domingo, 5 de agosto de 2018

SOBRE OS CÃES QUE RASPAM O CHÃO

Todos nós já vimos cães a raspar o chão com as patas, geralmente depois de urinarem, sem sabermos exactamente o que isso significa ou porque acontece. Especialistas em comportamento animal debruçaram-se sobre este comportamento canino e divulgaram as suas conclusões na revista LIVESCIENCE. Em primeiro lugar importa dizer que são poucos os cães que realizam este ritual para nós bizarro, que ele ocorre igualmente em machos e fêmeas, e que apenas 10% dos cães o fazem, isto segundo o parecer de ROSE BESCOBY, especialista clínica em comportamento animal da Associação de Conselheiros de Comportamento Animal no Reino Unido.
Os cientistas foram unânimes ao reconhecer que este comportamento é desencadeado por um conjunto preciso de circunstâncias, que os cães praticam-no com entusiasmo logo após urinarem ou defecarem, quando entram numa área nova com cheiros estranhos ou depois de cheirarem o cocó doutro cão. E nisto os cães não são únicos, porque tanto os lobos, como os coiotes e até os leões fazem o mesmo. Foram os estudos observacionais sobre os hábitos destes animais, em particular de coiotes e lobos, que deram algumas pistas mais sobre o porquê dos cães raparem o chão.
Ao fazerem isto, os lobos estão presumivelmente a tentar mandar uma mensagem para outros lobos, avisando-os do que, caso ultrapassem aquelas marcas, poderão a vir a ser atacados. Este aviso é dirigido a estranhos e não a membros da mesma alcateia. De acordo com CARLO SIRACUSA, um veterinário comportamentalista da Universidade de Los Angeles e da Escola Veterinária da Pensilvânia, este processo de marcação territorial tem duas características principais:  uma marca visual (os arranhões que o animal deixa no chão) e outra odorífera, deixada pela urina ou pelos fluídos libertados pelas glândulas presentes nas patas dos lobos, quando raspam e espalham o chão.
Também o raspar das patas canino é muitas vezes acompanhado pela marcação da urina numa árvore próxima ou junto a um tufo de ervas. Além disso, os cães também podem largar fluídos de marcação das suas patas. O que “não está claro é se os outros cães detectam o odor dos arranhões, mas sabemos que os cães têm glândulas sudoríparas nas suas almofadas e/ou glândulas sebáceas na pele entre os dedos dos pés”, disse BESCOBY.
SIRACUSA (na foto seguinte) acrescentou que, como essas glândulas nas patas produzem feromonas, os cães poderão deixar essas substâncias fétidas no solo e dispersá-las para enviarem um poderoso sinal químico aos outros cães da sua presença ali. Como não está ainda claro qual a função exacta dessas feromonas, é difícil tirar conclusões sobre o teor da mensagem assim enviada aos outros cães. Mas, como acontece com os lobos, é provável que essas feromonas forneçam alguma notificação para os animais que se encontram perto.  
O mesmo veterinário e comportamentalista acredita que o arranhar do solo, ao invés de ser uma mensagem agressiva para afastar os outros cães, pode ser simplesmente uma maneira de notificar os outros sobre a sua própria presença, de se dar a conhecer e possivelmente para reduzir a probabilidade de se encontrarem numa área confinada. Siracusa tem verificado no seu trabalho clínico que o raspar das patas é mais comum entre cães nervosos e inseguros, o que não significa que esse comportamento seja produto da ansiedade, segundo enfatizou, uma vez que é perfeitamente natural e não há razão para preocupações. Mas para os cães mais ousados, tal atitude pode ser “uma tentativa de controlar o espaço e torná-lo mais seguro, por não são grandes fãs de conhecer outros cães”.
Esta conclusão do comportamentalista americano pode explicar, de acordo com BESCOBY, por que razão os cães arranham mais o chão quanto estão em território desconhecido e o porquê as cadelas esterilizadas rasparem mais do que as outras. SIRACUSA termina dizendo que a melhor maneira de lidar com este comportamento instintivo é consenti-lo, ao invés de proibi-lo, porque a sua proibição fá-los-ia sentir mais vulneráveis.
Louva-se a existência deste trabalho científico e os dados adiantados pelos seus autores, que estão longe de ser conclusivos e que reclamam maior estudo e observação. A experiência ensinou-nos que os cães que raspam o chão têm por norma um maior impulso à luta e que depois de fazerem isto, caso um cão desconhecido se acerque deles, escorraçá-lo-ão de imediato e sem hesitações. Não deixa de ser interessante o que a Dr.ª BESCOBY adiantou acerca das cadelas castradas, porque muitas delas acabam por ser anti-sociais ou mais anti-sociais do que alguma vez foram. Se eu tivesse que escolher um cão entre dois com igual potencial para guarda e um raspasse e o outro não, escolheria o primeiro sem pestanejar.

Caros leitores, os cães não deverão ser escolhidos à pressa, seja lá para o que for, carecem de atenta e demorada observação e, mesmo assim, sempre haverá pormenores que lamentavelmente nos escaparão!
PS: Ignoramos qual a razão que levou estes ilustres comportamentalistas a desconsiderar as expressões mímicas dos cães durante a acção de raspar o solo, já que elas poderiam ajudar a decifrar o carácter da mensagem e os seus destinatários.

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