Hoje trocámos a melodia
introdutória deste blogue e demos a primazia à canção “Salve Rociera”, uma
composição católica, de manifesto culto mariano, mundialmente conhecida, inicialmente
composta para a peregrinação de El Rocio na Andaluzia, que é a mais importante
de Espanha e bastante concorrida por portugueses (maioritariamente alentejanos
e algarvios), que se deslocam à vila de El Rocio, município de Almonte e
Província de Huelva para participarem na Romaria a Nuestra Señora del Rocío,
fazendo-a a pé, de charrete ou a cavalo, trajando homens e mulheres com indumentárias
andaluzas.
A escolha desta melodia
não obedeceu a qualquer devoção ao culto mariano(1), mas à beleza harmónica da sua melodia, ao
modo como é cantada e aos instrumentos que a acompanham, algo que está para
além da fé e do fervor religioso de cada um e que representa uma forma de estar
milenar, única e ainda visível no sul da Península.
De facto é preciso ser-se
peninsular ou descendente da sua cultura para se compreender duas palavras
cheias de significado e que praticamente não têm tradução noutras línguas, são
elas: saudade e olé. Sobre a saudade, esperamos maiores e melhores explicações da
parte dos eruditos, basta dizer que é um lembrar de algo ou de alguém cuja
privação tanto pode gerar carência quanto mágoa. Um homem pode morrer de
saudade e ao mesmo tempo desafiar a morte com um olé.
Mas afinal o que significa
“olé”? Há quem o confunda com a saudação “olá”, quem diga que veio e é possível
que tenha vindo da expressão árabe “Wa-llah”, o que serviria perfeitamente para
invocar a injustamente esquecida Espanha muçulmana), quem não o consiga separar
do cerimonial taurino e quem só o “entenda” como uma forma de exaltação nos
jogos de futebol. “Olé” é muito mais do que isso e adquire significados
diferentes consoante seja dado, recebido ou dito para nós mesmos.
Quando soltamos um “Olé”
para alguém, fazemo-lo em reconhecimento da excelência da sua acção ou do seu trabalho;
quando o recebemos doutros significa como fomos aprovados naquilo que nos
propusemos fazer e quando o dizemos para nós próprios, fazemo-lo para permanecermos
firmes nos nossos propósitos ou para reforço de ânimo nas missões que nos foram
confiadas. Obviamente que tudo isto está para além dos toiros e abrange todo um
conjunto de artes e de idiossincrasias que diferenciam uma cultura.
“Olé” pode também ser
usado para expressar unidade de propósitos ou reconhecer a fé de alguém, sendo
também uma manifestação de garbo e galhardia, um sinal de anuência a um
juramento e um apelo ao sacrifício, porque é uma expressão que apela simultaneamente
ao colectivo e ao reconhecimento dos méritos individuais, exclamação que uma
vez entendida e bem interiorizada, fará com que andemos todos de cabeça
erguida, unidos e debaixo de uma vontade que nunca se rende. Olé não é uma
brincadeira. É uma coisa séria.
Por
tudo isto e em respeito aos nuestros hermanos peninsulares, as 4 melodias
escolhidas esta semana para este blogue são espanholas e também andaluzas.
Esperamos que tais melodias sejam do agrado dos nossos leitores e que espelhem
parte dos riquíssimos sentimentos peninsulares.
(1) Sem
querermos desrespeitar a fé de outros, adiantamos que apenas reconhecemos um
único interlocutor entre Deus e os homens: Jesus Cristo, Filho unigénito do
Pai, único e suficiente Salvador para toda a Humanidade.
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