quinta-feira, 28 de maio de 2009

::: Filipe Diogo Elias Pereira (Ti Filipe): O Percursor :::

Nasceu em Moçambique, foi criado por uma tia no Alentejo, tornou-se contrabandista e acabou perseguido pela polícia política. Segundo dizia, a sua caderneta militar estava toda escrita a vermelho: 4ª classe de comportamento.Trabalhou como motorista no Corpo Diplomático, a serviço de outrem, na Rodoviária Nacional e na Empresa Barraqueiro. Hoje está aposentado e vive com o filho na Alemanha. Personagem controversa, a quem foram atribuídas inúmeras aventuras, o Ti Filipe foi precursor das actuais escolas caninas civis.

Adepto incondicional dos Pastores Alemães, apesar de treinar outras raças, alcançou destaque com os exemplares CPA Káká, Bunker, Kali e Saigão. Ensinava os cães em regime de internato, particularmente os destinados à guarda, disciplina do seu agrado e que lhe trouxe alguma fama. Excelente preparador físico, notabilizou-se nas áreas da obediência, pistagem e transporte. A carrocinha em uso na Acendura Brava é obra sua, feita de propósito para o Káká, para ir buscar a bilha de gás ao fornecedor. Este cão era especialista na detecção e eliminação de cobras, um excelente caçador de ouriços e um companheiro infatigável.

Defensor inquestionável da excursão, nutria alguma admiração por Dobermanns, treinou galgos para competição e admirava os exemplares toys. O Jardel, propriedade da D. Cristina Alberto, foi-lhe comprado e de tantos outros foi proprietário. Foi um adepto ferrenho da “ corrida à pele” e não desprezava qualquer desafio. A sua velha Ford Transit era por demais conhecida, graças à pintura dos galgos que a adornava. Especializou-se na fixação e desenvolvimento do galope entre os lebróides. Participou em vários eventos da Acendura, integrando-se nas suas esquadras e conduzindo diferentes cães.

Muitas foram as suas façanhas, hoje pouco sabemos dele, mas fica aqui a nossa homenagem e agradecimento. Como precursor, cumpriu cabalmente o seu papel, sensibilizando as gentes para a necessidade do adestramento, despertando-as para a mais-valia e parceria canina. Já não o vemos por aí, mas sempre permanecerá na nossa memória, um pequeno homem atarracado, em passo acelerado, cavaqueando com um cão atrelado, pela Malveira, entra a Alagoa e o Largo da Feira.

JLS:Garrido

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Domingo, 24 de Maio - De la Suisse au Portugal e da Escola para o pinhal

No Domingo o tempo levantou, ainda que envergonhado, o sol lá foi aparecendo. E porque o Treinador em Exercício se atrasou, o Monitor Zé Gabriel tomou a classe a seu cargo, dirigindo-a no aquecimento e no círculo de obediência. A classe respondeu afirmativamente e o trabalho não sofreu atrasos. Este é o espírito da Acendura Brava e nisto está de parabéns o condutor do Master. O Plano de Aula assentou sobre os diferentes automatismos direccionais e deu-se preferência à condução dinâmica sobre obstáculos. A obediência não foi esquecida e a indução ofensiva fez-se presente.

Foram vários os voluntários para o fato, nota de destaque para a Ana Pinto e para o Paulo da Diva, muito embora o Filipe e o Virgílio não defraudassem. O Paulo viveu alguns anos na Suiça, foi lá segurança e hoje mora no Cabeço de Montachique. Daqui a uns meses será pai pela segunda vez, a Fátima anda eufórica e ele não esconde a alegria. Homem acostumado à dureza da vida, calmo por natureza e parco de palavras, nunca se viu em tais “assados”. Apesar da manobra ser destinada aos cachorros, e porque é de indução, o Loki, o Master e o Pascoalito estiveram presentes, fazendo jus à idade e enaltecendo os seus pergaminhos. Apesar da novidade, o Paulo aguentou-se conforme pode, mostrou-se valente e disponível para outras ocasiões. Parabéns Paulo, o Loki adora-te, o Master não se esquece de ti, o Pascoalito espera ver-te e os cachorros agradecem. Assim terminaram os trabalhos matinais. A Princesa, a Pescadinha, a Sofia e o Bruno não participaram neles, mas apresentaram-se para o turno da tarde.
Depois de almoço rumámos a Stº Estêvão das Galés e ao Rogel, tirando partido das encostas e da estrada pouco movimentada. Ali treinámos comandos à distância, diferentes evoluções e algumas manobras de sociabilização animal, usufruindo da novidade do ecossistema e da florida paisagem primaveril. Aproveitámos o tempo para a habitual reportagem fotográfica. Nunca tivemos tantos fotógrafos de serviço. Apesar do número das “chapas”, apenas editamos algumas, aquelas que no nosso entendimento, nos pareceram as melhores.


A Zara está mais atlética e portou-se bem na Escola. Continua com dificuldades no “quieto”, leva tudo para a brincadeira e adora ludibriar a dona. O Teddy sofre horrores e morre de amores por qualquer cadela. Ambos denotam ausência de condicionamento e desprezo pelo princípio pedagógico da sobrecarga. A Escola está aberta 365 dias por ano. Estranhamente, será que a Sofia está a perder qualidades? A Bonna está com algumas dificuldades na obediência, mostrando-se instável e por vezes receosa. O Pipo recomenda-se e o Pepe tem estatuto próprio.



Participaram nos trabalhos os seguintes binómios: Ana/Loki, Bruno/Pepe, Elisabete/Isis, Filipe/Jürgen, Maria/Mc, Paulo/Diva, Pescadinha/Teddy, Princesa/Pipo, Rita/Zara, Rui Santos/Red, Sofia/Bonna, Virgílio/Pascoalito e Zé Gabriel/Master. Sentimos a falta do Tiago e do Rex, do Carlos e do Tot.

Sábado, 23 de Maio - Enveredar pelos pequenos passos que levam a vôos mais altos








Sábado amanheceu cinzento, a ameaçar trovoada, com chuviscos ocasionais. Os conteúdos de ensino foram ministrados na Escola e o trabalho foi exclusivamente matinal. O Plano de Aula foi subdividido em dois momentos, um teórico e outro prático, sendo o primeiro mais demorado. Abordaram-se os temas: Morfologia e Cão de Guarda e Cães de Protecção Civil. A participação dos condutores foi concorrida e interessada. Ao contrário de alguns graúdos e para espanto geral, as intervenções do Manuel Veiga Santos, um pirralho de 10 anos de idade, foram pertinentes e objectivas.

A meta procurada foi a de compreender para aplicar (compreender o particular de cada cão e agir de acordo com as suas características e necessidades), enfatizando o bem-estar canino face às expectativas ou finalidades procuradas. O assunto parece gasto, mas alguns erros teimam em se ir embora, porque resultam de valores culturais, dificuldades sócio-económicas e da tacanhez de alguns donos e condutores, que encarcerados no passado, obstam a novidade de vida dos seus cães, criando obstáculos à sua felicidade e desprezando a mais-valia canina. Estar na Escola envolve uma mudança de atitude, um renascer para a comunicação inter-espécies. Foi esse o objectivo da aula teórica.

A aula prática remeteu-se ao perímetro exterior para os cães adultos e ao extensor de solo para os cachorros. O perímetro exterior é um conjunto de obstáculos naturais, dispostos de modo gradativo ao longo do limite exterior da Pista Táctica, que visa a manutenção e o aquecimento dos cães. Dele constam obstáculos verticais, elevadores e tipo alvo, para além de alguns aparelhos correctores. Sempre que numa Pista Táctica, o extensor de solo não evidencia marcas de uso, isso significa que os cachorros da classe são convexos, bem aprumados, medianamente angulados e isentos de pernaltismo. Os filhos da Pipa (Abu e Ricky), são muitos angulados, iguais à sua progenitora, apresentando aos 120 dias “jarrete de vaca” (apoio traseiro em “X”, caracterizado pelo encosto dos curvilhões e afastamento dos pés). O fenómeno deve-se ao facto de serem muitos angulados e queremos que depressa desapareça. O Jürgen é pouco angulado de traseira, mais alto de garupa e de precária extensão posterior, apresenta tendência para selar e eixos típicos de galopador. O Extensor de Solo é um corrector de aprumos por excelência, um indutor da marcha e um aparelho terapeuta, quando usado de modo sistemático e de acordo com a faixa etária dos cachorros. Os seus benefícios são maiores, quase absolutos, quando usado na fase plástica dos infantes (entre os 4 e os 6 meses de idade). Ali andaram os cachorros e as melhorias são visíveis. Pequenos passos que levam a vôos mais altos.


A Elisabete Lopes está a agregar-se ao grupo, caiu entre nós de pára-quedas, a adaptação tem acontecido e todos a apadrinham. Como qualquer jovem, ela desinteressa-se das rotinas, abomina os procedimentos e resiste à autoridade. Dela são as palavras: “Eu detesto ser mandada”. No Sábado conduziu a Rosita e no Domingo a Isis. A tarefa foi-lhe facilitada pela disponibilidade das cadelas, que laborando pelo fim terapêutico, regraram quem as conduziu.

O Rui Santos, monitor da nossa Escola, tem participado nos trabalhos, mostrando a boa vontade de sempre e o seu esforço em prol dos outros. Continuará assim até regressar a Angola.

O Francisco Domingos Abrunheira, vulgo Xico do Pongo, não tem comparecido com assiduidade rotineira, mercê das suas múltiplas tarefas e obrigações paternais.

O João Domingues, proprietário de um cão dominante, parece distante das suas responsabilidades, escusando-se, mais uma vez, aos trabalhos de fim-de-semana. Gostaríamos de lhe dedicar uma canção, a designar, do falecido António Variações. Saberão qual é?
Participaram nos trabalhos os seguintes binómios: Alexandra/Abu & Pipa, Elisabete/Rosita, Filipe/Jürgen, Joana/Flikke & Xita, Octávio/Greg, Princesa/Pipo & Ricky, Rita/Zara, Rui Santos/Red, Virgílio/Pascoalito e Zé Gabriel/Master.

A Escola tem mais um novo aluno


Chama-se Abu e é irmão do Ricky, ambos provenientes do Canil Quinta da Tomadia, e já anda na Escola pela mão da Alexandra a mostrar o quanto vale um Pastor Alemão.

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Nibal: símbolo d´Acendura, leão (verdadeiro) da Lourinhã


Quem vai da Lourinhã para Peniche, como se fosse para a Areia Branca, na localidade de Casal da Murta, encontra do seu lado esquerdo um Restaurante, engalanado de bandeiras e adornado com um moinho. O estabelecimento é propriedade do Sr. Jorge Lopo, chama-se “ O Moleiro”, a sua especialidade é a caldeirada de peixe e ali trabalha a sua família. Por detrás do restaurante, junto ao parque de estacionamento, levanta-se um canil. Sem dificuldade, devido ao seu porte, avista-se um Pastor Alemão cinzento, grande e robusto, silencioso e atento. O bicho chama-se NIBAL e espanta pela sua envergadura, adora o seu dono e é a atracção da casa. Noutras circunstâncias, não manifestaríamos o seu nome, atendendo ao ofício guardião. Mas como ele só tem olhos e ouvidos para o dono, nenhum estranho o travará. Ali nasceu e cresceu, treinou numa pequena pista improvisada, hoje desactivada, atrás do local onde se encontra instalado. O Sr. Jorge, à parte de ser um óptimo cozinheiro, é um homem afável, um orgulhoso “Filho da Escola” que serviu na Marinha Portuguesa. Avô babado, é também coleccionar de vinhos e de bebidas licorosas, um incansável lutador contra a crise e um adorador inquestionável do seu cão. Sempre lamenta não ter condições para mexer o animal, as pernas não lhe permitem e isso torna-o amargo. São muitas as histórias que conta acerca dos seus Pastores Alemães, algumas são tão extraordinárias, que poucos aceitam a sua veracidade. E isto apesar do relato ser sentido e empolgante. Graças à genética, o Nibal nasceu totalmente cinzento, porque este factor cromático era comum nos seus pais. Ele descende directamente do Rossi e teve como avô paterno o Zucker, e como bisavô o Kirios Schwartz da Quinta do ABC, afixo anterior ao da Acendura Brava. A fixação do cinzento total só foi possível pela fusão de duas linhas, uma advinda directamente da Alemanha e outra presente numa cadela chamada Tranquila, propriedade do Sr. Gonçalo Soromenho Simões e com o LOP nº 96348. A linha alemã donde é originário resultou das linhas Von Silvano e Vom Info. Escusado será dizer que estamos a falar de cães de trabalho. Hoje o Nibal está obeso e reflecte a ausência da excursão diária, encontra-se plantígrado e cheio de calosidades nas articulações. E nem que fosse de propósito, quando chegámos para a entrevista, padecia de uma otite. Problemas à parte, foi gratificante observar a obediência que manifesta, o carinho que tem pelo dono e o sentido de guarda que conserva. Nada disto seria possível se não fosse feliz e correctamente adoptado. Agradecemos à família Lopo e ao Restaurante “O Moleiro” a atenção e disponibilidade dispensadas.

Uma "Amora" de se ver e chorar por mais


Como poderão ver pelas fotos anexas, temos uma nova lobeira entre nós. Chama-se Amora do Monte do Pastor, é filha do Kaiser e da Xita e é linda de morrer. O seu desenvolvimento tem sido extraordinário, encontra-se acima das tabelas, tanto da altura como do peso. Ágil, valente e graciosa, segue a dona que nem sombra, atenta para todos os pormenores e dá sinal de tudo. Veio preencher o lugar da saudosa Orca d’Acendura Brava, recentemente falecida e presente na memória de quem a conheceu. Não existem dois cães iguais, mas dono que é sensível, sabe ver as diferenças e daí extrair vantagens.
O que mais espanta na Amora é a pelagem, a contribuição do fulvo sobre o cinzento, o que a tornará única e deslumbrante. Morfologicamente muito equilibrada, mostra abnegação e espírito de equipa. Mecanicamente é irrepreensível e é dona de um “pulmão” extraordinário. A sua convexidade é excelente e os seus aprumos causam inveja. É importante não esquecer, que estamos a falar de uma cachorra com 3 meses de idade. Daqui endereçamos os maiores sucessos para a Família Paiva da Silva, congratulando-nos com a sua opção e escolha, porque um cão é um projecto familiar e todos os seus membros têm um papel importante.

Fim-de-Semana de 16 e 17 de Maio

Os trabalhos neste fim-de-semana foram escolares, mais concorridos no Sábado do que no Domingo. Não há registo fotográfico das actividades, porque os fotógrafos se encontravam ausentes, a Princesa a organizar um banquete e o Filipe do Jürgen a encher a barriga na Ilha da Madeira. A Rita Rua foi para o “olho da rua”, para uma Pousada no Alentejo, não comparecendo aos trabalhos.
O Plano de Aula assentou sobre a obediência e os obstáculos do Perímetro Exterior. No Domingo fomos visitados pelo Sr. Rafael Lopes, que se fez acompanhar pela sua filha Elisabete. Este Senhor é também o proprietário da cadela CPA Pietra.
Participaram nos trabalhos os seguintes binómios: Alexandra/Pipa, Bruno/Pepe, João Franco/Zappa, Joana/Flikke, Jorge/Audaz, Manel/Mini, Octávio/Greg, Pescadinha/Teddy, Rui Santos/Red, Susana/Pascoalito, Xico/Pongo e Zé Gabriel/Master.
Terminadas as aulas, os alunos foram convidados para uma matança de porco, em casa do Carlos Veríssimo e em honra da sua filha. A solenidade deve-se ao completar de Curso da Marina. Já temos mais uma enfermeira. Do programa constaram as iguarias tradicionais, os vinhos afamados e um espectáculo de música portuguesa ao vivo, aqui e ali saltitada, com cantilenas castelhanas e latino-americanas.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

::: Escalonamento da matilha escolar na Acendura Brava :::

A classe escolar é uma matilha espontânea, constituída por cães de várias raças e alguns sem raça definida, a não ser que seja uma escola que se dedique, exclusivamente, ao adestramento de uma raça em particular ou a um grupo somático específico. Tomando como exemplo o primeiro caso, onde a heterogenia dos animais é por demais evidente, que cães colocar na frente e como escalonar os restantes? Que critérios seguiremos, para os distribuir no círculo de 36 mts? Certamente a nossa opção não será arbitrária!Aqui, na Acendura Brava, sempre colocamos os Cães de Pastor Alemão na vanguarda do círculo, o que para alguns pode ser motivo de escândalo e para outros objecto de troça, contudo, a nossa opção encontra-se cativa a cinco razões e nenhuma delas, assenta sobre qualquer preferência injustificada. Mais alto que a afeição de quem dirige, se ergue a necessidade pedagógica para o rendimento colectivo. Passemos de imediato às explicações.

A nossa primeira razão tem a ver com o andamento tipo destes cães : a marcha, andamento musculador por excelência que oferece resistência e opera a melhoria dos ritmos vitais. Como os pastores alemães são trotadores natos, deslocando-se preferencial e ordinariamente em marcha, cabe-lhes a eles a líderança da classe escolar. É evidente que existem outras raças trotadoras, no entanto, entregar-lhes a liderança, seria mais complicado e menos seguro (huskies por exemplo). Não colocamos um molosso porque o seu andamento é mais baixo e necessita de condicionamento prévio para a instalação da marcha; não convidamos um bracóide por causa do “passo de andadura”; isentamos o vulpino por causa da irregularidade de andamento; dispensamos os lebróides e os bassetóides, por lhes ser contranatural, esse tipo de andamento. Em síntese, a nossa primeira razão, é operacional e assenta sobre um requisito físico.

A segunda razão é histórica, já que o pastor alemão é o primeiro cão de guerra convencional dos tempos modernos, sucedendo aos molossos e alanos da antiguidade que o antecederam. Durante a 1ª e 2ª Guerras Mundiais, muitas raças caninas foram incorporadas nos diferentes exércitos e a sua prestação objecto de avaliação. Seria bom consultar alguns livros sobre esta temática, compreender porque razões foi o Pastor Alemão considerado o mais apto, apesar das críticas iniciais dos franceses e do desastre que foi, entre outros, a opção pelo Maremuzzo. O Dálmata foi o primeiro cão militar dos tempos modernos, foi usado no conflito dos Balcãs, contudo era apenas requisitado como correio, entre a frente de batalha e o quartel general. Os russos, usaram toda a casta de cães, na 2ª Guerra Mundial, tornando-os carregadores de explosivos e suicidas, ( condicionaram os animais a comer debaixo dos tanques, com o fim de operar a destruição das divisões Panzer), facto que contribuiu para o desaparecimento do cão guerra. Os americanos também requisitaram cães de várias raças nesses conflitos, com fins ou objectivos diferentes. Os Rottweilers também foram usados pelo 3º Reich, especialmente os recrutados em Munique, sendo usados, maioritariamente, como guardas de instalações, paióis e prisões (carcereiros). Com a alteração do modo de fazer a guerra e o abandono do cão para esse fim, o Pastor Alemão “transformou-se” em cão polícia, designação que o acompanha até aos nossos dias. A excelência operacional dos CPA, tem levado alguns criadores à criação de raças congéneres, tal é o caso dos pastores holandeses e mais recentemente, o lobo italiano (cruzamento entre o lobo da Sardenha e o CPA). Estas novas raças, excessivamente lupinas e quiçá por causa disso, têm evidenciado alguns fenómenos a que a desconfiança e o medo não são alheios. Os Pastores Belgas Malinois têm grande percentagem de sangue CPA. A terceira razão provem da tradição, devido à sua estrutura morfológica e serviço, o CPA sempre é do 1º grupo de julgamento e não raramente, é o cão introdutório das comuns enciclopédias caninas. Quando assim não acontece, isso deve-se à proto-história canina e aos ancestrais molossos mesopotâmicos. A razão tradicional, para além de ser respeitada no país de origem, é também observada além das suas fronteiras. Por vezes, por factores ligados ao nacionalismo, o CPA é arrancado do seu lugar e ocupa-o um cão de raça autóctone.

O sentimento territorial do CPA é a nossa quarta razão, até há por aí quem diga ser ele estupidamente obediente, coisa que se compreende pelo excelente apego ao dono, factor que contribui favoravelmente para a edificação futura dos binómios. Como seguimos o método de Trumler e aceitamos os cachorros na idade da cópia (4 meses), importa que vá na frente o exemplo a seguir, objectivo difícil de alcançar por outros cães de grupos somáticos diferentes, por razões físicas ou relacionadas com a sua índole.

A necessidade do robustecimento funcional é a quinta razão da nossa opção, especialmente entre as raças menos propensas ao exercício físico e cuja velocidade funcional é inadequada, ( + de 10 segundos aos 100 mts.). Como o melhor exemplo para um cão é outro cão, isto se buscamos respostas tangíveis às naturais e porque os cães são competitivos entre si, os molossos que treinamos, acabam por evidenciar qualidades atípicas ou mais-valias, que há partida, seriam impensáveis ou inacessíveis a cães dessa natureza. Por esta razão, os nossos Rottweilers; Serras; Terras Nova e tantos outros, acabam por evidenciar qualidades muito para além das descritas no seu estalão. É comum vê-los a subir escadas de 5,40 mts. ou a atingir velocidades de 5mts/s. Aqui, a incompatibilidade somática que gera a rivalidade entre as raças não é alheia aos benefícios do trabalho alcançado. É importante não esquecer que o líder e o mestre devem ir na frente e isso é tarefa que o Pastor, desempenha cabalmente.
As razões que assistem à nossa opção são claras, se outros querem inverter a história, a tradição ou denegrir a imagem do CPA, assim como as suas qualidades, saibam que vão em rumo próprio e que no passado outros o fizeram em vão, especialmente os criadores de outras raças, autores de tantas lendas e mitos, cujos cães se quedaram por aí. Desde criança que oiço, ser o Dobermann o cão do Hitler, que eu saiba, o nefasto Adolfo, era proprietário de uma cadela CPA de nome “Blondie”, ao que parece, envenenada propositalmente, na tragédia acontecida no bunker de Berlim. É natural que no futuro, a liderança da classe escolar, seja entregue a outra raça canina, especialmente se os objectivos, forem diversos dos actuais. Como na nossa escola trabalhamos as nove variedades cromáticas do CPA, (preto-afogueado dominante e recessivo; lobeiro dominante e recessivo; branco europeu e americano; cinzento, negro e de manto vermelho), para já não falar nos exemplares de pêlo comprido, como procedemos ao seu escalonamento? Porque nos encontramos sujeitos a um clima temperado marítimo e os verões são quentes; também porque os primeiros reprodutores recomendados da raça foram pretos, formamos da variedade mais escura para a mais clara, respectivamente: preto; preto-afogueado recessivo; preto-afogueado dominante; lobeiro recessivo; lobeiro dominante, cinzento, manto vermelho e branco. Primeiro formam os machos e depois as fêmeas; primeiro os adultos e depois os cachorros. Porque não damos a liderança a uma cadela? Porque é difícil encontrar uma matilha liderada por uma matriarca! Porque formam primeiro os cães adultos? Para que sirvam de exemplo aos cachorros! Este escalonamento sexual e etário é usado também para as restantes raças, que ordinariamente sucedem aos CPA. Quando é que um CPA não é o líder da matilha escolar, (fila-guia)? Nas exposições, exibições e outros certames do mesmo cariz, quando não existirem binómios CPA “A” e exista um binómio “A” , com um cão de outra raça. Porque se exige no exterior, que o fila-guia seja um binómio da classe “A”? Porque ele é o porta-bandeira escolar e o garante do alinhamento requerido. Na escola, quando é que um CPA pode ceder a sua liderança? Quando for necessário ou manifesta a sua incapacidade. Existem mestiços de CPA muito idênticos aos puros, como os escalonamos? Se a proximidade morfológica for por demais evidente, formam junto com os CPA de acordo com os princípios sexual e etário; se morfologicamente não se encaixam, serão remetidos para o final da classe. O escalonamento na Acendura Brava encontra-se assim distribuído: CPA ; Pastores Belgas; Vulpinos; Dobermanns; Rottweilers; Boxers; Bracóides; Molossos; lebróides e Indefinidos. Os bassetóides e os Toys formam classes distintas e não constituem grupo de trabalho com os restantes. O escalonamento das diferentes raças, dentro do mesmo grupo somático, acontece segundo a antiguidade de registo na FCI.

Sábado, 09 de Maio - Recuando na História para fazer o futuro


O trabalho foi desenvolvido junto à Ponte Romana de Cheleiros sobre o Rio Lisandro. Ali recapitulámos o "quieto" à distância e com a ocultação do dono. Os binómios participantes sentiram algumas dificuldades, em particular a Bonna, fonte de destabilização. No entanto, com alguma paciência e persistência, os objectivos propostos foram alcançados. Criaram-se percursos de evasão a partir de um túnel com 20 metros de comprido, com 30 graus de inclinação e em direcção ao Rio. A conduta tinha 60 cm de diâmetro, e nalgumas partes constituía-se em semicírculo. A empatia entre os cães facilitou o trabalho e breve aprenderam a inversão sobre o obstáculo. O objectivo foi o de preparar os cães para a prestação de auxílio, tornando-a mais célere e incondicional.
Com o mesmo objectivo e para aumento do equilíbrio canino, condicionámos os animais a subir e a descer pelos parapeitos da Ponte.
Fizemos ainda a transferência dos muros tácticos para os acidentes naturais, transpondo diferentes planos. Participaram nos trabalhos os seguintes binómios: Joana/Flikke, Sofia/Bonna e Virgílio/Pascoalito.
Da parte da tarde, já com a Princesa e o Pipo, bem como com a Pescadinha e o Teddy, o tempo impediu o trabalho junto ao marco geodésico do Cabeço de Montachique. Perante as dificuldades, optámos por encerrar os trabalhos com uma sessão fotográfica.