quinta-feira, 5 de outubro de 2023

“CANDEIA QUE VAI NA FRENTE ALUMIA DUAS VEZES”

 

Não nos podemos dar ao luxo de assistirmos impávidos e serenos à perca gradual de aptidões dos nossos cães com a chegada da velhice, ao invés, dentro da medida do possível, devemos mantê-los activos e interessados, melhorando dessa forma o seu bem-estar e qualidade de vida. Assim, não devemos satisfazer-nos com as suas fraquezas, mas ajudá-los a ultrapassá-las para que possam viver mais tempo. Com a idade, os cães perdem ousadia e com isso autonomia, tornando-se mais dependentes, arredios ou irritadiços, mostrando-se gradualmente menos disponíveis e desinteressados por todo e qualquer desafio. E, quando assim é, afundam-se fisicamente e logo a senilidade bate-lhes à porta (o processo degenerativo pode acontecer inversamente). Apostados em conservar no CPA Bhor a autonomia possível e valendo-nos de um corredor de madeira com 15 m sobre um lago, que nos serviu de “corredor direccional”, pedimos ao Pastor Alemão sénior que ali executasse o comando de “à frente” e se fosse sentar 20 m mais à frente, conforme se pode ver no GIF acima. Este não foi o primeiro trabalho que desenvolvemos com o cão, porque no período de aquecimento foi convidado para um exercício multidireccional em torno de um suporte para velocípedes com e sem motor (foto abaixo), trabalho ao qual respondeu peremptoriamente.

Há muita gente que abomina grafites e detesta grafiteiros (lá terá as suas razões), mas eu sinto-me grato por adornarem com arte os muros e as paredes das ruas por onde passo, despertando-me uma sensação de liberdade, felicidade, cumplicidade e tranquilidade, como se as suas mensagens se destinassem só a mim. No passeio pelo bem-estar do Bohr deparámo-nos com uma pintura mural alusiva ao voar de um pato bravo. De imediato pediu ao Paulo que que compusesse a moldura com a sua presença e a do cão, não porque procurasse um casal ou um bando de patos bravos, mas porque entendi que o binómio casava na perfeição com aquela pintura mural, foto que poderia ilustrar na perfeição um livro infantil (vale a pena sonhar!).

À volta de uma bem protegida boca-de-incêndio numa calçada, também com o objectivo de arejar a cabeça ao Paulo e relembrar-lhe os comandos direccionais que tem ao seu dispor para guiar o Bohr, pedi ao binómio que executasse um percurso multidireccional a partir de 5 comandos direccionais básicos. Este Pastor Alemão ainda não mostra qualquer entrave cognitivo, somente as manhas que tem vindo a aprender com o seu dono, usando a contento as suas 3 memórias (mecânica, afectiva e associativa), particularmente a mecânica que o leva a solucionar as indicações incorrectas que recebe.

Como importa sempre que possível devolver os cães urbanos à natureza, havendo possibilidade de escolha, sempre optaremos por obstáculos naturais em detrimento dos artificiais, visando a desejável sintonia entre os cães e o relógio biológico, parceria que tende a robustecê-los e a libertá-los de maior stresse. Na foto seguinte vemos o Bohr a sair de um opulento e gracioso arbusto usado na ocasião como obstáculo.

Íamos nós tão descontraídos pelo nosso caminho, eis que nos ladra uma Lulu da Pomerânia chamada “Chanel”, cadelinha que só se tornou refilona depois de ter sido mordida por um cão maior. Apostado em ajudar a solucionar o problema daquela Luluzinha, mandei colocar o Bohr ao seu lado, para que ela se acalmasse e gradualmente se libertasse da aversão que a domina. Ela ainda rosnou e avançou para o Bohr, mas como não obteve resposta, acabou por se acalmar.

A partir daquele local, solicitei ao binómio em instrução mais um exercício de “à frente” visando o reforço da autonomia do lupino. O exercício consistiu numa projecção com 20 metros, com uma passagem subterrânea e consequente retorno. O cão venceu-o à primeira porque já era seu conhecido, opção tomada como recompensa e modo de supercompensação.

Quando já nos preparávamos para encerrar os trabalhos, encontrámos duas brasileiras da Baía que se encantaram com o Pastor Alemão, uma maioritariamente índia e a outra baiana até à raiz dos cabelos, acabando a última por interagir alegre com o Bohr, que fez das saias daquela simpática senhora um “túnel com manga”.

Como aproveitámos bem as 2 horas de treino, acabámos a instrução por volta do meio-dia, altura em que o sol começou a aquecer e estar na rua deixou de ser agradável, disposição que muito agradou ao CPA Bohr e ao seu dono ainda mais. Amanhã voltaremos a encontrar-nos!

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