segunda-feira, 9 de abril de 2018

OS NOSSOS LEITORES EGÍPCIOS

O número dos nossos leitores egípcios tem-se mantido constante ao longo dos anos, nunca ultrapassando a meia-dúzia semanalmente, o que não nos desalenta ou entristece – pelo contrário – porque sabemos quão difícil é alcançar leitores de países muçulmanos quando o assunto diz respeito a cães, como é o nosso caso. Não sabemos se os egípcios que nos visitam regularmente são muçulmanos, cristãos-coptas ou doutro credo, o que para o caso pouco importa porque todos são bem-vindos.
À sombra da bandeira com a águia dourada de Saladino1 abriga-se um povo, nem sempre quisto ou bem visto que, quer queiramos ou não, tem muito a ver connosco enquanto ibero-cristãos, tendo em conta a “Espanha Muçulmana” e a religião do Antigo Egipto, a primeira porque criou laços histórico-sanguíneos e a segunda porque acreditava numa vida para além da morte, crença mais próxima do cristianismo do que do judaísmo. Eça de Queiroz2, na visita que empreendeu ao Egipto em 1869, disse a este respeito que “os egípcios fazem casas de barro e túmulos de granito”, aludindo à sua preocupação com a eternidade.
Não estamos em crer que tanto a canicultura como a cinotecnia venham a ter um forte incremento no Egipto, pelo menos nos tempos próximos e enquanto o radicalismo islâmico influenciar alguns sectores da sua sociedade. Não obstante, vale a pena falar da sua maior riqueza – o Rio Nilo, rio que segundo alguns egiptólogos esteve por detrás da crença numa segunda vida e no paraíso, porquanto os egípcios já o haviam experimentado aqui na terra e ao longo das suas margens.
Perguntar-nos-ão o que terá este rio mais do que outros, ao que nós responderemos: tudo! Tal como o nosso Sado, ele corre de Sul para Norte, é muito abundante em peixe e ao contrário de outros rios, que têm cheias no Inverno, o Nilo tem-nas no Verão e quando há mais calor, graças às grandes chuvadas da África Negra e ao facto de passar pela Etiópia, cujas neves derretem no Verão e vão alimentar ainda mais o seu caudal. A partir de Outubro, Novembro, as águas recolhem ao leito e deixam nas suas margens uma lama negra, esponjosa e riquíssima em nutrientes, capaz de suportar duas sementeiras anuais.
A melhor época do ano para se fazer um cruzeiro no Nilo é entre Outubro e Abril, porque há menos calor. São muitas as opções de embarque, cerca de 280 navios atracados entre Luxor e Aswan, mas a maneira mais fácil e segura de navegar no Nilo é através de cruzeiros, que normalmente têm uma duração de 3 dias e 3 noites e que possibilitam visitas aos monumentos mais bem preservados do país, aos templos e túmulos presentes em Luxor, Karnak, Kom Ombo, Edfu, Dendera, Vale das Rainhas e Vale dos Reis. No meio de tanta cultura rodeada de água, quase que nos esquecíamos dos nossos leitores egípcios, amigos a quem endereçamos o nosso bem-vindo e esperamos manter o seu interesse. Quiçá ainda os encontrarei por lá no dia em que voltar ao Egipto. É bom ir a Viena, a Praga, à Croácia, a Veneza e a São Petersburgo, mas se nunca descermos o Nilo, perderemos a mais idílica viagem da nossa vida, isto se não houver espanhóis por perto, porque nunca se calam e passam a vida aos berros por todo o lado.
1 _ Nácer Salá Adim Iúçufe ibne Aiube (c.1138 4 de Março de 1193), mais conhecido como Saladino (em latim: Saladinus), foi um chefe militar curdo muçulmano que se tornou sultão do Egipto e da Síria e liderou a oposição islâmica aos cruzados europeus no Levante. No auge do seu poder, o seu domínio estendia-se pelo Egipto, Palestina, Síria, Iraque, Iémen e pelo Hejaz. Foi responsável por reconquistar Jerusalém das mãos do Reino de Jerusalém, após a sua vitória na Batalha de Hattin e por causa disso tornou-se uma figura emblemática nas cultura curda, árabe, persa, turca e islâmica em geral. 2 _ José Maria de Eça de Queiroz (Póvoa de Varzim, 25 de Novembro de 1845 — Neuilly-sur-Seine, 16 de agosto de 1900) foi um dos mais importantes escritores portugueses de todos os tempos e também um diplomata, sendo autor de romances de reconhecida importância como “Os Maias” e “O Crime do Padre Amaro” (o primeiro é considerado por muitos o melhor romance realista português do século XIX).

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