Há 59 anos atrás, no dia
14 de Janeiro de 1959, depois de abandonados na Antártida (Polo Sul) por quase
um ano, foram ali encontrados vivos dois cães de raça “Husky Sakhalin”, também
conhecida por “Karafuto-ken”, raça hoje extinta e que não se sabe ao certo se é
ou não originária do Japão. Estes cães, Taro e Jiro, irmãos nascidos em
Hokkaido e escolhidos pela sua força e resistência, faziam parte da I Expedição
Japonesa à Antárctida, patrocinada pelo “NIPR” (Instituto Nacional de Pesquisa
Polar) com fins científicos, que em Novembro de 1956 rumou à Base Showa na
Antárctida, com um efectivo de 53 expedicionários e 22 cães de trenó.
A expedição chegou ao
local destinado à Base Showa a 29 de Novembro de 1957 e os cientistas nipónicos
passaram o inverno ali. Em Fevereiro de 1958, o navio Sôya, o mesmo que havia
levado os primeiros expedicionários, retorna à Antárctida com uma nova equipa de
cientistas para render os primeiros. Desafortunadamente o navio acabaria preso
no gelo durante uma tempestade. A desmedida intempérie obrigou à evacuação de
emergência da base, feita com auxílio de um pequeno carro de neve e
apressadamente, carregando somente os cientistas e deixando para trás 15 cães
presos pelas coleiras na base. No navio esperou-se pela melhoria do tempo para
se operar o resgate dos cães, mas como a embarcação corria sério perigo, foram
anulados tanto o desembarque como a rendição da 1ª unidade, o que implicou em
deixar aqueles entregues à sua sorte.
No entanto, quase um ano
depois, a 14 de Janeiro de 1959, uma nova equipa volta à Antárctida e para
espanto dos membros da 3ª Unidade de Exploração, que para ali se deslocaram de helicóptero,
avistam 2 cães perto da Base Showa. Depois da aterragem verificaram que os cães
tinham “crescido”, que haviam desenvolvido um pelo grosso e espesso que os
tornava irreconhecíveis (pode suceder o mesmo com os cães de pêlo duplo que
saem do Sul para o Norte da Europa. Logo após o reencontro, é solicitada a
presença do expedicionário Kitamura da 1ª expedição, que ao chegar chama pelos
cães, já que eles não se aproximavam de ninguém. Mas quando os animais ouviram
pronunciar os seus nomes, Taro e Jiro, reagiram alegremente na direcção de quem
os chamou, comprovando assim a sua sobrevivência naquele continente gelado
durante um ano.
Quanto aos outros cães,
foram encontrados os cadáveres intactos de 7 (mortos pelo frio e ainda presos
às correntes) e os outros 6 nunca foram encontrados. As rações que lhes haviam
deixado não foram tocadas (pormenor que não é nada agradável para os
fabricantes de ração), pelo que se supõe que os sobreviventes se tenham
alimentado de focas e pinguins, já que Kitamura, no decorrer da terceira
estadia de inverno, assistiu à captura de um pinguim por Taro e Jiro actuando
em conjunto (uma matilha esfomeada de cães vadios poderá fazer o mesmo).
Os dois cães ainda
participarão na quarta expedição. Jiro acabará por morrer precocemente de
doença com apenas 5 anos de idade, a 9 de Julho de 19 60 na Base Showa, vindo depois a
ser embalsamado no Japão e exposto no Museu Nacional de Ciência daquele país em
Ueno, um dos melhores lugares culturais do Distrito de Tóquio. Taro retorna ao
Japão forte e sadio no ano de 1961, ficando desde essa data até 1979 entregue
aos cuidados do jardim botânico da Universidade de Hokkaido, vindo a morrer de
velhice no dia 11
de Agosto de 1970 , com a bonita idade de 14 anos e sete meses (a
isto se chama rusticidade), sendo também embalsado e exposto na mesma
universidade que dele cuidou. Apesar de desaparecido, ainda teve tempo de
deixar por cá uma prole de filhos e netos que se encontram espalhados pelo
Japão.
A indómita vontade de
viver destes cães, que tiveram que soltar-se das suas amarradas, para além de ter merecido algumas estátuas e moedas
comemorativas, é celebrada todos os anos no Japão a 14 de Janeiro, dia descrito
como o “Dia do Amor, da Esperança e da Coragem” , aludindo à data da sua
descoberta (já não se fazem cães assim).