Os canais de televisão
portugueses, exceptuando os públicos RTP2 e RTP Memória (por vezes já não se
consegue olhar para a cara do Júlio Isidro) são, para além de falidos e nisso
não há excepções, sensacionalistas, repletos de programas de “faca e alguidar”,
comezinhos, mixordeiros e maltratam de sobremaneira a nossa língua, onde não
faltam locutores broncos e malformados, que falam para não estar calados e que
se julgam muito engraçados, confundindo simpatia com abuso e profissionalismo
com repentismo. Ainda bem que não escrevem, porque seriam ainda mais
ridicularizados.
Eu bem sei que os seus
programas são por vezes cópias fiéis dos que se fazem nas Américas, onde a
realidade sociocultural é outra, a cultura anda de rastos e é só para alguns.
Estes programas “pé-de-chinelo” pertencem normalmente aos seguintes tipos (de A
a Z): anúncios em bardo; arraiais populares; caça à desgraça alheia; concursos
banais; crónicas sobre o Presidente da República; debates políticos mal
moderados; jogos de futebol; noticiários imprecisos e mal estruturados; picardias
futebolísticas; programas musicais sofríveis; promoção de avantesmas; relatos
criminais; reportagens inconclusivas; tardes da má-língua e telenovelas.
Lamento dizê-lo, mas os
senhores directores de programação, cansados que andam das lutas pelas
audiências, apesar de darem ao povo aquilo que ele gosta, estão a prestar um
mau serviço ao País, à nossa cultura e língua, para além de serem imprestáveis
para a comunidade científica nacional, que não se revê em nenhum destes
programas. Deste modo, os chumbos na disciplina de português vão continuar a
aumentar e os futuros locutores irão pontapear ainda mais a língua de Camões e
adulterar a sua já esquecida gramática.
Longe de mim ser
saudosista, mas no tempo em que os “bota-de-elástico” por cá andavam, ainda se
via teatro sério e não revisteiro, programas culturais vários e de inovação
científica, a televisão não só divertia como ensinava. O que poderemos aprender
com os canais de hoje? Provavelmente aquilo que não deveremos fazer! Assim como
se é obrigado a sair do País para se ter uma vida melhor, também os telespectadores
portugueses são obrigados a imigrar para os canais estrangeiros. E se as
imprestáveis televisões não promoveram o nosso atraso científico, foi porque os
benditos computadores e a Internet entretanto chegaram. A televisão que se faz
por cá só se liga para dormir, para abafar o barulho dos comboios, para disfarçar o silvo dos barcos à entrada da barra ou para combater
eficazmente as insónias!
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