quarta-feira, 11 de abril de 2018

250 000 POR UMA SEGUNDA CHANCE

Um Staffordshire chamado Chico, à volta dos oito anos de idade, a viver em Hannover/Alemanha, que passava os dias enjaulado e a ladrar incessantemente, que havia sido treinado para ser ”uma máquina de combate” e que foi adquirido com o propósito de defender a família, acabou por matar a sua dona e um dos seus filhos no passado dia 3, ela de 52 anos, que se deslocava numa cadeira de rodas e ele de 27 que tinha dificuldades de aprendizagem. Como consequência do ocorrido e à luz da legislação germânica em vigor, o cão foi apreendido para posterior abate. A incapacidade permanente da vítima feminina deste cão resultou dum ataque à machadada perpetrado pelo seu marido em 2005. Pouco tempo antes deste sair da prisão, a senhora adquiriu o cão para a proteger a si e aos seus quatro filhos daquele marido e pai insano.
Apesar do relatório da Assistente Social que acompanhava aquela família dizer que o cão "havia sido treinado para ser uma máquina de combate", que era demasiado perigoso e uma ameaça constante, não tendo aquele agregado familiar condições para o ter, as autoridades competentes não deram a necessária importância ao caso, não considerando também o parecer de um treinador de cães, que em 2011 foi contratado para a reeducação do cão, que remetia para o Departamento de Inspecção Veterinária a decisão do animal ter ou não permissão para ficar com a família. O desinteresse das autoridades e a ausência do seu pronunciamento acabaram por condenar à morte duas pessoas.
Quando as autoridades se preparavam para abater o cão, receberam uma petição nacional intitulada “Let Chico Live” com 250 000 assinaturas para salvar o animal, muita gente se ofereceu para o adoptar e houve inclusive inúmeras tentativas de invasão do centro de detenção para resgatá-lo. Perante tamanha pressão, as autoridades retrocederam e estão prestes a suspender a execução, por reconhecerem que erraram ao não retirarem o animal dos seus proprietários, já que uma avaliação feita por especialistas, caso tivesse sido realizada, chegaria à mesma conclusão. É opinião dos signatários da petição atrás mencionada que o Chico merece uma segunda chance, agora com alguém que tenha experiência com cães, para que finalmente possa desfrutar de uma vida amorosa e apropriada para a sua espécie!
Mesmo que a suspensão da execução venha a acontecer e tudo leva a crer que sim, à cautela e caso ainda os tenha, o Chico deverá perder os testículos, procedimento normal em casos destes. Sem pôr am causa a justiça de uma segunda chance para este Staffordshire, várias dúvidas me assolam: se ao invés de um cão fosse um homem, teria uma petição com 250 000 assinaturas para lhe poupar a vida? Não merecerão os homens uma segunda chance? Porque consentimos na pena de morte entre nós, valerá a vida de um homem menos do que a de um cão? E quanto à castração, uma vez comprovada a patologia e a impossibilidade de outra de cura, porque não castrar os pedófilos, estupradores e violadores? Esta história dos cães dá que pensar!
Que lições podemos tirar deste drama verídico? Várias. A primeira é que não podemos ter cães para além do nosso controlo; a segunda é que somos obrigados a pedir ajuda quando isso se verifica; a terceira é que eles tornam-se mais agressivos quando confinados em espaços pequenos (o Chico, para além de estar enjaulado em casa, deveria sair pouco à rua, reparem no comprimento das suas unhas na penúltima foto deste texto); a quarta é que cães nestas circunstâncias tornam-se anti-sociais e quanto menos vêm à rua mais agressivos se mostram e a quinta é que não podemos arranjar uma arma que se vire contra nós. Agora todos compreendemos porque certos criadores e adestradores têm os cães enjaulados praticamente os dias inteiros, libertando-os somente para comer, urinar, defecar, treinar ou prestar serviço, eles querem torná-los agressivos, formigas com catarro e cordeiros com ares de lobo, lobos como o da estória do Capuchinho Vermelho que, quando esta lhe perguntou por que razão tinha os dentes tão grandes, respondeu que era para a comer! Quantos donos acabam mordidos e até mortos por procederem assim? Vamos lá deixar-nos de estórias e ganhar juízo!

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