quinta-feira, 9 de agosto de 2018

FRANÇA: A DIFÍCIL COABITAÇÃO ENTRE AGRICULTORES E LOBOS

Hoje vêem-nos poucas novidades da França, como se depois de Napoleão os "ses jours de gloire" tivessem passado à clandestinidade. De lá chegam-nos notícias da crise económica em que se encontra, do Tour(1), de manifestações infindáveis, da violência nas ruas (que chegou a ofuscar os festejos de ter sido campeã da Europa de futebol), da crescente islamização do País, dos avanços da extrema-direita e das pernas de MADAME MACRON, que as traz sempre à vista com saias acima do joelho, arrojo que tem merecido inúmeros comentários a favor e contra, ao ponto de KARL LAGERFELD, estilista da casa francesa Chanel e da italiana Fendi, as considerar as melhores pernas de Paris. Não sei bem porquê, mas quando vejo esta senhora de 65 primaveras em cima daquelas perninhas, lembro-me imediatamente de uma “fritada de pardais”, petisco que adorava na juventude e que me obrigava a ir à noite para os eucaliptais, munido de uma “flaubert”(2) e de uma lanterna. Quando já havia caçado um número suficiente, convidava os amigos e fritavam-se os pardais(3), que por terem pouca carne, tinham que ser comidos com ossos, cabeça e tudo! A França sempre acrescentou algo de pitoresco ao mundo!
Deixemos de parte os frágeis e envelhecidos joelhos da Sr.ª Macron e vamos ao que interessa. A população de lobos em França está a aumentar e em rápida expansão. Estima-se que existam em território gaulês cerca de 430 indivíduos. Os especialistas apontam como causas para o retorno do lobo os seguintes factores: o reflorestamento, o êxodo rural, o aumento das presas, a adaptabilidade lupina para percorrer grandes distâncias e a existência de medidas de protecção rígidas (Convenção de Berna, directiva da EU). Neste momento a presença dos lobos já se estende da Occitânia até à Valónia (onde há 100 anos não era visto, desde a Batalha do Somme), do sudeste francês até ao sul da Bélgica.
Na região administrativa da Occitânia, no sudeste francês, com fronteiras com Andorra e Espanha, que em 2014 fundiu as regiões Languedoque-Rossilhão e Sul Pirenéus, a presença dos lobos tem sido uma constante, tendo sido avistados ultimamente, na passada Terça-feira, entre Tarn e Hérault, segundo anunciou a Prefeitura de Tarn que anunciou em simultâneo um reforço no sistema de monitoramento para a protecção dos rebanhos. A presença dos lobos foi confirmada mediante dispositivos automáticos por elementos do L'Office national de la chasse et de la faune sauvage – ONCFS, instituição de administração pública responsável pelo conhecimento da vida selvagem e seus habitats através de estudos e pesquisas, pela polícia venatória e meio ambiente, pelo apoio técnico aos formuladores de políticas, planeadores e gestores da área rural e organização e emissão de licenças de caça.
Como os ataques aos rebanhos sucedem-se e cada vez com maior intensidade, a Fédération Nationale des Syndicats d'Exploitants Agricoles (FNSEA), fundada em 1946 e que é a união agrícola maioritária em França, junto com as Câmaras de Agricultura e Associações de Criadores, decidiram solicitar ao Estado, no final do mês passado, um reforço das medidas contra os ataques dos lobos.
O descontentamento entre os ovinicultores é grande e tudo têm feito para serem ouvidos. Exemplo disso foi o que levaram a cabo em Lòzere, onde fizeram marchar pelas ruas da cidade 1.500 ovelhas para melhor assinalarem o seu protesto, onde disseram entre outras coisas que o pastoreio não é compatível com os grandes predadores (Le pastoralisme n’est pas compatible avec les grandes prédateurs). E o desencanto com os lobos é tal, que até dá azo a humor negro, quando dizem: “subsidia um lobo, cria uma ovelha!”
Considerando o crescente número de lobos em território francês e a extensão das suas fronteiras, é bem possível que as populações lupinas da Alemanha, Andorra, Áustria, Bélgica, Espanha, Itália e Luxemburgo sofram um nosso incremento. Este aumento dos lobos em França, que não é um problema de fácil solução, tem levado ao abate clandestino de lobos, o que antagoniza logo à partida ovinicultores e defensores dos direitos dos animais. De qualquer modo, aguardamos com alguma ansiedade a solução a encontrar pelos franceses, porque certamente será melhor que a portuguesa ou “à portuguesa”, que num ápice sujeitou os lobos à vasectomia.
Quando à Occitânia onde tudo se está a passar, adiantamos que tem vários dialectos e que um deles é sensivelmente parecido com o português, estabelecendo uma raiz linguística comum a alguns franceses do sul, catalães e portugueses. Por causa disso a língua catalã não nos soa muito estranha. Falámos de Napoleão no início deste texto e terminamos a falar das repercussões das suas incursões na Europa, uma vez que as tropas lusas perseguiram as francesas até à Occitânia. Pondo os lobos e a história de parte, vale a pena fazer o périplo Catalunha, País Basco e Occitânia, para melhor compreendermos quem somos e donde viemos.
PS: Como o Presidente Macron tem um guarda-costas de origem magrebina que sempre aparece nas fotos, vimo-nos aflitos para sacá-lo dali.
(1)Tour de France: Volta à França em bicicleta. (2)Antiga espingarda de ar comprimido/pressão de ar. (3)Pardal-doméstico ou pardal-do-telhado (Passer domesticus) é uma ave da família Passeridae. A sua distribuição geográfica compreendia, originalmente, a maior parte da Europa e da Ásia, tendo sido introduzido acidental ou propositadamente na maioria da América, África subsariana, Austrália e Nova Zelândia. A sua chegada ao Brasil aconteceu por volta de 1903, quando o então Prefeito do Rio de Janeiro, Francisco Pereira Passos, autorizou a soltura deste pássaro exótico proveniente de Portugal. É actualmente a espécie de ave com maior distribuição geográfica no mundo.

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