sexta-feira, 8 de junho de 2018

BIFALHADA E JAPONESADA

Dificilmente haverá alguma imprensa mais tendenciosa e menos rigorosa que a dedicada aos pets, que apela descaradamente às emoções dos seus leitores e que falta constantemente à verdade. Talvez isso se deva em parte a um inesperado aumento dos animais e ao despreparo de quem é obrigado a escrever ou a falar deles. Julgo até que nalgumas redacções de jornais (escritos ou audiovisuais), os jornalistas ou repórteres recém-formados serão de imediato recambiados para a secção de animais de companhia, sendo esse o seu primeiro patamar. Para demonstrar o que acabámos de dizer, escolhemos uma notícia publicada no dia de hoje pelo MAIL ONLINE, sob o extensivo título “ THREE ADORABLE GUARD DOGS STICKING THEIR HEADS OUT OF HOLES IN A WALL IS PROVING A HUGE HITH VISITORS”, cuja foto introdutória é a mesma que encima este texto.
Para os leitores a quem o substantivo feminino “bifalhada” possa parecer estranho, adiantamos que os bifes donde advém não são de vaca ou de porco, mas do termo “bifes” maliciosamente atribuído aos ingleses que connosco coabitam, sendo “bifalhada” interpretado como “coisas de ingleses”, normalmente condenáveis ou menos boas. E, segundo a mesma ordem de ideias, “japonesada”, porque obedece ao mesmo espírito, deve ser aqui também entendido como “coisas de japoneses”. Respeitando a ordem alfabética, vamos então à “bifalhada”.
Por pouco não divulgávamos os autores do artigo, que são os S.rs TED THORNHILL e TIFFANY LO. Sobre a senhora não há nada a destacar, a não ser que é uma novata. Sobre o cavalheiro (na foto baixo) sabemos que já passou por vários jornais, que é adepto do Manchester United, que adora violino, snowboard e ciclismo, para além de ser um entusiasta do vinho, sendo ao momento um editor de viagens no MailOnline, pormenores ou predicados que o capacitam a escrever sobre cães?! Resta dizer que o “furo” foi aproveitado de um blogueiro de Taiwan, que até fez um vídeo sobre o assunto, um tal de MIGUEL YEH com 34 anos de idade.
Em primeiro lugar convém dizer que o assunto é de pouco interesse e que a notícia não o beneficiou, que foi aproveitado somente porque um japonês mandou uma foto dos 3 cães para o TWITTER e esta foi vista 105.000 vezes. No artigo os cães são tratados como “adoráveis cães de guarda”, que a sê-lo, seriam para os donos e não para os estranhos. Jamais poderiam ser cães de guarda por razões que o próprio artigo esclarece, ao dizer que os seus donos chegam a levá-los para o aqueles buracos para que tenham “um pouco de diversão”. Caso fossem cães de guarda autênticos colocariam em risco a integridade física de quem ali passasse e sem dificuldade seriam eliminados. Perante isto, contrariamente ao que é adiantado, aqueles Shiba-Inu, residentes em SHIMABARA, na ILHA DE KYUSHU, não têm quaisquer “security duties”, o faz do artigo do Sr. Thornhill uma grande “bifalhada” e um deplorável trabalho jornalístico, se assim o pudermos considerar.
O artigo revela em simultâneo, e é aqui que está a “japonesada”, apesar de termos por cá muita gente com os olhos em bico sem ser oriental, que o dono dos cães ou é tolo ou irreflectido, ao avisar os transeuntes que não devem alimentá-los para que “não entrem em diarreia”, porque nada disso aconteceria se impedisse a ida dos cães para aquele muro de três buracos. Não seria melhor para os animais sair com o seu dono à rua duas ou três vezes por dia? Estará ele demasiado frágil para fazê-lo? Como é o dia-a-dia dos animais? Que idade têm? Qual é o seu grau de parentesco? Foram ensinados e estão sociabilizados? A resposta a estas e a outras perguntas tornaria este artigo mais válido e interessante, mas infelizmente mais caro. Ao fim e ao cabo sempre vamos dar no mesmo – dinheiro! E se a “TROPA DOS BICHINHOS” papa tudo, para quê dar-lhe rosbife quando se contenta com hambúrgueres de qualidade menos recomendável?
Se só os assuntos relativos aos animais de estimação fossem alvo da desinformação e da má informação, mesmo assim, não viria grande mal a este mundo, o pior é que ambas abrangem todos os assuntos da nossa vida e continuam a ter por detrás vários censores, gente poderosa que os líderes temem, que o grosso das pessoas desconhece e que dizem o que deve ser notícia ou não. Como dizia o Ti Evaristo, um velho e franzino saloio que fazia fretes com um burro e uma carroça: “estamos entregues ao diabo!”
PS: O Ti Evaristo em questão era um homem bem-disposto e com graça, pai da Maria “Amela”, avô do Zé Raul, que diziam as más-línguas ser ainda meu parente, e provavelmente bisavô e até tetravô doutros que desconheço. Ao que parece, os meus tios-avôs maternos eram como os cucos, que põem os ovos nos ninhos alheios, e do meu lado paterno sempre ouvi dizer que só as mulheres se aproveitavam. Desconheço se há alguma verdade nisto, porque se há, eu nasci degenerado. Sempre se diz por aí tanta coisa que chega a bradar aos céus, “onde Deus vai e chega”, conforme completava um parente meu que era ferreiro e que nunca se esquecia de mencionar o Profeta Daniel nas suas orações, vá-se lá saber porquê!

Sem comentários:

Enviar um comentário