A
Sûreté du Québec (polícia de segurança pública) está a investigar a morte de
dois cães em Les Îles-de-la-Madeleine (1) que foram mortos
por engano no lugar de outros três considerados perigosos e contra os quais
havia uma ordem de abate, engano que gerou raiva nos residentes e solidariedade
para com o seu dono. O município emitiu recentemente um comunicado a confirmar
que no dia 26 de julho foi emitida uma ordem de eutanásia para três cães que um
veterinário externo, contratado pelo município, considerou perigosos: um husky,
um Malamute e um labrador (grandes feras, sem dúvida!). No dia 2 de setembro,
dois cães correspondentes às descrições de dois dos três cães “perigosos” foram
entregues ao município e apresentados como se fossem os cães condenados à
prisão. Os dois cães não usavam crachás de identificação e foram sacrificados.
No dia seguinte, “de acordo com informação muito preocupante recebida pelo
município de um cidadão, os cães entregues na véspera eram na verdade cães de
outro dono”, referiu o comunicado do município. “Uma investigação está em
andamento para esclarecer as circunstâncias excepcionais deste caso e confirmar
a identidade dos cães sacrificados.” Entretanto, os três cães considerados
perigosos não foram localizados pelo município. Uma porta-voz de Les
Îles-de-la-Madeleine, Isabelle Cummings, disse ao Montreal Gazette que o
município apresentou uma queixa oficial à Sûreté du Québec e que uma
investigação está em andamento.
Nenhum
comentário adicional será feito pelo município, disse ela. O porta-voz da Sûreté
du Québec, a sargento Hélène St-Pierre, disse na quarta-feira que os
investigadores estão a tentar determinar se um crime foi cometido e que ela não
faria mais comentários no momento. Relatos da mídia local e comentários nas
redes sociais sugerem que o município interveio junto do dono dos três cães em
questão após denúncias de que andariam soltos e que teriam matado vários gatos.
Os cães teriam sido avaliados por um veterinário, que concluiu que eram
perigosos e com alto risco de reincidência. Quando o proprietário não cumpriu a
ordem de trazer os cães para eutanásia, foi emitido um mandado de apreensão dos
cães. O proprietário então declarou que os cães haviam escapado. Não está claro
quem trouxe os dois cães para eutanásia em 2 de setembro. No Facebook, os
moradores locais expressaram indignação e compaixão pelo dono dos dois cães que
foram sacrificados por engano. “Talvez eu esteja levando isso muito a sério”,
escreveu uma mulher, “mas chorei o dia todo por causa disso e, quando cheguei a
casa, abracei meu cão com muita força”. “Todo o dono de um cão fica
profundamente comovido com esta história. Pessoalmente, quando chegar em casa,
vou colocar um microchip no meu!” escreveu outro. “… Todos nos sentimos
solidários com esta família. Estamos sentindo uma mistura de tristeza, ódio e
raiva.”
Uma
pessoa observou que esta não é a primeira vez que o município de Les
Îles-de-la-Madeleine eutanasia um cão errado. Em fevereiro de 2008, o Tribunal
de Quebec emitiu uma ordem para o município pagar 600 dólares a Georgina
Deraspe depois que o seu cão foi sacrificado por engano. De acordo com essa
decisão, em 21 de fevereiro de 2008, Deraspe percebeu que o seu cão, um Cairn Terrier,
estava desaparecido. O animal estava registado no município e na época tinha
uma etiqueta de identificação na coleira. Uma semana depois, Deraspe soube que
um veterinário havia sacrificado o seu animal de estimação por ordem de um
inspector municipal. O cão entrou no quintal de uma creche e a dona da creche entrou
em contato com a prefeitura para informar que o cão representava perigo para as
crianças sob seus cuidados. De acordo com os documentos judiciais, o inspector
levou o cão ao veterinário e pediu-lhe que sacrificasse o animal imediatamente.
“Nem antes nem depois do cão ser morto (o inspector) se deu ao trabalho de
verificar o número inscrito na etiqueta que lhe teria permitido entrar em
contato com o dono”, escreveu o juiz Jean-Paul Lecoste na sua decisão. “É
difícil não caracterizar a conduta desse funcionário como falta de julgamento.
Ele não apresentou nenhuma explicação séria que justificasse não ter verificado
o número da etiqueta, exceto que (o cão) era perigoso. Poderíamos compreender
se fosse um Doberman ou um Pastor Alemão, mas era um cachorro pouco mais
perigoso do que um Poodle (Caniche).”
Asneiras destas, que outra coisa não
são do que acções criminosas, acontecessem um pouco por toda a parte, como se
estivéssemos rodeados de cães assassinos, altamente perigosos e violentos, quando
na verdade acontece o contrário e nunca se viu tanto cão manso, mesmo entre
aqueles cujas raças granjearam fama como más. Espero, quando a eutanásia vier a
ser posta em prática no País, que não se abatam pessoas por engano ou por conveniência de terceiros, como tem vindo a suceder com os cães.
(1)As Îles de la Madeleine (Magdalen Islands em inglês) são um arquipélago no Atlântico Norte situado no Golfo de São Lourenço, no Québec.
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