quinta-feira, 30 de agosto de 2018

NO PORTO DE MOMBASA MARFIM NÃO PASSA?

Nos últimos anos o número de países que tem proibido a importação e venda de marfim têm vindo a aumentar, proibição deveras importante para deter a caça desenfreada que ameaça o elefante em África. Não obstante, enormes quantidades de marfim, de chifre de rinoceronte, de pangolins (ameaçados de extinção), de plantas e madeiras raras são contrabandeados diariamente do continente africano para todo o mundo, escondidas dentro de contentores de carga.
A BBC informou recentemente que pelo menos num porto, o de MOMBASA no QUÉNIA, tido como o maior centro global de comércio ilegal de marfim, as autoridades locais estão a utilizar uma nova arma no combate contra o comércio ilegal de animais selvagens e seus subprodutos: o IVORY DOG PROJECT, que consiste no uso de cães farejadores para o efeito e que ali estão a ser testados. Segundo a mesma agência noticiosa, quase 40 MIL LIBRAS DE MARFIM foram APREENDIDAS EM MOMBASA ENTRE 2009 e 2014, o que representa a MORTE DE 2.400 ELEFANTES, número parcial de elefantes mortos considerando a quantidade de marfim contrabandeada com sucesso para fora do país.
Para reprimir este comércio cruel, assassino e ilegal, o WORLD WILDLIFE FUND (WWF), a organização de comércio da vida selvagem TRAFFIC e o KENYA WILDLIFE SERVICE uniram para treinar os cães farejadores. Segundo fez saber a WWF num comunicado, o processo chama-se REMOTE AIR SAMPLING FOR CANINE OLFACTION (RASCO). Os cães são primeiro treinados para reconhecer o cheiro do marfim, do chifre do rinoceronte e de outros produtos da vida selvagem comummente traficados. Depois disso, as autoridades usam um equipamento especial para sugar uma amostra de ar de um contentor de carga suspeito, que é então passado por um filtro que o colecta o odor a ser identificado pelos cães. Resta saber, e agora dizemos nós, o que é um contentor suspeito e quais não são!
Antes da aplicação do RASCO, já eram usados cães para investigar contentores neste porto queniano (Mombasa), animais que em 6 meses levaram a 26 apreensões. Contudo, farejar 2.000 contentores diariamente era um processo lento que levava ao aquecimento e fadiga dos cães. De acordo com um vídeo que acompanha a notícia de JANE DALTON no THE INDEPENDENT, esvaziar um contentor e localizar o marfim poderia levar horas, ainda mais quando se encontrava inteligentemente escondido. Agora, com o novo método, os cães podem cheirar os filtros de salas confortáveis e climatizadas e examinar o odor de um recipiente em poucos minutos (quando os cães se sentam depois de cheirar os filtros, estão a indicar a presença da mercadoria ilegal).
ANDREW McVEY, coordenador do crime sobre a vida selvagem da WWF EAST AFRICA explicou desta maneira a importância do RASCO à jornalista atrás citada: “ Esta técnica pode mudar o jogo, ao reduzir o número de partes de animais em extinção nas entradas dos mercados exteriores, como é o do Sudeste Asiático” e “ o melhor amigo do homem é o pesadelo do traficante: o incrível olfacto dos cães significa que podem farejar até a menor quantidade num contentor com 40 pés (12.19200m)… Interromper o tráfico é essencial se quisermos acabar com esse comércio colossal que afecta incontáveis espécies e milhões de pessoas em todo o mundo”.
Mombasa não é o único lugar onde os conservacionistas caninos estão a colaborar na detecção e detenção de caçadores de marfim. Desde 2009, segundo relato da bióloga SUE PALMINTERI em MONGABAY, os patrulheiros da vida selvagem usam labradores no TRIÂNGULO DE MARA, na seção norte da RESERVA MAASAI MARA, no Quénia, para cheirar veículos e detectar marfim oculto, carne de caça e outros produtos da vida selvagem. Os guardas florestais também gerem um bando de sabujos para rastrear caçadores furtivos nos vastos desertos do parque. De acordo com o comunicado, o WWF espera que avanços como o RASCO e outros projetos aumentem a consciencialização sobre o comércio ilegal de animais selvagens, e espera chamar a atenção do mundo para o problema na Conferência sobre o Comércio Ilegal de Animais Selvagens (ILLEGAL WILDLIFE TRADE CONFERENCE), que terá lugar em Londres no próximo Outubro.
Saúdam-se todos os esforços para combater o tráfico de animais selvagens e sabemos das mais-valias caninas nesse combate. Porém, também sabemos que por detrás da caça ilegal estão populações miseráveis, esfaimadas, esfarrapadas e esquecidas para quem este crime, apesar dos riscos, ainda é o melhor dos seus rendimentos, muito embora aquilo que recebem mal dê para “mandar cantar um cego”. Caberá em primeiro instância aos políticos europeus decidir o que querem: se uma África próspera e parceira ou uma EURAFRICA cada vez mais invadida, insegura e conflituosa.
Se a África não se libertar da miséria, a miséria chegará a todos os cantos do globo e a caça ilegal de animais selvagens só terá fim quando atingirem a extinção. Pergunta-se a quem tem poder decisório e a quem gosta de reflectir: se todos os caçadores furtivos tivessem um salário igual ao dos guardas que os perseguem, que para nós é até irrisório, sentir-se-iam obrigados a matar animais e a correr sérios riscos? Infelizmente, se a conjectura socioeconómica africana não sofrer alteração, a extinção de um sem número de espécies já tem hora marcada e alguns de nós morrerão também sem saber porquê! A nosso ver, para além de se inspeccionar as cargas à saída, estas deveriam ser também vistoriadas nos portos e aeroportos de entrada, onde o trabalho de cães RASCO seria muito bem-vindo pela sua urgência.

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