quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

UMA EXPERIÊNCIA DO ARCO-DA-VELHA

Apesar da sua aparência rocambolesca, a história que vamos contar-vos aconteceu recentemente, não será caso único e voltará a acontecer, graças à omissão da lógica e ausência de raciocínio, na cegueira do desejo que espera o milagre e que desconsidera os riscos. E sobre milagres, ficamos com as palavras de um mirandês, um iletrado fustigado pelos anos que sempre diz: “milagre é não estar só neste mundo e haver vida para além da morte”. O patriarca de uma família numerosa, carente de espaço para a sua gente, é surpreendido por uma boa notícia: um parente seu põe-lhe à disposição uma quintinha lá para os lados de Sintra, notícia inesperada que muito o alegrou e que veio ao encontro das suas expectativas e desejos. Na dita quintinha vivem lá três cães há muito amatilhados, um labrador negro e dois galgos, todos adultos, que ali continuarão e que recentemente trucidaram um rafeiro incauto, por lhes ter invado o espaço, episódio que tem alimentado a antipatia da vizinhança. O líder daquele trio é o labrador e os galgos sempre aguardam o seu mote, escalonamento que lhe garante a unidade, tornando-o coeso para o que der e vier.
O patriarca da nossa história tem também dois labradores, um dourado e outro chocolate, irmãos de ninhada, também eles amatilhados entre si e já sexualmente maduros, que foram criados no apartamento com a família. A dominância do dourado sobre o chocolate é por demais evidente, tão evidente que o segundo é deveras submisso, isento de iniciativa e sombra do irmão, acusando de sobremaneira a sua ausência e escudando-se nele nos passeios ao exterior, sendo incapaz de se defender. Apostado na sociabilização dos seus cães com o trio residente na quinta, com quem irão dividir o mesmo espaço, e sabendo que o dourado é mais activo e belicoso, o homem decidiu apresentar, sem mais nem menos, o seu labrador chocolate aos cães ali acantonados, na esperança que se todos se dessem bem, já que o seu cachorro não era uma ameaça aos olhos de ninguém.
Mal a “experiência” teve início, o labrador da quinta caiu ferozmente sobre o cachorro, no que foi secundado pelos galgos. E não fosse a pronta acção do dono, que o tirou daquele imbróglio, o pobre cachorro chocolate teria ficado em fanicos! Seria de esperar outro desfecho? Obviamente que não, considerando a matilha animal constituída e o seu histórico anterior. O consentimento doutros cães dentro duma matilha animal já constituída não é automático nem gratuito, particularmente entre cães adultos, já que esse agrupamento social se estabeleceu pela ausência de liderança humana e foi escalonado, em sua substituição, a partir do cão do cão mais forte, que sobre os outros exerce o seu domínio. Nem mesmo os cães hierarquicamente abaixo dele verão com bons olhos o aumento da matilha, entendendo os recém-chegados como intrusos, concorrentes e capazes de operar a sua despromoção social, sendo por vezes os primeiros a agredi-los como garante do seu status, perante a indiferença ou aceitação dos mais novos pelo dominante.
Nestes casos há que fragmentar a matilha, instituir a liderança humana e tratar cada cão individualmente, colocando todos, a seu tempo, debaixo da nova ordem, familiarizando cada um deles com os cães novos, de preferência com os beligerantes atrelados, o que dará maior confiança e protecção ao recém-chegados e impedirá os instalados de os amedrontarem ou escorraçarem, porque a sociabilização sem a prévia familiarização tende a estabelecer-se a partir do lei do mais forte e a perpetuar-se pelo medo, o que irá obstar ao bem-estar e desenvolvimento dos cães mais fracos, carenciados de recuperação. Não tendo o dono perfil ou disponibilidade para a tarefa, o melhor que tem a fazer é separá-los e alojar cada um deles num canil individual e gradualmente ir operando a necessária familiarização debaixo de supervisão, soltando e juntando os dois cães novos, alternadamente, com cada um dos residentes, porque o maior número dos recém-chegados irá obrigá-los a um novo tipo de postura, porque sem o apoio do grupo inicial, sentir-se-ão vulneráveis e alcançarão outro tipo de relacionamento e convivência. Quando os cães se encontram separados em canis no mesmo local, a liderança humana é facilitada e a familiarização dos animais torna-se mais fácil, porque precisam de ser soltos e dormem lado a lado. O êxito sempre resultará da transição da autonomia desregrada para a condicionada, trabalho que exigirá dos donos atenção, paciência, estudo, autoridade e reparo.

UM HERÓI SÓ COM 3 PATAS

Numa tarde fria de Domingo, num lugar inóspito mas nem por isso menos concorrido, deparámo-nos com um mestiço de Serra de Aires, activo, brincalhão e bem disposto, que nasceu sem uma pata traseira, contratempo que não o impedia de correr e saltar por toda a parte, apesar de sobrecarregar o outro flanco. Em vão tentaram os donos colocar-lhe uma prótese, porque sentindo-se incomodado, depressa a arrancava. A diferença de massa muscular das coxas era por demais evidente, porque apenas usava o coto quando se encontrava parado, recolhendo o membro amputado tanto a passo como a galope. Metemos conversa com os donos e sentimo-los preocupados com a saúde do animal, já que temiam que a deficiência levasse à alteração do esqueleto e viesse, por via da sobrecarga, a produzir displasia. Neste casos e dizemos isto pela experiência, a maneira mais profícua e menos dolorosa para vencer a atrofia muscular, é o exercício da natação, porque não causa impacto e a ausência da pata não impedirá o movimento que induz ao desenvolvimento da coxa. É evidente que o cão irá precisar de estímulo e ajuda para aprender a nadar e que só o deverá fazer quando a temperatura da água se encontrar acima dos 15º célsius, porque doutro modo, mais agravaria a sua saúde articular. E como são raríssimas as piscinas caninas de água aquecida em Portugal, os seus donos terão que esperar pela generosidade dos dias da Primavera e do Verão.
A hidroterapia canina, que também se presta à resolução de problemas neurológicos e comportamentais, encontra-se pouco divulgada em Portugal, por ausência de responsáveis, técnicos e meios, não obstante produzirmos veterinários em bardo e sermos dos países europeus com mais cães de companhia. Oxalá alguns jovens clínicos se lembrem dela, porque dos adestradores já pouco se espera, uma vez que há muito varreram as piscinas das suas pistas e centros de treino. Há que inovar e trabalhar pela recuperação dos cães, fazer constar a hidroterapia da fisioterapia veterinária, à qual pertence apesar de esquecida.

ELES VIVEM, LUTAM E MORREM AO NOSSO LADO

Durante anos montei a cavalo por devoção, obrigação, prazer e desporto, emocionando-me ainda hoje quando vejo uma prova de hipismo ou sinto o cheiro dum cavalo por perto. Mas o pobre do solípede vai para onde o levam, ignora para onde vai, porque foi previamente dominado e age segundo o esperado, de acordo com a preparação que recebeu, muito embora conheça o calção que o monta, tenha ginete e tente por vezes impor a sua vontade. Ainda hoje me dedico aos cães e não me sinto arrependido, porque não param de me surpreender pela sua lealdade, cumplicidade e abnegação, entendendo os donos como o melhor dos seus bens e tudo fazendo pela sua protecção, mesmo arriscando a própria vida. O cão da foto acima é exemplo disso e ficou famoso como cão de motim, ao tomar como suas as reivindicações daqueles manifestantes, sujeitando-se a umas quantas bastonadas e à intoxicação por gases.
O caso passou-se na Grécia em 2008 e as fotos do “Kanellos” (Canela em português) correram mundo, por ser pouco comum ver um cão de rua em tais assados. Por ter tomado parte nas lutas estudantis, ao chegar a velho e ser acossado de artrite, ganhou uma cadeira de rodas e morreu dentro de casa, rodeado dos estudantes com quem marchou lado a lado. É verdade: os cães vivem, lutam e morrem ao nosso lado, mesmo aqueles que foram maltratados e posteriormente resgatados do abandono, porque são gratos por muito pouco, ignoram o politicamente correcto e não se prendem a conveniências.
PS: o cão da 2ª foto é o Loukanikos, tratado carinhosamente por “Louk”, que se crê ser filho do Kanellos, vindo a rendê-lo nas manifestações de 2010.

RAIADOS, LOBEIROS E DE PELO CURTO

Hoje vamos falar do Cão da Serra da Estrela, uma das raças nacionais que continua a ser desaproveitada, o que a leva ser preterida por outras de raça estrangeira com créditos firmados na multivariedade das prestações caninas. Grande e pesada demais para viver dentro de apartamentos, o que a torna um pet excepcional, os exemplares desta raça irão ser recambiados para moradias ao redor dos grandes burgos, quintas, picadeiros, unidades pecuárias e fabris, estaleiros de obras, stands de automóveis, quintas pedagógicas, montes no Alentejo e até para a aldeia idílica que nos viu nascer, não tanto pelo bem-estar dos animais mas porque são tidos como exímios guardiões, como se a presença ostensiva bastasse e o alarme fosse a essência do ofício guardião, na tradicional confusão entre cão de vigia e cão de guarda. Se o panorama não se alterar e raça não chegar a outras mãos, uma vez consideradas as inaptidões para guarda da esmagadora maioria dos Serra da Estrela e se ainda por cima nos tirarem o Fila de S. Miguel, ficaremos irremediavelmente descamisados no que à protecção canina diz respeito.
Os cães portugueses, intrinsecamente ligados à economia de subsistência e aos seus afazeres, na sua maioria primitivos e rústicos, não foram objecto de selecção aturada, da verificada nos restantes países europeus e acontecida nos alvores do Sec. XX, sendo seleccionados por força dos seus instintos e alcançando estalões 30 e tal anos mais tarde, o que lhes legou um carácter independente e uma parceria condicionada às suas tendências ancestrais, porque o analfabetismo grassava entre o povo e as obras de Darwin e Galton eram pouco conhecidas, mesmo entre aqueles de quem se reclamaria alguma erudição. Por causa destas condicionantes económicas e culturais, nunca criámos uma raça canina tipo pet, anteriormente designados “por cães de luxo”, muito embora tanto o Cão de Água como o Serra de Aires a isso se prestem e muito bem, porque são raças aqui mais recentes e díspares das restantes. As raças caninas lusas, enquanto legado popular, foram e continuam a ser essencialmente pastoras e caçadoras, próprias para o trabalho que as reclamou e pouco versáteis, distantes das especialidades clássicas do adestramento, tiradas de cães diversos e apostadas no particular das suas mais-valias, visando o seu aprimoramento para fins específicos, mais tangentes às necessidades contemporâneas.
Considerando o tamanho e a envergadura do Cão da Serra da Estrela, facilmente se conclui que pouco se enquadra na categoria clássica de “pet” e que não seja prático viver com ele dentro de casa, porque se torna dispendioso e ocupa muito espaço, o que o afasta de imediato das condições e posses da maioria dos cidadãos apaixonados por cães. Como dificilmente a raça sobreviverá pelo retorno à pastorícia, terão que ser encontradas outras utilidades ao alcance desde cão, para que não se torne obsoleto e desapareça, consiga competir com outros, ver reconhecidos os seus méritos, proliferar e ser reclamado, porque quem não se adapta, perde o direito à sobrevivência.
Na mudança de mão dos pastores para os canicultores, o cão sofreu profundas alterações por via doutras preferências, talvez para apresentar trabalhar e justificar diferenças, contrariamente ao parecer dos pastores, generalizou-se um subtipo: o de pêlo comprido, maioritariamente vermelho, mais sorumbático, pesado e lento, menos participativo, ágil e activo, por quem as ovelhas teriam de esperar, caso retornasse à Serra e os lobos por lá andassem. E como ninguém pode servir a dois senhores, a opção pelos cães de pêlo comprido, até ali minoritários, implicou no desprezo dos cães de pêlo curto, tradicionalmente maioritários pela sua funcionalidade, o que quase os levou à extinção, mercê da estética que desconsiderou o trabalho, num repasto de omoletes sem ovos.
No início da década de 90 do século passado, num acesso de patriotismo cardíaco, optámos por criar e experimentar quase todas as raças nacionais (só não abraçámos o Perdigueiro), tornando-os criadores de Serras da Estrela e de Filas de S. Miguel, no intuito de descobrirmos e evidenciarmos as suas mais-valias no treino clássico, na tripla apreciação de obediência, guarda e pistagem. Os Filas de S. Miguel, oxalá ninguém os estrague e parece que estão em vias disso, na procura do cão de fila mais pequeno do mundo, conseguiram desempenhos iguais e nalguns casos superiores aos mais afamados cães de raça germânica, graças à sua prontidão, valentia e extrema dedicação aos donos. Já os Serra, e não experimentámos assim tão poucos, ficaram aquém dos nossos desejos e expectativas, mostrando-se fáceis na obediência estática e resistentes na dinâmica, sendo fácil travá-los e difícil embalá-los, denotando pouco interesse e indisponibilidade, nomeadamente na transposição de obstáculos simples e alcançáveis pela sua biomecânica.
Depois de experimentarmos amiúde uns e outros, confirmámos a superioridade dos exemplares de pêlo curto em relação aos de pêlo comprido, superioridade visível na resistência às intempéries e diante de diferentes amplitudes térmicas, na transição dos diversos andamentos naturais, maior vigor e disponibilidade, numa cumplicidade mais activa e na menor resistência ao trabalho. E entre estes, os que mais se destacaram foram os raiados e os lobeiros, também os cor de marfim, já que os de cor sólida e de tonalidade mais escura acusavam o cansaço e a saturação mais cedo. Esses exemplares de pêlo curto, agora mais procurados, quiçá pelo menor préstimo dos de pêlo comprido, que detestam ser importunados e que com a idade fazem prevalecer a sua vontade, conseguiam disputar mano-a-mano os objectivos propostos aos Rottweilers, sendo-lhes superiores no faro e nadando com mais facilidade, apesar de ambos necessitarem de serem nisso capacitados, porque tendem a nadar só de mãos e a circular em parafuso, atingindo a exaustão com facilidade, o que lhes pode fatal, caso não sejam socorridos.
Assim como a tendência do Fila de S. Miguel é de morder em baixo, muito embora aprenda com facilidade outro tipo de ataques, o que tem apanhado muitos de surpresa, o Serra tende a atacar em cima, à linha do pescoço e pela retaguarda, transitando gradualmente para os ataques frontais à medida que ganha confiança. Um Serra, devidamente habilitado, pode ser um excelente cão de salvamento e de resgate, porque dificilmente confunde o “ronda” com o “busca”, tornar-se num cão de terapia e num guardião eficaz e silencioso. Manifestámos aqui a nossa experiência para auxiliar os criadores mais jovens, para que ousem criar Serras de pêlo curto, seleccionando-os para os desafios do presente, porque a raça tem potencial e precisa de gente mais ambiciosa e fundamentada, daquela que não se fica pela história e que faz o futuro, apelando-lhes para que não desprezem o conhecimento erudito e que considerem como primordial na escolha dos seus reprodutores um superior impulso ao conhecimento e maior destreza física. Para nós, falar de Serras da Estrela, é falar de pêlo curto, raiados e lobeiros, sem excluir nenhum dos outros, pois importa corrigir os erros operados depois da década de 40, responsáveis pela menor funcionalidade do Cão da Serra da Estrela e que não afectaram só esta raça, apanhar o fio à meada e religar os cães do presente aos originais. Como o gosto estético se altera com o tempo, que se vão os anéis mas que fiquem os dedos: precisamos de cães de trabalho, úteis para quem deles precisa.

QUEM NÃO TEME, SALTA E ENCHE A BOCA!

Perto dos 40kg, com 65cm de altura, robusta, decidida e com cabeça de cão, a fazer 12 meses na passagem de ano, a Dharma, a Pastora Alemã vermelha do Luís Matos, mostra que quem não teme, salta e enche a boca. Nova nestas andanças, esta foi a sua 2ª prestação nas induções ofensivas, sendo nisso ajudada pelo Radar, pelo Giga e pela Brownie - Brownie que não perde pitada quando é chegada a hora de arrear, apesar de ser calma, simpática e extremamente obediente, qualidades que a Dharma também evidencia apesar de ser mais nova e maior. A capacidade de aprendizagem da cadela vermelha a todos espanta, como espanta o apego que tem pelo dono e o fel que despoleta quando é preciso, qualidades que têm deixado o seu proprietário boquiaberto. Alegra-nos vê-la trabalhar e somos dominados por um sentimento de dever cumprido, também porque revemos nela velhas glórias da nossa criação, cães que já cá não estão mas que assim continuam vivos. Resta-nos agradecer ao Matos o cuidado que tem tido com ela, desejando para ambos progresso, superior entendimento, novos empreendimentos e longa vida. 

YOU ARE NOT ALONE, NOW IT’S YOUR TURN!

A Joana voltou e com ela o Radar, ainda que por pouco tempo, o que nos deixa tristes mas ao mesmo tempo alegres, porque enfrenta a vida de caras, constrói carreira e não se detém diante dos obstáculos que lhe vão surgindo. Ao vir de Inglaterra, muitos lhe perguntaram por chacota, se o Radar já falava inglês, ao que sempre respondeu: “ já entende good boy!”. O dito “Good Boy”, que instruímos durante 3 anos e que nos trouxe a Joana, diga-se em boa hora, apesar de alcunhada por nós de “Boa Morte”, serviu de exemplo à Dharma nas induções ofensivas, mostrando-se alegre e resoluto, exemplificando para a cadela como fazer, diante das cobaias Jorge e o Márcio, o que justifica o título em inglês deste artigo. O bem-estar do Radar não pode ser separado do João Carreiras, cara-metade da sua dona, que nestas ocasiões acaba entalado e de fato de ataque vestido (bem que mereceria ter um cão próprio, caso a vida o permitisse). Apesar das saudades do Radar, a Joana refreou-lhe os ímpetos, porque nas terras dos “Good Boys” a lei é pesada e todo o cuidado é pouco. Não obstante, o “Radarenko” induziu a cadela vermelha de modo eficaz, servindo-lhe de estímulo e incentivo, numa tarde de nortada com gélidos ventos continentais. Apesar da Joana ainda por cá se encontrar, já andamos a questioná-la acerca da sua próxima vinda a Portugal, porque a sentimos nossa e acusamos a sua falta, coisas de portugueses: saudade!

QUAL SERÁ O MOTIVO (X)?

Um Labrador de sete anos, pouco dado a brincadeiras e por isso mesmo atípico, acostumado a estar em casa todo o dia, onde nunca fez estragos, tem por hábito, de manhã e ao cair da noite, agarrar numa bola e dirigir-se para junto dos donos, religiosamente nos mesmos horários. Porque procederá assim? Hipótese A: Vai buscar a bola para que os donos brinquem com ele. Hipótese B: Transporta a bola para chamar à atenção dos donos, para o levem à rua. Hipótese C: Transporta a bola porque não tem mais brinquedos. Hipótese D: Transporta a bola porque teme que os donos a roubem. Hipótese E: Transporta a bola para que os donos não a pisem e venham a tropeçar nela. Para a semana, como é nosso hábito, adiantaremos a resposta certa.

SOLUÇÃO DA SEMANA ANTERIOR

A resposta certa ao caso da semana passada (QUAL SERÁ O MOTIVO (IX)?) é a Hipótese A: Ao facto do cachorro não se encontrar sociabilizado, estar acostumado a dominar e querer afirmar a sua dominância. Não há indícios no texto da violência do dono mas sim da sua passividade, uma vez que consentia que os cães o rebocassem e permitiu que se hierarquizassem, o que torna falsa a “hipótese B”. O cão não reagiu defensivamente mas de modo ofensivo, caso contrário, ter-se-ia virado de barriga para cima ou agachado perante a aproximação do outro. Assim, a “hipótese C” não deverá ser considerada. Como o texto não adianta qualquer comportamento agressivo por parte do cão estranho, a “hipótese D” é especulativa e deverá ser descartada. Dificilmente o Labrador beligerante consideraria um jardim público como seu, porque sempre se cruzará com outros cães e a sua tendência é mais exploratória do que territorial.

RANKING SEMANAL DOS TEXTOS MAIS LIDOS

O Ranking Semanal dos textos mais lidos ficou assim ordenado:
1º _ 聖域靖国: MONUMENTO AO CÃO DE GUERRA, editado em 27/12/2014
2º _ PASTOR ALEMÃO X MALINOIS: VANTAGENS E DESVANTAGENS, editado 15/06/2011
3º _ O CÃO JOVEM (DOS 7 AOS 18 MESES): DA PUBERDADE À MAIORIDADE, editado em 26/10/2009
4º _ CACHORROS GIGANTES E MUITO ANGULADOS NO 1º CICLO ESCOLAR, editado em 09/11/2012
5º _ CPA: O BENEFICIAMENTO DO NEGRO COM O LOBEIRO, editado em 06/12/2013

TOP 10 SEMANAL DE LEITORES POR PAÍS

O TOP 10 semanal de leitores por país ficou assim escalonado:
1ºPortugal, 2º Brasil, 3º Estados Unidos, 4º França, 5º Espanha, 6º Ucrânia, 7º Rússia, 8º Alemanha, 9º China e 10º Angola.

sábado, 27 de dezembro de 2014

A “FBP” (m/948) E O MALINOIS

Se entendermos os cães como armas, então o Malinois será uma “FBP m/948”, o Rottweiler uma “Mauser m/937” e o Pastor Alemão uma “G3 m/63”, considerando a segurança, o tipo e a eficácia dos seus ataques. A “FBP” é uma arma de fabrico nacional, obra do então Major de Artilharia Gonçalves Cardoso, que a elaborou na década de 40 do século passado. A sua patente acabou por ser mal vendida aos americanos, onde veio a ganhar o nome de “Lusa”. Trata-se de uma pistola-metralhadora, de calibre 9mm Parabellum, com um alcance eficaz de 100m, com um alcance útil de 25 a 50m, com um comprimento 805mm, de 4.020kg com o carregador municiado, com munição 9X19 Parabellum a 8g, com uma velocidade de saída do projéctil de 360m/s, alimentada por um carregador metálico unifilar de 32 munições, cuja segurança acontece por imobilização da culatra e que a partir do modelo m/963, juntou ao tiro automático o semi-automático, funcionando por inércia da culatra, na posição aberta, com uma cadência de tiro de 500 tpm, cujo fabrico inicial remonta a 1961, na Fábrica de Braço de Prata, donde lhe adveio a sigla “FBP”. No modelo seguinte (m/976), desenvolvido em 1976, a adição de uma manga de refrigeração, acidentalmente, veio a melhorar a sua precisão.
De qualquer modo, esta arma nunca foi fiável, devido à posição de soltura da mola do carregador, que diante da aflição e embaraço do atirador ao empunhá-la, poderia soltar-se, inviabilizando assim qualquer disparo. E como se isto não bastasse, o seu sistema de segurança não era famoso, porque caso caísse ou batesse no chão com mais força, podia disparar-se acidentalmente. Por tudo isto, foi considerada obsoleta, apesar de destinada às tropas de combate portuguesas na Guerra Colonial, que pouco a utilizaram em termos operacionais. É grande a analogia entre a velha “FBP” e o Malinois, porque este cão confunde alvos e dispara quando menos se espera, ensurdece-se perante as ordens, tarda na cessação das acções e não escolhe inimigos, desgastando-se inutilmente e denunciando a sua posição antes das perseguições ou capturas (a “FBP” original desperdiçava munição), invalidando o efeito surpresa e sujeitando-se aos contra-ataques, embalado que vai pelo impulso à luta e pelo instinto de presa, predicados que em demasia, irão impedir os ataques cirúrgicos. Apesar de não lhe faltar fixação, falta-lhe a concentração que possibilita o estudo pormenorizado da presa e a sua posterior neutralização. O desfasamento entre os impulsos ao movimento e ao conhecimento é deveras acentuado, o que o induz a ataques instintivos sobre o que mexe e não sobre o que é passível de lhe causar dano.
A demora no retorno, pela cegueira na captura, vulnerabiliza os seus condutores pela ausência de pronto auxílio, o que poderá ser resolvido pela mecanicidade das acções, destes que estas não obstem à tenacidade pretendida, uma vez que o Malinois acusa de sobremaneira a sobrecarga e não dispensa uma dose maciça de ânimo. Tal qual a “FBP”, este cão belga é uma arma ligeira, como tal de tiro tenso, que junta ao pronto disparo um travamento periclitante. Naturalmente ansioso e excitado, desnecessita de ordem e provocação para o despoletar das suas acções, dispensando os seus condutores de maior empenho no treino das induções defensivas e ofensivas, o que o torna desejável para qualquer um, ainda que instável e por isso mesmo problemático, vantagens e impropriedades ligadas à sua morfologia e peso. Será que também precisa de uma manga de refrigeração para ser mais certeiro ou necessitará de outras mãos para o controlar? Pô-lo a morder é fácil, difícil é segurá-lo. O que é certo é que os Malinois acima dos 30kg já emprestam à sua prestação maior segurança, apesar de raros e atípicos segundo os critérios actuais. Voltaremos a este assunto oportunamente, aquando duma edição dedicada aos cães de guerra e policiais, onde compararemos os mais usados e aquilataremos das vantagens e desvantagens duns e doutros.

BALI NÃO É SÓ PAISAGEM, TAMBÉM TEM O KINTAMANI!

A Ilha de Bali é um destino turístico de eleição, daqueles que quem pode, não desperdiça. Território e Província da Indonésia, é uma das suas 13.667 ilhas e o último bastião hindu naquelas paragens. Parte integrante das Pequenas Ilhas de Sonda, faz parte dum arquipélago com 547 ilhas. Situa-se entre as Ilhas de Java e Lombok, a sua capital é Dempassar e é o maior destino turístico da República Indonésia. Para além das paisagens e praias paradisíacas, da riqueza e carácter único da sua cultura, da afabilidade das suas gentes, dos seus templos, danças e pinturas, que fascinam, Bali também tem um cão autóctone, a aguardar o reconhecimento da FCI: o Kintamani, muito pelo esforço da equipa comandada pelo Sr. Hartaningsih.
A Eurásia, a Ásia, o Sudoeste Asiático e a Oceânia, são fartas em cães primitivos, em pequenos lobos familiares, tipo pária e semi-selvagens, que nalguns casos supriram e continuam a suprir as necessidades de proteína animal das populações, ainda que no passado tenham desempenhado outro tipo de parceria pela domesticação operada, sobressaindo os molossos de montanha e um largo número de variedades de spitz, homogeneidade alcançada mais tarde, pela mistura dos cães nativos com outros que acompanharam as sucessivas migrações humanas, tanto de cariz político como religioso, como foi o caso do Império Mongol, das viagens marítimas chinesas e da expansão do budismo e do islamismo, que no seu todo fizeram proliferar do médio-oriente à Oceânia cães muito idênticos, dos pontos de vista morfológico, psicológico e social. Neste grupo podemos inserir o Kintamani, ainda que menos sujeito a influências exteriores e por isso mesmo totalmente arredado do contributo das actuais raças europeias, embrionárias ou modernas. Uma vez padronizado, o Kintamani, considerando as suas características atávicas, saúde e performances atléticas, tanto poderá contribuir para a formação de novas raças como para o melhoramento das actuais, dependendo isso da utilidade canina procurada.
Como já se disse atrás, o Kintamani é um cão tipo spitz, natural da Ilha de Bali e da Cidade de que lhe deu o nome, que pode ser também encontrado em Sukawana. Ganha crédito a possibilidade de descender do Chow-Chow, que há 600 anos atrás foi introduzido na Ilha por chineses, como a tradição oral sempre disse e agora comprovada por exames genéticos recentes, deitando por terra a hipótese de ter resultado da mistura “lobo-raposa-cão”, alvitrada por alguns. Apesar de ter sempre convivido com os restantes cães semi-selvagens (cães de rua) e de terem uma origem comum, as diferenças morfológicas entre ambos são por demais evidentes, sendo aparentado com o Dingo e com outras raças asiáticas, o que lhe garante a origem nos cães selvagens de Bali e não dos provenientes da eurásia. As fêmeas ainda conservam o hábito de cavarem e parirem num covil, marca indubitável do seu atavismo e ancestralidade. Há quem diga, por analogia, que o Kintamani lembra a mistura entre um Malamute e um Samoiedo.
Estamos na presença de um cão médio, de orelhas erectas, olhos amendoados e castanhos, testa larga, de eixos craniofaciais superiores paralelos, com 50% de crânio e focinho, rectangular, de dorso paralelo ao solo (nalguns casos com a garupa ligeiramente mais alta do que a cernelha), de peito pouco profundo, recto ou pouco angulado de angulações traseiras, de cauda dobrada a partir da linha média, de fácil transição para o galope e de pele negra, de pêlo longo e ainda mais comprido e intenso do pescoço para o peito. A cor preferida é o branco, com um tom mais avermelhado na parte superior do revestimento e com orelhas cor de damasco, apesar de subsistirem exemplares unicolores brancos, pretos e beges, e bicolores castanho e branco, dourado e preto e preto e branco, estes últimos mais próximos dos cães de rua presentes em Bali. A altura dos machos vai dos 45 para 55cm e a das fêmeas dos 40 para os 50cm.
Segundo as informações que nos chegam, provenientes dos seus criadores e de quem o conhece, o Kintamani é um cão muito independente, territorial, agressivo dentro do seu espaço, inteligente, resistente e suave, leal e amigo do dono, com um raro sentido de alerta, sendo muito procurado como animal de estimação, passando a vida empoleirado em muros e telhados, graças à ligeireza de pés e a uma agilidade acima da média. Diante desta descrição, porque escrever apaixonadamente sobre cães é fazê-lo por amor à verdade, podemos concluir que é mais um cão de alarme do que um típico cão de guarda, um cão mais para ser apreciado do que para ser usado, que devidamente acompanhado nos seus ciclos infantis, poderá ser usado na detecção de explosivos e de estupefacientes, como cão de show e de agility. A tremenda independência que patenteia, comum à maioria dos spitzs, irá obrigar a um treino afectuoso e persistente, melhor conseguido a partir dos brinquedos e por uma liderança mais suave ou dissimulada, pois quem já se dedicou ao treino de cães primitivos e viveu a seu lado, sabe que a inteligência humana tem que se sobrepor à sua astúcia, para que imposição não inviabilize a parceria desejada. À parte disto, porque lhes é contranatura, quando verdadeiramente condicionados, saturam-se e alcançam a senilidade mais cedo, ainda que fisicamente não denotem qualquer fragilidade.
Há que louvar e incentivar o esforço dos balineses pela selecção, divulgação e exaltação do Kintamani, caso único na Indonésia e que só dignifica quem abraçou essa aposta. Para nós, que nos dedicamos ao trabalho, ele não é um produto acabado, mas poderá ser, como atrás já o dissemos, um melhorador de raças fustigadas por impropriedades de vária ordem. Elevar o Kintamani é salvá-lo da extinção e dotar a cinotecnia intercontinental de uma raça pouco vista, que melhor ajudará à compreensão do lobo familiar como um todo. Para nós há uma raça oriental incontornável: o Chow-Chow, um melhorador de raças por excelência, que transmite resistência, carácter e maior impulso ao conhecimento, quando combinado com a maioria dos lupinos, independentemente de serem primitivos e sem fim à vista ou objecto de selecção continuada com objectivos específicos.

DO TAMANHO DUM BURRO E COM RUGIDO DE LEÃO

Segundo reza a história, foi mais ou menos nestes termos que Marco Polo descreveu o Mastim do Tibete, um cão gigantesco, de pêlo duplo e longo, de grande ossatura, rectangular, de dorso nivelado ao solo e pé-de-gato, com uma cabeça grande, pesada, quadrada e ligeiramente enrugada, com o pescoço em arco e com barbela, orelhas pingentes em “V”, enrolando a cauda sobre o dorso. Poderoso e pesado, combina a força com a agilidade. Quando a passo é pachorrento e a trote é célere e energético. As cores do seu manto podem ser uniformes ou bicolores, nas variantes preto, castanho e azul acinzentado, com ou sem manchas castanhas e com vários tons de dourado uniforme. O subpêlo é denso no Inverno e rarefaz-se nas estações quentes, sendo próprio para climas de temperaturas negativas ou para ecossistemas quentes e secos. Adaptado para grandes amplitudes térmicas, irá sofrer nos ecossistemas tropicais, subtropicais e temperados marítimos. A sua altura oscila entre os 61 e os 71cm e o seu peso entre os 64 e os 78kg (excepcionalmente poderá chegar aos 100kg). A raça compreende duas variedades: o Tsang-Khyi (tido como cão de mosteiro) e o Do-Khyi (cão dos nómadas), sendo que o primeiro tem maior ossatura e é mais enrugado e o segundo é mais enxuto e menos peludo. As duas variedades podem fazer-se presentes numa mesma ninhada.
Originário da cordilheira dos Himalaias, onde durante séculos viveu isolado, consta-se que a partir de 1100 AC e que estará na origem de todos os molossos, inclusive do nosso Serra da Estrela, só a partir do Sec.XIX galgou fronteiras, sendo recolhido no Afeganistão, na Índia, no Ladakh e no Nepal. De acordo com os registos arqueológicos encontrados na China, crê-se que as incursões de Genghis Khan e Átila contribuíram para a sua proliferação na Ásia Central. Ainda que os povos nómadas o tenham transportado para outras latitudes, ele continuou a sobreviver em pequenas bolsas ao redor do Tibete, devido às barreiras naturais entre os vales e as montanhas, onde foram originalmente utilizados como cães de guarda, sendo presos desde muito novos para aumentar a sua agressividade. Presos durante o dia, eram soltos à noite e diz-se que um simples cão bastava para guardar uma aldeia. Quando os homens saíam para guiar os rebanhos a novos pastos, estes cães eram deixados em casa para guardarem as suas famílias e propriedades. Para além de usados como cães de guarda, os cães tibetanos foram também solicitados como pastores de gado bovino. Hoje encontram-se em vias de extinção no seu habitat natural.
Em meados de 1800, mercê de um exemplar que foi dado à Rainha Victória de Inglaterra, a raça saiu do isolamento e do anonimato. Após tal doação, outros cães foram importados, cabendo aos britânicos o primeiro rascunho do seu estalão, ganhando popularidade no Reino Unido e nos Estados Unidos. Em 1874, a raça ganhou um novo incremento, quando o Príncipe de Gales (futuro Eduardo VII) importou dois exemplares e os exibiu. Não obstante, a Associação Inglesa para as Raças Tibetanas só aconteceu em 1931, altura em que formulou um padrão para a raça. Quando Mao Tsé-Tung, a pretexto de libertar o Tibete do colonialismo inglês, invadiu aquele país (1950-1951), poucos Mastins do Tibete ali permaneceram, sobrando somente os que se encontravam isolados nas montanhas e aqueles que foram evacuados pelas fronteiras. Na década de 70 do século passado foram trazidos, da Índia e do Nepal para os Estados Unidos, vários exemplares, no intuito de ali fomentarem um programa de reprodução, base genética diversificada em características e tamanho. A Associação do Mastim Tibetano Norte-Americana foi formada em 1974, lavrando um registo oficial da raça. Em 2005, o AKC (American Kennel Club) colocou o Mastim Tibetano na categoria de diversos e em 2006 reconheceu-o finalmente como raça distinta. Na Europa e na América, este cão guardião transformou-se em animal de companhia (pet). A raça já se encontra reconhecida pela FCI.
O Mastim Tibetano é um cão corajoso, destemido, bem-humorado, calmo, “pensativo”, fiel, com vontade própria, raro sentido de alerta, territorial, independente e protector, que não se apaixona por estranhos e que exige um líder capaz e experiente, porque é naturalmente teimoso e com forte impulso ao poder. Quando encarregue de manadas e rebanhos, é um excelente guardião, não dando descanso a qualquer tipo de predador, independentemente do seu tamanho ou poder dissuasor (já o viram lutar contra leopardos). Naturalmente afável com as crianças, exige, segundo os seus criadores, ser sociabilizado cedo com pessoas e animais, porque só considera membros do seu grupo a família que o adoptou e desconfia da presença de estranhos no seu território, podendo tratá-los como intrusos e agredi-los violentamente. É mais activo durante a noite e tende a ladrar quando algo de estranho acontece. Dentro de casa é calmo, muito embora na fase de crescimento seja a mais destruidora das raças caninas. No entanto, porque gosta de se sentir aprovado, havendo regras, bem cedo as respeitará e assimilará. Pode viver dentro de um apartamento, porque chegado à fase adulta é por demais calmo.
Como estamos na presença de um cão serôdio, que se faz mais tarde e de crescimento prolongado, considerando o bom funcionamento dos músculos e articulações, também para não sobrecarregar o seu esqueleto, o Mastim do Tibete, mal termine o seu calendário de vacinação, deverá ser convidado unicamente para exercícios aeróbios, sobressaindo deles a caminhada diária, cuidado que deverá ser observado até aos 18 meses e nalguns casos até aos 24. Só depois dos 2 anos de idade e gradualmente, poderá ser convidado para exercícios anaeróbios de acordo com a especificidade do seu trabalho. Para além dos benefícios relativos à saúde, a caminhada diária tende a vencer a indolência e a teimosia que induzem à revolta. Sair com o cão desde os 4 meses, vai ao encontro das suas necessidades exploradoras e migratórias, o que combate eficazmente o stress propiciado pelo confinamento e diminui substancialmente os estragos causados pelo enclausuramento. Assim, andar ao lado do dono torna-se imprescindível para o seu bem-estar. Da nossa experiência com molossos sabemos quão importante é que façam o “junto” alinhados e não atrasados, especialmente depois da maturidade sexual e diante de animais dominantes, que geralmente se atrasam para atacarem os donos por trás, exactamente como procederiam diante de lobos e doutros predadores (ataques ao flanco).
As doenças mais comuns no Mastim do Tibete são: atrofia da retina, entrópio, otites, hipertireoidismo, problemas de pele, más formações ósseas e displasia da anca, maleitas resultantes do seu focinho enrugado e do seu excepcional tamanho e peso. Os criadores actuais têm despistado estas impropriedades e levado de vencida a maioria delas. O Mastim do Tibete tem uma esperança média de vida que pode ultrapassar os 15 anos, as fêmeas só têm um cio anual e as suas ninhadas vão de 5 a 12 cachorros. Troca o pêlo uma vez ao ano, geralmente com a chegada do calor, quando as temperaturas ultrapassam os 23 graus centígrados ou na passagem da Primavera para o Verão, alturas em que o escovar diário se torna mais do que necessário. Dizem os entendidos que o Mastim do Tibete é o cão ideal para quem sofre de alergias. Este cão é uma lenda viva, um cão do “tecto do Mundo” que nos faz dar voltas á cabeça, por ser único e manifestar excepcionais qualidades guardiãs. Ultimamente alguns exemplares têm sido adquiridos por quantias astronómicas.

WHITE HOUSE: IN DOGS WE TRUST!

Invadir a Casa Branca parece que virou moda em Washington, especialmente este ano, porque já sofreu sete invasões, o que não deixa de ser algo estranho e pouco usual. Um dos invasores foi até bem sucedido, um tal de Omar González, um texano de 42 anos, ex-atirador de elite no Iraque, que conseguiu escalar a cerca norte, virada para a Pennsylvania Avenue, atravessar o relvado adjacente, entrar pela porta das traseiras e alcançar o Hall Central, sem ser detectado pela segurança, vindo posteriormente a ser barrado por um agente, em final de turno, após este ter embarcado as filhas do Presidente num helicóptero. O invasor texano tinha dentro da sua viatura, estacionada a poucos quarteirões daquela Residência Oficial, 800 cartuchos de munição, duas facas e dois machados, num total de 11 armas e mais um mapa de Washington riscado em direcção à Casa Branca. O homem acabou preso e os serviços secretos sofreram duras críticas e pressões (a Directora dos Serviços Secretos, a Sr.ª Júlia Pierson, foi obrigada a prestar declarações diante do Congresso Norte-Americano passados 11 dias).
A última tentativa de invasão, que aconteceu a 23 de Outubro deste ano, a segunda nesse mês, foi perpetrada por Dominic Adesanya, um jovem de 23 anos, que não foi tão bem sucedido, porque logo após ter saltado o muro, quando se encontrava a 30m das entradas do edifício, foi atacado por dois cães de guarda, sendo posteriormente manietado por agentes de segurança. O homem, que se apresentava de calções brancos, virou-se ao murro e pontapé aos cães ingloriamente, vindo depois de preso, a receber tratamento hospitalar. Após o ocorrido, foi decretado um bloqueio à Casa Branca por 90 minutos, impedindo que ninguém de lá saísse ou entrasse. Diante de tal desfecho, é caso para se dizer: in dogs we trust, alterando o lema oficial dos Estados Unidos e do Estado da Califórnia (IN GOD WE TRUST), também presente no dinheiro norte-americano e que foi aprovado pelo Congresso em 1956.
Estará o Sr. Barack Hussein Obama II a precisar de uma “presidência aberta” que o aproxime do povo ou terá os dias contados? Diante de tantas tentativas de invasão, é possível que esteja mais seguro e menos importunado em casa do que na White House! E por que importa desambiguar, os cães encarregues da segurança da residência oficial do Presidente dos Estados Unidos são de várias raças e com diferentes especialidades, tanto os do seu perímetro interior quanto do exterior, porque a eficácia não se prende com uma raça específica mas sim com a qualidade dos indivíduos. Para brincar e alegria da família, Obama tem lá o “Bo” e a “Sunny”, um casal de genuínos Cães e Água Portugueses, por sinal muito bonitos e bem tratados.
Perante as sucessivas falhas da segurança presidencial, o 1º Dignitário da Nação Americana deverá fazer a seguinte prece, antes de se deitar: “ Protect me with Your power and do not let my dogs sleep”, rematada pelo desejo “So help me God”.

聖域靖国: MONUMENTO AO CÃO DE GUERRA

Em Tóquio, no Santuário Xintoísta Yasukuni, existe um memorial dedicado aos Cães de Guerra, uma estátua em bronze com a figura dum Pastor Alemão, de frente para outra dedicada ao Cavalo Militar, ali colocada 47 anos depois do final da II Guerra Mundial, em 1992. Homenagem tardia quando comparada com os memoriais erigidos pelas forças das Nações Aliadas, circunstância inseparável do desfecho daquela guerra. Como é sabido, o enriquecimento do Exército Imperial com companhias cinotécnicas ficou a dever-se a Adolfo Hitler, que fez chegar milhares de cães ao seu aliado japonês.
O Santuário de Yasukuni tem causado alguns amargos de boca à diplomacia nipónica, a maioria causada por chineses e coreanos, que se viram invadidos e sujeitos aos caprichos do Exército do Sol Nascente, a quem acusam de vários crimes de guerra e que exigem do Japão um pedido formal de desculpas ou outras formas de retractação (fantasmas do passado). No centro da polémica relativa àquele santuário, que serve também como memorial aos japoneses mortos na II Guerra Mundial, está a inclusão dos nomes de alguns militares tidos como criminosos de guerra pelas potências vencedoras. Sempre que um membro do governo nipónico se desloca àquele santuário, os protestos de algumas nações asiáticas fazem-se ouvir, quiçá pelo espectro do Império derrubado, pelo respeito às suas vítimas ou temendo o ressurgimento do imperialismo japonês. 

QUAL SERÁ O MOTIVO (IX)?

Dois Labradores, agora com 8 meses de idade, irmãos de ninhada e já hierarquizados entre si, a rebocar desalmadamente o seu dono num jardim, encontram um cachorro mais velho e de raça maior, também ele atrelado ao dono. Quando tudo parecia correr bem, sem motivo aparente, o Labrador dominante saltou para cima do cão estranho, rosnando-lhe e mordendo-lhe depois, apesar daquele ataque não ter produzido qualquer ferimento visível. A que se deverá esse comportamento agressivo? Hipótese A: Ao facto do cachorro não se encontrar sociabilizado, estar acostumado a dominar e querer afirmar a sua dominância. Hipótese B: Reagiu assim porque o seu dono, ao ser violento, vem induzindo o cão ao mesmo tipo de comportamento. Hipótese C: Reagiu defensivamente porque o outro cão era maior. Hipótese D: Atacou o cão estranho para que este não fizesse mal ao seu irmão. Hipótese E: Porque entendeu que o jardim era só seu. Para a semana diremos qual a resposta certa.

SOLUÇÕES DA SEMANA ANTERIOR

A resposta certa à rubrica “ QUAL SERÁ O MOTIVO?” da semana passada é a Hipótese C: Porque a privação do exercício diário induz a uma menor apetência. A hipótese “A” não deverá ser considerada, porque ao contrário do que diz, os cães comem mais nas estações frias. A hipótese “B” é falsa porque a chuva não provoca inactividade e sonolência nos cães, havendo alguns que adoram banhar-se nela. A hipótese “D” só seria válida se a chuva fosse passageira e seguida de um aumento significativo da temperatura. A hipótese “E” é totalmente avessa à realidade, já que os cães sofrem maior desgaste e consomem mais energia quando os percentuais de humidade são mais altos.

RECORD DIÁRIO DE LEITORES

Nesta última 3ª feira, dia 23 de Dezembro e antevéspera do Dia de Natal, foi registado o maior número de leitores diários deste blog no ano em curso: 249, mais 87 do que o anterior record, acontecido no passado dia 25 de Novembro. O aumento dos nossos leitores justifica o nosso propósito e incentiva-nos a ir para diante, porque viemos para servir e informar, dividir experiências e ajudar. Agradecemos a preferência e esperamos continuar como até aqui.

RANKING SEMANAL DOS TEXTOS MAIS LIDOS

O Ranking semanal dos textos mais lidos ficou assim ordenado:
1º _ EU QUERIA UM PASTOR ALEMÃO, DE PREFERÊNCIA TODO PRETO, editado em 05/06/2010
2º _ BRANCO E VERMELHO, AZUL E NEGRO, editado em 17/03/2011
3º _ NUNCA OUVI LADRAR O MEU PASTOR ALEMÃO NEGRO, editado em 17/10/2013
4º _ A CURVA DE CRESCIMENTO DAS DIFERENTES LINHAS DO PASTOR ALEMÃO, editado em 29/08/2013
5º _ O MELHOR E O PIOR DO PASTOR SUIÇO: ANÁLISE MORFOLÓGICA E FUNCIONAL, editado em 21/06/2011

TOP 10 SEMANAL DE LEITORES POR PAÍS

O TOP 10 semanal de leitores por país deu o seguinte resultado:
1º Portugal, 2º Brasil, 3º Estados Unidos, 4º Alemanha, 5º Espanha, 6º França, 7º Angola, 8º China, 9º Ucrânia e 10º Emiratos Árabes Unidos.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

MENSAGEM DE NATAL

Graças a Deus que ainda há Natal, parece impossível como ainda não o hão roubado, como têm feito com tantas coisas que nos uniam e que agora nos separam. O verdadeiro sentido do Natal prende-se com o Nascimento do nosso Salvador, que ao vir ao Mundo, veio resgatar-nos da inimizade com Deus, ensinar-nos a amar uns aos outros e alcançar para todos a Vida Eterna. Ao celebrarmos esta data, a esperança invade-nos os corações, dá-nos alento para continuar e resistir ao desencanto da vida que aqui levamos, passagem que sendo transitória, não nos livra de toda a sorte de angústias e tormentos. Cristo nasceu, cresceu, viveu, morreu e ressuscitou para nos legar uma vida incomparavelmente melhor, segundo as Escrituras, pela Fé que nos deu e pelo seu sacrifício em prol da Humanidade. Ontem como hoje, o Deus que se fez homem, continua a perdoar-nos, a amparar-nos e amar-nos como sempre fez, ainda que por vezes nos pareça ausente e distante dos nossos dramas, próprios da nossa caminhada aqui, mazelas insignificantes diante da Eternidade que nos guarda e onde nos aguarda.
Muito se fala acerca do espírito do Natal, mas que espírito será esse? Considerando o que celebramos, na sua essência, ele só pode ser um: o de anunciar a toda a gente que o Nosso Salvador já nasceu! Mas será só isso? É evidente que não, pois há que considerar o seu propósito, já que o Nascimento de Jesus trouxe a Paz aos homens e cada um de nós, por mérito d’Ele, será um mensageiro dessa Boa Nova, levando a paz onde há guerra, consolo aos abatidos, concórdia onde houver discórdia, valendo aos necessitados e estendendo a fraternidade a todos. Embebidos desse espírito, desejamos a todos os nossos leitores um Santo Natal, animando-os para que superem os obstáculos que têm pela frente, exortando-os para a solidariedade e convidando-os para uma mudança de atitude em relação a Deus e aos outros, baseada no Seu amor que agora celebramos e que mais tarde conheceremos na Sua plenitude. Em simultâneo, queremos daqui endereçar o nosso apoio àqueles que perderam entes queridos, se encontram sós, em aflição, reclusos, abatidos, doentes e em lugar remoto, desejando-lhes que o anúncio do Deus-Menino os anime e ampare, que tenham rápidas melhoras e que regressem brevemente para os seus. Bom Natal!

AS CRIANÇAS, O CHOCOLATE E OS CÃES

Nesta época festiva, hoje assombrada pelo empobrecimento das famílias, pelo desabar da classe média, pelo endividamento dos pais, pelo desemprego e pelo aumento do número de crianças e jovens no limiar da pobreza (valha-nos o “santo” Banco Alimentar Contra a Fome e outros organismos de solidariedade), há que ter muito cuidado com as crianças, o chocolate e os cães, porque elas gostam de repartir e os seus companheiros são gulosos. O chocolate, quando consumido em doses moderadas, por ter propriedades diuréticas, estimular o coração e funcionar como um vasodilatador, faz-nos muito bem. No entanto, ele é extremamente tóxico para os cães e dependendo da quantidade ingerida, da idade e peso dos animais, pode-lhes ser fatal, sendo que 200g de chocolate culinário bastam para vitimar um Labrador.
O Chocolate, para além da cafeína, que também contribui para o quadro da intoxicação, contém um alcalóide designado por Teobromina, extremamente nocivo e tóxico para os cães. Os sinais de intoxicação por chocolate, que tardam por norma mais de 12 horas a aparecer, são: excitação, nervosismo, vómitos, diarreia, espasmo e exagerado consumo de água, para além de poliúria, excitação, tremores, taquicardia ou bradicardia, febre, respiração acelerada, convulsões, hemorragia intestinal e coma, estes últimos nos casos mais graves e resultantes de maior quantidade ingerida. A Teobromina depois de ingerida, pode permanecer activa no corpo dos cães por mais de 24 horas e demorar até 6 dias para ser excretada pelo fígado. Se suspeitar que o seu cão comeu chocolate, leve-o imediatamente ao veterinário e prepare-se para o deixar lá, no mínimo, 24 horas em observação. Se a ingestão tiver acontecido até 3 horas antes, a indução do vómito poderá resolver o problema, caso contrário, porque não existe um tratamento específico para a intoxicação por chocolate, o clínico ver-se-á obrigado a proceder a uma lavagem estomacal e a um tratamento suporte com base na correcção dos electrólitos e na hidratação do animal.
Sabendo-se da predisposição das crianças e da gula dos cães, o melhor é separá-los uns dos outros na hora das refeições e da distribuição das guloseimas, para que o ambiente de festa não se venha a transformar numa tragédia, medida que se torna obrigatória para aqueles que, indevidamente, alimentam os seus cães quando se encontram sentados à mesa. Infelizmente, todos os anos nesta época festiva, muitos cães acabam intoxicados por chocolate. Previna-se, separe o seu cão e livre-o das tentações!