quarta-feira, 6 de junho de 2018

CÃES: HOSPEDEIROS DE FUTURA PANDEMIA GRIPAL?

De acordo com um estudo publicado pela AMERICAN SOCIETY OF MICROBIOLOGY na revista mBio, no dia de ontem, os cães podem constituir-se num potencial risco para uma futura pandemia de gripe, ao demonstrar que o vírus da influenza pode saltar de porcos para cães e que a influenza é cada vez mais diversificada em cães. Até à presente data a maioria das pandemias tem sido associada aos porcos como hospedeiros intermediários entre o vírus aviário e os hospedeiros humanos.
A influenza pandémica acontece quando os vírus passam dos animais para os humanos, que sem exposição prévia ao vírus, acabam maioritariamente por não lhes ser imunes. Os principais hospedeiros da gripe são as aves selvagens e domésticas, os porcos e os cavalos. Alguns dos genes virais do vírus pandémico H1N1 de 2009 tiveram a sua origem nas aves, vírus pandémico que saltou depois para os porcos e finalmente para os humanos. Importa não esquecer que aves e suínos são importantes reservatórios da diversidade viral.
Há 15 anos atrás, os pesquisadores documentaram um vírus da gripe num cavalo que se estendeu a um cão, criando assim o primeiro vírus circulante canino. Há 5 anos atrás foi identificado um vírus de influenza canino H3N2, de origem aviária, em cães de criação em GUANGDONG, na China. No presente estudo, os investigadores descobriram outro conjunto de vírus proveniente de aves que dos porcos passou aos cães e que acabaram por reorganizar-se com os deles, pelo que agora já temos H1N1, H3N2 e H3N8 em cães, num processo muito parecido com o que aconteceu com os porcos 10 anos antes da pandemia de H1N1.
Um dos maiores contributos deste estudo foi a sequenciação completa dos genomas de 16 vírus da influenza em cães provenientes da região autónoma de GUANGXI, na China, entre 2013 e 2015. Os pesquisadores descobriram que os genomas continham segmentos de três linhagens de suínos que circulam em território chinês: o H3N2 trilateral norte-americano, o H1N1 idêntico ao de uma ave eurasiana e H1N1 pandémico. Para além disso, ficou comprovado que os vírus H1N1 de origem suína foram transmitidos a cães e reagrupados com os vírus CIV-H3N2 que circulam endemicamente em cães asiáticos, produzindo três novos genótipos CIV rearranjados (H1N1r, / H1N2r e H3N2r). Os vírus do presente estudo foram colectados de cães de estimação que apresentavam sintomas respiratórios em clínicas veterinárias.
Os cães em certas regiões da China, inclusive em GUANGXI, são também criados para consumo humano e os cães de rua circulam por lá livremente, criando todos um ecossistema mais complexo para a transmissão da gripe canina, o que não deixa de ser um bom motivo para os chineses deixarem de comer cão. Um slogan do tipo “NÃO COMA CÃO PELA SUA SAÚDE” certamente produziria os seus efeitos!
O novo vírus identificado pelos cientistas neste estudo é o H1N1, provavelmente proveniente de suínos e originário das aves, sendo portanto antigeneticamente diferente dos novos H1N1 que foram observados na pandemia e de uma origem diferente da observada no H1N1 em humanos. Futuros estudos irão concentrar-se ainda mais na caracterização do vírus para ser melhor avaliado, usando soros humanos, para se saber se os seres humanos têm imunidade contra H1N1 ou não. "Se houver muita imunidade contra esses vírus, eles representarão um risco menor.
Contudo, a grande diversidade de cães e o tipo de combinações de vírus que neles podem ser criadas, representam um potencial risco de transmissão viral destes animais para as pessoas, uma vez que são mais um hospedeiro onde o vírus da influenza começa a ter diversas características genotípicas e fenotípicas, criando uma diversidade num hospedeiro que está em contato apertado com os seres humanos. Os pesquisadores dizem que é chegada a hora de pensar nas várias maneiras de restringir a circulação do vírus da gripe em cães. GARCIA-SASTRE, o principal autor deste trabalho, disse que os Estados Unidos estão livres da gripe aviária porque cada vez que é detectada em aves domésticas, os frangos ou perus são abatidos e eliminados de circulação e que há tentativas de restringir o vírus da gripe em porcos através da vacinação e que a mesma deveria ser estendida a todos os cães, a bem da saúde pública.

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