segunda-feira, 16 de abril de 2018

FUI AO CINEMA E VI CHAPARROS NA FLANDRES!

Como havia prometido a mim mesmo fui ver o filme português “SOLDADO MILHÕES” de Gonçalo Galvão Teles e Jorge Paixão da Costa (não sei porque razão o som é tão alto nas salas de cinema, mormente agora que os aparelhos para os surdos têm regulação). Apesar de não ser crítico de cinema e de não ter a menor propensão para isso, talvez por se independente demais, vou deixar aqui a minha opinião sobre o filme em questão. Não sei por onde começar, se pelas coisas boas ou pelas menos boas. Moeda ao ar lançada e… vamos começar pelas boas! Excelentes interpretações dos dois “Milhões” (o mais velho esteve uns pontos acima do mais novo), memorável também a participação da pequena actriz que julgo personificar a filha do Soldado Milhões.
O guião afastou-se muito pouco dos eventos históricos, o que se entende como positivo, uma vez que já cá não temos o Secretariado para a Propaganda Nacional. O Filme transpira a trincheiras e o Realizador (não sei qual deles foi) parece ter feito bem o trabalho de casa. Apesar do tema ser pesado, o filme é ligeiro e o tempo corre sem se dar por isso (fica-se com vontade de ver mais filme, como se ainda faltasse mais meia-parte). As cenas do Milhões regressado a casa, que evidenciam bem o stress pós-traumático vivido pelo soldado português, não cansam e prendem a atenção do espectador ao ponto de se identificar com a personagem principal ou de tentar antever as suas reacções.
Quanto as coisas menos boas há a realçar o corte no filme da história em que os soldados alemães vestem-se com fardas portuguesas e tentam enganar o Soldado Milhões; algumas broncas do pessoal dos adereços (o comum espectador não dará por elas); a estranheza de um dos lobos, que de Signatus pouco ou nada tinha e que se não era um cão-lobo andava lá perto; o actor que faz de capitão nas trincheiras descaracteriza a personagem por não adicionar ao linguajar militar a mímica correspondente, pois estamos a falar de cinema e não de teatro radiofónico (quem teria feito a direcção de actores?) e, finalmente e para cúmulo, nada como chaparros na Flandres, moinhos do norte da Europa a despontarem entre silvas e azinheiras! E com a Serra de Sintra ali tão perto e a Mata do Buçaco um pouco mais acima!
SOLDADO MILHÕES” é um projecto típico do desenrascanço que parece querer-nos acompanhar até à sepultura, um filme cuja grandeza foi ofuscada pelo presente momento de austeridade e que parece ter sido feito de modo apressado ou até onde a verba chegou, realizado por gente engenhosa a quem vulgarmente não se dá nem tempo nem dinheiro e que está acostumada a trabalhar em projectos de intenções. Falta ao filme, em matéria de autenticidade, uma ou duas cenas nocturnas e uma assessoria militar activa ou mais participativa. Vale a pena vê-lo? Sem dúvida nenhuma, tanto pelo tema como pelas cenas de acção, que nos transportam para dentro da I Guerra Mundial e da fatídica participação portuguesa através do CEP. E se isto não bastar, vale pela homenagem feita ao Soldado Aníbal Augusto Milhais, alcunhado de Milhões, um herói que devemos relembrar. 

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