O
“Fado Mictório” é um bailado que obriga alguns donos de cães a segui-los constante
e inesperadamente até uma árvore ou à esquina mais próxima, o que serve perfeitamente
as intenções dos animais, particularmente as dos machos, que assim se aliviam e
marcam território sempre que o desejarem. Deveremos sair com o cão à rua assim?
É evidente que não, por se tratar de um disparate capaz de colocar em risco a
integridade física dos donos, que poderão desequilibrar-se e cair, também
porque gradualmente vão perdendo o controlo dos animais, o que os obrigará a
andar pelos parques e jardins como baratas tontas ou libelinhas estonteadas.
Por razões de civilidade e higiene pública, não esquecendo as relativas à
educação e controlo dos animais, deverão ser os donos a determinar onde e
quando devem os cães urinar ou defecar, já que não faltam por cá calçadas
borradas e bancos de aroma fétido. Escondendo-me na ironia, diante de tanta
calçada emporcalhada, com Moedas ou sem Moedas, Lisboa corre o risco de ver
substituído o tradicional eléctrico por uma torcida de cão como símbolo da
cidade. E como a sociedade está em constante mudança, quiçá bem mais rápida que
a nossa capacidade de adaptação, tempos houve em que os cães obedeciam à
vontade dos donos e agora passaram os donos a obedecer aos cães, causa mais do
que suficiente para o aumento do mal-estar e das picardias nos espaços
públicos. E neste fado, tal qual uma diva, é o Tommy um grande intérprete.
Ontem
fomos trabalhar na companhia do Paulo e do Bohr, estabilizar o “junto”, o
tricomando básico e os comandos direccionais mais comuns através da cidade
engalanada pelas cores do verão. O “Tomicho”, assim o trato carinhosamente (o
som sibilante da última sílaba serve também para regrá-lo e evitar-lhe
exageros), anda no “junto” como um verdadeiro campeão, sem puxar, alinhado,
altivo e calado como se houvesse nascido assim. De um momento para o outro,
como se visse o diabo pela frente, manda um esticão na trela tal qual novilho bravo
em tentadero e investe para a árvore
mais próxima, hábito doméstico que estou agora a contrariar e que várias vezes,
por ser imprevisível, já me desequilibrou. Em contrapartida, este pequeno
Schnauzer manifesta um excelente olfacto, bem acima do esperado para a sua
raça, pelo que deveria ser convidado para jogos de odor domésticos,
propiciadores das várias especialidades na área da detecção. Com a sua
prestação na obediência a melhorar dia após dia e atleticamente bem equipado (é
um dos cães da escola que menos água bebe e que recupera mais depressa), o
Tommy foi ontem convidado para um pequeno exercício sobre assentos de madeira,
conforme atesta o GIF seguinte.
Ontem
percorreu ao meu lado cerca de 4 km, com o final da tarde a aquecer ao invés de
arrefecer, cruzando-se com diferentes cães e gente de diversa apresentação e
comportamento. A meio do caminho parei para o compensar e ambos descansámos
junto de uma escondida mesa de café, onde inesperadamente nos deparámos com
dois gatos, mostrando-se os felinos incomodados com a nossa presença (o Tommy
não lhes ligou nenhuma). A paragem foi breve e logo nos pusemos à estrada, com
o Paulo a ser rebocado pelo Bohr e este com uma incómoda respiração ofegante. Quando
aprenderá o Paulo? Costuma ouvir-se dizer “que água mole em pedra dura tanto
dá até que fura”, se porventura eu for a água, só me resta levar com a pedra na
cabeça!
Sobre o dia de ontem pouco mais há a acrescentar. Será hoje que teremos o privilégio da companhia do meu afilhado Charrôque, que tem tanto de amigo como de rei das promessas? É bem possível que o Miguel e a Kira apareçam hoje, assim como outros de quem aguardo confirmação. Também não sei se o Tommy vem hoje, mas se vier será bem-vindo, porque gosto do seu atrevimento, do seu ar desafiador e sou apreciador da sua graciosa biomecânica.
Sem comentários:
Enviar um comentário