esteve mais uma vez entre nós e retornará em breve à Suíça onde se encontra a trabalhar. Este foi um dia para mais tarde recordar!

OS CÃES TAMBÉM ESTICAM A CORDA!

 

Não procuro aplausos nas minhas publicações pelo recurso ao “politicamente correcto”, porque procuro a verdade e o que parece ser certo hoje poderá ser desprezado amanhã. Pactuar com o presente não será certamente o melhor dos caminhos na senda do progresso, seja lá para o que for, porque o contentamento é efémero diante do caminho a percorrer. Depois deste esclarecimento em forma de exórdio, vamos ao tema.

Os cães também “esticam a corda”, particularmente os mais sólidos de carácter e fazem-no para levar a sua vontade avante. Como se calcula, de pouco préstimo serão os cães destinados à segurança que não alcançarem o cumprimento imediato das ordens, atendendo à sua sobrevivência e serviço. Sempre que se inicia o condicionamento de um cão destes, considerando o seu carácter dominante, assiste-se a uma dualidade de vontades: à do dono e à do animal.

Cães dominantes, por mais amigos e dedicados que sejam aos seus donos, não se subordinarão gratuitamente e não obedecerão sem dar alguma luta, por via da potenciação dos seus impulsos herdados, mormente os de à luta e ao poder, pelo que não deverão ser confiados a donos inexperientes, receosos e coléricos. Como predadores, os cães são naturalmente manhosos e vivem em constante aprendizagem, ávidos que andam na procura da vantagem. A primeira coisa que fazem é ensurdecer-se deliberadamente para as ordens dos donos, estratégia que usam para garantir a sua liberdade de propósitos e movimento – a sua autonomia. Se porventura, como é comum acontecer, os seus donos repetirem duas e mais vezes um comando para que o animal obedeça, estarão involuntariamente a ir ao encontro das pretensões do cão e a comprometer a sua prontidão e operacionalidade.

Contrariamente ao que vai pela cabeça de alguns, os cães destinados à segurança de pessoas e bens, por força do seu serviço, não são cães comuns e como tal carecem de maiores exigências quando comparados com os seus congéneres destinados somente a animais de companhia, porque são armas capazes de deter, derrubar, ferir e até de eliminar pessoas quando treinados para isso. Assim, em matéria de obediência, o limite de tolerância de um cão destinado à segurança deverá ser igual a “0”, ainda mais porque subsiste a a possibilidade da ocorrência de acidentes. Felizmente que os cães treinados para guarda em Portugal, pelo menos na sua esmagadora maioria, jamais o serão e nunca poderão sê-lo, porque doutro modo seriam justificadamente considerados como perigosos, no que lembram “ferozes” guardiões em tudo iguais aos encontrados na “Guerra de Mirandum”, guerra também alcunhada de “Fantástica”, por ter sido mais fantasiosa do que real.

De qualquer modo, o que aqui disse sobre os cães de segurança é também válido para cães de outras especialidades (quando houver necessidade disso), porque em todos a repetição das ordens suscita a manha canina. E como ninguém deseja isso, ao invés de se repetir uma ordem, depois de constatada a desobediência do animal, dever-se-á de imediato proferir um comando ou procedimento de atenção e só depois o comando desejado. Os cães, tal como nós, aprendem e muito com o mundo que os rodeia, tanto para o melhor e como para o pior.