Quando
importa dotar os cães medrosos de maior autonomia e conseguir que trabalhem
sozinhos na nossa frente, ao invés de insistirmos com eles em percursos
lineares de ida e volta, o melhor que há a fazer é convidá-los para evoluções
circulares, porque tendo o dono à vista, mais depressa conseguirão afastar-se
gradualmente dele no desejo de reencontrá-lo. Por outro lado, a evolução
circular antecede e propicia a marcação dos percursos de “ronda” domésticos. Recorre-se
também à evolução circular quando um cão começa a perder autonomia por razões
ligadas a um acidente, a uma doença recente, a um trauma ou relacionadas com a
idade. Dos percursos circulares livres (sem nada que oculte os donos), graças à
experiência feliz havida e à memória mecânica canina, passarmos para outros que
ocultam a presença do dono e destes par outros de diferente configuração. No GIF
acima vemos o binómio Paul/Bohr a executar uma evolução circular com a ocultação
parcial do condutor. No GIF seguinte, com os mesmos intervenientes, vemos a
execução de uma manobra de ocultação.
As
manobras de ocultação, como o próprio nome indica, servem para condicionar o
cão a esconder-se pelos mais diversos motivos, tanto para se proteger como para
não incomodar terceiros, prestando-se ainda como precioso subsídio para o mundo
da ficção. Mas a verdadeira razão deste condicionamento encontra-se na
disciplina de guarda, para que os cães ao ocultar-se surpreendam quem pretender
invadir a casa dos seus donos. Em abono da segurança das famílias, dos seus
bens e do próprio cão, este deverá ter um lugar de ocultação, lugar estratégico
que lhe permita ver tudo ao seu redor e não ser visto, preferencialmente cómodo
e dissimulado na paisagem (o assunto é apaixonante e não se esgota aqui). No
GIF acima vemos uma dupla ocultação efectuada pelo Bohr, que aguardou a chamada
da primeira barraca e só depois partiu para a segunda (cortámos o período de
ocultação na primeira barraca para não tornar o GIF demasiado extenso). No GIF
seguinte, dependendo do uso que lhe quisermos dar, tanto podemos estar perante
uma manobra de ocultação como de um percurso de evasão.
A manobra de ocultação acima, em tudo idêntica a um percurso de evasão, compreende 3 momentos, a saber: o cão a rastejar, a escapar-se para as barracas e a esconder-se dentro delas. A manobra não é difícil para os cães experimentados e pode ainda ser completada por mais exercícios, coisa que ontem não fizemos por causa do calor que se fazia sentir e de termos um cão jubilado, escuro e de pêlo comprido. No GIF abaixo vemos uma manobra de ocultação própria para evitar confrontações entre cães, particularmente dos que ainda não foram aprovados na sociabilização. A manobra visa a interrupção da fixação dos alvos, mandando o cão para lá de uma cerca natural, obrigando-o a deitar-se ali e a permanecer naquele lugar até que seja chamado, mercê dos comandos de “deita” e “quieto”.
O treino de um cão é um processo pedagógico continuado que o acompanha até ao final dos seus dias, sina de quem está vivo e é obrigado a estar em constante adaptação. Contudo, há que respeitar a calendarização das suas aptidões e tarefas, o alcance das suas metas e objectivos. Se não procedermos assim, corremos o risco, entre tantas coisas, de lhe pedirmos o uso dos dentes quando já não os tem! O treino canino actualmente começa mais cedo e estende-se até mais tarde, robustez e capacidade que encontram a sua razão de ser em beneficiamentos não-endogâmicos, na melhoria das dietas, na optimização do treino e na qualidade da assistência médico-veterinária. O resto vem do conhecimento e da criatividade que acompanham o adestramento e que fazem dele uma arte, arte proveniente da fusão de dois seres diferentes que ousaram abraçar um projecto comum.
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