quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

TARO E JIRO: UMA SOBREVIVÊNCIA HISTÓRICA

Há 59 anos atrás, no dia 14 de Janeiro de 1959, depois de abandonados na Antártida (Polo Sul) por quase um ano, foram ali encontrados vivos dois cães de raça “Husky Sakhalin”, também conhecida por “Karafuto-ken”, raça hoje extinta e que não se sabe ao certo se é ou não originária do Japão. Estes cães, Taro e Jiro, irmãos nascidos em Hokkaido e escolhidos pela sua força e resistência, faziam parte da I Expedição Japonesa à Antárctida, patrocinada pelo “NIPR” (Instituto Nacional de Pesquisa Polar) com fins científicos, que em Novembro de 1956 rumou à Base Showa na Antárctida, com um efectivo de 53 expedicionários e 22 cães de trenó.
A expedição chegou ao local destinado à Base Showa a 29 de Novembro de 1957 e os cientistas nipónicos passaram o inverno ali. Em Fevereiro de 1958, o navio Sôya, o mesmo que havia levado os primeiros expedicionários, retorna à Antárctida com uma nova equipa de cientistas para render os primeiros. Desafortunadamente o navio acabaria preso no gelo durante uma tempestade. A desmedida intempérie obrigou à evacuação de emergência da base, feita com auxílio de um pequeno carro de neve e apressadamente, carregando somente os cientistas e deixando para trás 15 cães presos pelas coleiras na base. No navio esperou-se pela melhoria do tempo para se operar o resgate dos cães, mas como a embarcação corria sério perigo, foram anulados tanto o desembarque como a rendição da 1ª unidade, o que implicou em deixar aqueles entregues à sua sorte.
No entanto, quase um ano depois, a 14 de Janeiro de 1959, uma nova equipa volta à Antárctida e para espanto dos membros da 3ª Unidade de Exploração, que para ali se deslocaram de helicóptero, avistam 2 cães perto da Base Showa. Depois da aterragem verificaram que os cães tinham “crescido”, que haviam desenvolvido um pelo grosso e espesso que os tornava irreconhecíveis (pode suceder o mesmo com os cães de pêlo duplo que saem do Sul para o Norte da Europa. Logo após o reencontro, é solicitada a presença do expedicionário Kitamura da 1ª expedição, que ao chegar chama pelos cães, já que eles não se aproximavam de ninguém. Mas quando os animais ouviram pronunciar os seus nomes, Taro e Jiro, reagiram alegremente na direcção de quem os chamou, comprovando assim a sua sobrevivência naquele continente gelado durante um ano.
Quanto aos outros cães, foram encontrados os cadáveres intactos de 7 (mortos pelo frio e ainda presos às correntes) e os outros 6 nunca foram encontrados. As rações que lhes haviam deixado não foram tocadas (pormenor que não é nada agradável para os fabricantes de ração), pelo que se supõe que os sobreviventes se tenham alimentado de focas e pinguins, já que Kitamura, no decorrer da terceira estadia de inverno, assistiu à captura de um pinguim por Taro e Jiro actuando em conjunto (uma matilha esfomeada de cães vadios poderá fazer o mesmo).
Os dois cães ainda participarão na quarta expedição. Jiro acabará por morrer precocemente de doença com apenas 5 anos de idade, a 9 de Julho de 1960 na Base Showa, vindo depois a ser embalsamado no Japão e exposto no Museu Nacional de Ciência daquele país em Ueno, um dos melhores lugares culturais do Distrito de Tóquio. Taro retorna ao Japão forte e sadio no ano de 1961, ficando desde essa data até 1979 entregue aos cuidados do jardim botânico da Universidade de Hokkaido, vindo a morrer de velhice no dia 11 de Agosto de 1970, com a bonita idade de 14 anos e sete meses (a isto se chama rusticidade), sendo também embalsado e exposto na mesma universidade que dele cuidou. Apesar de desaparecido, ainda teve tempo de deixar por cá uma prole de filhos e netos que se encontram espalhados pelo Japão.
A indómita vontade de viver destes cães, que tiveram que soltar-se das suas amarradas, para além de ter merecido algumas estátuas e moedas comemorativas, é celebrada todos os anos no Japão a 14 de Janeiro, dia descrito como o “Dia do Amor, da Esperança e da Coragem” , aludindo à data da sua descoberta (já não se fazem cães assim). 

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