segunda-feira, 30 de abril de 2018

TRELA PARA QUÊ? ELE NÃO MORDE E NÃO FAZ MAL A NINGUÉM!

Se existem Decretos-Lei menos respeitados e a quem as polícias fazem a vista grossa, um deles é certamente o DL n.º 314/2003, de 17 de Dezembro, no seu 7º artigo (Obrigatoriedade do uso de coleira ou peitoral e açaimo ou trela), alíneas 1, 2 e 3, onde se faz saber: “1 - É obrigatório o uso por todos os cães e gatos que circulem na via ou lugar públicos de coleira ou peitoral, no qual deve estar colocada, por qualquer forma, o nome e morada ou telefone do detentor. 2 - É proibida a presença na via ou lugar públicos de cães sem estarem acompanhados pelo detentor, e sem açaimo funcional, excepto quando conduzidos à trela, em provas e treinos ou, tratando-se de animais utilizados na caça, durante os actos venatórios. 3 - No caso de cães perigosos ou potencialmente perigosos, para além do açaime previsto no número anterior, os animais devem ainda circular com os meios de contenção que forem determinados por legislação especial.
Vamos lá deixar-nos de hipocrisias e de discursos politicamente correctos. São muito poucos os cães que encontramos na rua com o nome, morada ou telefone dos seus detentores (donos) nas suas coleiras e/ou peitorais. Ao invés, temos visto muitos nos locais públicos a passear sem nenhum destes acessórios de prisão, soltos, sem açaimo e bem longe dos seus proprietários, sem serem animais em provas, de treinos ou entregues ao ofício cinegético, maioritariamente cães pequenos, que os seus donos entendem estar dispensados das obrigações da Lei, por serem inofensivos, bem-tratados, simpáticos, castrados e de pequeno tamanho. Assim, se alguém disser a esta gente que deve prender o seu cão, a resposta sai na ponta da língua - “Isso é só para os cães grandes!” - apesar de não ser isso que a Lei diz, uma vez que não cria excepções a partir do tamanho dos cães.
Deixarão estes adoráveis cãezinhos nas suas intermináveis carreiras e piruetas de incomodar quem não conta com eles, quando surgem sem pré-aviso e vindos do nada? Vejamos algumas “proezas” mais comuns destes diabinhos à solta, todas elas da responsabilidades dos seus detentores, que as consentem em contravenção com a Lei para agravamento das penas alheias (há quem diga que se estão borrifando para o assunto e não são poucos os que dão mostras inequívocas disso).
Quem não gosta de cães, quando na via pública, será obrigado a fazê-lo e a suportar pacientemente o incómodo? É por demais evidente que não, porque como qualquer outro cidadão tem os seus direitos e merece ser respeitado. Onde acontecem os maiores conflitos com os cães soltos é nos locais públicos comuns a homens e cães por todos frequentados, onde os animais em liberdade não hesitam em urinar nas malas, mochilas e sacos alheios; em passar por cima de quem se encontra deitado na relva; em roubar comida a crianças, que acabam por chorar e que poderão acabar traumatizadas gratuitamente; em fazer buracos na relva (nalguns casos verdadeiras crateras) e em largar cocós que ficam por apanhar, o que é um verdadeiro atentado para a saúde pública.
Para além de poderem empoleirar-se nas mesas dos cafés, do barulho e da sujidade que largam e provocam, estes diabinhos à solta são um sério inconveniente para os deficientes, particularmente para aqueles que se deslocam em cadeiras de rodas, quer atravessando-se à sua frente quer saltando-lhes para cima. Os cidadãos mais idosos e com maiores dificuldades de equilíbrio ou locomoção podem também acabar estatelados no chão, depois de abalroados por um foguete de quatro patas. À noite estes perigos aumentam ainda mais, porque só se dá por eles tarde demais.
O facto dos cãezinhos andarem soltos é motivo mais que suficiente para desafiarem os cães grandes que se encontram atrelados, cujos donos não vêem com bons olhos tal despropósito, particularmente quando rodeiam, ladram e rosnam para os seus cães, algazarra que normalmente induz a acesas discussões e que pode acabar da pior maneira. Também os invisuais se vêem à brocha com os cães à solta, porque tendem a cercar, perseguir e desconcentrar os cães-guia, deixando os deficientes perplexos e confusos, isto se não lhes atacarem os cães-guia, o que não é tão raro acontecer aqui e lá fora. E como os cães são seres sociais, mesmo soltos, tendem a agrupar-se, embrulhando-se e correndo uns atrás dos outros por onde lhes der na real gana, liberdade que causa acidentes e vítimas junto de quem indevidamente jogam ao chão.
Para além do incómodo, do abuso contra o bem-estar das crianças, deficientes e idosos, do atentado que são para a saúde pública e das vidas humanas que podem colocar em risco, porque normalmente não foram e não são objecto de qualquer tipo de treino de obediência, estes diabinhos à solta acabam também por colocar a sua própria vida em risco, quando atrás de um gato ou dominados por outra curiosidade, acabam fatalmente por atravessar uma estrada. Será que um simples pedido de desculpas serve para calar tanto abuso e disparate? Eu julgo que não, não o aceito e se puder chamo a polícia, demore ela o tempo que demorar a chegar. Pode ser que chegue tarde, mas o detentor de um cão assim sempre apanhará um susto e pensará duas vezes antes de voltar a soltar o seu cão. Se todos procedêssemos desta maneira, todos seríamos mais respeitados e viveríamos mais felizes!
Apesar de tudo o que dissemos, compreendemos perfeitamente as necessidades de evasão canina, que deverão ser inteiramente satisfeitas em locais próprios para esse efeito, sem colidirem com os direitos individuais de cada um. Estamos a falar de parques de considerável dimensão para os cães citadinos, onde possam correr à vontade e por tempo indeterminado, melhoramentos da responsabilidade das autarquias que tardam em realizá-los diante do crescente número de cães urbanos. E como por um voto se ganha ou perde uma eleição e os proprietários caninos são cada vez mais, penso que a construção desses parques não tardará a acontecer!

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