Passados quase 32 anos
após o acidente nuclear de Chernobyl na Ucrânia, que serão feitos no próximo
dia 26 de Abril, os descendentes dos cães dos antigos moradores continuam por
lá, entre lobos, linces, lebres, alces, cavalos da Mongólia e ursos
bielorussos, como marco vivo de uma tragédia que ainda hoje lhes encurta a
esperança de vida (raros são os que ultrapassam os seis anos de idade).
Estes filhos dos cães que
outrora quiseram entrar nos autocarros e que foram escorraçados a pontapé, que apesar
de abandonados à sua sorte conseguiram escapar à matança que lhes foi movida,
dão hoje as alegres boas-vindas aos visitantes que ali chegam.
Estes sobreviventes, que
vivem também nas zonas de exclusão, atingem as três centenas numa área de 2.600
Km2, suportando os ásperos invernos ucranianos sem abrigos apropriados e
carregando altos níveis de radiação na sua pele e manto. Diferente sorte têm
aqueles que vivem perto dos postos de controlo, onde têm pequenas barracas feitas
pelos guardas. Alguns são mais espertos e reúnem-se ao redor do café local,
sabendo que a presença humana está associada à comida.
As matilhas funcionam como
mascotes não-oficiais de Chernobyl, porque invariavelmente vão cumprimentar os visitantes
que param no Café Desyatka à procura do “Borsch”, uma sopa
normalmente preparada com beterraba, o que lhe dá uma forte coloração vermelha,
e que leva ainda repolho, cenoura, pepino, batata, cebola, tomate, cogumelos,
carne, vinagre ou limão e por vezes feijão, sendo o prato ainda servido com
natas, batatas cozidas ou Kasha (papa de cereais).
A maioria dos visitantes
que se deslocam a Chernobyl sente-se atraída pelos cães e muitos acabam por
afagá-los. Apesar de não existir qualquer proibição em tocar-lhes, alguns
visitantes temem ser contaminados por eles, medo que obriga os guias a
evitá-los e a expulsá-los das zonas julgadas seguras, porquanto não estão
dispostos a ouvir queixas.
Se estes cães brincam e
recebem comida dos guardas e visitantes, a sua saúde está a cargo do Clean
Futures Fund, uma organização norte-americana sem fins lucrativos que
ajuda comunidades afectadas por acidentes industriais, que ali mantém três
clínicas, procedendo ao tratamento, vacinação e castração dos animais, visando
a saúde dos cães, dos trabalhadores e dos visitantes, gerindo em simultâneo a população
canina e garantindo-lhe por mais tempo o sustento e os cuidados necessários.
Nas matas ao redor de
Chernobyl vivem cães que sobreviveram à tragédia, animais que merecem a nossa
admiração e respeito, porque de alguma forma encarnam a esperança para os
homens que os rodeiam e encantam quem ouve falar deles.
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