Serve a presente história,
que se repete diariamente por toda a parte, para realçar a importância da RECUSA DE ENGODOS,
ensino que induz os cães a não comerem da mão de estranhos e a comida que
encontrarem jogada no chão ou noutros lugares, sabendo-se de antemão que todos eles
só deverão comer depois da ordem dada pelos donos. A nossa história começa num
jardim virado para a estrada, com um muro de 1.20m de altura, encimado por um
gradeamento de varões e adornado por uma sebe de cedros bem alta. Dentro do
jardim viviam dois cães da mesma raça e própria para guarda, um valente que
comia este mundo e outro e outro que não comia quase nada. O primeiro juntava à
vontade de comer o gosto em morder e o segundo nem uma coisa nem outra.
Quando chegou a hora de
treiná-los, o enfezado ficou em casa e o valente foi para o treino, onde bem
depressa aprendeu a defender o dono, a guardar os seus pertences, a rondar, a
perseguir e capturar intrusos, a desarmá-los, a revistá-los, a mantê-los
debaixo de custódia, a fazer ataques lançados e a não se intimidar perante
disparos, valentia que deixava seu dono muito orgulhoso. Dentro do jardim o seu
comportamento era igual, enquanto o magro detestava dar-se ao incómodo, o
valente avançava decidido para cima do gradeamento que dava para a rua,
tentando abocanhar a cabeça de algum transeunte distraído. Vezes sem conta
pregou sustos de morte a quem por ali passava, porque aparecia de surpresa, com
os dentes à vista e a sua mandíbula intimidava qualquer um, porque tinha a
mesma largura na base e na ponta.
Certo dia, como era seu
hábito, assustou de tal maneira um homem que o deixou quase sem fala.
Profundamente afectado com o sucedido, o ofendido jurou vingar-se e assim fez.
Dois ou três dias depois, num fim-de-semana com os donos ausentes, munido de
vários hambúrgueres com agulhas e vidro partido dentro deles, que haviam sido
fritos em banha de porco para serem mais apelativos, depois de se certificar
que não estava a ser visto, o vingador decidiu arremessá-los para dentro do
quintal onde estavam os cães. O cão que não comia quase nada, mesmo quando lhe
punham paté ou uma lata de atum na ração, cheirou-os e não lhes tocou. O que
comia tudo e que estava acostumado a ser recompensado com comida depois das
suas investidas nos treinos, nem quis cheirá-los - comeu-os logo.
Quando os
donos finalmente regressaram a casa, viram o cão magro do jeito que sempre foi
e o valente como nunca o tinham visto. Alarmados, correram com ele para o
veterinário, infelizmente tarde demais.
Esta
história não tem uma moral, mas várias. A primeira e a mais importante é que
todos os cães precisam de ser aprovados na recusa de engodos, ainda mais quando
se encontram confinados em quintais e longe da vista dos donos; a segunda é que
há a necessidade urgente de regrar o apetite dos cães glutões, tanto pela sua
saúde como pela sua salvaguarda; a terceira é que a prática do suborno só induz
ao suborno (o mesmo se passa com a corrupção em Portugal); a quarta é que os cães
não devem atirar-se ou ladrar aos portões e gradeamentos, porque a sua
vulnerabilidade aumenta a partir do momento em que se mostram e podem arranjar
inimizades gratuitas que poderão ser-lhes fatais. A quinta indica-nos que o
treino do cão de guarda não pode ignorar ou pôr em risco a salvaguarda dos
animais seus concorrentes. O que acabámos de dizer não acontece só aos outros e
no texto seguinte já vamos entender porquê.
PS: Por razões de edição
vimo-nos obrigados a escolher fotos de Labradores, raça que não é típica para o
trabalho de Guarda, o que não impede que muitos Labradores venham a ser rijos
guardiões, conforme temos vindo a
testemunhar.
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