terça-feira, 3 de abril de 2018

NÃO IRÃO FICAR EM CASA!

Os apaixonados por cães recebem boas notícias quase todos os dias, novidades que os aproximam cada vez mais dos seus animais preferidos e que reforçam a coabitação que as duas espécies reclamam, como se não pudessem viver uma sem a outra. A tendência agora é a de levar os cães para o trabalho e pouco a pouco, tanto nas pequenas empresas locais como nas grandes multinacionais, já é possível encontrar donos e cães juntos em locais outrora impensáveis e nos mais diversos serviços. Como se imagina, a ocorrência destas situações tende a aumentar e futuramente poucos ou nenhuns cães ficarão em casa, mesmo aqueles que pelas mais variadas razões não podem acompanhar os seus donos nos empregos, porque já existem para eles handlers, creches, centros de dia, ATL’s (Actividades de Tempos Livres) e Parques de Aventuras.
É evidente que a esta situação encontra-se na fase embrionária e irá obrigar a algumas alterações que não pouparão, inclusive, as Leis do Trabalho nos diversos países, como obrigarão a legislação específica nas áreas da saúde pública, da segurança alimentar e por aí adiante. Temos seguido com muita atenção as experiências-piloto, em particular as acontecidas na Comunidade Europeia e nos Estados Unidos, para melhor aquilatar dos benefícios desta opção, registando em simultâneo o parecer dos principais implicados.
Para os patrões, desde que contribua para o aumento da produtividade e das vendas, melhore a imagem das empresas e contribua decisivamente para o bom ambiente laboral, a presença de cães nos locais de trabalho vai para além de tolerável e até é bem-vinda, sendo nalguns casos indispensável, particularmente quando importa escarrapachar num letreiro ou nas etiquetas os seguintes dizeres: “DOG FRIENDLY COMPANY”, o que equivale também a dizer que se trata de uma empresa que cuida dos seus funcionários, o que é óptimo para a sua aceitação e bom-nome. 83% dos funcionários de uma grande empresa declarou-se com maior senso de lealdade aos seus patrões pelo facto destes aceitarem os seus cães nos locais de trabalho (Marx jamais imaginaria a “exploração do homem pelo cão”!).
A presença de cães no comércio e lojas locais aumenta a sua procura, porque são muitos os que querem afagar os cães, particularmente os que gostavam de ter e não têm animais de estimação. Por outro lado, segundo já foi comprovado, os donos que vão às compras com os seus cães ao lado ou na presença de outros, tendem a relaxar e a aumentar o seu volume de compras. Diante destes factos, os cães passam a ser quase empregados e acabam por constituir-se em “imagem de marca”, vindo a ser usados também em fotos publicitárias, porque para muita gente eles não são meros animais, mas bebés de 4 patas.
Se a presença de cães é boa para o negócio e para os patrões, para os empregados ela é ainda muito melhor, porque transmite bem-estar, reduz o stress, estabelece um maior equilíbrio entre a vida pessoal e a laboral, melhora a moral, o humor, as relações de trabalho e a produtividade (maior rendimento e por mais horas), para além de livrar da culpa de deixar os cães em casa. A interacção com os cães tende ainda a reduzir a pressão arterial e a aumentar a ocitocina, a beta-endorfina e a dopamina associadas ao prazer e aos sentimentos afectivos. Os cães também serão afectados pelo relacionamento com os seus donos e podem também experimentar um aumento da oxitocina, o que contribuirá objectivamente para o seu bem-estar. Depois disto, pergunta-se: igual benefício não teriam pais e crianças se ambos pudessem ir junto para o trabalho?
Até agora ainda não se descobriu qual o cão ideal para levar para o trabalho, porque em cada raça existem indivíduos diferentes. Penso que os diferentes trabalhos exigirão cães diversos e que será o trabalho a dizer qual o perfil psicológico, o tamanho e envergadura dos cães desejados. E se tudo acontecer como predisse o Professor e Filósofo português Agostinho da Silva1 (1906-1994), que o trabalho acabaria um dia, a partir desse momento vamos todos dar banho aos cães! Até lá e cada vez mais, eles não ficarão em casa, irão para o trabalho com os donos pelas vantagens que parecem oferecer.
Em Portugal a moda está difícil de pegar, mas quando pegar irá de vento-em-popa, não fôssemos latinos e profundamente passionais.
1 Filósofo prático português, pouco conhecido na sua Pátria e figura dos meios universitários de Portugal e do Brasil.

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