Não
nos podemos dar ao luxo de assistirmos impávidos e serenos à perca gradual de
aptidões dos nossos cães com a chegada da velhice, ao invés, dentro da medida
do possível, devemos mantê-los activos e interessados, melhorando dessa forma o
seu bem-estar e qualidade de vida. Assim, não devemos satisfazer-nos com as
suas fraquezas, mas ajudá-los a ultrapassá-las para que possam viver mais
tempo. Com a idade, os cães perdem ousadia e com isso autonomia, tornando-se
mais dependentes, arredios ou irritadiços, mostrando-se gradualmente menos
disponíveis e desinteressados por todo e qualquer desafio. E, quando assim é, afundam-se
fisicamente e logo a senilidade bate-lhes à porta (o processo degenerativo pode
acontecer inversamente). Apostados em conservar no CPA Bhor a autonomia
possível e valendo-nos de um corredor de madeira com 15 m sobre um lago, que
nos serviu de “corredor direccional”, pedimos ao Pastor Alemão sénior que ali executasse
o comando de “à frente” e se fosse sentar 20 m mais à frente, conforme se pode
ver no GIF acima. Este não foi o primeiro trabalho que desenvolvemos com o cão,
porque no período de aquecimento foi convidado para um exercício multidireccional
em torno de um suporte para velocípedes com e sem motor (foto abaixo), trabalho
ao qual respondeu peremptoriamente.
Há
muita gente que abomina grafites e detesta grafiteiros (lá terá as suas razões),
mas eu sinto-me grato por adornarem com arte os muros e as paredes das ruas por
onde passo, despertando-me uma sensação de liberdade, felicidade, cumplicidade
e tranquilidade, como se as suas mensagens se destinassem só a mim. No passeio
pelo bem-estar do Bohr deparámo-nos com uma pintura mural alusiva ao voar de um
pato bravo. De imediato pediu ao Paulo que que compusesse a moldura com a sua
presença e a do cão, não porque procurasse um casal ou um bando de patos bravos,
mas porque entendi que o binómio casava na perfeição com aquela pintura mural,
foto que poderia ilustrar na perfeição um livro infantil (vale a pena sonhar!).
À volta
de uma bem protegida boca-de-incêndio numa calçada, também com o objectivo de
arejar a cabeça ao Paulo e relembrar-lhe os comandos direccionais que tem ao
seu dispor para guiar o Bohr, pedi ao binómio que executasse um percurso
multidireccional a partir de 5 comandos direccionais básicos. Este Pastor Alemão
ainda não mostra qualquer entrave cognitivo, somente as manhas que tem vindo a aprender
com o seu dono, usando a contento as suas 3 memórias (mecânica, afectiva e
associativa), particularmente a mecânica que o leva a solucionar as indicações
incorrectas que recebe.
Como
importa sempre que possível devolver os cães urbanos à natureza, havendo
possibilidade de escolha, sempre optaremos por obstáculos naturais em
detrimento dos artificiais, visando a desejável sintonia entre os cães e o
relógio biológico, parceria que tende a robustecê-los e a libertá-los de maior
stresse. Na foto seguinte vemos o Bohr a sair de um opulento e gracioso arbusto
usado na ocasião como obstáculo.
Íamos
nós tão descontraídos pelo nosso caminho, eis que nos ladra uma Lulu da
Pomerânia chamada “Chanel”, cadelinha que só se tornou refilona depois de ter sido
mordida por um cão maior. Apostado em ajudar a solucionar o problema daquela
Luluzinha, mandei colocar o Bohr ao seu lado, para que ela se acalmasse e
gradualmente se libertasse da aversão que a domina. Ela ainda rosnou e avançou
para o Bohr, mas como não obteve resposta, acabou por se acalmar.
A
partir daquele local, solicitei ao binómio em instrução mais um exercício de “à
frente” visando o reforço da autonomia do lupino. O exercício consistiu numa projecção
com 20 metros, com uma passagem subterrânea e consequente retorno. O cão
venceu-o à primeira porque já era seu conhecido, opção tomada como recompensa e
modo de supercompensação.
Quando
já nos preparávamos para encerrar os trabalhos, encontrámos duas brasileiras da
Baía que se encantaram com o Pastor Alemão, uma maioritariamente índia e a
outra baiana até à raiz dos cabelos, acabando a última por interagir alegre com
o Bohr, que fez das saias daquela simpática senhora um “túnel com manga”.
Como aproveitámos bem as 2 horas de treino, acabámos a instrução por volta do meio-dia, altura em que o sol começou a aquecer e estar na rua deixou de ser agradável, disposição que muito agradou ao CPA Bohr e ao seu dono ainda mais. Amanhã voltaremos a encontrar-nos!
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