terça-feira, 25 de maio de 2021

OLHANDO PARA TRÁS COM POUCOS DIAS À FRENTE

 

Com a idade, com o gastar dos anos, os infortúnios e as doenças à mistura, somos mais dados a reflexões do que nunca, talvez porque consciente ou inconscientemente sabemos que não iremos viver tantos anos como aqueles que já vivemos, verdade que a depressão própria da idade sempre faz questão de nos lembrar, mesmo que não lhe demos grande importância. Assim, as retrospectivas, tarda não tarda (não tardam muito), estão na ordem do dia, invadem-nos sem pedir licença e não escolhem hora, circunstância ou local, surgem simplesmente. Dei comigo a pensar nos anos que levo no adestramento e das gentes que ensinei, nas vitórias que alcancei e nos problemas que solucionei. Parece até que vejo o sorriso de alguns que já partiram, alunos, amigos e companheiros de jornada que sublimaram momentos inesquecíveis, que me fizeram sentir que pertenço a este mundo e que a felicidade está mesmo ao nosso lado. Porém, também sinto um travo amargo a passar-me pelos lábios, deixado por aqueles que, sem sentimentos, só andaram a martelar cães, os mesmos cujas emoções não consegui soltar e isso dói-me profundamente. Infelizmente há cada vez mais gente a precisar de muito sem nada para dar, indivíduos fechados em si mesmos que teimam em não se incomodar temendo o seu desnudo. Aos cães que tiveram donos assim e que eu não consegui transformar, raso de lágrimas, eu quero pedir perdão. Recomposto por uma vontade superior à minha, reafirmo convictamente: gente que não solta sentimentos só serve para martelar cães e trazer infelicidade aos outros!

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