terça-feira, 5 de junho de 2018

A HISTÓRIA DO CÃO QUE COMIA ESTE MUNDO E OUTRO E DO OUTRO QUE NÃO COMIA NADA

Serve a presente história, que se repete diariamente por toda a parte, para realçar a importância da RECUSA DE ENGODOS, ensino que induz os cães a não comerem da mão de estranhos e a comida que encontrarem jogada no chão ou noutros lugares, sabendo-se de antemão que todos eles só deverão comer depois da ordem dada pelos donos. A nossa história começa num jardim virado para a estrada, com um muro de 1.20m de altura, encimado por um gradeamento de varões e adornado por uma sebe de cedros bem alta. Dentro do jardim viviam dois cães da mesma raça e própria para guarda, um valente que comia este mundo e outro e outro que não comia quase nada. O primeiro juntava à vontade de comer o gosto em morder e o segundo nem uma coisa nem outra.
Quando chegou a hora de treiná-los, o enfezado ficou em casa e o valente foi para o treino, onde bem depressa aprendeu a defender o dono, a guardar os seus pertences, a rondar, a perseguir e capturar intrusos, a desarmá-los, a revistá-los, a mantê-los debaixo de custódia, a fazer ataques lançados e a não se intimidar perante disparos, valentia que deixava seu dono muito orgulhoso. Dentro do jardim o seu comportamento era igual, enquanto o magro detestava dar-se ao incómodo, o valente avançava decidido para cima do gradeamento que dava para a rua, tentando abocanhar a cabeça de algum transeunte distraído. Vezes sem conta pregou sustos de morte a quem por ali passava, porque aparecia de surpresa, com os dentes à vista e a sua mandíbula intimidava qualquer um, porque tinha a mesma largura na base e na ponta.
Certo dia, como era seu hábito, assustou de tal maneira um homem que o deixou quase sem fala. Profundamente afectado com o sucedido, o ofendido jurou vingar-se e assim fez. Dois ou três dias depois, num fim-de-semana com os donos ausentes, munido de vários hambúrgueres com agulhas e vidro partido dentro deles, que haviam sido fritos em banha de porco para serem mais apelativos, depois de se certificar que não estava a ser visto, o vingador decidiu arremessá-los para dentro do quintal onde estavam os cães. O cão que não comia quase nada, mesmo quando lhe punham paté ou uma lata de atum na ração, cheirou-os e não lhes tocou. O que comia tudo e que estava acostumado a ser recompensado com comida depois das suas investidas nos treinos, nem quis cheirá-los - comeu-os logo. 
Quando os donos finalmente regressaram a casa, viram o cão magro do jeito que sempre foi e o valente como nunca o tinham visto. Alarmados, correram com ele para o veterinário, infelizmente tarde demais.
Esta história não tem uma moral, mas várias. A primeira e a mais importante é que todos os cães precisam de ser aprovados na recusa de engodos, ainda mais quando se encontram confinados em quintais e longe da vista dos donos; a segunda é que há a necessidade urgente de regrar o apetite dos cães glutões, tanto pela sua saúde como pela sua salvaguarda; a terceira é que a prática do suborno só induz ao suborno (o mesmo se passa com a corrupção em Portugal); a quarta é que os cães não devem atirar-se ou ladrar aos portões e gradeamentos, porque a sua vulnerabilidade aumenta a partir do momento em que se mostram e podem arranjar inimizades gratuitas que poderão ser-lhes fatais. A quinta indica-nos que o treino do cão de guarda não pode ignorar ou pôr em risco a salvaguarda dos animais seus concorrentes. O que acabámos de dizer não acontece só aos outros e no texto seguinte já vamos entender porquê.
PS: Por razões de edição vimo-nos obrigados a escolher fotos de Labradores, raça que não é típica para o trabalho de Guarda, o que não impede que muitos Labradores venham a ser rijos guardiões, conforme temos vindo a testemunhar.

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