segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

NÓS POR CÁ: LA ROCIERA, SAUDADE E OLÉ

Hoje trocámos a melodia introdutória deste blogue e demos a primazia à canção “Salve Rociera”, uma composição católica, de manifesto culto mariano, mundialmente conhecida, inicialmente composta para a peregrinação de El Rocio na Andaluzia, que é a mais importante de Espanha e bastante concorrida por portugueses (maioritariamente alentejanos e algarvios), que se deslocam à vila de El Rocio, município de Almonte e Província de Huelva para participarem na Romaria a Nuestra Señora del Rocío, fazendo-a a pé, de charrete ou a cavalo, trajando homens e mulheres com indumentárias andaluzas.
A escolha desta melodia não obedeceu a qualquer devoção ao culto mariano(1), mas à beleza harmónica da sua melodia, ao modo como é cantada e aos instrumentos que a acompanham, algo que está para além da fé e do fervor religioso de cada um e que representa uma forma de estar milenar, única e ainda visível no sul da Península.
De facto é preciso ser-se peninsular ou descendente da sua cultura para se compreender duas palavras cheias de significado e que praticamente não têm tradução noutras línguas, são elas: saudade e olé. Sobre a saudade, esperamos maiores e melhores explicações da parte dos eruditos, basta dizer que é um lembrar de algo ou de alguém cuja privação tanto pode gerar carência quanto mágoa. Um homem pode morrer de saudade e ao mesmo tempo desafiar a morte com um olé.
Mas afinal o que significa “olé”? Há quem o confunda com a saudação “olá”, quem diga que veio e é possível que tenha vindo da expressão árabe “Wa-llah”, o que serviria perfeitamente para invocar a injustamente esquecida Espanha muçulmana), quem não o consiga separar do cerimonial taurino e quem só o “entenda” como uma forma de exaltação nos jogos de futebol. “Olé” é muito mais do que isso e adquire significados diferentes consoante seja dado, recebido ou dito para nós mesmos.
Quando soltamos um “Olé” para alguém, fazemo-lo em reconhecimento da excelência da sua acção ou do seu trabalho; quando o recebemos doutros significa como fomos aprovados naquilo que nos propusemos fazer e quando o dizemos para nós próprios, fazemo-lo para permanecermos firmes nos nossos propósitos ou para reforço de ânimo nas missões que nos foram confiadas. Obviamente que tudo isto está para além dos toiros e abrange todo um conjunto de artes e de idiossincrasias que diferenciam uma cultura.
“Olé” pode também ser usado para expressar unidade de propósitos ou reconhecer a fé de alguém, sendo também uma manifestação de garbo e galhardia, um sinal de anuência a um juramento e um apelo ao sacrifício, porque é uma expressão que apela simultaneamente ao colectivo e ao reconhecimento dos méritos individuais, exclamação que uma vez entendida e bem interiorizada, fará com que andemos todos de cabeça erguida, unidos e debaixo de uma vontade que nunca se rende. Olé não é uma brincadeira. É uma coisa séria.
Por tudo isto e em respeito aos nuestros hermanos peninsulares, as 4 melodias escolhidas esta semana para este blogue são espanholas e também andaluzas. Esperamos que tais melodias sejam do agrado dos nossos leitores e que espelhem parte dos riquíssimos sentimentos peninsulares.
(1) Sem querermos desrespeitar a fé de outros, adiantamos que apenas reconhecemos um único interlocutor entre Deus e os homens: Jesus Cristo, Filho unigénito do Pai, único e suficiente Salvador para toda a Humanidade. 

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