quinta-feira, 6 de maio de 2021

OS “RABUGENTOS” APRENDEM COM MAIOR FACILIDADE

 

Numa pesquisa recente publicada na revista “animals”, Peter Pongracz do Eotvos Lorand College de Budapeste na Hungria, especialista de interacções entre cães e humanos, junto com alguns colegas, descobriram que os cães que agruparam como “rabugentos” aprendem mais e melhor que os extramente despreocupados. Estes cientistas atribuíram a designação de “rabugentos” aos cães com as seguintes características: prontidão para ladrar, rosnar ou estalar os dentes quando perturbados; resistência à chamada; protecção da comida; enérgicos e stressados. Cães assim, são na boca dos abrigos, pelas dificuldades que criam, animais que precisam de proprietários realmente particulares (experientes e firmes).

Curiosamente, anteontem, numa conversa sobre cães com o José António, condutor do FSM Doc, como tantas vezes tenho dito, exclamei: “na verdade só tenho um aqui um cão, o resto são uns simpáticos ’cãezinhos’ a quem contamos uma história, que fazem umas habilidades e eventualmente algumas maldades que lhe ensinaram”, aludindo à ausência de seriedade e de carácter da maioria dos cães actuais, mais propícios à rendição do que à resistência, mais temerosos do que resilientes, o que os impede de serem impolutos e incorruptíveis, sendo por isso impróprios para se defenderem a si e aos seus.

Sempre que aparece um cão mais difícil logo se fala de reeducação, mesmo que o animal nunca tenha sido alvo de qualquer processo pedagógico. E, na ausência de quem o “reeduque”, porque é mais barato e os resultados parecem fiáveis, toca a castrar o animal ou entregá-lo a quem o queira, quando não o mandam abater, abate cruel e injustificado a que chamam agora de “eutanásia” para não melindrar ninguém. Neste descarte, para além dos donos, pode incluir-se um número razoável de “treinadores” que a última coisa que quer é ver-se em apertos. Privados consecutivamente do património genético destes cães, andamos a apaparicar os filhos de outros de qualidade manifestamente inferior, que se “desmancham” ao ser contrariados e que carecem de ser continuamente estimulados.

Quando trato deste assunto vem-me logo à memória um proprietário de um Cão de Pastor Alemão residente lá para os lados de Leiria, que confiou a educação do seu cão a um treinador militar, jovem “conhecedor” do assunto que deu umas quantas aulas ao cão com o animal encerrado dentro do canil e ele cá fora. No dia em que abriu a porta ao cão, acabou todo mordido e demitiu-se imediatamente daquele encargo. Sim, os bons cães não são fáceis, resistem desalmadamente aos nossos desejos, estudam-nos, procuram as nossas vulnerabilidades, ameaçam-nos, sentem os nossos medos, podem atacar-nos e tentam continuamente surpreender-nos e desnudar-nos. No entanto, quando por fim aceitam a nossa liderança, podemos confiar neles sem qualquer reserva, porque dificilmente alguém conseguirá extrair-lhes os propósitos, banalizar o seu serviço e substituir-nos, mesmo perante séria desvantagem. Estes são os cães cujo código de vida é inviolável, que aceitam uma só liderança e avançam para toda e qualquer missão. 

Não há, não houve e nunca haverá muitos cães assim, eu tive o privilégio de ter dois destes valentes: o Pastor Alemão preto-afogueado “FLICK” (Kuklhonn-Horst da Quinta do ABC) e o Rottweiler “ROGER” (Aushi das Buganvílias), companheiros insubstituíveis porque não existem dois cães iguais, animais de uma dedicação exclusiva, de extrema prontidão e insubornáveis, uns valentes de quem me orgulho ter sido dono e mestre, aumentando com o passar dos anos a saudade que tenho deles. Deram trabalho a ensinar e pregaram-me alguns sustos, mas depois de delapidados deram-me imensas alegrias. Se você tem um cão difícil, ameaçador, resmungão, desobediente e agressivo procure-nos, parabéns pelo seu excelente cão, será um privilégio torná-lo útil e controlado.

Sem comentários:

Enviar um comentário