Todos
os anos, particularmente na primavera e no verão, morrem cães envenenados por
plantas e cogumelos venenosos no nosso país, nomeadamente aqueles cujos donos
soltam-nos pelos campos afora, gente de falsa fé que crê que o mal só acontece
aos outros. Caro leitor, não cai na esparrela do facilitismo, informe-se sobre
as nossas plantas e cogumelos letais, aprenda a conhecê-las, grave-as na
memória e evite os locais onde poderão ser encontradas. Por precaução, como
tantas vezes tenho dito, antes de soltar o seu cão, bata prévia e
minuciosamente os terrenos onde pretende soltá-lo, particularmente se o animal
é daqueles que não rejeita pedaço e que deita a boca a tudo, seja carne, seja
peixe, fruta ou vegetais, também se tiver o mau-hábito de se esfregar por toda
a parte, tendência mais comum de encontrar entre os cães caçadores, que assim
tentam ocultar o seu odor nas fezes do animal que perseguem. Convém não
esquecer que muitas raças caninas, apesar de viverem hoje na cidade e dentro de
apartamentos, foram criadas para caçar e ainda conservam um aguçado instinto de
caça, como são os casos do Labrador, do Golden, do Beagle, do Podengo, dos
diversos Perdigueiros e de tantos outros.
Para se precaver a si e ao seu cão de intoxicações e acidentes graves, importa identificar as plantas e os cogumelos seus causadores. Por ordem alfabética vou adiantar os mais perigosos, colocando após a sua descrição uma foto da planta. 1. ACÓNITO – cientificamente conhecido por Aconitum napellus, da subespécie lusitanicum, planta muito comum em Portugal, com floração no verão e que é altamente tóxica para os sistemas cardiovasculares e nervoso. Quando ingerida, provoca ardor e uma sensação de queimadura na boca e na garganta, para além de náuseas, vómitos e insuficiências respiratórias que podem induzir à morte.
2.
ANJO-DA-MORTE –
cientificamente conhecido por “Amanita
verna”, este cogumelo pode matar quando ingerido e tem matado muita gente.
Totalmente branco e com um pé entre os 7 e os 13 cm, tem um chapéu achatado e
apresenta as lamelas serradas. Felizmente não é muito frequente em Portugal,
mas pode ser facilmente confundido com outras espécies comestíveis.
3.
ANJO-DESTRUIDOR-EUROPEU –
trata-se de um fungo designado cientificamente por “Amanita virosa”, que é nativo da Europa e como tal de Portugal
também, normalmente encontrado em florestas de coníferas (arbusto e árvores) e
faias. Aparece sob a forma de cogumelo totalmente branco no verão e no outono.
Quando ingerido, por ser rico em micotoxina, substância produzida
pelos fungos que provocam efeitos tóxicos em pessoas e animais, acaba por
causar danos no fígado e nos rins. Quem sobreviver ao envenenamento, poderá vir
a necessitar de um transplante de fígado.
4.
CHAPÉU-DA-MORTE –
Mais um cogumelo do género Amanita,
cientificamente designado por Amanita
phalloides, que é o mais venenoso e um dos mais comuns entre nós,
facilmente encontrado perto de carvalhos, coníferas e nogueiras. 50 gramas
deste cogumelo bastam para causar a morte a um adulto, Como sucede com os
outros Amanitas, os seus sintomas são
repartidos em 3 fases. Na primeira (de 6 a 24 horas após a ingestão) podem
ocorrer no intoxicado náuseas, vómitos, diarreia, febre, taquicardia,
hipoglicemia e hipotensão. De 1 a 2 dias após a ingestão, dá-se o início da
segunda fase, caracterizada por sintomas gastrointestinais e deterioração das
funções renais e hepáticas. Entre o 3º e o 5º dia ocorre a 3ª fase, altura em
surgem danos irreversíveis no fígado intoxicado, que poderá vir a necessitar de
um transplante hepático para sobreviver.
5. CICUTA – a Conium Maculatum, assim se designa cientificamente a Cicuta, já fazia estragos antes das antigas civilizações egípcia, grega e romana, diz-se inclusive que Sócrates foi condenado à morte por ingestão de uma tisana desta planta. Presente em todo o território nacional, a Cicuta apresenta uma toxicidade muito alta devido aos alcalóides que contém em todas as suas partes. O Envenenamento por esta planta apresenta os seguintes sintomas: ardor na boca e na garganta, náuseas, vómitos, diarreia, paralisia progressiva dos músculos, esfriamento das extremidades e convulsões.
6.
DEDALEIRA –
cientificamente conhecida como Digitalis purpurea,
planta nativa de Portugal, a Dedaleira é também conhecida popularmente como abeloura,
alcoques, beloura, boca-de-sapo, calças-de-cuco, erva-de-deira, estira-fois ou
estoirotes. Devido a uma toxina que contem – a digitoxina – actua ao nível do coração e que pode provocar ataques
cardíacos. Apesar da ingestão das folhas ou das flores poder também matar, a
sua forma mais venenosa resulta da infusão das suas folhas.
7.
EMBUDE –
nativo do mediterrâneo e do oeste
europeu, por isso encontrado por todo o País Continental, o Oenanthe crocata é também conhecido como
arrabaça, canafreicha, enanto-de-cor-de-açafrão, prego-do-diabo, rabaças ou
salsa-dos-rios. Provoca ardor na boca e na garganta, náuseas, vómitos e
diarreia. Quando ingerida, pode provocar convulsões e até a morte por paragem
cardiorrespiratória. Esta planta é parecida com a Cicuta, mas com folhas que
lembram a salsa. Crê-se que os Sardis, habitantes da cidade bizantina com o
mesmo nome, hoje na Turquia e mencionada no livro bíblico do Apocalipse, usavam
o Embude para envenenar os seus inimigos, já que o seu veneno pode matar em
apenas 3 horas (e ainda há quem tenha medo de ir para a América Central por
causa das batracotoxinas). Todavia, gostava eu de saber porque a comem os patos
com farelo e não morrem.
8.
ERVA-MOURA –
A Erva-Moura, que deve o nome Solanum
nigrum à ciência, é uma planta semelhante ao tomate e à beringela, que
apresenta folhas largas, flores brancas e frutos negros com o tamanho dos
mirtilos. A planta é venenosa por causa da solanina,
particularmente nos frutos, um glicoalcalcaloide tóxico de sabor amargo,
produzido naturalmente pela planta como mecanismo de defesa para se proteger de
animais insectos e micro-organismos. Apesar de ser originária da Europa e da
Ásia, a Erva-Moura está hoje presente em todo o mundo de modo silvestre. A sua
ingestão causa os recorrentes sintomas de ardor na boca e garganta, náuseas,
vómitos e diarreia, para além de gerar convulsões e paragem cardiorrespiratória.
9.
ESTRAMÓNIO –
conhecida popularmente por trombeteira, figueira-do-diabo, erva-do-diabo,
erva-das-bruxas, erva-dos-mágicos, pomo-espinhoso, figueira-brava ou
figueira-do-inferno, a Datura stramonium
é uma planta invasora e não nativa de Portugal, que foi introduzida no
Continente e na Ilha da Madeira pelas suas supostas propriedades medicinais e
psicotrópicas, A sua flor branca lembra uma trombeta, as suas folhas são
verde-escuro e dá um fruto semelhante a um ouriço, que quando seco, contém no
seu interior muitas sementes negras. A planta é rica em atropina, causando a
sua ingestão delírios, alucinações, desorientação e insónia, podendo ainda
causar convulsões e morte por paragem cardiorrespiratória.
O
rol das plantas tóxicas e venenosas não se esgota aqui, porque há ainda que
considerar as plantas, arbustos e árvores exóticas invasoras, presentes nos
parques públicos e nos jardins das nossas casas, como é o caso do OLEANDRO (Nerium oleander), também conhecido por loendro,
loandro, aloendro, loandro-da-índia, alandro, loureiro-rosa, adelfa,
espirradeira, cevadilha espirradeira ou flor-de-São-José, arbusto ornamental
todo ele tóxico, que tem como princípios activos a oleandrina e a neriantina,
substâncias extraordinariamente tóxicas, bastando uma simples folha para
eliminar um homem de 80 kg, muito embora a ocorrência de vómitos evite o
desfecho fatal. O contacto com a pele também apresenta riscos, por isso se aconselha
o uso de luvas no seu manuseio (cuidado com as varas que cortamos para o nosso
cão ir buscar). Já escrevi no meu caderninho, no momento de me encontrar com o
meu Criador, vou colocar-lhe uma dúvida que me assola há anos: Se os oleandros são
assim tão tóxicos, porque razão abundam nas creches e escolas portuguesas?
Para seu maior descanso, quando soltar o seu cão no campo, ponha-lhe um açaime para reduzir praticamente a zero os riscos de envenenamento. Há no mercado para esse efeito açaimes ergonómicos, eficazes, práticos e leves. E, quando intentar construir um jardim, informe-se primeiro da toxidade das plantas que irá lá colocar, pois a tal obriga o respeito pela vida do seu cão, pormenor que os arquitectos paisagistas nem sempre têm em conta. De açaime posto e à trela dificilmente algum cão será envenenado, mas se a sua opção for soltá-lo, então siga escrupulosamente as nossas recomendações para que o infortúnio não lhe bata à porta e venha a ficar sem o cão.
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