domingo, 15 de abril de 2018

O QUANTO A HIBRIDAÇÃO ENSINA E ESCLARECE

Como prefácio ao tema convém relembrar que o comum rafeiro, aquele cão que não tem raça definida, que vagueia pelas ruas das grandes metrópoles e que hoje está na berra, é o cão mais extraordinário que existe em termos de adaptação, resistência, biodiversidade, saúde e longevidade. Penso até que poderá valer aos seus irmãos com pedigree, como uma infusão sanguínea regeneradora, dotando-os dos seus créditos, porque estão doentes e importa expurgar-lhes as maleitas da excessiva manipulação humana, estratégia que está a ser adoptada um pouco por toda a parte.
Não é exclusivamente de rafeiros que trata este artigo, mas sim das vantagens da hibridação, não tanto para os animais, que é ponto assente, mas naquilo que ela esclarece e oferece em termos de conhecimento, tanto a quem a observa como a quem opta por ela. Nós pertencemos ao primeiro grupo (a quem observa) e temos seguido com muita atenção as raças de raiz comum ao Cão de Pastor Alemão (Pastores Belgas e Holandeses) e as suas sucedâneas (Cão lobo de Saarloos, Kunming Dog, Lobo Checo, Lobo Italiano, Pastor Canadiano, Pastor de Shiloh, Pastor do Leste Europeu, Pastor Suíço, Volkosoby, entre outros), não esquecendo as antigas e as actuais hibridações de diferentes ou idênticos grupos somáticos, como é o caso do Shepsky, um híbrido de Pastor Alemão com Husky, também conhecido por German Husky, Siberian Shepherd e Husky Shepherd, cão de quem iremos falar brevemente.
Ensina mais a hibridação sobre uma raça que a sua criação padronizada, o que não dispensa o conhecimento profundo das características da raça em questão. A hibridação sempre opera uma regressão e ao fazê-lo sempre separa as características universais das específicas de uma raça, indicando-nos os possíveis indivíduos por detrás da sua formação e a proveniência de determinadas características, o que pode ser importante tanto para reabilitar as actuais raças como para formar novas. Enquanto a criação padronizada tudo conserva e nada esclarece, a hibridação elucida, oferece soluções e serve de suporte para a criação de novas raças, que se desejam melhores e mais fortes do que as anteriores.
A hibridação tem ainda mais duas vantagens, a de explicar a origem e o porquê de determinadas marcas indesejáveis ou “defeitos” penalizados pelos respectivos estalões das raças, para além de elucidar quais os factores que determinaram os seus limites. E isto para já não falar no conserto que a hibridação pode operar em determinadas raças, substituindo na reprodução indivíduos padronizados doentes por indivíduos saudáveis externos à raça, mas de idênticas características psicossomáticas, e a partir daí, algumas gerações depois, promover o seu regresso ao estalão, aprovação já acontecida em Kennel Clubs dos dois lados do Atlântico Norte. Trata-se aqui de extirpar o mal pela raíz e de libertar uma ou mais raças de incapacidades tornadas hereditárias que obstam ao seu bem-estar, desempenho e longevidade. Como de depreende, a hibridação de cães não é uma moda, mas pode ser - e está a ser - parte importante na solução dos problemas caninos.

Sem comentários:

Enviar um comentário