Hoje vêem-nos poucas
novidades da França, como se depois de Napoleão os "ses jours de gloire" tivessem passado à
clandestinidade. De lá chegam-nos notícias da crise económica em que se
encontra, do Tour(1), de manifestações infindáveis, da
violência nas ruas (que chegou a ofuscar os festejos de ter sido campeã da
Europa de futebol), da crescente islamização do País, dos avanços da
extrema-direita e das pernas de MADAME
MACRON, que as traz sempre à vista com saias acima do joelho,
arrojo que tem merecido inúmeros comentários a favor e contra, ao ponto de KARL LAGERFELD,
estilista da casa francesa Chanel e da italiana Fendi, as considerar as
melhores pernas de Paris. Não sei bem porquê, mas quando vejo esta senhora de
65 primaveras em cima daquelas perninhas, lembro-me imediatamente de uma “fritada
de pardais”, petisco que adorava na juventude e que me obrigava a ir à noite
para os eucaliptais, munido de uma “flaubert”(2) e de uma lanterna. Quando já havia caçado
um número suficiente, convidava os amigos e fritavam-se os pardais(3),
que por terem pouca carne, tinham que ser comidos com ossos, cabeça e tudo! A França sempre
acrescentou algo de pitoresco ao mundo!
Deixemos de parte os
frágeis e envelhecidos joelhos da Sr.ª Macron e vamos ao que interessa. A
população de lobos em França está a aumentar e em rápida expansão. Estima-se
que existam em território gaulês cerca de 430 indivíduos. Os especialistas
apontam como causas para o retorno do lobo os seguintes factores: o
reflorestamento, o êxodo rural, o aumento das presas, a adaptabilidade lupina
para percorrer grandes distâncias e a existência de medidas de protecção
rígidas (Convenção de Berna, directiva da EU). Neste momento a presença dos
lobos já se estende da Occitânia até à Valónia (onde há 100 anos não era visto,
desde a Batalha do Somme), do sudeste francês até ao sul da Bélgica.
Na região administrativa da
Occitânia, no sudeste francês, com fronteiras com Andorra e Espanha, que em
2014 fundiu as regiões Languedoque-Rossilhão e Sul Pirenéus, a presença dos
lobos tem sido uma constante, tendo sido avistados ultimamente, na passada
Terça-feira, entre Tarn e Hérault, segundo anunciou a Prefeitura de Tarn que
anunciou em simultâneo um reforço no sistema de monitoramento para a protecção
dos rebanhos. A presença dos lobos foi confirmada mediante dispositivos
automáticos por elementos do L'Office national de la chasse et de la faune
sauvage – ONCFS,
instituição de administração pública responsável pelo conhecimento da vida
selvagem e seus habitats através de estudos e pesquisas, pela polícia venatória
e meio ambiente, pelo apoio técnico aos formuladores de políticas, planeadores
e gestores da área rural e organização e emissão de licenças de caça.
Como os ataques aos
rebanhos sucedem-se e cada vez com maior intensidade, a Fédération
Nationale des Syndicats d'Exploitants Agricoles (FNSEA),
fundada em 1946 e que é a união agrícola maioritária em França, junto com as
Câmaras de Agricultura e Associações de Criadores, decidiram solicitar ao
Estado, no final do mês passado, um reforço das medidas contra os ataques dos
lobos.
O descontentamento entre
os ovinicultores é grande e tudo têm feito para serem ouvidos. Exemplo disso
foi o que levaram a cabo em Lòzere, onde fizeram marchar pelas ruas da cidade
1.500 ovelhas para melhor assinalarem o seu protesto, onde disseram entre
outras coisas que o pastoreio não é compatível com os grandes predadores (Le pastoralisme n’est pas compatible avec
les grandes prédateurs). E o desencanto com os lobos é tal, que até dá azo
a humor negro, quando dizem: “subsidia um lobo, cria uma ovelha!”
Considerando o crescente número
de lobos em território francês e a extensão das suas fronteiras, é bem possível
que as populações lupinas da Alemanha, Andorra, Áustria, Bélgica, Espanha,
Itália e Luxemburgo sofram um nosso incremento. Este aumento dos lobos em
França, que não é um problema de fácil solução, tem levado ao abate clandestino
de lobos, o que antagoniza logo à partida ovinicultores e defensores dos
direitos dos animais. De qualquer modo, aguardamos com alguma ansiedade a
solução a encontrar pelos franceses, porque certamente será melhor que a portuguesa
ou “à portuguesa”, que num ápice sujeitou os lobos à vasectomia.
Quando
à Occitânia onde tudo se está a passar, adiantamos que tem vários dialectos e
que um deles é sensivelmente parecido com o português, estabelecendo uma raiz
linguística comum a alguns franceses do sul, catalães e portugueses. Por causa
disso a língua catalã não nos soa muito estranha. Falámos de Napoleão no início
deste texto e terminamos a falar das repercussões das suas incursões na Europa,
uma vez que as tropas lusas perseguiram as francesas até à Occitânia. Pondo os
lobos e a história de parte, vale a pena fazer o périplo Catalunha, País Basco
e Occitânia, para melhor compreendermos quem somos e donde viemos.
PS:
Como o Presidente Macron tem um guarda-costas de origem magrebina que sempre
aparece nas fotos, vimo-nos aflitos para sacá-lo dali.
(1)Tour de France: Volta à França em bicicleta. (2)Antiga
espingarda de ar comprimido/pressão de ar. (3)Pardal-doméstico ou pardal-do-telhado
(Passer domesticus) é uma ave da família Passeridae. A sua distribuição
geográfica compreendia, originalmente, a maior parte da Europa e da Ásia, tendo
sido introduzido acidental ou propositadamente na maioria da América, África
subsariana, Austrália e Nova Zelândia. A sua chegada ao Brasil aconteceu por
volta de 1903, quando o então Prefeito do Rio de Janeiro, Francisco Pereira
Passos, autorizou a soltura deste pássaro exótico proveniente de Portugal. É actualmente
a espécie de ave com maior distribuição geográfica no mundo.
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