Há
feitos e feitos, e nem sempre os mais destacados são os de maior importância,
mas os politicamente correctos, os que se prestam à consolidação dos poderes
instituídos ou que possam vir a ser utilizados para manter a crendice e a
ignorância populares, nem que para isso tenham que vir a ser alterados e até
deturpados. Sem querer fugir ao tema, mas por falar de política e de populismo,
fiquei estarrecido quando ouvi Jair Bolsonaro (1), sem qualquer preocupação de exegese,
citar a Bíblia para justificar a sua campanha, servir a sua clientela e
valer-se da ignorância popular. Perante tamanha ousadia, lembrei-me logo doutro
trecho das Escrituras Sagradas, do relativo à Tentação de Jesus (Mateus 4:1-11),
onde o diabo mostra que também conhece a Palavra de Deus quando diz: “Se tu és
o Filho de Deus, lança-te daqui abaixo; porque está escrito: Aos seus anjos
dará ordens a teu respeito, e tomar-te-ão nas mãos, para que nunca tropeces em
alguma pedra”, terminando o diálogo entre ambos com a ordem de Jesus: “Vai-te,
Satanás, porque está escrito: Ao Senhor, teu Deus, adorarás e só a Ele
servirás. Então, o diabo deixou-o; e, eis que chegaram os anjos e O serviram.”
A maior arte deste mundo vem do engano, da legitimação do ilegítimo e da
justificação do injustificável, tudo para tentar transformar em grandeza as
nossas torpes fraquezas, como a meu ver aconteceu esta segunda-feira (ontem), no
bairro de Queichheim, na cidade alemã de Landau in der Pfalz, onde polícias
armados abateram um rafeiro.
Segundo concordam várias fontes, que posso
adiantar caso me sejam solicitadas, no bairro acima citado (Queichheim), um
jovem de catorze anos “foi mordido e levemente ferido” por um cão sem raça
definida (“mestiço”), segundo fez saber a polícia num comunicado hoje e que
adianta: “Como o animal atacou os funcionários policiais alarmados e não pôde
ser capturado, o mestiço foi baleado pelos polícias.” Foi também dito, quiçá “para
compor o ramalhete”, que o cão já havia atacado outro cão e que precisava da
protecção do seu dono. Depois do cão abatido e encontrado o seu dono, foi instaurado
ao último um processo por lesão corporal culposa por omissão. Seria aquele cão
tão perigoso ao ponto de ser preciso abatê-lo? Não poderia vir a ser reeducado?
Dois polícias não conseguiriam manietá-lo? Diante da velha política de “quem
tem cu, tem medo”, o que seria mais fácil fazer, prender o animal ou matá-lo? A
coragem destes polícias merece sem dúvida uma genuína elegia, porque a sua
triste e lamentável acção a isso induz.
(1)Penso ter a liberdade para gostar ou não de Bolsonaro, uma vez que não aprecio radicalismos, venham eles dos quadrantes políticos donde vieram, porque não me revejo em ditaduras e ditadores, em donos de verdades absolutas e em regimes totalitários, mesmo daqueles que ignobilmente se dizem democráticos. O Brasil precisa de novos políticos e de uma nova política, de uma política capaz de mandar para o bebeléu os actuais extremistas que se esganiçam para alcançar a cadeira do poder, que no seu âmago são filhos da mesmíssima porca.
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