Nunca foi tão difícil
dizer quem somos e o que pensamos, porque mais importa dizer que não somos
contra nada e contra ninguém para evitarmos mal-estares e polémicas que nada
adiantam. Esta política politicamente correcta que muito a transcende (em
antiguidade e oportunidade), filha legítima da hipocrisia e pródiga em
discursos estéreis, entranha-se na nossa pele, torna-se instintiva, toma conta
de nós e envenena tudo aquilo em que metemos as mãos e até a alma. Nesta “era
da farsa”, o que será genuíno para além da mentira? Haverá alguma isenção
naquilo que vemos, lemos e ouvimos? Qual será a diferença entre o certo e o
errado se ambos se confundem? O medo tomou conta do homem contemporâneo e este
tenta sobreviver pela mentira ou será tudo uma inverdade?
Manter a imparcialidade ao
escrever sobre cães também não é fácil, porque o panorama canino está carregado
de lobbies e superlotado de falsas ideias, de vendilhões sem escrúpulos e de jogadores
inveterados que usam os cães como meros peões nos seus jogos de ascensão ao
poder (a última vez que fui ao psiquiatra não me foram detectadas evidências da
“síndrome da perseguição”). Como exemplo basta dizer que a cinofilia, a
canicultura e a cinotecnia estão hoje mais sujeitas às pressões da indústria
alimentar para animais do que nunca, como já estiveram os médicos humanos em
relação aos delegados de propaganda médica (e mais não digo, “cruzes, canhoto”).
A genuína imparcialidade,
quando não provoca a alteração desejável, incomoda, gera mal-estares, choca,
causa atritos, fomenta inimizades e põe na “corda-bamba” quem por ela optar, o
que não é nada confortável (dizem que a verdade produz o mesmo efeito). Todavia,
este é o caminho que escolhemos, carregando nas nossas mochilas o saber de anos,
o conhecimento erudito adquirido e a experiência acumulada, para evitar que
outros caiam nas armadilhas que não soubemos evitar e alcancem mais rápido aquilo
que procuram, ajuda que não cobramos e que nos apraz estender diariamente.
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