quarta-feira, 29 de julho de 2015

O SEGREDO ESTÁ NA PREPARAÇÃO

Se há especialidades caninas que não dispensam o concurso dos obstáculos na sua preparação, a de resgate e salvamento é uma delas, atendendo à natureza e dificuldades desses trabalhos, que obrigam os cães a uma maior capacidade de resolução face ao carácter extraordinário dos contratempos que irão enfrentar. A passerelle da foto acima, em tudo idêntica a uma de endurance, tem como novidade o entalhe de quadrados com 25cm de lado, distantes entre si à mesma distância e com uns entalhes de permeio com 12.5cm de altura. O que se pretende com este obstáculo é que os cães aprendam a evoluir e equilibrar-se sobre pequenas superfícies de apoio, neste caso sobre tábuas com 25cm de lado e 3cm de espessura. As travessas mais baixas que se encontram no meio dos quadrados, servem para induzir os animais ao apoio certo. O segredo do sucesso dos cães de resgate e salvamento está na sua preparação, na riqueza dos simulacros que ultrapassaram e que possibilitarão a sua melhor prestação.

O GRITO DA NOITE

Mal termina a Primavera e os dias começam a aquecer, abre a “temporada nocturna de caça aos sem-abrigo”, que passarão a dormir nos bancos dos jardins para surpresa dos cães, que não os esperando ali, avançarão para cima deles que nem danados, não hesitando alguns em mordê-los, caso não sejam travados, o que infelizmente pouco importa a certos donos. Se comprou ou alugou recentemente uma casa junto a um parque ou jardim, vá-se preparando para os gritos nocturnos, guinchos de vagabundos assustados e quiçá até feridos, que quebram o abruptamente o silêncio da noite, porque algum cão os descobriu e/ou atacou. Esta aversão canina aos sem-abrigo pode tornar-se extensível aos cães mais pacíficos, quando soltos nos jardins e surpreendidos por aqueles vultos deitados nos bancos. O pânico dos surpreendidos reforça a acção, o seu odor e a experiência porão os cães de sobreaviso. Costuma dizer-se que um mal nunca vem só e parece ser este o caso, como se a miséria em que vivem estes homens e mulheres não lhes bastasse, para ainda terem que se esgueirar aos cães. Tome atenção ao seu cão e não contribua para o aumento da miséria alheia.

TRADICIONALMENTE NO IDÍLICO PAIVA

Tradicionalmente na época estival, o Jorge Martins desloca-se até ao Rio Paiva com a Fátima e os cães de ambos, onde todos usufruem dos benefícios do rio, um manancial de águas límpidas circundado por pequenos bosques de amieiros e freixos, que os convida para o seu leito e propicia-lhes momentos lúdicos para mais tarde recordar, como o captado na foto acima. O Rio Paiva, que é o afluente principal da margem esquerda do Douro, situa-se no centro-norte de Portugal continental, banhando 10 concelhos dos Distritos de Aveiro e Viseu. Nasce a 1000m de altitude na Serra de Leomil, no Planalto da Nave, na aldeia de Carapito, Freguesia de Pêra Velha e Concelho de Moimenta da Beira (40º 03' N 08º 15' O). Tem 108km de extensão, uma bacia de 77km2, um passadiço ao redor das suas margens em Arouca (com 8km de extensão), forma várias praias fluviais e vai desaguar na margem esquerda do Douro, no lugar do Castelo em Castelo de Paiva, no local assinalado pela famosa Ilha dos Amores. Na década de 90 foi considerado o rio menos poluído da Europa e um dos mais limpos do mundo, não sendo de estranhar que as trutas desovem ali.
Nas suas águas podemos encontrar a toupeira-de-água (Galemys pyrenaicus), a lontra (Lutra lutra), o lagarto-de-água (Lacerta schreiberi), a salamandra-lusitânica (Chioglossa lusitânica), a rã-ibérica (Rana iberica) e o tritão-marmorado (Triturus marmoratus). Merecem ainda destaque a presença de algumas espécies piscícolas endémicas, como a boga (Chondrostoma polylepis), e a ocorrência de uma das raras populações de mexilhão-do-rio (Margaritifera margaritifera), visível na foto seguinte. Nas suas margens, para além de um todo de aves, podemos ainda avistar os seguintes mamíferos: a raposa (Vulpes vulpes), o ouriço-cacheiro (Erinaceus europaeus), o javali (Sus scrofa) e o coelho-bravo (Oryctolagus cuniculus). No caso do lobo (Canis lupus), constitui uma importante zona de passagem entre as Serras de Montemuro, Freita/Arada e Lapa/Leomil. O Rio Paiva exibe em quase toda a sua extensão bosques de amieiros (Alnus glutinosa) e de freixos (Fraxinus excelsior) formando galerias, frequentemente ladeadas por carvalhais de carvalho-alvarinho (Quercus robur) fragmentários. A diversidade da flora é considerável e assinala-se a ocorrência de Narcissus bulbocodium, Narcissus triandrus, Ruscus aculeatus e Anarrhinum longipedicellatum (endemismo lusitano) – espécies com medidas de protecção a nível europeu.
Para além das praias, da pureza da água, da fauna, da flora e dos recantos paradisíacos que oferece, o Paiva presta-se ainda para prática da canoagem e do radical “rafting”, sendo também para isso muito procurado.
Decididamente o Jorge sabe o que quer, procura o melhor para a sua família, para a si e para os seus cães. Quantos portugueses conhecerão o Rio Paiva e o que tem para oferecer? Provavelmente muito poucos, havendo alguns que daqui saem para locais muito menos apelativos e luxuriosos, pagando pequenas fortunas. Com propriedade relembramos aqui o slogan duma campanha publicitária da década de 70: “Há sempre um Portugal desconhecido que espera por si”. Com os cordões da bolsa repuxados, não valerá a pena viajar cá dentro? Como o Paiva banha imensas localidades, caso não queira usar a sua viatura particular, pode lá chegar de autocarro, comboio e até de avioneta (nunca foi tão barato andar nestas aeronaves, nalguns casos o preço cobrado é inferior ao praticado nos autocarros). Aceite a nossa sugestão: siga o exemplo do Jorge e vá até ao Paiva nestas férias, verá que não se vai arrepender!
PS: Se tem cão, não se esqueça dele, leve-o consigo. 

CAFÉ DO FORTE: UMA APOSTA NO BEM-ESTAR

O “Café do Forte”, paredes-meias com o Forte do Bom Sucesso em Belém (onde se encontra sediado o Museu do Combatente e o Monumento aos Combatentes do Ultramar), de frente para o Tejo e com a Torre de Belém à vista, é um dos locais que recomendamos para nacionais e estrangeiros que não dispensem o prazer de uma boa esplanada no Verão, à sombra de pinheiros, num ambiente calmo, retemperador e inspirador, onde os proprietários caninos podem entrar e permanecer com os seus companheiros, usufruindo da brisa e do idílico Rio que nos fez ao Mundo. Pessoas e animais podem ali refrescar-se e descansar em segurança, não lhes advindo nenhum risco para a saúde, porque a higiene salta à vista, a qualidade dos produtos é irrefutável, o serviço é pronto e os pinheiros têm cintas de segurança contra a “processionária dos pinheiros”, conforme podemos confirmar no pinheiro da foto que se segue (a cinta é de cor amarela e antecede os ramos).
Nisto está de parabéns a gerência daquele café, sabendo-se dos graves danos causados pela “processionária” em crianças e animais. Infelizmente esta preocupação não é extensível a todas as esplanadas à sombra de pinheiros, o que se lamenta atendendo à saúde e bem-estar dos seus utentes. Para melhor compreensão do problema e da sua dimensão, aconselhamos os nossos leitores que ainda não o fizeram, a ler o texto: “UM VELHO E DURO INIMIGO: A PROCESSIONÁRIA DOS PINHEIROS”, editado no dia 7 de Agosto de 2010. Para além dos riscos causados pelas lagartas, que não podem ser desprezados, a aspiração do pó dos ninhos é igualmente nociva para a saúde de pequenos e graúdos. Como estamos no Verão e as sombras são por demais apetecíveis, quando for acampar, fazer piqueniques ou refrescar-se numa esplanada à sombra de pinheiros e cedros, certifique-se da existência de cintas protectoras. Caso não existam, saia imediatamente daqueles locais, particularmente quando acompanhado de crianças e animais. Usufrua do Verão sem pôr em risco a sua saúde e a dos seus. Fica o conselho.

À VELOCIDADE DE CARACOL

Depois de muito matutarmos acerca da falta de índice de progresso na maioria das escolas caninas portuguesas, decidimos ir ao encontro de algumas delas, analisando o trabalho que desenvolvem e a prestação dos seus mestres, ouvindo depois o parecer dos seus alunos sobre as aulas. Das 5 escolas visitadas (3 no Distrito de Lisboa e 2 no de Leiria, de distintas formações), nenhuma delas tinha um plano de aulas diário ou semanal, dependendo a aplicação dos conteúdos de ensino e o cronograma de actividades da frequência dos alunos, o que sempre obrigava os adestradores a constantes ajustes e a massacrar pela repetição os alunos mais assíduos nas aulas colectivas, que obrigados a retornar às metas, tardavam em alcançar os objectivos. Subsiste na cinotecnia civil portuguesa uma balbúrdia resultante do excesso de improviso, que ao subtrair regras pedagógicas primordiais, acaba por criar outras de difícil observação e de préstimo duvidoso. A duras penas, os objectivos lá vão sendo alcançados, tardiamente e somente por alguns, literalmente à velocidade de caracol!

ELES TAMBÉM PROCURAM A FELICIDADE

Apesar de tantas e tantas vezes verem gorados os seus anseios, os cães também procuram a felicidade e lutarão por ela até ao final das suas vidas. Segundo o que temos observado e sem incorrermos em considerações antropomórficas, um cão para ser feliz precisar de ser saudável física e psicologicamente, ser autoconfiante, sentir-se bem instalado, ver satisfeitas as suas necessidades mais básicas, ter uma boa capacidade de adaptação, gostar dos donos, identificar-se com eles e adoptá-los como membros do seu grupo, contar com o seu apoio, mestria e benevolência, não ser repreendido sistematicamente e ver premiado o seu esforço, receber aprovação de todos aos seu redor, ter uma boa imagem das pessoas e ser capaz de fazer novas amizades, poder participar e interagir, gostar do que lhe é solicitado, ver respeitado o seu descanso, ter o seu espaço de liberdade e usufruir da companhia de outros cães. Debaixo destas 21 condições qualquer cão será feliz!

QUAL SERÁ O MOTIVO (XXXVII)?

O “Ringo” é um Boxer camurça padronizado, com 3 anos de idade, filho de pais campeões e excelentemente aprumados, que atipicamente apresenta mãos divergentes e abatimento de metacarpos, desaprumos nunca vistos na sua família até 6 gerações atrás. O que teria contribuído para aquelas menos valias? Hipótese “A”: O facto de ter as unhas demasiado grandes. Hipótese “B”: Tem aquele assentamento porque é um pouco mais magro que os demais da sua raça. Hipótese “C”: Porque sempre comeu com o prato da ração no chão. Hipótese “D”: Porque adora escavar. Hipótese “E”: Porque nunca pára e corre que nem um desalmado. Para a semana cá estaremos com um novo caso e adiantaremos qual a hipótese certa.

SOLUÇÃO DA SEMANA ANTERIOR

A solução certa para esta rubrica da semana passa é a Hipótese “E”: Está condicionado a andar junto dos carrinhos de bebé da família e confunde-os com os alheios. Dificilmente um cão concentrado, calmo e ajuizado correrá atrás de carrinhos de bebé, pelo que a Hipótese “A” não deverá ser considerada. Os galgos são mais caçadores do que territoriais e o cão jamais consideraria seu alguém que desconhece, o que torna a Hipótese “B” falsa. Como o texto adianta que o Borzoi se comporta exemplarmente dentro de casa, dificilmente se disporia a seguir o odor dos biberões, o que torna fantasiosa a Hipótese “C”. A Hipótese “D” não deverá ser considerada porque um cão dedicado à família dificilmente a abandonaria para ir receber mimos alheios.

NOVO RECORD DE LEITORES

Ontem, dia 27JUL2015, alcançámos um novo record diário de leitores: 306, mais 57 do que o anterior record (249), acontecido a 23DEZ2014. O texto que mais contribuiu para este aumento de visitas foi: “OS CÃES DA NICOLE SCHLAEPFER”, editado em 30 de Abril de 2014. Saudamos com alegria o aumento de leitores da Holanda, Irlanda, África do Sul, Austrália e Nova Zelândia, assim como da Áustria, Eslovénia, Eslováquia, República Checa e Hungria. Por ordem decrescente, os 10 países que mais leitores nos têm dado, são: Portugal, Brasil, Estados Unidos, Alemanha, Rússia, França, Reino Unido, Angola, Ucrânia e China. O 2º país da América do Sul que nos dá mais leitores é a Argentina e da Ásia é a Índia. O 2º país africano que nos dá mais visitantes é o Quénia, seguido por Moçambique e Cabo Verde. A nossa menor franja de leitores acontece nos países árabes e muçulmanos, muito embora os magrebinos sempre se façam presentes e dos Emiratos Árabes Unidos surjam esporadicamente alguns leitores. Temos ainda um número fiel e considerável de leitores italianos e mexicanos.

FOR HE’S A JOLLY GOOD FELLOW, WHICH NOBODY CAN DENY

Ontem, dia 27JUL2015, o nosso amigo “Radar” fez 4 anos de idade e celebrou o seu aniversário com uma longa caminhada pelos campos ingleses na companhia dos donos. Temos uma ligação muito forte ao Radar, porque o transformámos de patinho feio em vedeta, aturámos as suas múltiplas evasões e fizemos dele um cão que hoje nos enche de alegria. Enquanto esteve em Portugal andou connosco para todo o lado, foi mestre de muitos e serviu de inspiração a uns tantos, o que acabou por reforçar a nossa amizade com os donos. Puxámos por ele como se fosse nosso e não nos arrependemos, porque é valente e leal, disponível e competitivo. Sim Radar, tu és um bom companheiro e ninguém o pode negar! Longa vida e volta breve, que as saudades não são poucas!

terça-feira, 28 de julho de 2015

FIZEMOS ESTE BLOGUE PARA QUÊ?

Fizemos este blogue para noticiarmos as nossas actividades, para relembrar aqueles que connosco cerraram e cerram fileiras, para trocarmos opiniões, para recebermos e transmitirmos conhecimento, para ajudar gratuitamente quem precisa, para reforço doutrinário do que temos vindo a ensinar e para testemunho da nossa existência, porque somos dinâmicos, uma grande família, temos avidez de conhecimento, viemos para servir, chamamos a todos bem-vindos, protegemos os nossos e adoramos a cinotecnia. Nestes últimos 6 anos levantámos 4 pistas tácticas, fundámos 3 escolas, formámos 18 monitores, ensinámos 380 binómios, aconselhámos 7 beneficiamentos, acompanhámos o mesmo número de ninhadas, adquirimos e instalámos uma matilha funcional, editámos 1630 artigos, tivemos mais de 160000 leitores, sendo 59247 de países estrangeiros e respondemos a 3271 emails (cerca de 1/10 do seu total). Tudo isto sem recorrermos a qualquer rede social. Neste meio tempo, para além doutros revezes e contratempos, perdemos alguns condutores e cães, binómios que nos foram gratos e que não esquecemos, porque o seu esforço fez-nos maiores e a sua partida empobreceu-nos. Esperamos encontrá-los mais adiante na paz em que repousam. Entretanto, continuaremos diariamente ao dispor de quem nos procurar, com a mesma vontade de servir e gosto por aprender. Resta-nos agradecer a todos os nossos amigos, alunos, colaboradores e leitores, enquanto companheiros de jornada e subsidiários da Acendura Brava aquém e além-fronteiras. E os cães? Aos cães estamos-lhes mais do que agradecidos!

RANKING SEMANAL DOS TEXTOS MAIS LIDOS

O Ranking semanal dos textos mais lidos obedeceu à seguinte preferência:
1º _ OS CÃES DA NICOLE SCHLAEPFER, editado em 30/04/2014
2º _ PASTOR ALEMÃO X MALINOIS: VANTAGENS E DESVANTAGENS, editado em 15/06/2011
3º _ O CÃO LOBEIRO: UM SILVESTRE ENTRE NÓS, editado em 26/10/2009
4º _ O MELHOR E O PIOR DO PASTOR SUIÇO: ANÁLISE MORFOLÓGICA E FUNCIONAL, editado em 21/06/2011
5º _ CORRENDO ATRÁS DA PANOSTEÍTE E DA MIELOPATIA DEGENERATIVA, editado em 02/05/2015
6º _ A TENTAÇÃO PELOS CÃES ORIENTAIS E O THAI RIDGEBACK, editado em 15/03/2014
7º _ SHEPADOODLE, editado em 24/07/2015
8º _ A CURVA DE CRESCIMENTO DAS DIVERSAS LINHAS DO PASTOR ALEMÃO, editado em 29/08/2013
9º _ ROTTWEILER E SERRA DA ESTRELA (AQUILO QUE OS UNE E SEPARA), editado em 07/01/2010
10º _ OBRIGAÇÕES, editado em 24/07/2015

TOP 10 SEMANAL DE LEITORES POR PAÍS

O TOP 10 semanal de leitores por país ficou assim ordenado:
1º Portugal, 2º Brasil, 3º Estados Unidos, 4º China, 5º Reino Unido, 6º Alemanha, 7º Irlanda, 8º França, 9º Luxemburgo e 10º Angola.

sexta-feira, 24 de julho de 2015

OBRIGAÇÕES

Todos os cães a partir dos 6 anos de idade, particularmente os de altura superior aos 45cm, adestrados para o trabalho e sujeitos a esforços continuados de agility, caça, endurance, guarda, natação, resgate, salvamento, tracção e transporte, em diferentes ecossistemas, amplitudes térmicas, horários, e tipos de piso, deverão ser objecto de observação médico-veterinária, considerando o eventual desgaste e protecção das suas articulações. Os cães castrados e os privados do exercício aeróbio diário deverão merecer a mesma atenção. Lembramos ainda que esta é a altura ideal para adquirir um segundo cão, já que o residente muito ajudará na educação do recém-chegado.

BLÁ, BLÁ, BLÁ!

Assim como todos os cães podem ser mansos, também todos podem ser bravos, dependendo o seu comportamento de razões genéticas e ambientais ou da soma das duas, quando vinculadas ao particular psicológico, social e territorial dos indivíduos, que actuarão por instinto, indução, potenciação, descontrolo, desleixo ou permissão. Nenhuma das actuais raças caninas produz exclusivamente indivíduos dóceis ou agressivos, em todas elas há duns e doutros, ainda que a probabilidade de encontrarmos cada um deles varie de raça para raça (já vimos Labradores a morder “a torto e a direito” e Rottweilers que só usavam os dentes para comer, Huskies a atacar à jugular e Pastores Alemães a fugir dos figurantes). Mais do que confiar numa raça, importa conhecer o indivíduo que temos pela frente. Assim sendo, todos os donos e cães deverão ser educados, os primeiros para aprenderem a controlar os seus cães e estes para aprenderem a respeitar os seus líderes, cuidado que a sociedade muito agradece!
Tristemente surpreso foi um pai que se viu obrigado a defender os seus dois filhos menores do Boxer da sua namorada, que os atacou sem razão aparente, acabando os três muito maltratados e socorridos no Hospital Ninewells, em Dundee/Escócia, vindo o cão a ser esganado por um vizinho, segundo noticiou o “Mirror” no seu Website, no passado dia 18 do corrente mês. Chamado a comentar o ocorrido, a Sr.ª Lorraine Cumming, fundadora há 18 anos da “Boxer Welfare Scotland”, mostrou-se surpreendida, dizendo que, nos 30 anos que leva a resgatar cães, nunca teve notícia de nenhum ataque perpetrado por um Boxer sobre humanos. Das duas, uma: ou Deus é escocês ou os boxers ali são alados como os serafins! Assim como somos conhecedores da docilidade da esmagadora maioria dos boxers, também sabemos que alguns deles não são para brincadeiras, porque experimentámos os seus ataques e aquilatámos dos seus “estragos”, uma vez que a sua força de impacto é tremenda (jogam-se que nem balas de canhão), sacodem amiúde e a sua dentada, por serem prógnatas, resulta mais profunda e perigosa, não hesitando alguns em amarinhar para procurarem a cara dos seus opositores.
É evidente que assiste alguma razão à Sr.ª Cumming, porque são raríssimos os cães adoptados que não são gratos e amistosos, qualidades que os transformam em excelentes cães de família. Não estamos com isto a atribuir a culpa do sucedido exclusivamente ao Boxer, porque desconhecemos os pormenores, sabemos do que as crianças são capazes e ignoramos a causa ou causas daquele ataque (a polícia local também). Sabemos que as crianças têm 7 e 9 anos idade e desconhecemos se elas causaram algum dolo ao animal. Teria o cão reagido assim diante de abuso ou por ciúme? Não sabemos! Mas duma coisa podemos estar certos: as crianças precisam de aprender a conviver com os cães e a respeitá-los, porque devido ao seu tamanho, instabilidade emocional e irreverência de comportamento, acabam por constituir-se em alvos preferenciais para os cães. Cabe aos pais e às escolas caninas fazê-lo. Discordamos do tratamento dado ao pai das crianças pelo “Mirror”, ao considerar o Sr. Steve Deas um herói, porque independentemente do que presidiu ao ocorrido, ao invés de salvaguardar os seus filhos, afastando-os do animal, lesou-os e contribuiu para a morte cruel daquele cão (hoje em dia não está fácil sê-lo neste mundo).

SÉC. XX: O SÉCULO DO CÃO-LOBO

Quem chamou ao Séc. XX de “ O Século do Cão-Lobo” foi Osip Mandelstam Emilyevich (1871-1938), um poeta russo, nascido em Varsóvia, de ascendência judia, pertencente à dita “ Era de Prata” da poesia russa e que levou uma vida por demais atribulada. A designação “Cão-Lobo” é uma alusão ao Cão de Pastor Alemão, porque assim era conhecido naquele tempo, que ao ser aproveitado para fins militares, esteve em todas as guerras e frentes até aos nossos dias, tornando- se num “soldado canino universal”. Ele esteve nas trincheiras da I Grande Guerra, foi recrutado e usado na Segunda, esteve presente em Estalinegrado, lutou nas Ilhas do Pacífico, serviu também os Japoneses, integrou tropas pára-quedistas, tem servido como cão-polícia, foi mobilizado para o Iraque e ainda presta o seu contributo na Guerra do Afeganistão. Ele, mais do que ninguém, fundamentou e erigiu as inovadoras Companhias Cinotécnicas Militares do Século passado, Unidades onde ainda presta serviço, muito embora em menor número. E se acompanhou os soldados na guerra, também os recebeu e valeu-lhes no regresso a casa, ao transformar-se em cão-guia, polícia, guardião, terapeuta e cão de companhia, ajudando deficientes, zelando pela segurança dos cidadãos, guardando pessoas e bens, promovendo a reinserção social dos seus donos, ajudando no crescimento dos mais jovens e trazendo alegria às famílias. Mandelstam tinha razão: o Cão de Pastor Alemão marcou o Séc. XX!

A PANCA PELA TRAULITADA

Um homem com o seu cão lado pode retornar à infância e aos sonhos perdidos, dar azo à criança que habita dentro de cada um de nós e reconstruir momentos aparentemente esquecidos, quando tudo era possível e o futuro não incomodava, quando todos julgávamos ser imperadores, reis ou generais, super-heróis como o mundo nunca viu.
Pode ainda encontrar um escape para o seu quotidiano, ser igual a si próprio sem receios, desnudar-se diante do seu cão e ousar partir com ele à aventura, redescobrindo a sua verdadeira natureza por detrás da máscara que o sustenta e traz de pé. Sem dificuldades poderá voltar a balbuciar, retornar às diabruras há muito recriminadas e fazer o que lhe der na gana, escudando-se atrás do animal que a tudo se presta. Infelizmente, e contradizendo o Padre Américo, fundador da “Casa do Gaiato”, os meninos não são todos iguais, há uns melhor que outros e alguns são notoriamente malvados, pardais enxofrados que mais tarde virão a ser gaviões.
Quem se deslocar a Portugal e fizer um périplo pelas escolas caninas que aqui temos, rapidamente se aperceberá que a disciplina cinotécnica de guarda é a mais publicitada, o que poderá à primeira vista induzir alguns em erro , levando-os a considerar-nos ou País de ricos ou uma plebe de ladrões, quando na verdade não somos uma coisa nem outra e nunca fomos tão pobres e tão espoliados como agora, pouco mais tendo para guardar que as nossas próprias carcaças. E dissemos “à primeira vista” porque a riqueza, a estabilidade e o progresso de um país podem também ser medidos pelo ensino preferencial dado aos seus cães, uma vez que os guardiões aumentam com a miséria e diminuem com a prosperidade. Esse mau hábito que temos de ser polícias uns dos outros, tantas vezes movido pela inveja, sempre tem contribuído para que outros nos roubem sem apelo nem agravo. Melhor seria que tivéssemos mais cães de resgate e salvamento, que fossemos fecundos em cães guias, de terapia e de serviço, mais-valias que espelhariam a unidade que tanto nos falta e que possibilitaria o nosso mútuo socorro.
 A panca pela traulitada, porque é disso que se trata, toleima sustentada maioritariamente por jovens e por gente descontente de todas as idades (consigo mesma, com outros ou desencantada com a sociedade), acaba por ser uma actividade terapêutica para os donos, que sentindo-se impotentes e injustiçados, por breves momentos (no decorrer de cada ataque dos seus cães), aliviam a sua revolta, libertam-se do descontentamento e descarregam agressividade, o que os faz sentir melhor e livres da canga que os subjuga ordinariamente, aumentando-lhes a auto-estima e dando-lhes uma sensação de poder, apesar de fugaz. É bem possível que estas razões, só por si ou associadas a outras patologias, sirvam de base ao se convencionou chamar de “guarda desportiva” nas suas múltiplas variantes. Nos anos que levamos a ensinar cães para guarda, apenas 6% dos donos tinha necessidade objectiva deles, por serem alvo de cobiça, não se poderem valer doutras armas, viverem isolados, terem pouca robustez física, serem deficientes ou se encontrarem incapacitados, já haverem sido assaltados, morarem em locais ermos ou de alto risco, onde o socorro policial tardava em chegar e os meios electrónicos defensivos se revelaram ineficazes.
A prática de brincar às capturas, sempre reclamada por justiceiros e por paisanos que se querem ver fardados, que por usurpação de poderes procuram alguma notoriedade, não deverá ser encarada de ânimo leve. E não deverá porque o cão é uma arma e como tal, muito poucos estarão habilitados e terão autoridade para manejá-la em segurança. O cão de guarda deverá ser entendido à luz das restrições acerca da “arma de defesa pessoal”, cujo porte não se estende a todos os cidadãos. Os cães dos indivíduos menores, coléricos, conflituosos, vingativos, subversivos, com algum tipo de demência, de manifesta instabilidade emocional ou envolvidos em qualquer disputa, assim como os pertença dos cadastrados, não deverão ser aceites nos cursos de guarda, porque os seus donos, no calor do momento, poderão usá-los indevidamente ou vir a usá-los para fins criminosos, conforme temos vindo a ter notícia. E se todos tiverem um cão de guarda, quem nos defenderá uns dos outros? Para que nos servirá a Polícia? A passagem da guarda desportiva para as acções reais é automática, porque a arma é a mesma – o cão, que tal qual outra arma, tanto poderá ser usado como advertência quanto para matar, apesar dos cães “desportivos” dependerem de várias condições para se adaptarem às acções reais. Outra coisa bem diversa é treinar cães para alarme e para defesa pessoal, assim como ensiná-los a lutar pela sua salvaguarda.
O Mundo, a Humanidade e os Cães precisam de paz, não de traulitada, todos somos poucos para valer a tanto. Como este blogue tem também como objectivo a divulgação da cultura portuguesa, escolhemos deliberadamente os termos “panca” e “traulitada”, o primeiro mais usado pelas novas gerações (que significa fixação, atracção muito forte, mania, maluqueira e pancada) e o segundo, menos em voga, que nos remete para a história do Séc. XIX Português, por ocasião da “Monarquia do Norte”, também conhecida jocosamente por “Reino da Traulitânia”, obra da insurreição monárquica de Paiva Couceiro, onde os prisioneiros republicanos foram sujeitos a toda a sorte de maus tratos e sevícias: fartaram-se de apanhar traulitada (“trauliteiro” é um indivíduo espancador; caceteiro). Pense bem antes de treinar ou mandar treinar o seu cão para guarda, veja se tem perfil para isso e da possibilidade doutras opções, porque os acidentes acontecem e podem causar vítimas. Nunca se esqueça que um bom cão de guarda exige um líder incontestável, atento, seguro, clarividente, avisado e acautelado, tão lesto no despoletar das acções como na sua cessação. Doutro modo, quem o protegerá do cão e dos danos que ele venha a causar a outrem? Estamos a falar do mundo real, não do virtual!

SHEPADOODLE

Decididamente estamos na era da hibridação canina, que tanto se presta para a formação de novas raças como para a salvaguarda das actuais, considerando as menos valias que afectam muitas delas. Um caso de hibridação bem-sucedido e que se vai repetindo por toda a parte é o “Shepadoodle”, resultante do cruzamento do Pastor Alemão com o Caniche. A maioria destes híbridos não larga pelo, é obediente e serena, demonstra uma extraordinária capacidade de aprendizagem, é atenta, disponível, tem características protectoras e guardiãs, evidenciando maior esperança de vida. À parte disto, um Shepadoodle quando cruzado com um Pastor Alemão, devido à dominância deste na construção, pode gerar filhotes em tudo idênticos ao Pastor. Como é do conhecimento geral somos totalmente contra qualquer tipo de hibridação no Pastor Alemão, porque entendemos que a raça ainda possui a multivariedade necessária para se auto preservar e libertar-se das menos valias que agora a apoquentam, bastando para isso valer-se das distintas variedades recessivas nos seus beneficiamentos. Caso tal não fosse possível, que o é, a recorrência aos Pastores Brancos, que há muito deveriam ser reintegrados na raça, prestar-se-ia para o mesmo efeito, estratégia a que alguns têm recorrido secretamente. Quanto ao Shepadoodle, ignoram-se os problemas de saúde mais comuns nestes híbridos, que apesar de eventualmente mais saudáveis, poderão ter herdado alguns dos achaques que afectam os seus progenitores (nem tudo são rosas).

MAIS PONTOS PARA O MALINOIS!

Segundo um estudo levado a cabo pela Prof.ª Katja Höglund da Universidade Sueca de Ciências Agrícolas (SLU), em estreita colaboração com o Dr. Marcin Kierczak e com a Prof.ª Kerstin Lindblad-Toh, ambos da Universidade de Uppsala (UU), publicado na Revista PLoS ONE, a 13 de Maio do corrente ano, os Pastores Belgas Malinois possuem uma interacção genética que os protege contra a diabetes, muito embora o mecanismo dessa interacção ainda precise de ser determinado. Chegaram a esta conclusão, que é específica da raça, através do estudo das áreas do genoma em que os pastores belgas Malinois diferem claramente das outras raças. A diabetes é uma doença que afecta muitos cães e que lhes acarreta graves problemas de saúde, sendo caracterizada por um excesso crónico da glicose no sangue, podendo ser diagnosticada e monitorizada pela medição da concentração da frutosamina no sangue, já que esta reflecte nele o nível de glicose num determinado período de tempo.
O Pastor Belga Malinois, desde sempre associado ao duro trabalho de pastoreio, é uma raça intimamente liga ao Pastor Alemão, cão que também raramente sofre de diabetes. Como os cães sujeitos ao trabalho duro precisam de um bom suprimento de oxigénio e um nível idêntico de açúcar no sangue, aqueles cientistas concluíram que cães com um bom controlo da glicose foram seleccionados no decurso do desenvolvimento do Pastor Belga, entendendo-se agora por que razão os Malinois correm menor risco de contraírem diabetes. Parece que temos cão saudável por mais tempo!

CRESCE A REVOLTA A SUL DO EQUADOR

Em cada dia que passa, somos visitados por 21 leitores do Brasil, este mês já tivemos 420 novas visitas daquelas paragens e temos até hoje 44 887 visitantes brasileiros. Junto com as mensagens e fotos que nos enviam, não escondem o seu descontentamento com os políticos e com o Governo há alguns anos no Poder, a quem acusam de seguir modelos há muito ultrapassados, que mais estagnam, empobrecem e isolam o País, tornando maior o fosso entre ricos e pobres, mercê da corrupção de que usam e abusam, e que é indiferente ao agravamento das condições de vida dos seus concidadãos. Um desses leitores brasileiros enviou-nos a fotografia que ilustra este pequeno artigo, que intitulou de “ Foto do Ano” e que recebemos junto com um poema de Alamir Longo, um poeta, trovador e compositor gaúcho. Como não somos hábeis a tirar parecenças, ignoramos de quem se trata, provavelmente de um “Silva” qualquer daquelas paragens ou de um Cefalópode que os brasileiros gostariam de ver na prisão. Ainda que demore, a história já o provou: ninguém pára o Brasil!

terça-feira, 21 de julho de 2015

TOMA LÁ UM CÃO E AMANHA-TE!

Nunca como até agora, os cães foram tão usados como animais de terapia, merecendo nos “States” a designação de “Service Dogs”, considerando os seus múltiplos préstimos junto de doentes, deficientes e incapacitados de vária ordem, sendo cada vez mais usados no combate ao stress pós-traumático dos soldados que regressam das guerras, que por vezes juntam a esse problema psicológico algum tipo de incapacidade física. Há que enaltecer o trabalho de quem selecciona, treina e adapta esses animais para tais fins e saúda-se a sua continuidade, porque esses cães para além de valerem aos donos nas suas tarefas quotidianas, ajudam-nos a vencer a solidão, a apaziguar a revolta e a fazerem as pazes consigo mesmos. Contudo, não resolvem o problema da noiva que se foi, do trabalho que se perdeu e dos sonhos que ficaram por cumprir, a transição abrupta da vida militar para a sociedade civil.
A solução para os problemas desta gente não poderá passar somente por “toma lá um cão e amanha-te”, até porque muitos deles entrarão ciclicamente em depressão, alguns abraçarão a toxicodependência, uns poucos tornar-se-ão anti-sociais e um número menor enveredará pelo suicídio (gradual ou imediato), dependendo isso em grande parte do apoio familiar que obtiverem, não raramente substituído por centros para veteranos, onde alguns destes indivíduos ali permanecerão por tempo ilimitado, diante da impotência das famílias em valer-lhes. A mesma sociedade que elege os políticos e que se sujeita às suas guerras, deverá estar preparada para receber e instalar condignamente os estropiados que delas voltarem, arranjar-lhes um lugar ao sol, onde se sintam úteis e não um fardo, direito que lhes assiste pelo esforço que empreenderam em prol bem-estar colectivo.
É evidente que, quando todas as guerras acabarem, deixaremos de ter este problema! E como há males que vem por bem, como é este o caso, o socorro prestado pelos cães aos veteranos tem-se estendido a um sem número de cidadãos portadores de várias deficiências ou agastados por diversas patologias, gente de todas a as idades que vê a sua vida facilitada pela parceria canina. No entanto, convém não esquecer que a maior autonomia alcançada por estes indivíduos não dispensa a sua inserção ou reintegração social e que a coabitação exclusiva com os cães poderá agravará ainda mais o seu isolamento.
Os cães poderão ajudar na integração social dos indivíduos seus portadores? Sem dúvida! Mas esse contributo jamais será válido se a sociedade não se prontificar em ajudá-los e os deficientes nada fizerem para isso. Os cães sempre farão a sua parte e desempenharão o seu papel irrepreensivelmente, porque são leais e foram seleccionados e treinados para a função, os homens vivem mais e demoram mais tempo para aprenderem a amar-se uns aos outros. Diante dos flagelos que a humanidade tem causado a si mesma, uma verdade se agiganta: os cães depressa aprendem com os seus erros e os homens não se cansam de repeti-los. 

segunda-feira, 20 de julho de 2015

O CÉU E O INFERNO ESTÃO CHEIOS DE BOAS INTENÇÕES

Segundo o que nos chegou pelo website do “The Sidney Morning Herald”, um septuagenário, residente na Av.ª Streeton em Mount Pritchard, na parte sudoeste de Sidney/Austrália, foi atacado no último Sábado pelos seus dois cães, quando intentou acabar com uma briga entre eles, acção que teve como consequência o seu internamento no “Liverpool Hospital”, por apresentar ferimentos extensos na cabeça, na cara, na parte superior de corpo e ter ficado sem as duas orelhas. Tudo leva a crer que os cães não seriam de raça perigosa e ignora-se qual o destino que lhes foi dado.
Infelizmente episódios destes acontecem um pouco por toda a parte e nalgumas latitudes com mais frequência, não sendo raro sucederem entre nós, particularmente àqueles que são proprietários de vários de vários cães e que dividem com eles o mesmo espaço. Dois cães do mesmo sexo não são um casal mas a fracção mais pequena duma matilha, lutando cada um deles para se sobrepor ao outro, se os seus donos abdicaram da liderança ou não tiverem como exercê-la. Com mais facilidade se digladiarão dois machos do que duas fêmeas, apesar do combate das cadelas ser capaz de causar maior dolo. Uma cadela castrada é capaz de enfrentar um cão e intentar dominá-lo, quer ele seja castrado ou não. Diante do sucedido em Sidney e que aqui se repete vezes sem conta, pergunta-se: Para quê adquirir um segundo cão, se não controlo o que tenho em mão, não estarei com isso a dar azo ao disparate?
Essa história de cãs brancas que leva os donos a confiar nos cães e a não lhes imputar regras de convivência, tem sido responsável por inúmeros acidentes e hospitalizações, por desaires de maior ou menor gravidade e repercussão. Os cães não nascem ensinados e carecem de ensino, o que é natural neles é procurarem o lugar mais alto na hierarquia, nem que seja para reclamarem maior atenção, porque lutam pela primazia, não gostam de reparti-la e resistem a perdê-la. Se pretender adquirir um segundo cão, não o faça sem ter absoluto controlo sobre o primeiro, o que até será bom, já que ele irá ajudá-lo na educação do recém-chegado (caso não tenha disponibilidade para isso, mande ensiná-lo). E depois, separar cães que não nos respeitam e que estão fora do nosso controlo, é uma tolice que sempre terá o seu preço. Mal comparado, um cão sem liderança é como um carro sem travões ou como um cavalo sem cabresto. Como poderei ser dono daquilo que não controlo? 

SE OS CÃES PUDESSEM ESCOLHER OS DONOS, MUITOS LIVRAR-SE-IAM DO PROZAC

Para começo de conversa, lançamos um repto ao nossos leitores : que nos adiantem os antónimos mais comuns para o substantivo feminino e termo médico “zoonose”? Cresce assustadoramente o número de cães com ansiedade e fadiga crónicas, maleitas que o Prozac tende a suavizar mas não resolve, porque apenas ataca os sintomas e não as causas, maioritariamente da responsabilidade dos seus donos, que por ausência de condições, não lhes garantem o bem-estar, levando-os a comportamentos anómalos como resposta à infelicidade por eles vivida, motivada pelo stress que os induz à depressão.
A excessiva sedentarização, o isolamento e o confinamento forçados, a privação da excursão e do exercício diários, a pouca ou nenhuma interacção e a supressão do seu viver social, são as principais causas indutoras pràs depressões caninas. Infelizmente são as pessoas que escolhem os cães e a muitas delas falta-lhes tempo e condições para tê-los, o que não impedirá de adquiri-los e sujeitá-los a precárias condições de vida, que agravarão o seu quadro clínico e comprometerão a sua esperança de vida.
Caso os cães tivessem como escolher os donos, prerrogativa que não lhes assiste, muitos deles jamais se veriam entregues a ansiolíticos e antidepressivos. Antes de adquirir um cão, aquilate se tem ou não condições para o ter (afeição, disponibilidade, predisposição, saúde e meios), porque a nossa felicidade não deverá ser alicerçada na infelicidade canina.

AKC RECONHECE O LAGOTTO ROMAGNOLO, O BERGER PICARD E O MINIATURE AMERICAN SHEPHERD

O American Kennel Club (AKC) reconheceu recentemente mais 3 raças caninas, são elas: o Lagotto Romagnolo, o Berger Picard e o Miniature American Shepherd, que a partir de agora terão o seu registo no livro de origens e poderão participar, a partir do próximo mês, nos shows, exposições e outros eventos organizados por aquele clube de canicultura norte-americano, de reputação e aceitação internacional. O Lagotto Romagnolo (cão de lago da Romagna) é um retriever italiano originário da região administrativa Emilia-Romagna no Nordeste italiano, cuja capital é Bolonha. Para além das características que o tornam um excelente retriever, se for educado desde novo, pode tornar-se num exímio prospector de turfas. Cão lanudo, muito idêntico aos cães de água portugueses e espanhóis, com os quais denota uma origem comum, não se estranhando ser tratado pelos alemães de “Wasserhund der Romagna”, já que originalmente proliferou nas  planícies de Comacchio e pântanos de Ravenna. O seu estalão adianta para os machos de 45 a 48cm de altura, com um peso entre os 13 e 16kg. As fêmeas têm uma altura entre os 41 e 46cm e o seu peso varia entre os 11 e 14kg. O padrão original da raça foi lavrado em 1988 pelo CIL (Clube Italiano do Lagotto), entidade filiada no ENCI (Kennel Club Italiano). Trata-se de um cão dócil e de fácil sociabilização entre iguais, indicado também como cão de família, que adora fazer buracos, de manto impermeável, que tanto pode ser uniforme como malhado, nas cores branco e castanho e nas interacções cromáticas delas resultantes (branco com castanho, laranja ou ruão).Tem uma esperança média de vida de 16 anos e presta-se a recuperar lebres, perdizes e outras aves selvagens, tudo tendo para vir a ser um extraordinário cão de salvamento.
O Berger Picard, originário da Picardia/França, um dinossauro no panorama das raças caninas e por detrás da formação de muitos cães pastores na França, Holanda, Bélgica e Alemanha, facto comprovado pela existência do Laekenois e pela contribuição de cães pastores de pêlo de arame (cerdosos) para a formação do Cão de Pastor Alemão, ainda hoje é pouco numeroso e a sua procura é diminuta. A sua escassez resulta da sua quase extinção que ocorreu por ocasião das duas Guerras Mundiais que flagelaram a Europa e que não pouparam o seu território endémico (Nordeste de França), já que foi ali que aconteceu a guerra de trincheiras do Somme. A sua menor procura fica a dever-se ao facto ser por demais rústico, pouco apelativo e lembrar um mestiço, uma hibridação em tudo igual à verificada entre um podengo e um cão de água ou entre este e um spitz. Com os avanços da ciência e a contribuição do ADN, estamos em crer que a importância do Picard para a formação dos diferentes pastores será revelada. Trata-se de um cão rectangular, bem musculado, com o crânio e o focinho de igual comprimento, com o chanfro nasal abatido, de orelhas erectas com alta implantação, de coxas mais longas que as pernas, cuja cauda atinge o jarrete, mais claro nas patas e no ventre. A sua cor é similar à dos jovens corsos (cinzenta-avermelhada) e apresenta uma multivariedade de sombras. Os machos medem entre 60 a 65cm e as fêmeas entre 55 a 60cm, pesando entre 23 e 32kg. A sua esperança de vida oscila entre os 12 e 14 anos. O Berger Picard é um cão alegre, leal, com uma excelente capacidade de aprendizagem, obediente e atento, próprio para a parceria e para trabalhar o dia inteiro, que apesar de suave e tranquilo, é de natureza protectora, sendo por isso reservado com estranhos, o que obrigará à sua sociabilização, continuando a ser usado como cão de guarda e pastoreio.
O Miniature American Shepherd, também conhecido pela sigla “MAS”, é um pequeno cão muito similar ao Pastor Australiano, cujo peso oscila entre os 9 para os 18kg, variando em altura entre 33 e 45cm (de 35 a 45cm para os machos; de 33 a 43cm para as fêmeas), um cão versátil que se presta a quase tudo, inclusive ao resgate e salvamento. Portador de uma agilidade, força e resistência pouco vistas, ele adequa-se a todo o tipo de terrenos e ecossistemas, podendo transformar-se num excelente cão familiar, caso se despreze a sua utilidade e parceria como pastor e atleta.
Com o reconhecimento oficial destas três raças e ao dar resposta às aspirações dos seus criadores, o AKC realçou mais uma vez o seu carácter pragmático e a procura pelos cães de utilidade, contribuindo de sobremaneira para a valorização e divulgação destas raças. Este arejamento norte-americano, que mais valoriza o uso que a estética e procura a inovação, quiçá pela acção do anticiclone dos Açores, tarda em chegar à Europa, o que se lamenta mas que bem serve aos americanos, a quem todos, mais cedo ou mais tarde, se verão obrigados a comprar-lhes cães, considerando a qualidade e o uso dos exemplares inscritos nos seus livros de origem. Ficámos muito felizes pelo Picard (cão que muito apreciamos) e os amantes do Lagotto também têm razões para isso. Os americanos partem geralmente na frente e raramente se atrasam! E se os chineses ao invés de comerem cães, passarem a exportá-los, o que será de nós? Passaremos nós a comê-los? Alguns suíços já estão acostumados!

SAUDADES DE JOGAR À BOLA SEM TER UM CÃO PERNA

Quando nos debruçamos sobre o adestramento e ao olharmos para os métodos da maioria dos adestradores actuais, vem-nos à memória o que passa em certas latitudes, onde muita gente ignora que o peixe tem espinhas e que o frango tem cabeça, porque todos querem ver a sua vida facilitada e procuram o prato pronto, os treinadores caninos valer-se-ão de bolas para o seu o seu ofício e todos comerão as carcaças dos frangos nas salsichas, ainda que não o saibam. Apesar do adestramento não dispensar a carga emotiva que serve de estímulo às acções caninas e a cumplicidade que visa o melhor aproveitamento dos cães, ele é sustentado pelo exercício da lógica que presidirá à escolha dos métodos, considerando os prós e os contras presentes em cada um deles, clarividência pouco visível naqueles que hoje abraçam este nobre ofício, que seguem o convencional sem aquilatarem dos seus riscos e menos valias. Quase que poderíamos jurar (não o fazemos para não incorrermos em juízos temerários), que muitos alienados fazem do adestramento terapia e que quanto maior for o seu grau de insanidade melhor serão respeitados, como se os loucos estivessem mais perto da verdade oculta e a genialidade resultasse da loucura, princípios dogmáticos que vimos respeitados nas nossas andanças pelo Magrebe.
Poderei ensinar um cão valendo-me apenas de uma bola? Sim e com muita facilidade, se o cão a ensinar for cúmplice e alegre, conservar algum instinto de caça e tiver excelentes impulsos ao movimento e à luta. Com o auxílio da bola conseguirei ensinar-lhe todo o currículo de obediência, tanto os comandos estáticos como os dinâmicos, alcançando os mesmos resultados com um saco de biscoitos, um disco, um brinquedo e até com um simples cavaco. Ainda que o recurso aos brinquedos simplifique e facilite de sobremaneira o ensino canino, ao ponto de dispensar os condutores de maiores requisitos técnicos e de valer aos cães com menor impulso ao conhecimento, pondo-os assim em igualdade com outros que de outro modo jamais seriam capazes de acompanhar, o seu desmame não é fácil e nem sempre é absoluto, por que causa dependência e possibilita o uso dos cães por terceiros quando munidos dos brinquedos, o que poderá vir a comprometer alguns serviços historicamente destinados aos cães. É evidente que o reforço positivo, diante da sua abrangência e prática, está muito para além disto. O recurso aos brinquedos, estratégia inescusável no ensino dalguns cães, lembra o que fazemos em aritmética na teoria dos números, quando pretendemos encontrar o máximo divisor comum (mdc) entre dois ou mais números inteiros, porque nivela o ensino canino por baixo, baseando-o quase em exclusivo nas respostas naturais dos animais, valendo a muitos e subaproveitando os melhores, cuja riqueza de personalidade suplanta os instintos, despreza a dependência e não é dada a subornos. Sim, também na pedagogia canina se trabalha para as estatísticas e trabalhar-se-á enquanto forem os donos a pagar as mensalidades.
 O hábito generalizado de se ensinarem cães com bolas, que vulgariza o adestramento e que o torna extensível ao mais rudimentar dos proprietários caninos, não lhe adiantando qualquer capacitação, tem vindo a ser responsável por um infindável número de incómodos e disparates, alguns deles fatais, tanto para pessoas como para os animais. Por toda a parte sobram ataques caninos sobre crianças de tenra idade pela disputa de bolas, o que nos leva a questionar sobre a justeza do método: será ele o mais indicado para quem é pai e tem filhos pequenos? Já sabemos que os cães têm vindo gradualmente a substituir as crianças nos lares, que os jovens casais optam por um cão para se libertarem dos possíveis encargos com um filho ou dois, não diferindo nisso dos solitários seniores que já se viram privados deles. Serão os cães do futuro que suportarão as pensões da população e os encargos do Estado amanhã?
Longe vão os dias em que as famílias podiam deslocar-se aos parques públicos sem sobressaltos, comer por ali e depois optarem por uma “peladinha” com os filhos, porque hoje, vindo donde menos se espera, sempre aparece um esfaimado cão (e há-os de todos os tamanhos) que reclama a bola para si e desaparece com ela na boca, apesar da lei obrigar todos a circularem atrelados. No meio da confusão gerada, para além dos vitupérios e das ameaças usuais, a Polícia acabará por ser chamada, porque a bola foi furada, uma criança foi projectada no chão, mordida ou ficou traumatizada. Os donos dos cães acabarão por sair dali à pressa, antes que a Polícia chegue para tomar conta da ocorrência e sem terem aprendido a lição.
Uma criança com uma bola na mão transforma-se num alvo e uma bola a saltitar numa tentação. E se por acaso houver um cão a correr atrás duma bola, breve terá a concorrência doutro, irá ter que lutar para ficar com ela e poderá vir a ser escorraçado. Então, não deveremos usar a bola no ensino dos cães? Há casos em que ela é perfeitamente dispensável e outros em que se torna imprescindível, opções ligadas ao particular biológico dos indivíduos, à sua vocação e serviço. De qualquer modo, numa fase ulterior do treino, cada cão só deverá procurar e interessar-se pelos seus brinquedos, desprezando aqueles que não lhe pertencem, condicionamento obrigatório para não vir a causar desacatos, acabar ludibriado ou eliminado, o que equivale a dizer que, nalgum momento do treino, a bola deverá a ser entendida como presságio de trabalho e não como um acessório lúdico, podendo e devendo ser ainda usada como recompensa pelo trabalho prestado pelos cães. Contudo, esta distinção não estará ao alcance de todos eles e a bola jamais substituirá a liderança e o seu papel, particularmente na presença de cães notoriamente agressivos ou carenciados de travamento, erro em que incorrem usualmente os donos menos audazes perante cães valentes, que incapazes de se fazerem ouvir, tentam subornar os animais, “educá-los sem eles darem por isso”, evitando a todo o custo o confronto directo, atitude típica de larápios que desnuda e envergonha qualquer dono. E caso venham a ser bem-sucedidos, ao destruírem assim os cães, acabarão por entregá-los na mão dos bajuladores, cujas intenções nem sempre são as melhores.
Assim como há quem tire uma esquadria “às três pancadas”, a maioria dos donos colocará os cães para correr e jamais operará o seu travamento pronto e imediato, correndo depois, inevitavelmente, atrás do prejuízo, até porque, ao chegarem às escolas, só pretendiam assenhorar-se duns quantos “truques”! A bola, como os demais brinquedos, poderá ser e na maioria dos casos é, um excelente subsídio de ensino para os cães, mas pouco contribui para a inevitável e urgente formação dos seus condutores, primeiros e únicos responsáveis pelos actos dos seus cães perante a sociedade e o seu socorro. Incomodados diante desta toada, sentimos saudades do tempo em que podíamos jogar futebol sem ter um cão à perna, dos bons e saudosos velhos tempos em que podíamos celebrar os golos sem nos roubarem a bola.