quarta-feira, 5 de maio de 2021

O DESPIQUE ENTRE O PURO E O HÍBRIDO

 

Por razões alheias ao treino, ligadas ao alcance da maioridade do híbrido e agravadas pelo cio das cadelas, o HIB Dingo e o FSM Doc não se suportam e não fora o cuidado dos seus condutores, hoje só teríamos um deles, séria dificuldade que precisa rapidamente de ser ultrapassada e que os obriga a treinar juntos para que a familiarização fornecida pelo trabalho facilite de algum modo a sua sociabilização. É histórica a animosidade que os Filas nutrem pelos outros cães e todos sabemos o que presidiu à criação do Doberman. Se nesta matéria, a da sociabilização, um Fila já não é pêra doce, imagine-se um híbrido de Fila de S. Miguel com Doberman, como é o caso do Dingo, um poderoso gigante a rondar os 70 cm de altura e com mais de 40 kg de peso. Em consciência, nenhum deles podemos recomendar para gente simpática que apenas deseja um cão amoroso, muito embora haja excepções e os Filas sejam de uma dedicação extrema aos seus donos. Ontem, ao final da tarde, o Dingo e o Doc foram convidados a ultrapassar os mesmos obstáculos de endurance: um exel com 1,2 m de comprido, constituído por 3 verticais (60, 100 e 110 cm) e um duplo de arcos excêntricos distantes entre si 50 cm.  

Como ambos são excelentes atletas e nesse aspecto bem acima dos cães comuns, ultrapassaram os obstáculos propostos conforme o esperado, com alguma folga e em segurança, constatando-se de imediato duas coisas - o Híbrido tem ainda mais para dar e o Fila é um especialista, pormenores que se vêem na saída dos saltos e na sua trajectória de curvatura.

À partida poderá parecer estranho, mas ambos operam mais pela memória afectiva do que pela mecânica, alcançando pela primeira maior predisposição laboral, não dispensando por isso a recompensa e um maior envolvimento emocional por parte dos seus condutores, sendo o Híbrido neste aspecto mais exigente, cuja presença do Fila na sua construção eliminou de uma vez a frieza e a mecanicidade reconhecidas no Doberman.

Como não podia deixar de ser, ambos são portadores de fortes impulsos à luta e ao poder, diferindo nos impulsos ao alimento e ao movimento. O Híbrido, liberto pela presença do Doberman dos problemas estomacais que normalmente afectam os Filas, come tudo oque lhe puserem à frente e o Fila é um verdadeiro “pisco” a comer. O Híbrido, apesar da sua extraordinária elasticidade, manifesta uma marcha solta e desengonçada, que é o seu andamento preferencial, galopando esporadicamente num galope largo mas cadenciado. O Fila tem um extraordinário impulso movimento, é de fácil transição em qualquer dos andamentos naturais, é muito rápido e faz do galope o seu andamento preferencial quando solto ou chamado para os obstáculos. Graças a estas mais-valias é um especialista nos obstáculos, dando a impressão de ter nascido para eles.

Mas se um tem a “febre dos paus”, o outro é um guardião de mão-cheia, um verdadeiro Sansão canino capaz de derrubar e vencer qualquer valente. Trabalhar estes dois cães e assistir à sua evolução, é um prazer que me invade a alma e acalenta o coração, olho para eles e outro mundo começa, não um fictício, mas o da satisfação: o proveniente dos sonhos transformados em realidade.

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