Todos nós já vimos cães a
raspar o chão com as patas, geralmente depois de urinarem, sem sabermos
exactamente o que isso significa ou porque acontece. Especialistas em
comportamento animal debruçaram-se sobre este comportamento canino e divulgaram
as suas conclusões na revista LIVESCIENCE.
Em primeiro lugar importa dizer que são poucos os cães que realizam este ritual
para nós bizarro, que ele ocorre igualmente em machos e fêmeas, e que apenas
10% dos cães o fazem, isto segundo o parecer de ROSE
BESCOBY, especialista clínica em comportamento animal da
Associação de Conselheiros de Comportamento Animal no Reino Unido.
Os cientistas foram
unânimes ao reconhecer que este comportamento é desencadeado por um conjunto
preciso de circunstâncias, que os cães praticam-no com entusiasmo logo após
urinarem ou defecarem, quando entram numa área nova com cheiros estranhos ou
depois de cheirarem o cocó doutro cão. E nisto os cães não são únicos, porque tanto
os lobos, como os coiotes e até os leões fazem o mesmo. Foram os estudos
observacionais sobre os hábitos destes animais, em particular de coiotes e
lobos, que deram algumas pistas mais sobre o porquê dos cães raparem o chão.
Ao fazerem isto, os lobos
estão presumivelmente a tentar mandar uma mensagem para outros lobos,
avisando-os do que, caso ultrapassem aquelas marcas, poderão a vir a ser
atacados. Este aviso é dirigido a estranhos e não a membros da mesma alcateia.
De acordo com CARLO
SIRACUSA, um veterinário comportamentalista da Universidade de
Los Angeles e da Escola Veterinária da Pensilvânia, este processo de marcação
territorial tem duas características principais: uma marca visual (os arranhões que o animal
deixa no chão) e outra odorífera, deixada pela urina ou pelos fluídos
libertados pelas glândulas presentes nas patas dos lobos, quando raspam e
espalham o chão.
Também o raspar das patas canino
é muitas vezes acompanhado pela marcação da urina numa árvore próxima ou junto
a um tufo de ervas. Além disso, os cães também podem largar fluídos de marcação
das suas patas. O que “não está claro é se os outros cães detectam o odor dos
arranhões, mas sabemos que os cães têm glândulas sudoríparas nas suas almofadas
e/ou glândulas sebáceas na pele entre os dedos dos pés”, disse BESCOBY.
SIRACUSA (na
foto seguinte) acrescentou que, como essas glândulas nas patas produzem feromonas,
os cães poderão deixar essas substâncias fétidas no solo e dispersá-las para
enviarem um poderoso sinal químico aos outros cães da sua presença ali. Como não
está ainda claro qual a função exacta dessas feromonas, é difícil tirar
conclusões sobre o teor da mensagem assim enviada aos outros cães. Mas, como
acontece com os lobos, é provável que essas feromonas forneçam alguma
notificação para os animais que se encontram perto.
O mesmo veterinário e
comportamentalista acredita que o arranhar do solo, ao invés de ser uma
mensagem agressiva para afastar os outros cães, pode ser simplesmente uma
maneira de notificar os outros sobre a sua própria presença, de se dar a
conhecer e possivelmente para reduzir a probabilidade de se encontrarem numa
área confinada. Siracusa tem verificado no seu trabalho clínico que o raspar
das patas é mais comum entre cães nervosos e inseguros, o que não significa que
esse comportamento seja produto da ansiedade, segundo enfatizou, uma vez que é
perfeitamente natural e não há razão para preocupações. Mas para os cães mais
ousados, tal atitude pode ser “uma tentativa de controlar o espaço e torná-lo
mais seguro, por não são grandes fãs de conhecer outros cães”.
Esta conclusão do
comportamentalista americano pode explicar, de acordo com BESCOBY,
por que razão os cães arranham mais o chão quanto estão em território
desconhecido e o porquê as cadelas esterilizadas rasparem mais do que as outras.
SIRACUSA
termina dizendo que a melhor maneira de lidar com este comportamento instintivo
é consenti-lo, ao invés de proibi-lo, porque a sua proibição fá-los-ia sentir
mais vulneráveis.
Louva-se a existência deste trabalho científico e os dados adiantados pelos seus autores, que estão
longe de ser conclusivos e que reclamam maior estudo e observação. A
experiência ensinou-nos que os cães que raspam o chão têm por norma um maior
impulso à luta e que depois de fazerem isto, caso um cão desconhecido se
acerque deles, escorraçá-lo-ão de imediato e sem hesitações. Não deixa de ser
interessante o que a Dr.ª BESCOBY adiantou acerca das cadelas castradas, porque
muitas delas acabam por ser anti-sociais ou mais anti-sociais do que alguma vez
foram. Se eu tivesse que escolher um cão entre dois com igual potencial para
guarda e um raspasse e o outro não, escolheria o primeiro sem pestanejar.
Caros
leitores, os cães não deverão ser escolhidos à pressa, seja lá para o que for,
carecem de atenta e demorada observação e, mesmo assim, sempre haverá
pormenores que lamentavelmente nos escaparão!
PS: Ignoramos qual a razão
que levou estes ilustres comportamentalistas a desconsiderar as expressões mímicas
dos cães durante a acção de raspar o solo, já que elas poderiam ajudar a
decifrar o carácter da mensagem e os seus destinatários.
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