quarta-feira, 4 de outubro de 2023

OSO: QUEBRA-FRONTEIRAS E COMPANHEIRO DE DESAFORTUNADOS

 

A crise migratória que se vive na fronteira norte entre o México e os Estados Unidos, feita num só sentido e cada vez mais frequente, é pródiga em imagens de profundo desespero por parte dos milhares de desafortunados que tudo fazem para alcançar a terra dos “gringos” (1), esperando encontrar ali uma vida melhor. Há oito dias atrás, terça-feira 26 de setembro, aconteceu um episódio possível mas até agora nunca visto, cujo vídeo se tornou viral nas redes sociais, o relativo ao “Oso” (urso), um pequeno cão que seguiu sete imigrantes através dos portões da cerca fronteiriça que separa as duas nações e que após ser detido pelas autoridades norte-americanas, foi de novo deportado para território mexicano.

O pequeno cão não foi encontrado por acaso naquela área de Tijuana, uma vez que foi abandonado por turistas numa das praias e adoptado pelos pequenos comerciantes da região. De acordo com os moradores locais, o Oso é muito carinhoso e brincalhão, o que tem levado os vendedores dali a amá-lo e a cuidá-lo, excepto quando decidiu seguir o rasto do “american dream”. Penso que a presença deste cão entre os imigrantes latino-americanos sensibilizou muita gente, emprestando maior dramatismo àquela costumeira e enfadonha migração, potenciando a fragilidade e a miséria dos seus companheiros de infortúnio, já que homens e cães estão condenados a viver juntos e a ter um futuro comum. Pondo de parte a comovente história do Oso, a quem desejo longa vida, adianto que o Ministério da Saúde mexicano diz existirem 22 milhões de cães no seu território (nenhum país da América Latina tem tantos), dos quais 10 milhões não têm casa e vivem na rua. Por sua vez, a Organização Mundial da Saúde (OMS) revelou no ano passado que 70% dos cães no mundo são, infelizmente, vadios. O Dia Internacional do Cão Abandonado (stray) é comemorado todos os anos no dia 27 de julho e tem como principal objectivo promover a adopção responsável dos cães que procuram um lar.

(1)Nome, por vezes depreciativo, atribuído pelos latino-americanos aos norte-americanos quando falam deles, um sinónimo de “Yankee”.

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