Eu não sou alentejano,
apesar dos meus dois nomes próprios soarem a isso, mas admiro e respeito as
gentes do Alentejo pelo seu muito saber, humildade e tradições, herança cultural
que engrandece o pequeno País multifacetado que somos, onde o Oriente se cruzou
com o Ocidente e deu-nos esta identidade singular. O gosto de ouvir os mais
velhos desenvolvi–o quando moço, depois do jantar, a escutar as narrativas de
tempos idos da boca da segunda mulher do meu avô, que apesar de não ser do meu
sangue, foi a melhor avó que alguém podia ter. O hábito ficou-me e numa das
últimas descidas que fiz ao Alentejo, assomei-me de três idosos que falavam dum
primo que fora dos fuzileiros, de quem diziam ser “boa praça”, maroto e amigo
de cães.
Como a conversa metia cães
e não queria perder pitada, cumprimentei-os, perguntei se incomodava e ali
fiquei a ouvi-los com muita atenção. O dito primo, que havia trabalhado com
cães na Guerra Colonial, mesmo depois de ter terminado o Serviço Militar
Obrigatório, continuou a tê-los e a criá-los, não consentindo a ninguém
conhecer os seus nomes, porque entendia que se distraíam e que acabavam por
fazer amizade com quem não deviam.
Independentemente do seu
número, sexo ou idade, todos tinham o mesmo nome e quando lhe perguntavam como
se chamava algum, a resposta era sempre a mesma: “Trêscontigo”, resposta que
muitos entendiam como uma ofensa pessoal e que os obrigava a afastar-se
daqueles cães para não se exasperarem com o dono. E como não há duas sem três,
dizem, dali em diante e por brincadeira, os cães daquele Monte passaram todos a
chamar-se assim, ainda mais porque a polícia política não gostava de cantorias, vinha fora de horas e não era nada meiga.
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