sexta-feira, 31 de agosto de 2018

NÓS POR CÁ: A TELEVISÃO QUE SE LIGA PARA DORMIR

Os canais de televisão portugueses, exceptuando os públicos RTP2 e RTP Memória (por vezes já não se consegue olhar para a cara do Júlio Isidro) são, para além de falidos e nisso não há excepções, sensacionalistas, repletos de programas de “faca e alguidar”, comezinhos, mixordeiros e maltratam de sobremaneira a nossa língua, onde não faltam locutores broncos e malformados, que falam para não estar calados e que se julgam muito engraçados, confundindo simpatia com abuso e profissionalismo com repentismo. Ainda bem que não escrevem, porque seriam ainda mais ridicularizados.
Eu bem sei que os seus programas são por vezes cópias fiéis dos que se fazem nas Américas, onde a realidade sociocultural é outra, a cultura anda de rastos e é só para alguns. Estes programas “pé-de-chinelo” pertencem normalmente aos seguintes tipos (de A a Z): anúncios em bardo; arraiais populares; caça à desgraça alheia; concursos banais; crónicas sobre o Presidente da República; debates políticos mal moderados; jogos de futebol; noticiários imprecisos e mal estruturados; picardias futebolísticas; programas musicais sofríveis; promoção de avantesmas; relatos criminais; reportagens inconclusivas; tardes da má-língua e telenovelas.
Lamento dizê-lo, mas os senhores directores de programação, cansados que andam das lutas pelas audiências, apesar de darem ao povo aquilo que ele gosta, estão a prestar um mau serviço ao País, à nossa cultura e língua, para além de serem imprestáveis para a comunidade científica nacional, que não se revê em nenhum destes programas. Deste modo, os chumbos na disciplina de português vão continuar a aumentar e os futuros locutores irão pontapear ainda mais a língua de Camões e adulterar a sua já esquecida gramática.
Longe de mim ser saudosista, mas no tempo em que os “bota-de-elástico” por cá andavam, ainda se via teatro sério e não revisteiro, programas culturais vários e de inovação científica, a televisão não só divertia como ensinava. O que poderemos aprender com os canais de hoje? Provavelmente aquilo que não deveremos fazer! Assim como se é obrigado a sair do País para se ter uma vida melhor, também os telespectadores portugueses são obrigados a imigrar para os canais estrangeiros. E se as imprestáveis televisões não promoveram o nosso atraso científico, foi porque os benditos computadores e a Internet entretanto chegaram. A televisão que se faz por cá só se liga para dormir, para abafar o barulho dos comboios, para disfarçar o silvo dos barcos à entrada da barra ou para combater eficazmente as insónias!

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