Como prefácio ao tema convém
relembrar que o comum rafeiro,
aquele cão que não tem raça definida, que vagueia pelas ruas das grandes
metrópoles e que hoje está na berra, é o
cão mais extraordinário que existe em
termos de adaptação, resistência, biodiversidade, saúde e longevidade.
Penso até que poderá valer aos seus irmãos com pedigree, como uma infusão
sanguínea regeneradora, dotando-os dos seus créditos, porque estão doentes e importa
expurgar-lhes as maleitas da excessiva manipulação humana, estratégia que está
a ser adoptada um pouco por toda a parte.
Não é exclusivamente de
rafeiros que trata este artigo, mas sim das vantagens da hibridação, não tanto
para os animais, que é ponto assente, mas naquilo que ela esclarece e oferece em
termos de conhecimento, tanto a quem a observa como a quem opta por ela. Nós pertencemos
ao primeiro grupo (a quem observa) e temos seguido com muita atenção as raças de
raiz comum ao Cão de Pastor Alemão (Pastores Belgas e Holandeses) e as suas
sucedâneas (Cão lobo de Saarloos, Kunming Dog, Lobo Checo, Lobo Italiano, Pastor
Canadiano, Pastor de Shiloh, Pastor do Leste Europeu, Pastor Suíço, Volkosoby, entre
outros), não esquecendo as antigas e as actuais hibridações de diferentes ou
idênticos grupos somáticos, como é o caso do Shepsky, um híbrido de Pastor
Alemão com Husky, também conhecido por German Husky, Siberian Shepherd e Husky
Shepherd, cão de quem iremos falar brevemente.
Ensina mais a hibridação
sobre uma raça que a sua criação padronizada, o que não dispensa o conhecimento
profundo das características da raça em questão. A hibridação sempre opera uma
regressão e ao fazê-lo sempre separa as características universais das
específicas de uma raça, indicando-nos os possíveis indivíduos por detrás da
sua formação e a proveniência de determinadas características, o que pode ser
importante tanto para reabilitar as actuais raças como para formar novas.
Enquanto a criação padronizada tudo conserva e nada esclarece, a hibridação
elucida, oferece soluções e serve de suporte para a criação de novas raças, que
se desejam melhores e mais fortes do que as anteriores.
A hibridação tem ainda mais
duas vantagens, a de explicar a origem e o porquê de determinadas marcas
indesejáveis ou “defeitos” penalizados pelos respectivos estalões das raças, para
além de elucidar quais os factores que determinaram os seus limites. E isto
para já não falar no conserto que a hibridação pode operar em determinadas raças,
substituindo na reprodução indivíduos padronizados doentes por indivíduos
saudáveis externos à raça, mas de idênticas características psicossomáticas, e
a partir daí, algumas gerações depois, promover o seu regresso ao estalão, aprovação
já acontecida em Kennel Clubs dos dois lados do Atlântico Norte. Trata-se aqui
de extirpar o mal pela raíz e de libertar uma ou mais raças de incapacidades
tornadas hereditárias que obstam ao seu bem-estar, desempenho e longevidade.
Como de depreende, a hibridação de cães não é uma moda, mas pode ser - e está a ser - parte importante na
solução dos problemas caninos.
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