Doravante
não responderei mais a emails que sejam anónimos, que são para mim sinal de
deselegância, alvitram algo de subversivo e sugerem más intenções (o aviso está
dado). Um leitor anónimo, o último a quem faço o favor de responder, colocou-me
a seguinte questão (pela sua formulação parece-me emigrante português ou
estrangeiro): “Qual a opinião sobre o
Akita americano ou grande cão japonês, oriundo do CPA e do Akita Inu?” E
mais não disse, esquecendo-se inclusive de pedir desculpa pelo incómodo e de
agradecer a possível resposta, o que parece pouco abonar em favor da sua boa
educação. Não obstante, passo de imediato à opinião que me foi pedida, alertando
para o facto dela se remeter exclusivamente aos aspectos laboro-funcionais.
Entendo
o Akita Americano como uma trapalhada yankee que escondeu o Pastor Alemão na
sua origem debaixo de uma morfologia e comportamento típicos de um spitz, gerando
um animal instintivo, de baixa interacção, medianamente manobrável, semi mudo e
dissimulado nas suas acções, de intenções difíceis de adivinhar e por isso
mesmo perigoso, porque se abstrai e distrai facilmente, não tendo por hábito
fixar-se por muito tempo na pessoa do dono (os seus olhos estão sempre noutro
lado e seguem os seus interesses peculiares). Por outro lado, as suas
expressões mímicas, tanto da cabeça como da cauda, são pouco perceptíveis. Como
animal instintivo que é, necessita precocemente de ser ensinado, para que o
estágio da sua maior plasticidade anatómica venha em socorro do seu impulso ao
conhecimento e facilite a sua sociabilização. Este spitz tem um tempo de
concentração muito curto, abomina o trabalho sistemático e trabalha
preferencialmente através da memória afectiva, muito embora a sua capacidade de
memorização seja superior à encontrada no genuíno Akita Japonês, que é um cão
para se ter aos pés. É territorial, reage às provocações e pode encetar
perseguições sem ordem expressa.
Do ponto de vista físico, estamos perante um cão rudimentar, atleticamente superior ao Akita, mas inferior ao Pastor Alemão por ser menos angulado dos membros traseiros (a maioria dos exemplares apresenta recta angulação). A sua biomecânica lembra a dos molossos, muito embora seja um falso lento, não tem andamento preferencial e transita facilmente do passo para o galope, andamento em que cobre menos terreno do que os cães donde provém. Em termos operacionais estamos perante um cão sem uso prático, bonito de se ver e próprio para se ter, de acordo com a velha tradição norte-americana de fazer cães maiores despropositadamente, animais de encher o olho para serem simplesmente admirados. Ainda que possam ter um desempenho aceitável na disciplina de guarda e de serem de fácil travamento na obediência (se estiverem a olhar para os donos), uma vez vencida a sua teimosia, estes cães poderão vir a destacar-se nas áreas da detecção, resgate e salvamento, ainda mais porque são excelentes nadadores e suportam bem o frio. Em suma, pouco ou nada se ganhou do ponto de vista laboral com a “invenção” deste cão, cuja imponência é impressionante e inquestionável.
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