Hoje celebramos o DIA MUNDIAL DO CÃO e
amanhã continuará tudo na mesma, porque a maioria das efemérides só serve para
avivar a esperança e lutar contra o esquecimento. As celebrações portuguesas
são muito pobrezinhas, nada incómodas para o poder estabelecido e bem ao jeito
popular, apesar de algumas serem bastante concorridas. Geralmente fazemos duas
ou 3 feiras para adoptar gatos e cães, os cães da polícia “dão à costa”, alguns
centros de treino canino dizem estar vivos e nos jardins públicos acontecem
exibições/provas de obediência e agility. No meio da algazarra, nem sempre do
agrado dos moradores ao redor dos eventos, não faltam brincadeiras e concursos
para as crianças e há sempre alguém quem leva um saco ou um braçado de amostras
de ração, o que nos tempos que correm é deveras conveniente. A ocasião também é
propícia para a publicidade das grandes marcas de alimentação e acessórios para
animais de estimação, que neste dia pretendem ser as maiores amigas dos cães e
gatos lá de casa, desatando cautelosa e programadamente os “cordões à bolsa”.
Infelizmente, estas
celebrações não comportam espaços para o esclarecimento, discussão e reflexão
de temas importantes para os proprietários caninos, como é o caso da qualidade
das rações e o referente à endogamia e consanguinidade presente nos cães com
pedigree, que acabam por atentar contra o seu bem-estar e promover o
encurtamento dos seus dias. Apesar de todos sabermos da necessidade de mais e
melhor apetrechados parques municipais para cães, ninguém irá tocar no assunto
e as Câmaras ainda sairão por cima à conta da cedência de uns tantos
separadores para o evento. Em ocasiões como estas ninguém se lembra de alertar
para a exagerada proliferação de cães e gatos, cujo número está a promover
desequilíbrios ecológicos e a contribuir para a extinção de algumas espécies
autóctones. A festa vale por si mesma e o que o povo quer é festa. Por causa
disso, muitos assuntos importantes em Portugal são relegados para discussão
posterior, aguardando alguns deles, provavelmente os mais prementes, pela
ressurreição da carne.
Quem gosta de cães é
obrigado a pensar nos vindouros, libertando-os dos achaques que hoje os afligem,
o que poderá implicar no desaparecimento ou reconversão de algumas raças
actuais e no aparecimento de novas, necessariamente mais saudáveis e com maior
esperança de vida. Por outro lado, importa questionar o impacto ambiental que
cães e gatos estão a causar nos mais diversos ecossistemas, uma vez que a sua
presença não se restringe apenas aos espaços urbanos e citadinos. Em
simultâneo, convém esclarecer os proprietários de cães acerca da qualidade das
rações, ensiná-los a cuidar da higiene e limpeza dos seus mascotes e
incentivá-los ao treino e sociabilização dos seus companheiros de 4 patas. O DIA MUNDIAL DO CÃO é
para nós um dia de reflexão, uma ocasião em que relembramos o passado para
alcançarmos um futuro mais risonho para os cães.
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