Antes
de me debruçar sobre o tema que o título deste texto indica, vou primeiro
narrar um episódio verídico ocorrido ontem à noite na cidade alemã de Laubenheim
com uma jovem de 26 anos, que pretendia comprar um cão através de uma
plataforma online. Depois de pedir informações sobre o cão, o vendedor deu-lhe
o número do seu telemóvel, enviou-lhe fotos do cão através do Messenger e
pediu-lhe um depósito à volta de 3 dígitos para lhe reservar o animal,
enviando-lhe também uma foto do seu cartão de identificação. Depois da jovem
ter transferido o depósito, o vendedor nunca mais entrou em contacto com ela.
Apresentada queixa à polícia, as autoridades não conseguiram encontrar o burlão
no endereço que adiantou e verificaram que a identificação que deu era falsa.
Perante
o ocorrido e sempre como tem feito, a polícia alerta os cidadãos para não
comprarem cães e outros animais sem garantias na Internet, porque se assim não
fizerem, ao comprar animais a um negociante ou criador duvidoso, estão a apoiar
um comércio contrário ao bem-estar dos animais. No caso de dúvida sobre uma
oferta de venda ou perante um negociante ou criador suspeito, a polícia pede
aos cidadãos que a informem imediatamente, também a Associação local de
Bem-estar Animal ou o Gabinete Federal da Associação Alemã de Bem-estar Animal.
A polícia lembra ainda que qualquer pessoa interessada em adquirir um animal
deve primeiro ir visitar o abrigo local, onde muitos animais estão à espera de
ser adoptados.
O
primeiro perigo de se comprar cães pela Internet é o de sermos burlados e isso
acontece com maior frequência do que o esperado, não só na Alemanha, mas por
todo o lado. Para além do cão que pagámos e que nunca chegámos a ver, como foi
o caso da jovem de Laubenheim, um número imenso de burlas e enganos são
possíveis nas compras à distância, distância que possibilita a “venda de gato
por lebre” de mil e uma maneiras. Sobre a questão da distância, lembro-me de um
saudoso amigo que Deus lá tem, José Augusto Filipe, um correeiro de nomeada,
que costumava dizer para o seu empregado quando este se encontrava a coser uma
peça e o trabalho abundava: “Ò Manel, ponto largo que o freguês é de longe!”
Não
é só a identidade do vendedor que pode ser falsa, a identidade do cão também, o
que acontece muitas vezes quando o cão das fotos é um e o que se encontra à venda
é outro. Na maioria dos casos a apresentação dos cães não corresponde àquilo
que são, por ausência de escala, meio de comparação, ilusão óptica ou
manipulação das fotos. Quando queremos um cachorro e importa que tenha um
carácter forte, há muitas maneiras de sermos enganados, inclusive a
possibilidade de recebermos um cachorro completamente inibido… acostumado a
brincar com um churro.
Também
no que concerne aos aprumos e a estados de subnutrição é difícil detectá-los
através de instantâneos ou fotos, assim como a sua carga genética se os seus
pais não forem mostrados. Um cão de encher o olho na Internet pode não sê-lo na
realidade. Acerca disto, porque me criei perto de uma feira de gado semanal,
outrora a maior do país, lembro-me das pobres vacas leiteiras à venda, cujo úbere
quase rebentava por não as terem mugido no dia anterior, tudo para dar a
sensação que produziam leite à farta, quando por vezes até tinham problemas
numa ou mais tetas e por isso estavam a ser vendidas. Sim, a Internet pode ser
um excelente meio para embarretar os outros, de passar a “batata quente”.
E depois, como posso certificar-me da isenção de certas doenças hereditárias no cão que avalio apenas no meu PC, quando na boca do seu criador ou vendedor o animal é o mais saudável que este mundo já viu, mesmo que seja prógnata, surdo, tenha alguma deficiência visual, problemas digestivos agudos, sofra de epilepsia ou de um grave problema de pele? Nada, mesmo nada, dispensa a observação ao vivo dos animais propostos para venda na Internet. Sem esta observação, que deverá ser meticulosa e feita por quem sabe (se você não sabe, faça-se acompanhar por quem saiba), é uma verdadeira roleta russa adquirir um cão. Claro que há a sorte dos principiantes, mas a desgraça dos confiados sempre acontece em maior número!
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