Numa
pesquisa recente publicada na revista “animals”, Peter Pongracz do Eotvos
Lorand College de Budapeste na Hungria, especialista de interacções entre cães
e humanos, junto com alguns colegas, descobriram que os cães que agruparam como
“rabugentos” aprendem mais e melhor que os extramente despreocupados. Estes
cientistas atribuíram a designação de “rabugentos” aos cães com as seguintes
características: prontidão para ladrar, rosnar ou estalar os dentes quando
perturbados; resistência à chamada; protecção da comida; enérgicos e
stressados. Cães assim, são na boca dos abrigos, pelas dificuldades que criam,
animais que precisam de proprietários realmente particulares (experientes e
firmes).
Curiosamente,
anteontem, numa conversa sobre cães com o José António, condutor do FSM Doc,
como tantas vezes tenho dito, exclamei: “na verdade só tenho um aqui um cão, o
resto são uns simpáticos ’cãezinhos’ a quem contamos uma história, que fazem
umas habilidades e eventualmente algumas maldades que lhe ensinaram”, aludindo
à ausência de seriedade e de carácter da maioria dos cães actuais, mais propícios
à rendição do que à resistência, mais temerosos do que resilientes, o que os
impede de serem impolutos e incorruptíveis, sendo por isso impróprios para se
defenderem a si e aos seus.
Sempre
que aparece um cão mais difícil logo se fala de reeducação, mesmo que o animal
nunca tenha sido alvo de qualquer processo pedagógico. E, na ausência de quem o
“reeduque”, porque é mais barato e os resultados parecem fiáveis, toca a
castrar o animal ou entregá-lo a quem o queira, quando não o mandam abater,
abate cruel e injustificado a que chamam agora de “eutanásia” para não
melindrar ninguém. Neste descarte, para além dos donos, pode incluir-se um número
razoável de “treinadores” que a última coisa que quer é ver-se em apertos.
Privados consecutivamente do património genético destes cães, andamos a
apaparicar os filhos de outros de qualidade manifestamente inferior, que se “desmancham”
ao ser contrariados e que carecem de ser continuamente estimulados.
Quando
trato deste assunto vem-me logo à memória um proprietário de um Cão de Pastor
Alemão residente lá para os lados de Leiria, que confiou a educação do seu cão
a um treinador militar, jovem “conhecedor” do assunto que deu umas quantas
aulas ao cão com o animal encerrado dentro do canil e ele cá fora. No dia em
que abriu a porta ao cão, acabou todo mordido e demitiu-se imediatamente daquele
encargo. Sim, os bons cães não são fáceis, resistem desalmadamente aos nossos
desejos, estudam-nos, procuram as nossas vulnerabilidades, ameaçam-nos, sentem
os nossos medos, podem atacar-nos e tentam continuamente surpreender-nos e
desnudar-nos. No entanto, quando por fim aceitam a nossa liderança, podemos
confiar neles sem qualquer reserva, porque dificilmente alguém conseguirá
extrair-lhes os propósitos, banalizar o seu serviço e substituir-nos, mesmo perante
séria desvantagem. Estes são os cães cujo código de vida é inviolável, que aceitam
uma só liderança e avançam para toda e qualquer missão.
Não há, não houve e nunca haverá muitos cães assim, eu tive o privilégio de ter dois destes valentes: o Pastor Alemão preto-afogueado “FLICK” (Kuklhonn-Horst da Quinta do ABC) e o Rottweiler “ROGER” (Aushi das Buganvílias), companheiros insubstituíveis porque não existem dois cães iguais, animais de uma dedicação exclusiva, de extrema prontidão e insubornáveis, uns valentes de quem me orgulho ter sido dono e mestre, aumentando com o passar dos anos a saudade que tenho deles. Deram trabalho a ensinar e pregaram-me alguns sustos, mas depois de delapidados deram-me imensas alegrias. Se você tem um cão difícil, ameaçador, resmungão, desobediente e agressivo procure-nos, parabéns pelo seu excelente cão, será um privilégio torná-lo útil e controlado.
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