A
crise migratória que se vive na fronteira norte entre o México e os Estados
Unidos, feita num só sentido e cada vez mais frequente, é pródiga em imagens de
profundo desespero por parte dos milhares de desafortunados que tudo fazem para
alcançar a terra dos “gringos” (1), esperando encontrar ali uma vida melhor.
Há oito dias atrás, terça-feira 26 de setembro, aconteceu um episódio possível
mas até agora nunca visto, cujo vídeo se tornou viral nas redes sociais, o
relativo ao “Oso” (urso), um pequeno cão que seguiu sete imigrantes através dos
portões da cerca fronteiriça que separa as duas nações e que após ser detido
pelas autoridades norte-americanas, foi de novo deportado para território
mexicano.
O pequeno cão não foi encontrado por
acaso naquela área de Tijuana, uma vez que foi abandonado por turistas numa das
praias e adoptado pelos pequenos comerciantes da região. De acordo com os moradores
locais, o Oso é muito carinhoso e brincalhão, o que tem levado os vendedores
dali a amá-lo e a cuidá-lo, excepto quando decidiu seguir o rasto do “american
dream”. Penso que a presença deste cão entre os imigrantes latino-americanos sensibilizou
muita gente, emprestando maior dramatismo àquela costumeira e enfadonha migração,
potenciando a fragilidade e a miséria dos seus companheiros de infortúnio, já
que homens e cães estão condenados a viver juntos e a ter um futuro comum.
Pondo de parte a comovente história do Oso, a quem desejo longa vida, adianto
que o Ministério da Saúde mexicano diz existirem 22 milhões de cães no seu
território (nenhum país da América Latina tem tantos), dos quais 10 milhões não
têm casa e vivem na rua. Por sua vez, a Organização Mundial da Saúde (OMS)
revelou no ano passado que 70% dos cães no mundo são, infelizmente, vadios. O
Dia Internacional do Cão Abandonado (stray) é comemorado todos os anos no dia
27 de julho e tem como principal objectivo promover a adopção responsável dos
cães que procuram um lar.
(1)Nome, por vezes depreciativo, atribuído pelos latino-americanos aos norte-americanos quando falam deles, um sinónimo de “Yankee”.
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