sexta-feira, 6 de outubro de 2023

PARTIR NA CERTEZA DE QUE OS CÃES FICAM BEM

 

Susan Dickens, uma canadiana residente na cidade de Regina, na província de Saskatchewan, a quem foi diagnosticado um cancro cervical em estágio avançado no ano passado, suspeita-se que terminal, como não sabe quanto tempo terá ainda vida, gostaria de encontrar um lar amoroso para os seus cães Cisco, Booda e Olive, com idades compreendidas entre os 13 e os 16 anos, onde possam viver juntos num quintal ou num terreno livre, nunca numa gaiola. Cisco é um cruzado de Labrador com Border Collie; Booda é um cruzado de Corgi e Olive é um Pastor Australiano. “Saber que eles irão para algum lugar lindo é tudo o que importa, e então sentir-me-ei muito melhor", disse Susan. Como estes cães idosos estão muito apegados à dona, que é o centro do seu mundo, a mudança forçada de liderança e território poderá ser fatal para algum deles ou para todos. Não irá ser fácil encontrar quem os queira atendendo à sua idade e número, e quem os aceitar vai ter que ter alguma paciência, porque acusarão de sobremaneira a ausência da sua guardiã e companheira de sempre. Para Susan Dickens e para os cães seria bem melhor que ele vivesse o tempo suficiente para poupá-los ao desgosto do seu desaparecimento. Contudo, tem que se precaver e tratar do futuro dos seus mui amados cães.

Eu bem sei que actualmente a maioria das pessoas vive para o imediato e nem ousa sequer pensar no futuro, muito menos na morte! E você, caso morra, já pensou a quem irá confiar o seu cão? Já descobriu a pessoa capaz de cuidar dele e dar-lhe os mimos que você lhe dá? Não é assumido que por morte de um dos cônjuges o outro cuidará do animal do falecido, nem tão pouco os seus filhos. Todavia, estão melhor os cães que coabitam na mesma casa com uma família do que aqueles que tem um só dono, como é o caso de Susan Dickens, que é viúva. Conheci no passado gente com uma solução draconiana para o problema, que ao morrer mandava abater os seus cães para que não ficassem por cá a padecer, assassínio no qual nunca me revi. Os adestradores costumam ser muito solicitados para o efeito e até eu fui obsequiado com o cão que tenha agora. Como ninguém sabe se amanhã chega a ver nascer o dia, há que acautelar o futuro dos nossos cães. Uma aluna minha, de grata e saudosa memória, fez em vida um contrato com os veterinários seus vizinhos, que depois da sua morte seriam eles a passear e a cuidar dos seus cães, deixando-lhes para o efeito uma quantia suficiente para que nada faltasse aos animais, mesmo que excedessem em muito a sua esperança de vida.

Ainda que a maioria dos donos não se aperceba, a sobrevivência dos cães em relação aos donos encontra-se directamente ligada ao tipo de treino de que foram ou são alvo, que tanto poderá facilitar o seu “rehoming” como dificultá-lo. Cite-se o caso daqueles cães que são condicionados à fixação exclusiva na pessoa dos donos, que se ensurdecem para os demais e que só obedecem-se aos seus líderes, mesmo que outros se socorram dos mesmos comandos e reproduzam iguais protocolos. Animais assim condicionados, por se negaram a interagir e a comer, acabarão por morrer poucos dias depois do desaparecimento dos seus mestres. Para evitar que isto suceda e comprometa a sobrevivência dos cães, é que procedemos à “TROCA DE CONDUTORES(1), Manobra de Sociabilização animal que possibilita, entre outras coisas, que cada cão possa ser conduzido por outra pessoa para além do dono, submetendo-se os vínculos afectivos à primazia dos comandos, o que facilitará a futura adaptação dos animais a um novo dono, caso seja necessária. Sem me querer armar em “anjo da morte”, acho bem que vá pensando no assunto – acautele o futuro do seu cão! À parte disto, adiantamos desde já os nossos préstimos para ajudar na solução de problemas idênticos.

(1)Manobra circular nas aulas colectivas onde todos os cães são conduzidos por todos os condutores presentes.

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