quinta-feira, 30 de agosto de 2018

UM ARTIGO INQUIETANTE NO CORRIERE DELLA SERA

Sem que nada façam para isso, os mais maduros lembram-se com maior facilidade de factos antigos do que dos recentes e até de alguns que pareciam estar varridos da memória. Nesse caso encontro-me eu, que ao abordar este assunto lembrei-me imediatamente de um cavalheiro, que nunca tive o privilégio de conhecer pessoalmente, mas de quem amiudadas vezes ouvi falar, um tal de “João de Caneças”, que fornecia carne de burro para companhias cinotécnicas e também para o Jardim Zoológico de Lisboa (ignoro se o homem ainda está vivo). Certo é que certa vez, enganado com bons modos, acabei por comer uns bifinhos da carne que o sujeito fornecia e que na altura não me pareceram maus de todo.
Ainda sobre tema, e seria muito bom que todos os meus amigos lessem este artigo, apesar de continuar a ser um bom garfo (para mal dos meus pecados), detesto os ristoranti italianos fatto in Portogallo, porque abusam da carne, da massa e do tomate, como se a Itália fosse um país da europa central sem mar e os italianos não comessem outra coisa a não ser massa. E depois, diga-se em abono da verdade, que mais nojento do que ver um pato a engolir carochas, é ver e ouvir uma chusma a chupar spaghetti copiosamente. Por tudo isto, peço encarecidamente aos meus amigos que não me convidem para restaurantes italianos, tão pouco para aqueles que dizem servir comida do médio oriente, a quem a ASAE (1) deveria fiscalizar assiduamente.
Mas vamos ao artigo do CORRIERE DELLA SERA, da autoria de CONSTANZA RIZZACASA d’ORSOGNA, sob o título “IL PULEDRINO GREGOR CHE SI CREDE UN CANE” (O POTRO GREGOR QUE ACREDITA SER UM CÃO), datado do dia 22 deste mês. Neste artigo é contada a história do poldro Gregor, que caiu numa vala quando seguia a mãe que ia a puxar uma carroça, ficando ali para morrer, abandonado, ferido e esfomeado. Por sorte viria a ser resgatado por um alemão chamado Greg que o levou para um canil de abrigo.
A autora do artigo, que é jornalista e ensaísta, a determinada altura relembra OS MAUS-TRATOS QUE CAVALOS, BURROS E CÃES RECEBEM NA ROMÉNIA, dizendo: “Os cães de rua (abandonados) são um flagelo em muitos países da Europa Oriental e do Sul, ligados sobretudo à pobreza, à decadência social e à cultura animal inexistente. Mas Roménia em particular, tem, por maus-tratos e abandono, as situações mais dramáticas na Europa, uma vez que, na década de oitenta, A DECISÃO DE CEAUSESCU(2) DE URBANIZAR A POPULAÇÃO QUE VIVIA NO CAMPO LEVOU AO ABANDONO, EM CURTO ESPAÇO DE TEMPO, DE MILHARES E MILHARES DE CÃES. A situação não mudou muito desde 2001. Os cães são mortos em grande número nos canis das cidades romenas com métodos não verificáveis. Muitas vezes morrem de fome e de doença antes do 14º dia de vida. E o número de cães de rua ainda é muito alto”.
Como é do conhecimento geral, a Roménia em termos étnicos é um país de dupla face, porque convivem no seu território ciganos e não-ciganos e só a população cigana come cavalo, os outros romenos não. É a comunidade cigana que “comercializa carne de cavalo, especialmente para Itália, o primeiro importador europeu de cavalos para consumo alimentar da Roménia. Nos primeiros nove meses de 2017, a SAVE THE DOGS(3) noticiou que a Roménia exportou cavalos e jumentos por mais de 2 milhões de euros: mais de mil toneladas entre carcaças e animais vivos, empilhados e sedentos no longo passeio no volante para chegar também de nós . Porque a carne custa muito pouco: OS COMERCIANTES PAGAM AOS PASTORES ENTRE 40 E 50 EUROS POR BURRO, CUJA CARNE, MISTURADA COM A MAIS CARA, ACABA MUITAS VEZES OCULTA EM MOLHO DE CARNE E HAMBURGERS. O mais importante massacre de cavalos na Romênia rendeu bilhões de milhões de euros anuais e entre 2016 e 2017 foram ali abatidos 10 mil animais” – adiantou d’Orsogna.
Depois de ler este artigo, para mim inquietante em vários sentidos, é possível que não seja capaz de comer carne na Roménia e em Itália, caso por lá volte a passar. Diz-se que “gato escaldado de água fria tem medo” e eu não quero voltar a ser enganado. A carne de burro é fecunda em causar encefalite, salmonelose, gastroenterite e em transmitir ténias. E, no caso romeno, atendendo à ausência de controlo e certificação veterinária, os cavalos não deverão encontrar-se em melhor estado. Se já não gostava de ir aos ristoranti italianos fatto in Portogallo, dispensei de vez todos os italianos, independentemente do lugar onde se encontrem.
(1)Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE) é a autoridade administrativa de Portugal especializada para as áreas de segurança alimentar. (2) Nicolae Ceauşescu, secretário-geral do partido comunista romeno e ditador, que acabou por ser fuzilado, junto com a sua mulher, no Natal de 1989, depois de julgado e sentenciado por um tribunal militar. (3) Organização sem fins lucrativos da iniciativa da ex-publicitária Sara Turek, que desde o início do milénio se dedica ao resgate de cães na Roménia.

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