No último trimestre do ano
transacto a compra de cães por parte do exército sueco, ocorrida entre 2006 e 2014,
para sustentar o seu programa de reprodução, mereceu o espanto dos seus parceiros
internacionais e a suspeição do seu povo, porque esses animais foram adquiridos
por preços exorbitantes, no mínimo 10 vezes acima do seu valor de mercado.
As suspeitas aumentaram
ainda mais quando se descobriu que o exército dali não tinha aberto nenhum
concurso público para a aquisição dos cães, que vieram todos da Alemanha e que
chegaram à Suécia através de alguns intermediários, nomeadamente dum revendedor
na Dinamarca que conhecia pessoalmente os funcionários e o chefe do “Programa
de Serviço de Cães” responsável pelo programa de reprodução, que comprando cães
baratos acabou por vendê-los bem caros ao exército sueco.
Contudo, os responsáveis
pelos negócios do exército não detectaram nenhuma ilegalidade naquela
transacção, adiantando uns que “ao oferecer preços tão atraentes, obtivemos
acesso aos cachorros que queríamos", como disse Erik Wilson, antigo
reprodutor principal das Forças Armadas da Suécia (Försvarsmakten), citando as
linhas de sangue vantajosas dos cães, argumento que não convenceu ninguém,
porque mesmo que os cães fossem da melhor linhagem do mundo, jamais
justificariam a exorbitância do seu preço.
Para se ter uma ideia
concreta acerca da marosca, basta dizer que um cão que foi comprado um mês
antes pelo intermediário dinamarquês por 1.915.76€, acabou vendido ao exército
sueco por 25.209.37€! E para agravar mais a situação, entre os 59 Pastores
Alemães adquiridos, alguns deles ainda não tinham idade para reproduzir, outros
apresentavam cicatrizes e outros ainda tinham displasia coxo-femoral, e isto
apesar de terem custado em média 20.000€?!
Este negócio, como outros
feitos por militares de todas as partes do mundo, não me espantam, porque certa
vez conheci um capitão de cavalaria a cavalo que, para além dos cavalos que
tinha ao seu encargo, comandava também uma magnífica vara de porcos, cuja venda
dizia destinar-se às obras do quartel, beneméritos animais ignotos que nunca se
prestaram a inspecções, mas que apesar disso nunca deixaram de dar lucro. Ainda
bem que os cavalos daquela subunidade tinham fraco impulso ao alimento e os
seus cavaleiros não eram de má boca, porque doutro modo morreriam os porcos à
fome.
Tudo isto parece uma
brincadeira de Carnaval, mas ainda há bem pouco tempo foi descoberto um “negócio”
deste tipo na Força Aérea Portuguesa, que infelizmente julgamos não ser único no
panorama das nossas Forças Armadas. O que mais dói nestes casos é que uma
maioria sai emporcalhada pelos actos de meia-dúzia de salafrários, ladrões que
não se escusaram a vestir uma farda que não lhes pertencia. Oxalá os velhos
vícios não atinjam as novas gerações, que os novos ousem ser honestos mesmo que lhes chamem parvos, porque se assim suceder, todos os Estados de Direito agradecer-lhes-ão vivamente.
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