Os apaixonados por cães
recebem boas notícias quase todos os dias, novidades que os aproximam cada vez
mais dos seus animais preferidos e que reforçam a coabitação que as duas
espécies reclamam, como se não pudessem viver uma sem a outra. A tendência
agora é a de levar os cães para o trabalho e pouco a pouco, tanto nas pequenas
empresas locais como nas grandes multinacionais, já é possível encontrar donos
e cães juntos em locais outrora impensáveis e nos mais diversos serviços. Como
se imagina, a ocorrência destas situações tende a aumentar e futuramente poucos
ou nenhuns cães ficarão em casa, mesmo aqueles que pelas mais variadas razões
não podem acompanhar os seus donos nos empregos, porque já existem para eles handlers,
creches, centros de dia, ATL’s (Actividades
de Tempos Livres) e Parques de Aventuras.
É evidente que a esta
situação encontra-se na fase embrionária e irá obrigar a algumas alterações que
não pouparão, inclusive, as Leis do Trabalho nos diversos países, como
obrigarão a legislação específica nas áreas da saúde pública, da segurança
alimentar e por aí adiante. Temos seguido com muita atenção as
experiências-piloto, em particular as acontecidas na Comunidade Europeia e nos
Estados Unidos, para melhor aquilatar dos benefícios desta opção, registando em
simultâneo o parecer dos principais implicados.
Para os patrões, desde que
contribua para o aumento da produtividade e das vendas, melhore a imagem das
empresas e contribua decisivamente para o bom ambiente laboral, a presença de
cães nos locais de trabalho vai para além de tolerável e até é bem-vinda, sendo
nalguns casos indispensável, particularmente quando importa escarrapachar num
letreiro ou nas etiquetas os seguintes dizeres: “DOG FRIENDLY COMPANY”, o que equivale também a
dizer que se trata de uma empresa que cuida dos seus funcionários, o que é
óptimo para a sua aceitação e bom-nome. 83% dos funcionários de uma grande
empresa declarou-se com maior senso de lealdade aos seus patrões pelo facto
destes aceitarem os seus cães nos locais de trabalho (Marx jamais imaginaria a “exploração
do homem pelo cão”!).
A presença de cães no
comércio e lojas locais aumenta a sua procura, porque são muitos os que querem
afagar os cães, particularmente os que gostavam de ter e não têm animais de
estimação. Por outro lado, segundo já foi comprovado, os donos que vão às
compras com os seus cães ao lado ou na presença de outros, tendem a relaxar e a
aumentar o seu volume de compras. Diante destes factos, os cães passam a ser
quase empregados e acabam por constituir-se em “imagem de marca”, vindo a ser
usados também em fotos publicitárias, porque para muita gente eles não são meros
animais, mas bebés de 4 patas.
Se a presença de cães é
boa para o negócio e para os patrões, para os empregados ela é ainda muito
melhor, porque transmite bem-estar, reduz o stress, estabelece um maior
equilíbrio entre a vida pessoal e a laboral, melhora a moral, o humor, as
relações de trabalho e a produtividade (maior rendimento e por mais horas),
para além de livrar da culpa de deixar os cães em casa. A interacção com os
cães tende ainda a reduzir a pressão arterial e a aumentar a ocitocina, a
beta-endorfina e a dopamina associadas ao prazer e aos sentimentos afectivos.
Os cães também serão afectados pelo relacionamento com os seus donos e podem
também experimentar um aumento da oxitocina, o que contribuirá objectivamente
para o seu bem-estar. Depois disto, pergunta-se: igual benefício não teriam
pais e crianças se ambos pudessem ir junto para o trabalho?
Até agora ainda não se
descobriu qual o cão ideal para levar para o trabalho, porque em cada raça existem
indivíduos diferentes. Penso que os diferentes trabalhos exigirão cães diversos
e que será o trabalho a dizer qual o perfil psicológico, o tamanho e
envergadura dos cães desejados. E se tudo acontecer como predisse o Professor e
Filósofo português Agostinho da Silva1 (1906-1994), que o trabalho acabaria um
dia, a partir desse momento vamos todos dar banho aos cães! Até lá e cada vez
mais, eles não ficarão em casa, irão para o trabalho com os donos pelas
vantagens que parecem oferecer.
Em
Portugal a moda está difícil de pegar, mas quando pegar irá de vento-em-popa,
não fôssemos latinos e profundamente passionais.
1 Filósofo
prático português, pouco conhecido na sua Pátria e figura dos meios universitários
de Portugal e do Brasil.
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