Os
bons cães têm por hábito, quiçá para não se estragarem, quando impedidos da
interacção necessária e compelidos à inactividade social e/ou à física,
inventar serviço quando não lhes distribuem nenhum e de resolver tarefas a seu
bel-prazer, por mais estranhas que nos pareçam. Criar uma cadela assim,
notoriamente precoce, na companhia de outro cão votado à mesma sorte e ambos
confinados num apartamento, é mais do que certo que o amatilhamento irá
acontecer, que a cadela irá identificar-se mais com o outro cão do que com o
dono, espelhando as mesmas virtudes e defeitos do seu companheiro animal, que
sendo um macho mais velho, desempenhará sem qualquer dificuldade o papel de
mestre.
Assim
foi criada a irrequieta CPA negra Gaia, tão irrequieta e stressada como o seu
mestre, o valente SRD Soneca, tão imprevisível como as crianças que cresceram a
seu lado em idade pré-escolar. Em abono do seu bem-estar, carga genética e
utilidade, importa agora que estabeleça com o seu dono fortes vínculos
afectivos, que a meu ver deverão acontecer pelo trabalho binomial e pela
divisão de tarefas, sem coerção ou violência, mas com muito amor e paciência, manifestos
na prática da recompensa que sustenta as experiências felizes – a cadela deverá
finalmente compreender que o seu lugar é ao lado do dono, que ele é o seu guia
e o seu melhor amigo!
Anteontem,
sábado, dia 14 de outubro, procedemos à sua primeira indução ofensiva certos do
seu desempenho e facilidade de travamento, porquanto importava atentar para as suas
características peculiares e para o facto de capturar sem nunca ter
experimentado uma manga. O seu desempenho foi mais do que satisfatório,
denunciando uma predisposição e uma biomecânica tangíveis às encontradas no
Malinois, pese embora a sua inexperiência e a ausência de vício advinda das
repetidas capturas.
Não
tenho dúvidas, atendendo à genética da cadela, ao seu particular individual e à
variedade cromática a que pertence, que a melhoria dos vínculos afectivos com o
dono e a unidade binomial deles resultantes farão dela uma excelente cadela de
segurança, nomeadamente para a defesa pessoal, papel que precariamente já podia
desempenhar agora, ainda que sujeita a alguns riscos e reveses. Com isto não
estou a dizer que não tenha outras aptidões ou que a sua maior aptidão seja a
defesa de pessoas e bens.
Pelo que disse no primeiro parágrafo, quando esta cadela se deslocar à Pista Táctica, o Soneca, o seu companheiro de sempre, deverá ficar em casa a descansar, porque doutro modo a cadela tentará fugir para ele e ele, por sua vez, ocupar o lugar dela. Eu gostei do que vi e a experiência diz-me que a Gaia tem muito para dar, que é um crime não aproveitar aquilo que a genética tão generosamente lhe ofereceu.
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