Sem que nada façam para
isso, os mais maduros lembram-se com maior facilidade de factos antigos do que
dos recentes e até de alguns que pareciam estar varridos da memória. Nesse caso
encontro-me eu, que ao abordar este assunto lembrei-me imediatamente de um
cavalheiro, que nunca tive o privilégio de conhecer pessoalmente, mas de quem
amiudadas vezes ouvi falar, um tal de “João de Caneças”, que fornecia carne de
burro para companhias cinotécnicas e também para o Jardim Zoológico de Lisboa
(ignoro se o homem ainda está vivo). Certo é que certa vez, enganado com bons
modos, acabei por comer uns bifinhos da carne que o sujeito fornecia e que na altura não me pareceram
maus de todo.
Ainda sobre tema, e seria
muito bom que todos os meus amigos lessem este artigo, apesar de continuar a
ser um bom garfo (para mal dos meus pecados), detesto os ristoranti italianos fatto in Portogallo, porque abusam da carne,
da massa e do tomate, como se a Itália fosse um país da europa central sem mar
e os italianos não comessem outra coisa a não ser massa. E depois, diga-se em
abono da verdade, que mais nojento do que ver um pato a engolir carochas, é ver
e ouvir uma chusma a chupar spaghetti
copiosamente. Por tudo isto, peço encarecidamente aos meus amigos que não me
convidem para restaurantes italianos, tão pouco para aqueles que dizem servir
comida do médio oriente, a quem a ASAE (1)
deveria fiscalizar assiduamente.
Mas vamos ao artigo do CORRIERE DELLA SERA,
da autoria de CONSTANZA
RIZZACASA d’ORSOGNA, sob o título “IL
PULEDRINO GREGOR CHE SI CREDE UN CANE” (O POTRO GREGOR QUE ACREDITA SER UM CÃO),
datado do dia 22 deste mês. Neste artigo é contada a história do poldro Gregor,
que caiu numa vala quando seguia a mãe que ia a puxar uma carroça, ficando ali
para morrer, abandonado, ferido e esfomeado. Por sorte viria a ser resgatado
por um alemão chamado Greg que o levou para um canil de abrigo.
A autora do artigo, que é
jornalista e ensaísta, a determinada altura relembra OS MAUS-TRATOS QUE CAVALOS, BURROS E
CÃES RECEBEM NA ROMÉNIA, dizendo: “Os cães de rua (abandonados) são um flagelo em muitos países da Europa
Oriental e do Sul, ligados sobretudo à pobreza, à decadência social e à cultura
animal inexistente. Mas Roménia em particular, tem, por maus-tratos e abandono,
as situações mais dramáticas na Europa, uma vez que, na década de oitenta, A
DECISÃO DE CEAUSESCU(2) DE
URBANIZAR A POPULAÇÃO QUE VIVIA NO CAMPO LEVOU AO ABANDONO, EM CURTO ESPAÇO DE
TEMPO, DE MILHARES E MILHARES DE CÃES.
A situação não mudou muito desde 2001. Os cães são mortos em grande número nos canis
das cidades romenas com métodos não verificáveis. Muitas vezes morrem de fome e
de doença antes do 14º dia de vida. E o número de cães de rua ainda é muito
alto”.
Como é do conhecimento
geral, a Roménia em termos étnicos é um país de dupla face, porque convivem no
seu território ciganos e não-ciganos e só a população cigana come cavalo, os
outros romenos não. É a comunidade cigana que “comercializa carne de cavalo, especialmente para Itália, o primeiro
importador europeu de cavalos para consumo alimentar da Roménia. Nos primeiros
nove meses de 2017, a SAVE THE DOGS(3) noticiou que a Roménia exportou
cavalos e jumentos por mais de 2 milhões de euros: mais de mil toneladas entre
carcaças e animais vivos, empilhados e sedentos no longo passeio no volante
para chegar também de nós . Porque a carne custa muito pouco: OS
COMERCIANTES PAGAM AOS PASTORES ENTRE 40 E 50 EUROS POR BURRO, CUJA CARNE,
MISTURADA COM A MAIS CARA, ACABA MUITAS VEZES OCULTA EM MOLHO DE CARNE E
HAMBURGERS. O
mais importante massacre de cavalos na Romênia rendeu bilhões de milhões de
euros anuais e entre 2016 e 2017 foram ali abatidos 10 mil animais” –
adiantou d’Orsogna.
Depois
de ler este artigo, para mim inquietante em vários sentidos, é possível que não
seja capaz de comer carne na Roménia e em Itália, caso por lá volte a passar.
Diz-se que “gato escaldado de água fria tem medo” e eu não quero voltar a ser
enganado. A carne de burro é fecunda em causar encefalite, salmonelose,
gastroenterite e em transmitir ténias. E, no caso romeno, atendendo à ausência de
controlo e certificação veterinária, os cavalos não deverão encontrar-se em
melhor estado. Se já não gostava de ir aos ristoranti
italianos fatto in Portogallo, dispensei de vez todos os italianos,
independentemente do lugar onde se encontrem.
(1)Autoridade de Segurança Alimentar e
Económica (ASAE) é a autoridade administrativa de Portugal especializada para
as áreas de segurança alimentar. (2) Nicolae Ceauşescu, secretário-geral do
partido comunista romeno e ditador, que acabou por ser fuzilado, junto com a
sua mulher, no Natal de 1989, depois de julgado e sentenciado por um tribunal
militar. (3)
Organização sem fins lucrativos da iniciativa da ex-publicitária
Sara Turek, que desde o início do milénio se dedica ao resgate de cães na
Roménia.
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