segunda-feira, 23 de novembro de 2020

SUSTO DOMINICAL ÀS 2 HORAS DA TARDE

 

Ontem, domingo, por volta das 14h00, no município austríaco de Kennelbach, no distrito de Bregenz, estado de Vorarlberg, um casal que passeava descontraidamente, cruzou-se a determinada altura com um homem a rondar os 30 anos, que se fazia acompanhar por um cruzado de Rottweiler, cão que segundo ele era muito confiável e que podia ser acariciado. A jovem, com 28 anos de idade, acreditou nas palavras daquele homem e acariciou o animal. No entanto, quando ela parou de acariciá-lo, o cão mordeu-lhe levemente uma das coxas. A polícia pede ao dono do cão e/ou às pessoas que observaram o acidente que se apresentem na esquadra de Wolfurt, adiantando como é hábito um número de telefone.

Como não são poucas as pessoas que acabam mordidas nestas circunstâncias, por razões que se prendem com o proprietário do animal, com o cão e com a ingenuidade de quem o acaricia, iremos esclarecer as principais razões por detrás destas agressões e adiantar procedimentos capazes de evitá-las. Há por aí donos, felizmente poucos que, por pura maldade, prestam falsas informações sobre os cães que conduzem, dizendo-os mansos para se divertirem com a aflição e dolo alheios, mostrando-se depois pretensamente surpresos como se estivessem perante uma novidade (“ele nunca tinha feito isto antes”). Outros há, ainda mais perigosos que os anteriores, mas também em número mais reduzido, que se aproveitam da inocência dos incautos para aprimorar os seus cães na defesa pessoal e no escorraçar de intrusos. 

Mas como a esmagadora maioria dos proprietários caninos, não procura nem uma coisa nem outra, somente o bem-estar dos seus cães. Quando eles mordem alguém, tal ficar-se-á a dever a 1 dos 3 factores que vamos adiantar ou até à sua totalidade. São eles: a impropriedade da liderança, a ausência de controlo e a instigação involuntária por parte da vítima. Pelo que acabámos de dizer, quando pretendermos acariciar um cão, em abono da nossa segurança e salvaguarda da nossa integridade, não devemos fixar-nos somente no cão, mas também e em primeiro lugar no seu dono, para que através da sua postura, mímica e discurso consigamos descortinar as suas intenções e o controlo que tem sobre o animal. ATENÇÃO: nunca faça festas a um cão desconhecido com ele ao lado do dono, motivo mais do que suficiente para que você venha a ser atacado, ao ser considerado um intruso. Ao invés, deverá chamar o animal para si, mas com o dono a segurá-lo pela trela e, só depois de avaliá-lo, deverá avançar para a festa.

Para além dos estereótipos atrás descritos, há ainda outro inequivocamente patológico que se prende com o gosto de aterrorizar os demais, geralmente encontrado em indivíduos entre os 16 e os 35 anos de idade. Sobre o comportamento dos donos e a sua identificação, importa reconhecer as seguintes diferenças para não sermos enganados. Na maioria dos casos (há excepções) os proprietários caninos que pretendem causar-nos dolo, mostram-se confiantes e levemente sorridentes, tentando atrair as atenções sobre si e menos para os cães, para que o seu discurso nos leve ao engano, sendo normalmente controlados de mímica para não denunciarem a verdadeira natureza dos cães que conduzem. Quando lhes é perguntado se é possível acariciar os seus cães, eles respondem imediatamente que sim e sem qualquer problema, permanecendo erectos e sem olhar para os animais, para que a sua postura não os iniba de alguma forma, enquanto os outros ingenuamente se dobram e vão ao encontro dos cães.

Procedimento diverso têm aqueles que optam por sociabilizar os seus cães e integrá-los harmoniosamente na sociedade, porque ao consentir que lhes façam festas, advertem primeiro os animais para os excessos e ensinam depois aos seus admiradores a acariciá-los correctamente, exemplificando primeiro e quantas vezes for necessário, para que tudo decorrer sem qualquer novidade desagradável ou imprevisto traumático – pacificamente. Quando lhes perguntam se podem fazer festas aos seus cães, eles dizem que sim e alegram-se disso, mas também são lestos a afirmar que há regras a respeitar para o bem de todos. Com líderes destes sempre estaremos em segurança e os seus cães acabarão, mais cedo ou mais tarde, por ser nossos amigo.

Os proprietários caninos que dificilmente controlam os seus cães, mostram-se mal-humorados, evoluem a reboque, trazem os animais à trela curta, desfilam justificadamente cansados, fogem do contacto com outras pessoas e animais, tremem perante a hipótese de alguém tentar afagar os seus cães e ralham-lhes continuamente, havendo alguns que saem à rua munidos de um cacete para sanar qualquer peleja imprevista. Estes, raramente anuem ao desejo alheio de acariciar os seus cães e só estão bem quanto voltam a casa, desertos de se livrar do seu suplício. Pelo sim, pelo não, porque a agressividade passa com facilidade dos donos para os cães, o melhor que há a fazer é procurar outros para acariciar.

A compreensão da mímica canina deve anteceder o nosso desejo de acariciar cães e isto deve ser ensinado às crianças mal tenham algum senso de responsabilidade, porque as nossas boas intenções podem ser inadequadas e obter como resposta algo não esperávamos. Os cães que aceitam festas de toda a gente não são muito comuns, sendo mais os que as detestam do que aqueles que as aceitam. Os que as aceitam e com os quais estamos à vontade, têm uma mímica própria pela qual podem ser identificados: esticam a cabeça para nós, abatem as orelhas para trás, lambem-nos as mãos, abanam a cauda e gemem ou ladram dolentemente para que lhes toquemos, havendo inclusive alguns que se viram de barriga para cima perante a nossa aproximação. Agora, quando um cão permanece tenso, imóvel, de olhar fixo, orelhas viradas para a frente e de cauda imóvel, abatida ou levantada em arco, e rosna-nos perante aproximação, o melhor é desistir da intenção, porque tudo indica que irá atacá-lo.

Quanto a si, caro leitor, jamais deverá fazer festas a um cão se o temer, porque nem a si se engana, quanto mais ao cão! Os cães conseguem identificar com facilidade quem os teme e costumam tirar parido disso, não hesitando em carregar sobre os mais fracos ou sobre aqueles que lhes causam alguma suspeição. Para os cinófobos, que são gente como nós, existem cães especialmente treinados para ajudá-los a vencer o medo ou o trauma, animais cujo comportamento dócil não exala qualquer tipo de temor. Perante o sucedido em Kennelbach e diante dos comportamentos dos donos atrás descritos, em qual deles poderíamos colocar o dono do cão?

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