terça-feira, 7 de agosto de 2018

A IMPORTÂNCIA DA PUBLICAÇÃO DO GENOMA DA RAPOSA

Ao longo de quase 60 anos, a raposa vermelha tem elucidado os cientistas acerca do comportamento animal, mediante um experimento de longo prazo onde as raposas foram seleccionadas pela sua tolerância ou agressão, para recriar em tempo real o processo de domesticação do lobo para os cães modernos. A partir de ontem, com a primeira publicação do genoma da raposa, os cientistas começarão a entender as bases genéticas por detrás dos comportamentos mansos e agressivos, que poderão também dar pistas sobre o comportamento humano.
ANNA KUKEKOVA (foto seguinte), professora assistente do Departamento de Ciências Animais da UNIVERSIDADE de ILLINOIS e principal autora do artigo, disse acerca da publicação do genoma da raposa: “Há muito, muito tempo que estávamos à espera desta ferramenta”. KUKEKOVA, que estuda as famosas raposas russas desde 2002, disse que anteriormente tentava-se identificar as regiões do genoma da raposa pelo seu comportamento manso ou agressivo, o que exigia um genoma referencial e o melhor que se podia fazer era usar o genoma do cão. Agora, o genoma da raposa oferece um recurso muito melhor para a análise genética do comportamento.
Depois de sequenciar e montar o genoma da raposa, a equipa voltou-se para as famosas raposas russas na procura de regiões genéticas que diferenciassem as populações  domesticadas, as agressivas e as convencionais, animais criados desde longa data em cativeiro, mas não seleccionadas a partir de um comportamento específico. Os investigadores sequenciaram os genomas de 10 indivíduos de cada população e compararam-nos com o genoma completo da raposa. As 3 populações diferiram entre si em 103 regiões genómicas, algumas das quais responsáveis pelos comportamentos mansos e agressivos. “Encontrar regiões genómicas com tal resolução estava além de qualquer expectativa com nossas ferramentas anteriores. Agora, pela primeira vez, não só podemos identificar parte de um cromossoma que torna as raposas mais mansas ou agressivas, mas também identificar os genes específicos responsáveis por isso" – disse Kukekova.
Seguidamente a equipa comparou as 103 regiões genómicas com as de outros mamíferos sequenciados e encontrou algumas semelhanças convincentes, identificando correspondências entre regiões de comportamento nas raposas com regiões importantes na domesticação dos cães e com uma região associada à síndrome de Williams-Beuren em humanos, uma desordem genética caracterizada por um comportamento extremamente extrovertido e amigável. E o mais incrível de tudo é que encontrou a região Williams-Beuren nas raposas agressivas e não nas mansas, quando esperava o contrário!
Esta descoberta inesperada e misteriosa ressalta a necessidade de mais pesquisas para que as regiões sejam completamente compreendidas. Dispostos a ir mais além, os pesquisadores concentraram-se num único gene, conhecido por SorCS1, que está envolvido na formação, funcionamento e plasticidade das sinapses(1), para além de outras funções adicionais. Este gene, cuja contribuição para o comportamento social era desconhecida, foi definitivamente associado a um comportamento específico nas raposas, o de as tornar mais tranquilas. Cautelosa, Kukekova disse a esse respeito: “Acreditamos que este gene torna as raposas mais tranquilas, mas não queremos exagerar - a dor não está só associada a um único gene. A imagem é definitivamente mais complexa".
O artigo "Montagem do genoma da raposa vermelha identifica regiões genómicas associadas a comportamentos mansos e agressivos" foi publicado na revista Nature Ecology & Evolution . A lista completa dos seus autores inclui Anna Kukekova, Jennifer Johnson, Xueyan Xiang, Shaohong Feng, Shiping Liu, Halie Rando, Anastasiya Kharlamova, Yury Herbeck, Natalya Serdyukova, Zijun Xiong, Violetta Beklemischeva, Klaus-Peter Koepfli, Rimma Gulevich, Anastasia Vladimirova, Jessica Hekman, Polina Perelman, Aleksander Graphodatsky, Stephen O'Brien, Wang Xu, Andrew Clark, Gregory Acland, Lyudmila Trut e Guojie Zhang.
(1)SINAPSE: Zona de contacto entre o axónio de um neurónio e os dendritos de outro neurónio, na qual ocorre a transmissão do influxo nervoso.

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