segunda-feira, 16 de outubro de 2023

GAIA: A CADELA QUE SE FEZ A OLHAR PARA O CÃO QUE TINHA AO LADO

 

Os bons cães têm por hábito, quiçá para não se estragarem, quando impedidos da interacção necessária e compelidos à inactividade social e/ou à física, inventar serviço quando não lhes distribuem nenhum e de resolver tarefas a seu bel-prazer, por mais estranhas que nos pareçam. Criar uma cadela assim, notoriamente precoce, na companhia de outro cão votado à mesma sorte e ambos confinados num apartamento, é mais do que certo que o amatilhamento irá acontecer, que a cadela irá identificar-se mais com o outro cão do que com o dono, espelhando as mesmas virtudes e defeitos do seu companheiro animal, que sendo um macho mais velho, desempenhará sem qualquer dificuldade o papel de mestre.

Assim foi criada a irrequieta CPA negra Gaia, tão irrequieta e stressada como o seu mestre, o valente SRD Soneca, tão imprevisível como as crianças que cresceram a seu lado em idade pré-escolar. Em abono do seu bem-estar, carga genética e utilidade, importa agora que estabeleça com o seu dono fortes vínculos afectivos, que a meu ver deverão acontecer pelo trabalho binomial e pela divisão de tarefas, sem coerção ou violência, mas com muito amor e paciência, manifestos na prática da recompensa que sustenta as experiências felizes – a cadela deverá finalmente compreender que o seu lugar é ao lado do dono, que ele é o seu guia e o seu melhor amigo!

Anteontem, sábado, dia 14 de outubro, procedemos à sua primeira indução ofensiva certos do seu desempenho e facilidade de travamento, porquanto importava atentar para as suas características peculiares e para o facto de capturar sem nunca ter experimentado uma manga. O seu desempenho foi mais do que satisfatório, denunciando uma predisposição e uma biomecânica tangíveis às encontradas no Malinois, pese embora a sua inexperiência e a ausência de vício advinda das repetidas capturas.

Não tenho dúvidas, atendendo à genética da cadela, ao seu particular individual e à variedade cromática a que pertence, que a melhoria dos vínculos afectivos com o dono e a unidade binomial deles resultantes farão dela uma excelente cadela de segurança, nomeadamente para a defesa pessoal, papel que precariamente já podia desempenhar agora, ainda que sujeita a alguns riscos e reveses. Com isto não estou a dizer que não tenha outras aptidões ou que a sua maior aptidão seja a defesa de pessoas e bens.

Pelo que disse no primeiro parágrafo, quando esta cadela se deslocar à Pista Táctica, o Soneca, o seu companheiro de sempre, deverá ficar em casa a descansar, porque doutro modo a cadela tentará fugir para ele e ele, por sua vez, ocupar o lugar dela. Eu gostei do que vi e a experiência diz-me que a Gaia tem muito para dar, que é um crime não aproveitar aquilo que a genética tão generosamente lhe ofereceu.

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