O
Patch de que vou falar-vos não é nenhum músico ou cantor em ascensão ou famoso,
tampouco um afro-americano que se destacou na luta pelos direitos civis, mas de
um comum rafeiro com 3 anos de idade de côr branca com uma macha melânica sobre
o olho esquerdo, que numa caminhada matinal em março perdeu a sua dona, senhora
de 50 anos que foi atropelada e depois levada para o hospital onde acabaria por
falecer. O acidente aconteceu numa ponte perto de Nashville, no Tennessee, o
condutor que a atropelou fugiu e o Patch ao ver desaparecer a dona às pressas,
correu para casa na esperança de a reencontrar. A polícia viria a encontrar
Patch na escada da frente e ligou para o abrigo METRO
NASHVILLE CARE AND CONTROL. Mas enquanto os trabalhadores daquela
empresa processavam o Patch para adopção, notaram que algo o tornava diferente
da maioria dos outros cães abandonados. “Ele era um cão doce e bem comportado,
cujo comportamento perto da equipa sugeria que ele poderia ter algum treino
formal”, disse o porta-voz do Departamento de Saúde Pública do Metro, Matthew
Peters. O abrigo viria descobrir que a sua falecida dona era deficiente visual
e suspeitou que Patch tivesse algum treino, talvez informal, como cão de
serviço.
Um
abrigo chamado MEDICAL
MUTTS SERVICE DOGS em Indianápolis, que resgata cães e que os
ensina a ser assistentes de pessoas com diabetes, epilepsia e outras doenças, descreveu
um cão mestiço todo branco, de 40 quilos, com um toque preto ao redor do olho
esquerdo e de orelhas tombadas que gostava de ser acariciado pelas pessoas.
Nenhum membro da família da dona o reivindicou depois da sua morte, disseram
responsáveis do abrigo, que completaram: “Ele não ladra, não morde e é um bom
menino, podendo por isso mesmo ser um bom candidato para o programa de treino”.
Uma semana depois, Patch estava em Indianápolis a ser treinado como cão de
serviço. A mais de 800 quilômetros de Nashville, Arthur e Donna Mahanna também
se sentiam abandonados. O casal de Elkorn, Wisconsin, esperava há seis anos por
um cão de serviço médico para ajudar seu filho Nic, de 21 anos, que tem
Síndrome de Down. A espera foi tão longa que um fornecedor onde se tinham
inscrito faliu, depois que esta família passou quatro anos na sua lista de
espera.
Mas
os Mahannas estavam desesperados e determinados. Eles estavam convencidos de
que um cão de serviço ajudaria o Nic a ganhar independência e a melhorar sua
sociabilização: ainda que fosse só um pouquinho, isso já seria uma grande
conquista. Mas o mais importante é que um cão – com seu faro treinado – seria
capaz de sentir quando o Nic ficava agitado e avisar os seus pais que um novo episódio
poderia estar a começar. Então os Mahannas entraram noutra lista, na da Medical
Mutts, e esperaram um pouco mais. Dois anos depois, eles receberam a ligação
esperada: a Medical Mutts tinha resgatado um cão no Tennessee, estava treiná-lo
e ele parecia ser um bom par para o Nic. Em agosto, a família Mahanna dirigiu-se
a Indianápolis e ali permaneceu 10 dias para treinar com o Patch. Assim que Nic
entrou pela porta, o cão já sabia quem ele era – havia algo no ar, porque
aquela família já havia enviado com antecedência uma amostra de odor do Nic,
que foi primeiro congelada e depois enviada para a Medical Mutts. “Patch
sabia que era Nic.” O cão é agora companheiro do Nic a tempo integral,
acalmando-o e alertando os seus pais quando ele fica agitado, impedindo-o
também de andar errante nas caminhadas. A foto abaixo é da treinadora Eva Rudisile
da Medical Mutts.
“Não
tenho a certeza de quem precisava mais de quem”, disse Donna Mahanna. “São duas
ervilhas numa vagem.” Nic, que também sofre de transtorno do espectro do
autismo, raramente fala, mas com Patch fala! “Quando ele conheceu o seu
companheiro canino, disse: ‘Como vai você, cãozinho’?” Disse a sua mãe, que esclareceu:
"Isto é mais do que ele diz num dia inteiro." A treinadora do Medical
Mutts, Eva Rudisile, disse que a dupla “dá-se muito bem”. “Quando Nic acaricia
Patch, os dois permanecem juntos”, disse Rudisile que referindo-se ao Patch,
completou: "Ele já é um cachorro muito tranquilo." A principal tarefa
de Patch é avisar os pais do Nic quando ele está agitado e acalmá-lo antes que
a situação piore. “Antes, suspeitávamos de agitação, mas a comunicação com ele
era difícil, ele não é comunicativo”, disse Arthur, o pai de Nic. “Tentamos
várias abordagens ao longo dos anos, mas nada parecia funcionar, e é por isso
que decidimos que um cão poderia ajudar.”
O cão pode farejar a
agitação de Nic devido à mudança do seu cheiro e responde inclinando o corpo
contra ele para acalmá-lo. Patch trabalha com mais frequência
no turno da noite, quando Nic está a dormir e fica regularmente agitado. “Ele
interrompe Nic e pressiona seu corpo ou colo”, disse Donna Mahanna, a mãe de
Nic. “Isso já ajudou o seu sono.” Ao alimentar e passear com Patch, Nic ganhou
confiança e independência. Anteriormente, a mãe ou o pai de Nic tinham que
segurá-lo pela mão durante as caminhadas, mas Patch tem uma coleira dupla, então
um dos pais e Nic vão agarrados ao cão, mas não um ao outro. É também menos
provável que Nic solte a coleira do que a mão de sua mãe e saia vagando
sozinho. Patch irá avisar Nic quando ele se afasta demais, sentando-se no chão
ou "ancorando-o". Donna e Arthur disseram que a adição de Patch à
família ajudou-os tanto a eles como ao Nic. “Deu-nos uma sensação de alívio”,
disse Donna Mahanna. “Fomos tudo para ele durante 21 anos, eu agora só ajudo.”
Perante tudo isto é caso para se dizer: bem-aventurado Patch!
PS: As frases sublinhadas desta notícia realçam procedimentos fundamentais que dizem respeito aos cães que prestam este tipo de serviço.
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