Como havia prometido a mim
mesmo fui ver o filme português “SOLDADO
MILHÕES” de Gonçalo Galvão Teles e Jorge Paixão da Costa (não sei
porque razão o som é tão alto nas salas de cinema, mormente agora que os
aparelhos para os surdos têm regulação). Apesar de não ser crítico de cinema e
de não ter a menor propensão para isso, talvez por se independente demais, vou
deixar aqui a minha opinião sobre o filme em questão. Não sei por onde começar,
se pelas coisas boas ou pelas menos boas. Moeda ao ar lançada e… vamos começar
pelas boas! Excelentes interpretações dos dois “Milhões” (o mais velho esteve
uns pontos acima do mais novo), memorável também a participação da pequena actriz
que julgo personificar a filha do Soldado Milhões.
O guião afastou-se muito
pouco dos eventos históricos, o que se entende como positivo, uma vez que já cá
não temos o Secretariado para a Propaganda Nacional. O Filme transpira a trincheiras
e o Realizador (não sei qual deles foi) parece ter feito bem o trabalho de
casa. Apesar do tema ser pesado, o filme é ligeiro e o tempo corre sem se dar
por isso (fica-se com vontade de ver mais filme, como se ainda faltasse mais
meia-parte). As cenas do Milhões regressado a casa, que evidenciam bem o stress
pós-traumático vivido pelo soldado português, não cansam e prendem a atenção do
espectador ao ponto de se identificar com a personagem principal ou de tentar
antever as suas reacções.
Quanto as coisas menos
boas há a realçar o corte no filme da história em que os soldados alemães vestem-se
com fardas portuguesas e tentam enganar o Soldado Milhões; algumas broncas do
pessoal dos adereços (o comum espectador não dará por elas); a estranheza de um
dos lobos, que de Signatus pouco ou nada tinha e que se não era um cão-lobo
andava lá perto; o actor que faz de capitão nas trincheiras descaracteriza a
personagem por não adicionar ao linguajar militar a mímica correspondente, pois
estamos a falar de cinema e não de teatro radiofónico (quem teria feito a
direcção de actores?) e, finalmente e para cúmulo, nada como chaparros na
Flandres, moinhos do norte da Europa a despontarem entre silvas e azinheiras! E
com a Serra de Sintra ali tão perto e a Mata do Buçaco um pouco mais acima!
“SOLDADO MILHÕES”
é um projecto típico do desenrascanço que parece querer-nos acompanhar até à
sepultura, um filme cuja grandeza foi ofuscada pelo presente momento de
austeridade e que parece ter sido feito de modo apressado ou até onde a verba
chegou, realizado por gente engenhosa a quem vulgarmente não se dá nem tempo nem
dinheiro e que está acostumada a trabalhar em projectos de intenções. Falta ao
filme, em matéria de autenticidade, uma ou duas cenas nocturnas e uma
assessoria militar activa ou mais participativa. Vale a pena vê-lo? Sem dúvida nenhuma, tanto pelo tema
como pelas cenas de acção, que nos transportam para dentro da I Guerra Mundial e
da fatídica participação portuguesa através do CEP. E se isto não bastar, vale
pela homenagem feita ao Soldado Aníbal Augusto Milhais, alcunhado de Milhões,
um herói que devemos relembrar.
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